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Estado de Minas SOFRIMENTO EM DOSE DUPLA

Cidades mineiras de m�dio porte vivem esgotamento em dobro com pandemia

Levantamento do EM mostra superlota��o de leitos e exaust�o de profissionais na luta contra COVID-19 em cidades como Araguari, Ituiutaba e Ponte Nova


29/03/2021 06:00 - atualizado 29/03/2021 10:48

Entrada do Centro de Referência de COVID-19 em Ponte Nova: ambulâncias de municípios vizinhos deixam pacientes (foto: Anônimo)
Entrada do Centro de Refer�ncia de COVID-19 em Ponte Nova: ambul�ncias de munic�pios vizinhos deixam pacientes (foto: An�nimo)

"Na ter�a-feira, perdemos a paciente mais jovem. Tinha apenas 30 anos. Deixou uma filhinha de um ano e 11 meses. A m�dica que cuidou dela me disse ontem: 'Chorei a noite toda'". O relato emocionado � do cl�nico-geral Cristian de Freitas Guimar�es, coordenador do Pronto-Socorro do Hospital Arnaldo Gavazza (rede filantr�pica) e do Centro de Refer�ncia � COVID-19 em Ponte Nova, na Zona da Mata de Minas. Em outro hospital filantr�pico, o quadro de horror se amplia. "� uma tristeza, nunca vimos situa��o assim. O que est� nos preocupando � o grande n�mero de pessoas mais jovens. Para ter uma ideia, 40% dos pacientes internados aqui no CTI t�m menos de 50 anos", diz o coordenador do CTI do Hospital Nossa Senhora das Dores (de irmandade, 70% SUS), o cardiologista, intensivista e cl�nico geral Milton Irias.
 
A paciente que deixou a filha de um ano e 11 meses morava em Rio Doce e estava internada no Hospital Nossa Senhora das Dores. "J� perdemos outra, da mesma idade, vinda de Santa Margarida", conta Milton Irias. O m�dico relata o drama: "As equipes est�o cansadas, faltam medicamento. Aqui no Hospital Nossa Senhora das Dores a capacidade na enfermaria chegou no limite. Temos 40 pacientes na enfermaria, filas grandes � espera. Muito triste."

"H� esgotamento. Um m�dico ficou tr�s dias diretos de plant�o, todos v�o se desdobrando. Estamos em busca de outros profissionais para trabalhar, mas est� muito dif�cil"

Cristian de Freitas Guimar�es, coordenador do Pronto-Socorro do Hospital Arnaldo Gavazzaedo Centro de Refer�ncia � COVID-19, em Ponte Nova


 
Atendendo a uma regi�o que congrega 21 munic�pios, com popula��o estimada em 200 mil pessoas, o setor de sa�de de Ponte Nova entrou em colapso e a situa��o ultrapassa o grau de alarmante. "S� nos resta rezar", resume Cristian. Segundo o m�dico, al�m da falta de m�dicos e fisioterapeutas, na �ltima sexta-feira 15 pessoas estavam na fila do CTI. "H� esgotamento. Um m�dico ficou tr�s dias diretos de plant�o, todos v�o se desdobrando. Estamos em busca de outros profissionais para trabalhar, mas est� muito dif�cil", revela.
 
Destacando que o quadro passou de muito grave, o coordenador explica que os 107 leitos cl�nicos existentes no munic�pio est�o lotados, o mesmo ocorrendo com os 35 de CTI. "H� quatro pacientes com COVID-19 intubados no nosso centro de refer�ncia. Precisamos tamb�m de mais equipamentos como ventiladores mec�nicos, bomba de infus�o de medicamentos e outros para salvar vidas", o m�dico. 

Retrato cruel


Para tentar atender maior n�mero de pacientes, a dire��o do Arnaldo Gavazza atua para expandir o n�mero de leitos e encontrar recursos. "Estamos tentando mais nove leitos, mas isso tamb�m n�o resolver� o problema. Afinal, a procura por atendimento n�o tem fim". Como retrato cruel da situa��o em Ponte Nova, munic�pio com 88 mortes de COVID-19, Cristian mostra a foto da entrada do centro de refer�ncia (hospital de apoio ou de campanha) com muitas ambul�ncias vindas dos munic�pios que comp�em a microrreregi�o de Ponte Nova: Abre Campo, Acaiaca, Alvin�polis, Amparo do Serra, Barra Longa, Diogo de Vasconcelos, Dom Silv�rio, Guaraciaba, Jequeri, Orat�rios, Piedade de Ponte Nova, Ponte Nova, Raul Soares, Rio Casca, Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado, Santo Ant�nio do Grama, S�o Jos� do Goiabal, Sem Peixe, S�o Pedro dos Ferros e Uruc�nia.

