
Eles brigam na Justi�a para anular a elei��o de novembro do ano passado que reelegeu como s�ndica Maria Lima das Gra�as para seu 38º ano de mandato � frente da administra��o dos pr�dios. A Pol�cia Civil de Minas Gerais (PCMG) investiga as den�ncias.
Conforme o
Estado de Minas
mostrou em julho,
quem se op�e � continuidade da gest�o t�o duradoura denuncia diversas ilegalidades que teriam sido cometidas pela atual s�ndica, entre elas aus�ncia de contagem de votos, obst�culos para candidatura de chapas concorrentes - como exig�ncia de fian�a no impressionante valor de R$ 4 milh�es -, n�o apresenta��o de balancetes de forma transparente e a exig�ncia, por parte do condom�nio, de autoriza��o para reformas dentro dos apartamentos
.
A briga na Justi�a pela administra��o da cidade vertical de 1.139 apartamentos, que movimenta uma receita declarada de pelo menos R$ 7,2 milh�es por ano continua, mas, enquanto o processo corre, moradores denunciam novas intimida��es.
O �ltimo caso ocorreu nessa segunda-feira (30/8), quando o jornal interno circulou pelo condom�nio com graves acusa��es contra um membro da chapa de oposi��o.
No formato 'bate-bola', a administra��o responde a supostas perguntas feitas pelos cond�minos. Uma delas �: ''� verdade que h� at� uma pessoa desequilibrada que pleiteia se candidatar sem ter o m�nimo de moralidade para assumir a fun��o? E ainda dizem que vive b�bada por a� e que roubou o marido de outra mulher, levando o filho dessa mulher a quase morrer de overdose?''. A resposta foi: ''Por incr�vel que pare�a, sim.''

Julieta Sueldo Boedo, de 48 anos, nascida em Buenos Aires e residente de Belo Horizonte h� 20 anos, desde 2015 � moradora do Bloco B do JK. Ela � a �nica pessoa que anunciou, publicamente, a inten��o de se candidatar a s�ndica. "Por isso, esses ataques se referem a mim. Nada disso � verdade'', disse.
O jornal interno n�o especifica quem enviou a pergunta e muito menos quem respondeu. Entretanto, � o condom�nio respons�vel pela elabora��o e circula��o da publica��o.
A pergunta seguinte �: ''Uma pessoa que age dessa forma tem alguma moral para ser candidata?''. A resposta foi: ''N�o, pois isso fere os interesses de quem valoriza o fato de viver em um pr�dio que alcan�ou, depois de muito esfor�o, a fama de ser um ambiente familiar e muito bem cuidado. Queremos esses talib�s e milicianos longe da administra��o''.
Antes desse exemplar do jornal ter sido distribu�do, Julieta contou que j� tinha sido alertada por diversos vizinhos que funcion�rios estavam a difamando por meio de liga��es ou indo presencialmente at� os apartamentos. Al�m disso, solicitando a presen�a de alguns moradores na administra��o.
''Soube por meio de quatro moradores que eles foram chamados at� a administra��o. L�, um funcion�rio teria mostrado as mat�rias que circularam nos jornais para dizer que quero prejudicar o condom�nio e desvalorizar os apartamentos'', relata Julieta. Diante disso, ela registrou um Boletim de Ocorr�ncia ao lado de outro morador que tamb�m comp�e a chapa de oposi��o.
Segundo o registro policial, feito em 25 de julho, que informa que ''por meio de liga��o telef�nica, as v�timas v�m enfrentando problemas com a gest�o da s�ndica e, na qualidade de cond�minos, apontam irregularidades na administra��o e decidiram lan�ar uma capa para correr''.
Ainda de acordo com o Boletim de Ocorr�ncia, desde que lan�aram uma chapa de oposi��o os dois moradores come�aram a sofrer persegui��es. ''Julieta foi informada que alguns funcion�rios a estariam difamando, a acusando de ser usu�ria de droga, aventureira, dentre outros adjetivos pejorativos'', afirma o BO.
