(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas A EPIDEMIA DO DESPEJO

Outro endere�o do drama dos sem-casa, ocupa��es aumentam em BH

PBH estima que mais de 100 mil pessoas vivam em 177 espa�os ocupados. Entidade avalia que ao menos 20 dessas �reas de habita��o prec�ria surgiram na pandemia


12/07/2021 06:00 - atualizado 12/07/2021 15:45

Yasmin Emiliano, de 24 anos, perdeu o emprego há um ano. Hoje, vive desde janeiro em prédio ocupado no Centro de BH, com o marido e os filhos de 2 anos e de 5 meses (foto: Maria Pereira/EM/DA Press)
Yasmin Emiliano, de 24 anos, perdeu o emprego h� um ano. Hoje, vive desde janeiro em pr�dio ocupado no Centro de BH, com o marido e os filhos de 2 anos e de 5 meses (foto: Maria Pereira/EM/DA Press)
escalada da pobreza provocada pela pandemia do novo coronav�rus tamb�m tem se refletido nas ocupa��es espalhadas pela capital mineira. A Prefeitura de Belo Horizonte, que monitora os grupos desde 2016, estima haver 177 �reas ocupadas na cidade, que abrigam 34 mil barracos habitados por mais de 100 mil pessoas. 

 

Consultado pela reportagem, o munic�pio n�o informou quantas ocupa��es surgiram na cidade durante a pandemia. O Movimento de Liberta��o Popular (MLP), no entanto, contabiliza ao menos 20 novos espa�os ocupados por fam�lias sem-teto em BH desde o in�cio de 2020. 

 

Um deles fica na Rua dos Tamoios, n�mero 40, no Centro. O im�vel, segundo os ocupantes, est� abandonado h� mais de uma d�cada e est� sob ocupa��o desde dezembro de 2020. Atualmente, abriga cerca de 20 fam�lias, que se instalaram em c�modos improvisados, separados por tapumes e lonas. Os moradores, no entanto, vivem sob a ang�stia do despejo, j� que o propriet�rio do pr�dio j� acionou a Justi�a para remov�-los. 



 

Yasmin Emiliano, de 24 anos, chegou ao local em janeiro, com o marido e dois filhos – um de 2 anos e outro de 5 meses. Ela trabalhava como chapista em uma lanchonete da capital, mas perdeu o emprego em junho do ano passado. O companheiro dela, que � pintor, perdeu o trabalho pouco depois. 

 

Do atraso do primeiro aluguel � ordem de despejo, a jovem calcula que foram aproximadamente cinco meses. Primeiro, a fam�lia se mudou do Bairro S�o Gabriel, Regi�o Norte de BH, para o Bonfim, na Regi�o Noroeste, onde era mais barato morar. Sem melhora na situa��o financeira, o casal passou a vender m�veis e eletrodom�sticos para fazer frente �s despesas. At� que as panelas tamb�m se esvaziaram e j� n�o havia mais o que vender. 

 

D�vidas

'Muitas pessoas me ajudaram, mas também passei por muita humilhação. Já me chamaram de golpista, oportunista, tanta coisa...', conta Yasmin, que perdeu a casa na pandemia(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
'Muitas pessoas me ajudaram, mas tamb�m passei por muita humilha��o. J� me chamaram de golpista, oportunista, tanta coisa...', conta Yasmin, que perdeu a casa na pandemia (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)
"Antes da pandemia, eu estava juntando dinheiro para montar uma lanchonete, ia comprando os equipamentos devagar. J� tinha umas vasilhas e uma chapa de lanche. Quando comprei minha chapa, foi o momento mais feliz que eu tive. ‘Nossa, est� chegando l�, eu vou conseguir’. Da�, veio a pandemia, e eu vi minhas coisas indo embora. Mas a chapa eu segurei at� o �ltimo minuto, pois pensei: ‘Com ela, a gente monta o churrasquinho e continua a trabalhar. Vamos segurar’. Foi a �ltima coisa que vendi dentro de casa. Vendi para pagar meu aluguel e o dinheiro nem era suficiente para cobrir tudo. Comprei por R$ 500, vendi por R$ 400. O aluguel era R$ 450. Paguei atrasado. Na �poca, j� est�vamos devendo conta de luz, n�o t�nhamos g�s. O leite das crian�as tamb�m j� tinha acabado”, relata a jovem. 