"� uma tristeza, nunca vimos situa��o assim. O que est� nos preocupando � o grande n�mero de pessoas mais jovens, 40% dos pacientes internados no CTI t�m menos de 50 anos"

Milton Irias, cl�nico-geral, cardiologista e intensivista, coordenador do CTI do Hospital Nossa Senhora das Dores, em Ponte Nova


 
Cada vez mais preocupado e sem enxergar sa�das, o coordenador do Hospital Arnaldo Gavazza diz que os pacientes n�o s�o apenas pessoas idosas. "Est�o internados ou aguardando leito crian�as e jovens. A fila do CTI se forma no hospital, as pessoas esperam aqui mesmo." Com a vacina��o muito lenta, agora na faixa et�ria de 75 a 79 em Ponte Nova, e os hospitais n�o conseguindo atender a demanda, Cristian v�, como fundamental, abaixar a taxa de transmiss�o. "Houve mudan�a no padr�o do v�rus, antes os quadros eram mais leves. Se h� pacientes de todas as idades, � preciso se cuidar ".

Demanda sufocada


"Tem muitos m�dicos que chegam e falam que n�o v�o ficar porque � COVID. Voc� vai repor no mercado e n�o encontra" - Danilo Carvalho, gerente da Santa Casa de Araguari (foto: Arquivo pessoal )
Enquanto os n�meros da COVID-19 aumentam, o fluxo de trabalho em hospitais e os problemas decorrentes da press�o no sistema de sa�de tamb�m sobem. Em centros m�dicos do Tri�ngulo Mineiro e do Sul de Minas, o quadro � dram�tico: ocupa��o de leitos no limite, m�dicos exaustos emocionalmente e dificuldades para encontrar medicamentos de intuba��o a pre�o acess�vel. Os gestores e profissionais de sa�de ouvidos pelo Estado de Minas dizem que nunca viram nada igual.

Al�m de atender a popula��o local, os hospitais tamb�m absorvem a demanda das microrregi�es. � o caso do Hospital S�o Jos�, de Ituiutaba, no Tri�ngulo. O centro m�dico atende nove cidades da regi�o, com popula��o estimada de 250 mil habitantes. Na �ltima quinta-feira, data em que foi feito o levantamento, o hospital estava com 100% de ocupa��o em todas as alas para pacientes com COVID-19, tanto na parte de enfermaria quanto na terapia intensiva. Ao todo, s�o 18 leitos de cl�nica m�dica e outros 10 de UTI. De acordo com o diretor administrativo da rede de sa�de, Cleuson Oliveira, a demanda est� em 100% h� praticamente um m�s. Com isso, houve sobrecarga de trabalho para os profissionais de sa�de e, mesmo anunciando vagas, trabalhadores n�o s�o encontrados.

"O pessoal j� est� desgastado devido � situa��o que estamos passando, e com a falta de profissionais isso agrava, porque voc� n�o encontra gente"

Cleuson Oliveira, diretor administrativo do Hospital S�o Jos�, em Ituiutaba


 
“O pessoal j� est� desgastado  devido � situa��o que estamos passando, e com a falta de profissionais isso agrava, porque voc� n�o encontra gente. N�s, inclusive, tentamos abrir mais leitos aqui, ficamos com publicidade o tempo todo em meios de comunica��o para tentar contratar e n�o conseguimos”, resume Cleuson.

Araguari


Na vizinha Araguari, a situa��o � a mesma: dificuldade para contratar profissionais de sa�de. A Santa Casa da cidade conta com 30 leitos de UTI, incluindo 20 custeados pelo Minist�rio da Sa�de e 10 pela Secretaria de Estado de Sa�de, estes �ltimos reativados em mar�o. A ocupa��o, de acordo com a ger�ncia do hospital, fica entre 27 e 28 vagas. A Santa Casa atende, al�m de Araguari, Tupaciguara, Indian�polis, Cascalho Rico e Arapor�. Com a amplia��o da estrutura, trabalhadores da rede de sa�de tiveram que se dividir entre os pacientes da cl�nica m�dica e os que estavam na ala da COVID. No entanto, alguns pediram demiss�o ao serem informados que atenderam pessoas na UTI.
 
“Eu falava para o m�dico: 'Voc� vai ter que atender o COVID agora, n�o a cl�nica m�dica'. E ele: 'Ent�o, estou saindo, porque vim para trabalhar numa parte cl�nica'. Tem muitos m�dicos que chegam e falam que n�o v�o ficar porque � COVID. A�, voc� vai repor no mercado e n�o encontra”, relata Danilo Coelho Carvalho, gerente da Santa Casa, que descreve o momento como “situa��o de guerra”, porque a equipe remanescente precisa se desdobrar para garantir atendimento aos internados. "Tem um m�dico e outro que � coordenador, fun��o administrativa. O que ele faz? Ele se desdobra. Faz um plant�o a mais do que deveria para cobrir o buraco. Na quarta-feira, teve um caso de �ltima hora de um m�dico que se afastou por uma gripe e a m�dica que iria ficar com 10, ficou com 20 leitos”, conta.

Itajub�


Os profissionais de sa�de da Santa Casa de Itajub�, no Sul de Minas, contam com a solidariedade da popula��o e atendimento psicol�gico para suportar a carga de trabalho. De acordo com a superintendente Renata Finamor Alvarenga, a unidade teve que readequar o card�pio para a alimenta��o dos colaboradores, porque o hor�rio em que conseguem parar para comer � irregular. “Fizemos a melhoria do card�pio, porque, infelizmente, o enfermeiro, o t�cnico, o fisioterapeuta e o m�dico conseguem parar para comer alguma coisa �s 15h, 16h”.
 