Julieta contou que a situa��o se intensificou depois de a reportagem do Jornal Estado de Minas ser publicada, em 20 de julho.
Ainda de acordo com o BO, ap�s a difama��o, os funcion�rios queriam a assinatura de duas procura��es - sendo uma para ajuizamento de interpela��o judicial em seu desfavor.
''Ap�s tudo isso, um homem usando uma fantasia de dedetizador compareceu na porta do apartamento de D., depositando sob a porta um papel contendo o n�mero de 61 interpela��es judiciais ajuizadas em desfavor da Julieta. Ambos est�o se sentindo amea�ados e acuados'', afirma o boletim.
Ela conta que se tratam de interpela��es judiciais de pessoas f�sicas, aparentemente moradores do JK, mas que ela n�o conhece. ''S�o quase id�nticas e distribu�das em diferentes varas de BH'', disse.

Procurada pelo EM , a Pol�cia Civil de Minas Gerais (PCMG) informo que o caso est� sendo investigado pela Delegacia Adida ao Juizado Especial Criminal, em Belo Horizonte. ''Demais informa��es ser�o repassadas em momento oportuno'', informou a PC por meio de nota.
''Eu estou me sentindo insegura, estou preocupada. Na �ltima noite, n�o dormi nem quatro horas. Refor�ar meu compromisso e seriedade com esse pleito. A chapa n�o possui quest�es pessoais contra a s�ndica. O que queremos s�o mudan�as reais na administra��o, como transpar�ncia na presta��o de contas e a conclus�o de obras. N�o s�o mentiras que v�o me fazer desistir de tentar o melhor para o condom�nio. Temos muito apoio de moradores, mas n�o � algo f�cil lidar com tudo isso'', disse Julieta.
Em julho, Julieta j� havia recebido uma intima��o, por iniciativa da s�ndica, em que era acusada de difama��o ap�s dar entrevistas a ve�culos de imprensa sobre a elei��o no JK. Inclusive ao Estado de Minas , que, na �poca, tentou contato com a s�ndica, mas n�o obteve retorno.
"Em 4/11/2020, foram publicadas in�meras mat�rias jornal�sticas, nos mais diversos ve�culos de imprensa, em que a requerida, moradora do mesmo condom�nio, em entrevista, fez insinua��es sobre a lisura, a transpar�ncia e a imagem da parte autora", diz o documento.
A s�ndica incluiu no documento um abaixo-assinado "feito por outros moradores do Condom�nio JK, no qual pedem provid�ncias quanto �s atitudes da r�, pois acreditam que elas possam se refletir at� mesmo no valor das unidades imobili�rias existentes no condom�nio, desvalorizando seu valor de mercado".
Em junho de 2020, o EM j� havia mostrado relatos sobre cartas deixadas em apartamentos que amea�am divulgar uma lista com nomes de moradores que teriam denunciado irregularidades na instala��o de grades no condom�nio.
"Ao que parece, chegaram outros aventureiros, dizendo-se salvadores da p�tria do WhatsApp, agora com a ideia de resgatar o JK ao que era antes", dizia a carta. O bilhete diz ainda que o grupo atua com interesses "escusos”, na tentativa de “promover desordem” para desvalorizar os im�veis.
Agress�o f�sica
Outros epis�dios graves aconteceram no fim do ano passado contra Wesley Vieira Campos, de 72 anos, e morador do Bloco B do edif�cio. Ele, que tamb�m integra a chapa de oposi��o, denuncia tr�s agress�es entrou com pedido de medida protetiva.
Segundo o morador, em 6 de dezembro do ano passado, ocorreu o primeiro ataque por um dos funcion�rios. Ele contou que fixava o papel para a convoca��o da assembleia geral. Isso porque, segundo moradores, a defini��o da data foi comunicada aos cond�minos nas v�speras e nem todos receberam o aviso. Foi quando um funcion�rio o empurrou. Um v�deo gravado pelo pr�prio Wesley foi anexado no pedido. As imagens mostram o funcion�rio chamando o idoso de 'retardado mental'.
