
Mas estudos de institui��es de renome j� trazem a pr�via de um desafio que, em territ�rio nacional, ficou ainda maior. Enquanto no mundo a m�dia do atraso na educa��o � de tr�s a nove meses, no Brasil, o retrocesso causado pelo contexto do coronav�rus pode ser de at� 4 anos.
� o que aponta estudo encomendado pela Funda��o Lemann ao Centro de Aprendizagem em Avalia��o e Resultados para o Brasil e a �frica Lus�fona, vinculado � Funda��o Getulio Vargas (FGV), para simular a perda de aprendizado que os estudantes podem ter sofrido com a pandemia.
O resultado mostra que, neste per�odo, os alunos deixaram de aprender mais em matem�tica em compara��o com l�ngua portuguesa e, na maioria dos casos, os mais prejudicados s�o aqueles do ensino fundamental.
O levantamento foi feito a partir de dados do Sistema de Avalia��o da Educa��o B�sica (Saeb). A simula��o considerou aprendizado de estudantes nos anos finais do fundamental (5º ao 9º ano) e no ensino m�dio, em portugu�s e matem�tica, em tr�s cen�rios.
No otimista, os alunos aprenderiam por meio do ensino remoto tanto quanto aprendem no presencial, desde que fizessem as atividades escolares. No intermedi�rio, eles aprenderiam por meio do ensino remoto proporcionalmente �s horas dedicadas a atividades escolares. E no pessimista, n�o aprenderiam com o ensino remoto.
Pior cen�rio poss�vel na educa��o
No pior cen�rio, os n�meros apontam uma perda equivalente ao retorno ao desempenho brasileiro no Saeb de quatro anos atr�s (entre os resultados de 2015 e 2017) em l�ngua portuguesa e de tr�s em matem�tica (2017), nos anos finais do ensino fundamental. No intermedi�rio, a queda � equivalente ao Saeb de dois anos atr�s (2017 e 2019) em ambos os componentes curriculares. Na melhor das situa��es, a profici�ncia ficaria est�vel ou com muito pouco crescimento em rela��o � edi��o de 2019.A simula��o mostra ainda que o n�mero de horas dedicadas �s atividades n�o presenciais pode fazer a diferen�a: no cen�rio intermedi�rio (aprendizado proporcional �s horas dedicadas a atividades escolares), estudantes dos anos finais do fundamental t�m uma perda de 34%, enquanto os m�dio, de 33%. Na situa��o pessimista (nenhum aprendizado), ambos os ciclos perdem o equivalente a 72% no aprendizado.
“O principal fator que entra no c�lculo do cen�rio pessimista � que muita gente n�o acessou ou conseguiu acessar (as aulas) com baixa qualidade. Isso pode significar aumento das desigualdades”, afirma o diretor de Pol�ticas Educacionais da Funda��o Lemann, Daniel de Bonis. “N�o h� dados em n�vel municipal, mas, no limite, diria que dentro de cada sala de aula haver� aumento da desigualdade, porque depende da condi��o de cada fam�lia”, completa.
Tend�ncia e simula��es
O retrocesso preocupa. “A profici�ncia m�dia dos alunos brasileiros vinha numa evolu��o lenta, mas constante. E essa tend�ncia tem grande chance de se reverter, se estagnar ou ser pior ainda”, avalia o representantes da Funda��o Lemann. Uma tend�ncia que resta em c�lculos e simula��es, j� que o principal raio-x da educa��o nacional, o Censo da Educa��o B�sica, divulgado em janeiro, n�o revelou o real quadro de 2020.O Instituto Nacional de Pol�ticas Educacionais An�sio Teixeira (Inep), respons�vel pelo material, mudou a data-base do levantamento no ano passado – da tradicional �ltima quarta-feira do m�s de maio, passou para 11 de mar�o, imediatamente antes do fechamento das escolas. Com dados que n�o refletiram o que ocorreu no ano inicial da pandemia, o Inep n�o respondeu ao Estado de Minas sobre os questionamentos relativos � coleta e divulga��o de dados do per�odo escolar durante a pandemia.
Segundo Daniel de Bonis, mais do que nunca, o trabalho principal ao longo deste ano, independentemente da rede de ensino, dever� ter como foco a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que define os objetivos de aprendizagem no pa�s.
“Ela � muito importante para fazer o planejamento sobre o que ficou para tr�s, o que priorizar no momento e o que retomar mais para a frente. O primeiro ponto a ter em mente � que n�o se esgota em 2021. Retomada, planejamento e prioriza��o dever�o se alongar por alguns anos. O segundo ponto para as escolas � se atualizar em termos do que ocorreu com cada aluno: em uma mesma sala, haver� diferen�a daqueles que tiveram ajuda dos pais ou outros meios”, ressalta o diretor da Funda��o Lemann.
Um bilh�o de alunos fora das salas de aula
O estudo do Centro de Aprendizagem em Avalia��o e Resultados para o Brasil e a �frica Lus�fona levou em considera��o, para chegar aos resultados que projetam os efeitos da pandemia sobre o ensino, o n�vel de aprendizado em um ano t�pico (usando dados do Saeb de 2015 a 2019), o tempo de interrup��o das aulas (estimado em 72% do ano letivo) e o eventual aprendizado com o ensino remoto (explorado nos cen�rios otimista, intermedi�rio e pessimista).A metodologia foi baseada no estudo do Banco Mundial “Simulating the potential impacts of COVID-19 school closures on schooling and learning outcome: a set of global estimates” (“Simulando os potenciais impactos do fechamento das escolas pela COVID-19 na educa��o e nos resultados de aprendizagem: um conjunto de estimativas globais”, em tradu��o livre).