O cotidiano desgastante tamb�m � amenizado com a participa��o da popula��o, que vai at� a Santa Casa deixar alimentos para os profissionais de sa�de, como pizza e bolo. Doadores levam bolo, pizza, lanche, alguma coisa diferente, como citou um plantonista: “No meio da noite, em um plant�o superdif�cil, com taxa de ocupa��o de 100%, chega um bolo para ado�ar a vida. Essa preocupa��o � importante”, afirma Renata, destacando que na quinta-feira todos os 20 leitos de UTI da Santa Casa estavam ocupados, al�m de 110% de demanda nas vagas de enfermaria. A microrregi�o de Itajub� � composta por Parais�polis, Braz�polis e Maria da F�, entre outros munic�pios.

Medicamento em falta ou caro


Outro desafio para os hospitais � a falta de medicamentos no mercado e o sobrepre�o. De acordo com Danilo Coelho Carvalho, a Santa Casa de Araguari tentou comprar o anticoagulante enoxaparina, mas esbarrou em valores exorbitantes. “A Enoxaparina, que comprei a R$ 46, um cara me ofereceu a R$ 106. Em novembro, estava a R$ 25”, conta. O sedativo propofol teve pre�o triplicado de  R$ 9 R$ 27. Para tentar um pre�o mais em conta, unidades de sa�de precisam entrar na fila dos laborat�rios, como no caso de bloqueadores neuromusculares.
 
Em Ituiutaba, no Hospital S�o Jos�, a situa��o se repete. De acordo com o diretor administrativo da rede de sa�de, Cleuson de Oliveira, o estoque do “kit intuba��o” daria para cinco dias. Ele fez  of�cios ao poder p�blico pedindo mais. “O maior desespero que n�s estamos passando aqui � com o kit intuba��o. Quando conseguimos comprar, � a conta-gotas. O pre�o � exorbitante”, garante Oliveira, que fez um apelo para que autoridades tomem provid�ncias em rela��o ao abastecimento.
 
Em Itajub�, a Santa Casa trabalha com protocolo alternativo de sedativos para substituir as subst�ncias em falta no mercado. “O que temos trabalhado com o nosso comit� COVID � fazer protocolos de sedativos para conseguir  atendimento, mas dificulta muito, pois n�o � a droga espec�fica que precisa gastar com uma outra quantidade, conseguir recursos para manter este novo protocolo e acaba trazendo preju�zos tanto para a institui��o como para o paciente”, diz Renata Alvarenga, superintendente da Santa Casa.

Mais jovens internados


Os gestores tamb�m dizem que  o perfil das pessoas internadas mudou. Ao contr�rio da primeira onda, em que idosos eram maioria em leitos, atualmente os jovens s�o maior n�mero. E o pior: em estado ainda mais grave em rela��o aos pacientes do passado. “Realmente, est� tendo muito paciente novo agora. Mudou um pouco o perfil. Ontem (quarta-feira), por exemplo, os 10 pacientes que estavam na UTI estavam intubados. Muitas vezes, t�m 10 pacientes na UTI, mas �s vezes t�m seis ou sete intubados, o restante fica na ventila��o”, conta Cleuson Oliveira.

Em Araguari, por exemplo, a paciente mais jovem internada na UTI da Santa Casa tem 20 anos. Segundo Danilo Carvalho, o comportamento dos pacientes tamb�m mudou. Antes, eles procuravam a unidade de sa�de de forma tardia. Agora, assim que percebido os primeiros sintomas, as pessoas buscam ajuda na UPA. “A m�dia geral (de internados) fica entre 30 e 55 anos. 
 
Na Santa Casa de Itajub�, Renata Finamor teve a mesma percep��o. Por isso, faz apelo aos mais novos sobre a import�ncia do isolamento. “Os jovens t�m que entender que todos est�o suscet�veis a essa doen�a. Estamos com jovens em UTI e temos que prevenir porque o perfil mudou totalmente”, alerta, destacando que h� fila por leitos na Santa Casa. Em Araguari, as medidas de isolamento da onda roxa j� s�o sentidas na Santa Casa com a diminui��o de atendimento de pronto-atendimento. Danilo Carvalho diz que a unidade recebia 30 a 40 pessoas por dia, n�mero que caiu entre quatro e cinco pacientes. “Uma redu��o dr�stica. O isolamento demonstra que, at� vacinar grande parte da popula��o, � a medida mais eficaz”, destaca o gerente, que tamb�m frisa que um paciente n�o fica mais do que tr�s dias na UPA aguardando por vaga no hospital. Tamb�m h� fila por leito no Hospital S�o Jos�, mas, segundo Cleuson Oliveira. O certo � que  a popula��o precisa ter consci�ncia da situa��o grave, diz.

O que � o coronav�rus


Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 � transmitida? 

A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?


Como se prevenir?

A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�

Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia

Em casos graves, as v�timas apresentam:

  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus. 

V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o v�rus

Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 ï¿½ transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.

Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia

Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:

 



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