� um contingente 20% maior em rela��o aos registros do fim de 2019, quando os mesmos pesquisadores contabilizaram 7.390 cidad�os vivendo ao relento na capital. O levantamento foi feito com base em dados do Cadastro �nico para Programas Sociais do Governo Federal (Cad�nico).
Os dados divergem dos c�lculos da prefeitura. Segundo o �ltimo censo municipal, divulgado em janeiro de 2020, h� 4,6 mil sem-teto na capital mineira. Os estudiosos da UFMG, contudo, contestam o munic�pio e alegam que os cadastros da Secretaria de Assist�ncia Social, Seguran�a Alimentar e Cidadania est�o desatualizados.

Na Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, outra institui��o em que a assistente social atua, o movimento dobrou. “At� o in�cio de 2020, atend�amos em torno de 350, 400 pessoas por dia. Atualmente, j� s�o mais de 800. Tamb�m notamos que as condi��es de quem j� vivia na rua pioraram. Est� mais dif�cil achar trabalho, e a concorr�ncia por doa��es aumentou. A pandemia veio como um trator sobre essas pessoas”, compara Claudenice.
"Ningu�m imagina. At� que acontece"

Uma delas � Daniel Fidelis, de 24 anos. H� cerca de tr�s meses, ele passa as noites em colch�es posicionados em passeio p�blico da �rea hospitalar, pr�ximo � Avenida Alfredo Balena. Pai de uma filha de 1 ano, o rapaz conta que perdeu o emprego durante a pandemia. Sem dinheiro para custear despesas dentro de casa, conta que acabou expulso pelos parentes.
"O pior momento � � noite. N�o tem como explicar, n�o tem como dizer. Voc� passa o dia inteiro carregando o mundo nas costas. Voc� carrega ofensas, carrega mau olhado, carrega brigas, energias negativas, humildade, amor, preconceito, muitas coisas. Na hora em que voc� se deita ali no colch�o, no ch�o, cai a ficha: 'Estou dormindo no Centro de Belo Horizonte'. Seu mundo cai em cima de voc�. Imagina o peso de um mundo caindo nas suas costas quando voc� vai dormir? � uma coisa que d�i muito"
Daniel Fidelis, 24 anos, desempregado
“Esta � uma situa��o em que ningu�m se imagina. At� que acontece. Enquanto voc� est� com a sua casa, com o seu lugar para morar, voc� nunca pensa: 'Olha, isso pode acontecer comigo'. Sua ficha s� cai depois que voc� est� nessa situa��o”, descreve o rapaz.
Sem trabalho, ele tem sobrevivido principalmente da venda de balas. A renda, no entanto, mal cobre as despesas b�sicas. Para se alimentar, tomar banho e lavar roupas, precisa recorrer � unidade de assist�ncia emergencial Canto da Rua, na Serraria Souza Pinto.
“O pior momento � � noite. N�o tem como explicar, n�o tem como dizer. Voc� passa o dia inteiro carregando o mundo nas costas. Voc� carrega ofensas, carrega mau olhado, carrega brigas, energias negativas, humildade, amor, preconceito, muitas coisas. Na hora em que voc� se deita ali no colch�o, no ch�o, cai a ficha : ‘Estou dormindo no Centro de Belo Horizonte’. Seu mundo cai em cima de voc�. Imagina o peso de um mundo caindo nas suas costas quando voc� vai dormir? � uma coisa que d�i muito”, descreve.
As ang�stias de Daniel tamb�m est�o registradas em letras de rap, que ele comp�e desde os 9 anos. “Posso dar uma palinha para a c�mera?”, pergunta o rapaz � reportagem, j� emendando os versos.
“C� t� ligado que o bagulho � muito louco, mano, presta aten��o/A pandemia veio agitando muito o cora��o/Muita gente que achou que ia se levantar/Com essa coisa ruim, come�ou a se afundar/Eu vou te explicar, agora, eu te falo/A cacha�a est� salvando todos esses intervalos/Eu vou te falar, preste muita aten��o/Meu cora��o chora de hoje estar dormindo no ch�o/Mas tenho f� de que, um dia, uma king size eu vou portar/Meu carro, eu vou comprar/e eu vou me levantar/Porque � Deus que me ajuda e sempre vai me salvar.”
"Acho que virou a chave do mundo”
“Eu sempre trabalhei com v�nculo empregat�cio. Sempre na �rea comercial, ininterruptamente. At� que a idade foi chegando. Fiquei desempregado antes da pandemia mas, quando ela chegou, o emprego desapareceu. Ent�o eu calcei as sand�lias da humildade e estou procurando a ajuda poss�vel”, relata.
"Tenho dois filhos: um � formado em ci�ncias sociais na UFMG e outro est� no segundo per�odo da Escola de M�sica, tamb�m na universidade. Mas eu n�o quero que eles saibam que estou nessa situa��o"
Ari (nome fict�cio), 64 anos, ex-gerente comercial
O �ltimo emprego de Ari foi como gerente regional de uma grande companhia do ramo de bebidas. Ao ser demitido, ele conta que recebeu as indeniza��es trabalhistas e decidiu apostar na venda de cervejas.
“At� que, numa dessas opera��es, uma das distribuidoras que trabalhava comigo fechou as portas. E foi a� que eu perdi todo o capital que tinha da minha rescis�o e come�ou a minha queda vertiginosa”, descreve.
Sem dinheiro para pagar o aluguel, entregou o apartamento onde morava e se viu sem teto. Ele diz que j� foi casado e tem dois filhos jovens. “Um � formado em Ci�ncias Sociais na UFMG e outro est� no segundo per�odo da Escola de M�sica, tamb�m na universidade. Mas eu n�o quero que eles saibam que estou nessa situa��o. Ficariam muito abalados.”
A luz no fim do t�nel, projeta, chega em fevereiro do ano que vem, quando completa os requisitos para se aposentar. At� l�, ele segue buscando uma ocupa��o que lhe garanta alguma renda. “O que eu espero nesta altura da vida? Ter a qualidade de vida poss�vel, dentro de uma realidade que eu acho que � diferente da que eu estava pensando anos atr�s. Mudou tudo, acho que virou a chave do mundo”, reflete. (*Nome fict�cio para preservar a identidade, a pedido do entrevistado)
"A rua � uma doen�a gradativa"