 

Yasmin e o marido, agora, vendem bombons pelas ruas do Centro. “Tem m�s que n�s dois, juntos, n�o fazemos nem R$ 400. Para piorar, meu aux�lio emergencial foi negado. J� fiz posts no Facebook para pedir ajuda, mas, atualmente, n�o quero fazer mais isso. Muitas pessoas me ajudaram, mas tamb�m passei por muita humilha��o. J� me chamaram de golpista, oportunista, tanta coisa... Disseram que era mentira, que eu n�o estava precisando de nada. Buscaram fotos minhas antigas, de quando anunciei minhas coisas para vender por necessidade, e usaram para dizer que estava dando golpe. Que n�o precisava de nada, que pegava coisas dos outros para vender. Nunca tive dinheiro, mas � a primeira vez que me vejo � beira do olho da rua.  Nenhuma m�e de fam�lia merece o que eu estou passando”, conclui.

 

Vivendo debaixo da “prote��o do Brasil”

'Alexandre Cota Ferreira, de 46 anos, 'mora' há pelo menos três anos com a mulher na esquina da Praça Raul Soares com a Avenida Bias Forte, sob a bandeira do Brasil(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
'Alexandre Cota Ferreira, de 46 anos, 'mora' h� pelo menos tr�s anos com a mulher na esquina da Pra�a Raul Soares com a Avenida Bias Forte, sob a bandeira do Brasil (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Se a situa��o � p�ssima nas ocupa��es ou para quem acabou de chegar �s ruas, � ainda pior para quem j� vivia nelas. Gente como Alexandre Cota Ferreira, de 46 anos, que h� pelo menos tr�s anos “mora” com a mulher na esquina da Pra�a Raul Soares com a Avenida Bias Fortes, no Centro da capital, enfrentando falta de emprego, fome e o frio do atual inverno. Ironicamente, uma Bandeira do Brasil, com cerca de 10 metros de largura, � o que lhe serve de teto h� v�rios dias.

 

 “Sempre que acho algo que me interessa, pego para ajudar a ‘formar’ minha casa. Essa bandeira eu achei dentro da ca�amba de um lixo do lado do Mercado. O pessoal me pergunta se � por causa do futebol, mas eu explico direito, que � para nos proteger do frio. Muitos gostam de tirar foto e ficam me conhecendo. Fiquei amigo de muitos por causa da bandeira”, conta Alexandre, sorrindo.

 

Debaixo do s�mbolo nacional vive tamb�m a mulher dele, Jaqueline Valen�a, de 32, natural do Rio de Janeiro, al�m de um gatinho de estima��o. Em abril, nasceu Jordan (beb� batizado em homenagem ao astro do basquete norte-americano Michael Jordan), que hoje vive em num abrigo do munic�pio com outros dois filhos dela, de outro casamento.

 

Alexandre sobrevive de reciclagem, lavagem de carros e “bicos” na regi�o, al�m de moedas dadas por pessoas que passam pelo local. Do passado, al�m das lembran�as dos trabalhos em lava-jato, como repositor de um sacol�o e como auxiliar de pedreiro – e tamb�m de alguns “escorreg�es” e problemas com a lei –, traz o desejo de ter um lugar digno para passar as noites. “Quero uma moradia e os benef�cios da maternidade do governo. N�o recebemos nenhum at� hoje, nenhum aux�lio na pandemia. A prefeitura tamb�m n�o deu conta de nos atender. Minha inten��o � registrar o meu filho e os da Jaqueline e ter uma casa para viver do nosso sustento”, resume ele, agora j� vacinado, com a mulher, contra a COVID-19. (Roger Dias

 

Projeto suspende ordens de desocupa��o

Desalento em alta: número de pessoas sem teto atendidas pela Pastoral de Rua da Arquidiocese de BH dobrou desde o início de 2020, chegando a mais de 800 por dia(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Desalento em alta: n�mero de pessoas sem teto atendidas pela Pastoral de Rua da Arquidiocese de BH dobrou desde o in�cio de 2020, chegando a mais de 800 por dia (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)
Com 38 votos favor�veis e 36 votos contr�rios, o Senado Federal aprovou, em 23 de junho, o Projeto de Lei 827/2020, que suspende medidas judiciais para despejo ou desocupa��o de im�veis at� o fim de 2021, devido � pandemia de coronav�rus. A regra vale para im�veis ocupados at� 31 de mar�o de 2021. O texto, por�m, ainda retornar� � C�mara dos Deputados para aprova��o de um destaque que prev� a exclus�o de im�veis rurais do escopo da lei. Em seguida, deve seguir para san��o presidencial. Tamb�m em junho, o ministro Lu�s Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu despejos e outras medidas de desocupa��o por seis meses. O prazo pode ser estendido caso a pandemia perdure. A decis�o, por�m, contempla apenas �reas habitadas antes de 20 de mar�o de 2020. 

 



receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)