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Estado de Minas ENTREVISTA

''Se reabrirmos, vamos ter at� 6 mil mortes por dia'', prev� biom�dico

Flexibiliza��o quando h� filas de espera para UTI pode ser catastr�fica, alerta Lucas Zanandrez, que receita lockdown nacional de 21 dias


07/04/2021 06:00 - atualizado 07/04/2021 14:42

Lucas Zanandrez(foto: Arquivo pessoal/Divulgação)
Lucas Zanandrez (foto: Arquivo pessoal/Divulga��o)

Enquanto as �ltimas semanas foram de indicadores da pandemia da COVID-19 muito acima das m�dias apresentadas na crise sanit�ria at� aqui, com colapso dos sistemas de sa�de Brasil afora e recordes quase que di�rios, uma flexibiliza��o comercial, discutida por prefeituras e estados, pode elevar o n�mero de casos e mortes ainda mais. Estimativas do biom�dico e comunicador cient�fico Lucas Zanandrez apontam para at� 6 mil �bitos di�rios no pa�s se as atividades forem reabertas em momento em que o patamar de casos e mortes j� est� muito alto, com autoridades atestando 3 mil vidas perdidas a cada 24 horas, como ocorreu nas �ltimas semanas (ontem, as mortes bateram recorde, com 4.195 registros no pa�s).

“Temos uma fila de pacientes esperando leitos de UTI (unidade de terapia intensiva), que t�m alto risco de morrer se n�o forem assistidos. Soma-se a isso a possibilidade de uma reabertura, que vai resultar em mais casos. Al�m das mortes indiretas do colapso. Esse cen�rio de 6 mil mortes � o pico”, diz Lucas Zanandrez, que � mestre em inova��o tecnol�gica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e fundador do Ol�, Ci�ncia!, canal do YouTube com 559 mil inscritos, em entrevista ao Estado de Minas. A receita para evitar esse quadro ainda mais catastr�fico que o atual, para Lucas Zanandrez, passa apenas por uma alternativa: um lockdown nacional, a exemplo do que foi feito em Araraquara (SP).



O senhor tem defendido o lockdown (fechamento total das atividades comerciais) para frear casos e mortes por COVID-19. Por que essa seria a alternativa mais vi�vel para o momento?
A gente hoje tem visto o n�mero de mortes escalando a n�veis assustadores. Estamos com uma m�dia de 3 mil �bitos di�rios. Isso � reflexo de v�rios fatores, entre eles, as aglomera��es do in�cio do ano, as reuni�es familiares e os fechamentos mal realizados, com praias abertas. N�o h� uma coordena��o para um fechamento realmente eficaz. Somado a isso, j� registramos 90 mil casos di�rios (n�mero de 31 de mar�o), o que � assustador, e temos uma fila para leitos de UTI. Acontece que nessa fila a mortalidade da COVID-19 � maior que a taxa natural. Ent�o, ela escala muito rapidamente se a gente n�o fizer o lockdown, que � a medida mais eficiente para frear a transmiss�o e fazer o sistema de sa�de respirar. Se uma pessoa precisa de um respirador, mas n�o tem essa op��o, a morte dela � quase certa. S�o 6,3 mil pessoas aguardando um leito, conforme o �ltimo dado a que tive acesso. Temos uma estabiliza��o da curva no alto. Ela deu uma desacelerada, ent�o, j� h� muitos estados, Minas Gerais mesmo, com uma discuss�o para uma reabertura. Se a gente reabrir neste momento, sem que a curva caia, ela vai voltar a subir, como aconteceu no ano passado, por�m, vamos ter at� 6 mil mortes di�rias.

Qual seria a dura��o do lockdown que o senhor prop�e?
O lockdown de que estou falando � trancar totalmente, ficar em casa. N�o � um lockdown de seis meses, mas de 21 dias. Esse prazo � suficiente para voc� come�ar a ver efeito na taxa de transmiss�o. Ela cai drasticamente. Mas 21 dias n�o seriam suficientes para zerar os casos no Brasil. Apenas para dar um alento ao sistema de sa�de.

E como fechar tudo e, ao mesmo tempo, manter a popula��o segura financeiramente?
O lockdown n�o � uma medida satisfat�ria para todo mundo, porque ela vai acabar lesando muitas pessoas agora. Mas precisamos pensar a longo prazo. Essa medida � a mais eficiente para que o poder p�blico consiga resolver o problema econ�mico (gerado pela pandemia). Para que isso aconte�a, � preciso conceder um aux�lio (emergencial) para manter as pessoas em casa. Teria que ser feito um estudo de quanto � suficiente para segurar a popula��o em casa por 21 dias. A gente sabe que muitas pessoas saem de casa para trazer o sustento para sua fam�lia. Essas s�o as que mais sofrem: al�m do impacto econ�mico, elas t�m mais chance de se infectar.