Tr�s dias depois, ele contou que esteve na administra��o do condom�nio a pedido do gerente com o intuito de buscar documentos que ca�ram na recep��o. Imagens mostram um dos funcion�rios dizendo que n�o havia documento perdido e que deveria ser 'problema de droga'.
Wesley conta que como n�o devolveu os documentos, os �nimos se exaltaram. Ao perceber que estava sendo filmado, Wesley contou que o agressor tomou o celular do idoso e o jogou no ch�o.
"Fui pegar alguns documentos que ca�ram no ch�o e eles falaram que eu deveria ir na administra��o. Quando eu cheguei, um funcion�rio me agarrou por tr�s, rasgou minha camisa. Jogou o meu celular no ch�o'', disse. Um boletim de ocorr�ncia foi feito.
A terceira agress�o e a mais grave aconteceu em 31 de dezembro. Wesley contou que estava com viagem definida e sem data de retorno prevista e foi at� a sede para buscar o boleto com a taxa de condom�nio do m�s de janeiro. Ao sair do escrit�rio, o idoso perguntou sobre o celular que havia sido quebrado. Neste momento, de acordo com a v�tima, o funcion�rio deu um soco em sua nuca. ''Ele me pegou por tr�s e me deu um soco'', relembrou Wesley.

A les�o evoluiu com micro sangramento e culminou na necessidade de cirurgia. No laudo m�dico, consta que Wesley foi submetido a tratamento cir�rgico de hematoma intracraniano bilateral e manteve acompanhamento neurocir�rgico.
''Fiquei um tempo na casa da minha filha. A minha fam�lia est� muito preocupada, teme pela minha integridade f�sica. Mas eu decidi voltar para minha casa no in�cio desta semana. Moro aqui desde 2006, gosto do meu apartamento e quero retomar a minha rotina'', relatou.
De acordo com o Tribunal de Justi�a de Minas Gerais (TJMG) os processos atualmente est�o tramitando no Juizado Especial Criminal. Dois processos correm na justi�a: um refere-se a uma queixa crime de inj�ria de Wesley contra o subs�ndico, ocorrida em 6 de dezembro de 2020. O segundo refere-se a uma apura��o de les�o corporal de outro funcion�rio contra Wesley, ocorrida em 31 de dezembro de 2020.
''Nesse segundo houve pedido de advogada da v�tima requerendo declara��o de incompet�ncia do JESP Criminal, sob argumento de novo laudo comprovando que a les�o n�o foi leve, mas sim grave, requerendo a redistribui��o para Justi�a Comum'', informou o TJMG. O Minist�rio P�blico opinou pelo encaminhamento do feito ao IML a fim de se confrontar os dois laudos.
A reportagem entrou em contato com a administra��o do condom�nio e deixou um celular para contato �s 15h08. �s 16h49, ligou novamente, mas sem retorno. Portanto, at� a publica��o desta mat�ria, a administra��o n�o se manifestou. A mat�ria ser� atualizada caso entrem em contato.
Enquanto isso...
Vit�ria para os moradores! Uma comiss�o formada pela Prefeitura de Belo Horizonte – representada pela Diretoria de Patrim�nio Cultural e Arquivo P�blico da Funda��o Municipal de Cultura – e moradores do Conjunto Juscelino Kubitschek, o Edif�cio JK, deve agilizar o processo de tombamento do condom�nio projetado em 1952 pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
A decis�o foi tomada em audi�ncia p�blica realizada na C�mara Municipal, nessa ter�a-feira (31/8), com a finalidade de debater a fun��o social e arquitet�nica do condom�nio.
O processo administrativo para tombamento do edif�cio, aberto em 2007, encontra-se ainda em fase de instru��o. A prote��o provis�ria veda qualquer altera��o, reparo, pintura ou restaura��o e a coloca��o de an�ncios ou cartazes na fachada. Toda e qualquer interven��o deve ser submetida � aprecia��o e autoriza��o pr�via do Conselho Deliberativo do Patrim�nio Cultural de Belo Horizonte (CDPC-BH).