
Morador de Brumadinho, na Grande BH, Salvador tomou para si a miss�o de auxiliar no reflorestamento e recupera��o das �reas destru�das pelo rompimento ocorrido em 25 de janeiro de 2019, eue matou 270 pessoas, sete ainda desaparecidas.
Nascido em Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, recebeu o apelido de “Guardi�o das Sementes”, mas diz que seu talento veio heredit�rio. “O gosto pela natureza eu herdei do meu pai. Fui criado na mata, muito curioso por �rvores. Quando fui tomando mais idade comecei a trabalhar como produtor rural, at� descobrir que poderia usar meu gosto como profiss�o”, lembra.
“Sou muito feliz como coletor de sementes, ou mateiro, como se diz na ro�a. Todo conhecimento que tenho foi adquirido por anos de experi�ncia e observa��o. Nunca entrei em uma faculdade. Hoje trabalho com bi�logos e professores. A semente tem valor, � um produto da floresta que n�o � madeira, ent�o n�o elimina a �rvore e preserva a natureza”, pondera.
Salvador dedica a maior parte dos seus dias � coleta de sementes de �rvores nativas que est�o ajudando a reflorestar a regi�o e a garantir a conserva��o das esp�cies, algumas amea�adas de extin��o dentro do “Projeto Sementes”, da Vale, que representa uma das v�rias frentes que objetivam recuperar, no prazo de 10 anos, cerca de 297 hectares impactados, 140 de �rea florestal.
At� o momento, 15 hectares de �reas diretamente impactadas pelo rompimento e obras de repara��o no entorno da �rea, incluindo �reas protegidas (Reserva Legal e �rea de Preserva��o Permanente), est�o em processo de reflorestamento com esp�cies nativas da regi�o.
J� foram coletados cerca de 600 kg de frutos e sementes de 80 esp�cies diferentes. Com isso, 200 mil mudas foram produzidas e est�o sendo plantadas aos poucos em �reas impactadas e �reas de compensa��o.
Para produzir mudas nativas, em quantidade e com qualidade, a coleta de sementes � uma das etapas mais importantes do processo. “A coleta de sementes nativas da flora brasileira est� ligada historicamente � rela��o de domestica��o de plantas pelos povos ind�genas. S�o marcas culturais do povo brasileiro. Em Brumadinho, a biodiversidade � um patrim�nio imaterial”, afirma o professor da Universidade Federal de Vi�osa (UFV), Sebasti�o Ven�ncio Martins.

CALEND�RIO
Antes da coleta � necess�rio realizar estudos e preparar um calend�rio fenol�gico, uma esp�cie de invent�rio e agenda da floresta, para conhecer a qualidade, quantidade e �poca do ano em que cada esp�cie pode ser coletada. O processo de mapeamento e marca��o de matrizes envolve trabalho de campo, percorrendo os remanescentes florestais e identificando as esp�cies de interesse.
Com este levantamento, a localiza��o de cada �rvore � georreferenciada e s�o feitas anota��es sobre seu di�metro, altura e outras caracter�sticas. Esse processo permite definir quais s�o as �rvores “m�es”, de onde se pode extrair sementes e frutos. Para isso, s�o consideradas caracter�sticas como tamanho da copa, tronco, valor ecol�gico e quantidade de material dispon�vel.
Apenas uma parte dos frutos e sementes s�o coletadas, grande parte fica como alimento para a fauna, forma��o do banco de sementes no solo e a continuidade dos processos ecol�gicos de sucess�o florestal.
Ap�s a coleta, em alguns casos, � preciso que seja feita a extra��o, ou seja, a retirada das sementes dos frutos, que varia de acordo com o tipo da esp�cie. No caso de fruto carnoso, como sementes de Palmeiras, o processo utiliza �gua e peneiras de diferentes tipos, sempre manualmente e com cuidado. Quando o fruto est� seco � preciso coloc�-lo � sombra em um local ventilado para facilitar a extra��o de sementes.
Em seguida, as sementes s�o limpas e armazenadas em embalagens especiais, fincando prontas para iniciar o ciclo da vida.
LONGA VIAGEM
A transforma��o da semente em muda come�a em uma viagem de quase 700 km entre Brumadinho (MG) e a Reserva Natural Vale (RNV), em Linhares, no Esp�rito Santo, sendo a maior parte desse trajeto feita nos trens da Estrada de Ferro Vit�ria Minas. A �rea de 23 mil hectares � destinada � conserva��o e � pesquisa cient�fica, com expertise e capacidade de produ��o de at� tr�s milh�es de mudas por ano.
Na Reserva Natural Vale, as sementes s�o colocadas para germina��o e quando alcan�am o tamanho ideal est�o prontas para voltarem a Brumadinho como mudas em uma nova viagem.
Chegando em “casa”, durante um per�odo m�nimo de 15 dias, as mudas s�o hospedadas em um viveiro de espera na regi�o pr�xima �s �reas de restaura��o. L�, elas passam por um processo de adapta��o antes de serem encaminhadas para o plantio, processo conhecido como rustifica��o. Ap�s est� etapa, elas est�o aptas para serem plantadas
“Todo processo de recupera��o ambiental � demorado e, em longo prazo, o que estamos fazendo � tentar fortalecer este processo aplicando diferentes t�cnicas inovadoras e sustent�veis para o reflorestamento”, afirma Diego Aniceto, Analista Ambiental da Vale.

Para a revegeta��o acontecer, o primeiro passo � a remo��o dos rejeitos, atividade fundamental para apoiar as buscas realizadas pelo Corpo de Bombeiros. Somente ap�s a libera��o das �reas pelo CBMMG o trabalho � iniciado, j� que a busca pelas pessoas desaparecidas � prioridade m�xima desde o rompimento.
At� o momento, est�o em processo de reflorestamento 15 hectares, incluindo parte da �rea diretamente impactada e �reas protegidas. Ao final deste ano, a previs�o � que 23 hectares de �reas diretamente impactadas e seu entorno j� estejam em processo de reflorestamento, com o plantio de aproximadamente 30 mil mudas de esp�cies nativas da regi�o.
Sobre o reflorestamento, o professor Sebasti�o Ven�ncio destaca a��es importantes realizadas pela Vale e que s�o um diferencial para o sucesso da restaura��o, como a boa diversidade de esp�cies, a irriga��o em per�odos secos, o uso de protetores de biomanta, chamados de “manch�es”, que s�o colocados ao redor das mudas para evitar a competi��o com a braqui�ria e outras gram�neas.
Em rela��o � remo��o de rejeitos, dos cerca de 9 milh�es de m³ que se desprenderam da barragem B1, aproximadamente 40% j� foram manuseados e est�o sendo dispostos na cava da mina C�rrego do Feij�o, conforme autoriza��o dos �rg�os competentes.