“Quando eu era produtivo, tinha como custear um aluguel de R$ 450, R$ 400. Em consequ�ncia da pandemia, veio uma perda consider�vel. Tive que abrir m�o da moradia. O �nico recurso que eu tenho agora � o aux�lio emergencial no valor de R$ 150, com que eu n�o consigo fazer nada. Estou a Deus dar�, n�?”, relata o baiano.
A rua, descreve Edilson, � “como uma escada que a gente sobe enquanto est� se quebrando”. Sob os viadutos e marquises da capital, n�o foram poucos os epis�dios de fome e viol�ncia que ele teve que enfrentar.
“J� agredi e j� apanhei. Uma vez, sofri um acidente, estava em uma situa��o de vulnerabilidade. O indiv�duo veio contra mim. Eu, como n�o tinha artif�cio, peguei uma barra de ferro e apliquei um golpe nele. A rua � isso. Inflama o seu emocional, inflama seu psicol�gico, muda seu eu, muda tudo. A rua � uma doen�a gradativa. Quanto mais tempo voc� passa nela, mais doente voc� vai ficando.”
“Pedi, mas os donos n�o deixaram dormir na obra”

Com a falta de dinheiro, os conflitos conjugais foram aumentando, at� que ele decidiu deixar a casa onde morava com a fam�lia. Sem teto ou familiares que pudessem acolh�-lo, o rapaz hoje � outro que “mora” sob o Viaduto Santa Tereza.
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