''Acontece que nessa fila (por vaga de UTI) a mortalidade da COVID-19 � maior que a taxa natural. Ent�o, ela escala muito rapidamente''

Lucas Zanandrez, Biom�dico e comunicador cient�fico



O senhor tem feito uma proje��o de at� 6 mil mortes di�rias pela COVID-19 nas pr�ximas semanas. Em que cen�rio isso aconteceria?
Estamos com uma estabiliza��o em torno de 90 mil casos di�rios. Desses, temos uma letalidade em torno dos 3%. Esses 90 mil casos que aconteceram ontem (31/3), a gente j� pode colocar que cerca de 3% dessas pessoas v�o morrer daqui a 20 dias. Ent�o, a coisa n�o vai melhorar (em tr�s semanas). E temos uma fila de pacientes esperando leitos de UTI, que t�m alto risco de morrer se n�o forem assistidos. Soma-se a isso a possibilidade de uma reabertura, que vai resultar em mais casos. Al�m das mortes indiretas provocadas pelo colapso,  daquelas pessoas que, por exemplo, sofrem um acidente e precisam de uma cirurgia de urg�ncia, mas n�o t�m leito � disposi��o. Esse cen�rio de 6 mil mortes � o pico. Estamos longe do limite. Mas se mais 10% da popula��o se infectar, a gente pode jogar o n�mero de mortes para muito mais que as 3 mil di�rias que estamos vendo.

Como o senhor analisa a gest�o da pandemia em Belo Horizonte no momento?
Falar de decis�es sanit�rias acaba envolvendo fatores pol�ticos que s�o externos ao t�cnico. Tecnicamente, Belo Horizonte agiu, como algumas capitais do pa�s, sobre os n�meros de leitos (para COVID-19). Essa � uma op��o, mas n�o �, a meu ver, a melhor. Voc� est� controlando o n�mero de leitos e abre ou fecha a cidade baseado nas interna��es. A melhor op��o seria controlar a transmiss�o nas comunidades, nos bairros, fazendo um rastreio de contatos e orientando melhor a popula��o. N�o � preciso esperar as pessoas serem internadas para fechar.

Em pronunciamento � TV aberta, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que o Brasil � o quinto pa�s que mais vacinou contra a COVID-19 em n�meros absolutos. Esse dado pode ser visto de maneira positiva?
Estamos aqu�m da nossa capacidade de vacina��o. Quando voc� coloca isso comparado � popula��o que a gente tem, o n�mero por milh�o de habitantes, a gente v� que isso � uma propaganda. E n�o estamos no momento de fazer propaganda, mas de cuidar da popula��o. A gente tem vacinado menos que pa�ses como Chile, Estados Unidos, Israel, Reino Unido, Alemanha... Em �pocas de vacina��o contra a gripe, a gente j� imunizou mais de 5 milh�es de pessoas por dia. Por que n�o estamos fazendo isso? Por causa de uma s�rie de falhas nos �ltimos meses e por n�o ter uma soberania sanit�ria. Isso tem muito a ver com falta de investimento em tecnologia. O conhecimento temos aqui, mas falta a infraestrutura para coloc�-lo em pr�tica.

Ainda sobre a vacina��o, uma parcela da popula��o tem defendido que a popula��o economicamente ativa deveria ser priorizada, j� que � ela quem sai mais de casa. Qual a an�lise do senhor sobre esse argumento?
O que a gente sabe sobre as vacinas � que elas s�o muito boas para evitar as formas grave, moderada e leve da doen�a. Mas a gente n�o consegue garantir que as vacinas impe�am a transmiss�o. Por isso, vacinar a popula��o mais jovem � uma estrat�gia muito arriscada. As pessoas mais jovens, ainda que protegidas, podem continuar levando a doen�a para os idosos, que t�m maior risco de morrer, e profissionais de sa�de.

O Brasil faz um mapeamento gen�tico do v�rus ainda muito restrito. Praticamente n�o h� trabalhos de sequenciamento do genoma do coronav�rus pa�s afora. � poss�vel que outra variante significativa j� esteja em circula��o?
Sim, � poss�vel. � uma opini�o, n�o uma defini��o t�cnica: mas, eu acredito que j� tenhamos algumas variantes circulando no pa�s que possam ser caso de preocupa��o, que tenham algum grau de escape vacinal e que n�o foram detectadas. Vale sempre lembrar que esse � um processo natural. � medida que o v�rus � transmitido e se replica dentro do corpo das pessoas, ele adquire muta��es naturalmente. Essas novas cepas s�o selecionadas ao longo tempo para que o v�rus possa infectar mais pessoas. � o ciclo de vida dele. Quando vacinamos num ritmo lento e colocamos muita gente na rua, estamos dando a receita perfeita para que o v�rus sofra mudan�as.

O que � o coronav�rus


Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 � transmitida? 

A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?


Como se prevenir?

A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�

Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia

Em casos graves, as v�timas apresentam:

  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus. 

V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o v�rus

Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 ï¿½ transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.

Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia

Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:

 



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