O relat�rio do Banco Mundial mostra que o fechamento das salas de aula deixou mais de 1 bilh�o de estudantes fora das escolas. Os resultados da simula��o consideraram os per�odos de tr�s, cinco e sete meses de fechamento e diferentes n�veis de mitiga��o em cen�rios otimista, intermedi�rio e pessimista. Usando dados de 157 pa�ses, a an�lise conclui que o n�vel global de escolaridade cair� e que a COVID-19 resulta na perda de qualidade equivalente � de tr�s a nove meses.
O diretor de pol�ticas educacionais da Funda��o Lemann, Daniel de Bonis, pondera que as metodologias do levantamento internacional e a usada pelo estudo brasileiro n�o s�o necessariamente compat�veis ou id�nticas, pelo fato de a Funda��o Getulio Vargas ter trabalhado com o ritmo de crescimento do Saeb. “Na compara��o com o resto do mundo, o Brasil talvez seja um dos pa�ses que est�o h� mais tempo com escolas fechadas. Outro fator s�o desigualdades que j� existiam e que a pandemia aprofundou, por exemplo, no tocante � conectividade e � escolaridade dos pais”, ressalta.
H� um impacto maior se comparado com outros pa�ses e, nesse sentido, o Brasil fica em posi��o desfavor�vel – uma provoca��o a mais para atacar o problema com muita intensidade, de acordo com o diretor. “N�o podemos deixar uma gera��o para tr�s num s�culo que � o do conhecimento. Precisamos de um grande compromisso nacional. Desigualdades, defasagens e tantos outros problemas j� eram grandes e se aprofundaram. Quem sabe seja essa a oportunidade de enfrentar alguns desses problemas?”
Compromisso pelo ensino
O Movimento Todos pela Educa��o lan�ou em fevereiro campanha para apoiar e mobilizar prefeitos, num compromisso pelo ensino e aprendizado. Foi enviado para prefeituras dos 5.568 munic�pios brasileiros um kit com dois documentos t�cnicos rec�m-produzidos pela equipe no �mbito da iniciativa Educa��o j�, munic�pios, com recomenda��es para a volta �s aulas em 2021 e diretrizes para pol�ticas estruturantes na gest�o 2021-2024.Os desafios para a gest�o educacional nos pr�ximos anos, que j� eram grandes, se aprofundaram diante do impacto causado pela grave crise da pandemia de COVID-19, constata o movimento.
“� muito importante que prefeituras e governos estaduais estejam muito empenhados em preparar uma retomada, mesmo que gradual, assim que autorizada pelas autoridades de sa�de. Na aus�ncia de coordena��o e completa inoper�ncia do Minist�rio da Educa��o (MEC), eles devem ter em mente que a reabertura das escolas precisa ser prioridade assim que poss�vel”, afirma o l�der de pol�ticas educacionais do Todos pela Educa��o, Gabriel Corr�a.
Tr�s perguntas para...
Gabriel Corr�a, l�der de Pol�ticas Educacionais do Todos pela Educa��oQuais os caminhos para recolocar a educa��o, que j� tinha tantas fissuras, no rumo certo?
A educa��o est� passando pelo seu momento mais desafiador e at� que consigamos superar por inteiro a pandemia, o cen�rio ser� muito cr�tico. Por isso, o poder p�blico precisa dar prioridade � educa��o b�sica no enfrentamento dos efeitos adversos que a pandemia trouxe a alunos e educadores. Os impactos do fechamento prolongado das escolas s�o muito grandes, porque a escola tem sim um papel de prote��o social, de nutri��o, seguran�a emocional, al�m, claro, da aprendizagem. Por mais que estrat�gias de ensino remoto sejam fundamentais, est� cada vez mais evidente que est�o longe de garantir a aprendizagem necess�ria de crian�as e adolescentes.
Quais as principais recomenda��es �s cidades que retomaram as aulas em modo remoto?
� muito importante agora que a educa��o deixe de ser prioridade no discurso e passe a ser na pr�tica. E que as prefeituras estejam preparadas para um retorno com seguran�a, quando a situa��o permitir. Os locais n�o voltar�o todos juntos, mas � preciso estar preparado para enfrentar os desafios que a pandemia trouxe. E, neste momento de retorno (�s aulas), seja por meio remoto ou numa combina��o com o presencial, a estrat�gia de comunica��o do poder p�blico com a popula��o, professores, alunos e fam�lias � fundamental. Estamos num cen�rio at�pico e cr�tico e muita gente com medo do que vai ocorrer.
Quais os preju�zos para os estudantes que nem ao ensino remoto tiveram acesso e assim ainda permanecem? Nesse caso, como recuperar o curso da educa��o?
Por mais que saibamos que o remoto n�o � o ideal para a educa��o b�sica, enquanto estivermos na pandemia, mesmo em caso de reabertura, ela se dar� de forma muito gradual em 2021. Por isso, ser� importante combinar estrat�gias de ensino remoto com presencial para que possamos dar conta de tantos problemas de aprendizado criados em 2020. J� � poss�vel perceber em outros pa�ses como a pandemia afetou a aprendizagem e, por mais que n�o tenhamos ainda dados para medir o caso brasileiro, todas as estimativas s�o de efeitos enormes.
A educa��o precisa ganhar, por conta disso, mais prioridade do que vem recebendo durante a pandemia, principalmente nas discuss�es de quais setores podem ficar abertos quando a situa��o epidemiol�gica come�a a melhorar. E � preciso ter em mente que alunos mais pobres s�o os mais prejudicados, sendo necess�rio olhar atento e respostas de governos estaduais e municipais em termos de pol�ticas p�blicas para minimizar esses impactos.
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?
Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
Em casos graves, as v�timas apresentam:
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia
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