
Conhecido por ser grande polo da moda de Belo Horizonte, o Barro Preto, na Regi�o Centro-Sul da cidade, come�a a mostrar uma nova face. O bairro agora tem caracter�sticas de uma rodovi�ria, com �nibus aos montes, embarque, desembarque e passageiros em constante circula��o.
A reportagem do Estado de Minas constatou a intensa movimenta��o, especialmente em hor�rios tradicionais de partidas e chegadas, durante a noite e manh� – o movimento foi amplificado por conta das festas de fim de ano. Os �nibus, todos fretados (em grande parcela via aplicativos, como Buser), estacionam na rua e fazem o servi�o de embarque e desembarque na cal�ada.

O bairro est� virando uma rodovi�ria. Se voc� vier aqui �s 6h da manh�, encontra de 10 a 15 �nibus parados no meio da rua
Geraldo Alves Azevedo
S�o diversos os pontos nas ruas Araguari e Guajajaras, duas das mais conhecidas do bairro. A cena se repete entre os locais de embarque e desembarque, com muitos passageiros no passeio e algumas irregularidades de tr�nsito.
Um exemplo ocorreu na Rua Araguari, pr�ximo � esquina com a Avenida Augusto de Lima. Neste caso, os ve�culos fretados utilizaram um espa�o do ponto de �nibus municipais, gerando transtorno ao usu�rio do transporte p�blico e ao motorista.
Outra quest�o constatada pela reportagem foi a movimenta��o no m�nimo desconfort�vel quando chove. Neste caso, motoristas, agentes de bordo e passageiros precisam encarar a chuva em meio ao servi�o – diferentemente da Rodovi�ria de Belo Horizonte, no Centro da capital, utilizada por empresas rodovi�rias de grande porte e que tem �reas de embarque e desembarque cobertas.
Outro problema � o risco de assalto, j� que as ruas do Barro Preto n�o se caracterizam pela movimenta��o intensa de populares, com pontos mais ermos. A reportagem n�o localizou um esquema de seguran�a espec�fico no bairro, somente patrulhas policiais convencionais.
Uma poss�vel explica��o para o Barro Preto ter se tornado uma rodovi�ria alternativa e n�o-oficial de BH � a proximidade do bairro ao Terminal JK, na mesma regi�o. O local � um tradicional – e legal – ponto de embarque e desembarque para viagens longas, como da capital mineira at� Aparecida do Norte, cidade de S�o Paulo.
Por�m, no Terminal JK h� espa�o para, no m�ximo, quatro �nibus pararem ao mesmo tempo. O tradicional ponto conta com policiamento, cobertura e um espa�o espec�fico onde passageiros aguardam e embarcam e agentes de bordo e motoristas realizam alguns servi�os, como checagem das passagens e coloca��o de malas no bagageiro.
Reclama��es
Geraldo Alves Azevedo, de 68 anos, � taxista h� 35. Ele faz ponto no Terminal JK e conta que percebeu a mudan�a no bairro, antes conhecido como polo da moda. “Bagun�a tem demais, n�o tem ningu�m para orientar, passageiro perde �nibus porque troca de placa na hora e o tr�nsito fica insuport�vel de manh� cedo. Est� dif�cil trabalhar aqui. Eles (�nibus) param no meio da rua, o Uber tamb�m n�o para no lugar certo, param na entrada do �nibus.”
O taxista afirma que n�o gostou da mudan�a. “O bairro est� virando uma rodovi�ria. Se voc� vier aqui �s 6h da manh�, encontra de 10 a 15 �nibus parados no meio da rua.” Apesar de n�o trabalhar � noite, ele comenta que o movimento � grande tamb�m no per�odo noturno.
Segundo Azevedo, o aumento do n�mero de passageiros na regi�o n�o significa mais demanda de clientes para os taxistas. “S�o poucos os que pegam t�xi porque j� pagam uma passagem barata (nos �nibus por aplicativo).”
Ele conta, por�m, que outros passageiros desembarcam dos �nibus de turismo. “N�o � s� Buser que para aqui. T�m outros que vem de Porto Seguro, Jequitinhonha, Almenara. Esses d�o passageiro.”
O comerciante Hudson Silva Teixeira, de 40, tem uma loja de manequins no terminal JK h� 20 anos. Para ele, o principal problema com o aumento de passageiros na regi�o � a falta de estrutura do local. “Aqui n�o tem tanta infraestrutura para o fluxo que est� tendo ultimamente.” Segundo ele, os passageiros pedem para usar o banheiro da loja ou v�o em busca de informa��es.
“E n�o tem ningu�m para orientar eles aqui. Eles buscam passagem mais ‘em conta’, mas acabam tendo transtornos. Tem gente que fica vagando por aqui, perde passagem. Eles ficam esperando o �nibus, mas perdem a placa. �s vezes aqui est� lotado, o espa�o s� suporta cinco �nibus.”
Depois que o terminal j� est� ocupado, de acordo com o comerciante, os outros ve�culos precisam parar mais distantes do local reservado para o embarque e desembarque. “Com o terminal lotado, eles (�nibus) t�m que parar ao redor, �s vezes a um quarteir�o daqui. S� que os passageiros ficam esperando aqui e acabam perdendo o �nibus pelo desencontro de informa��o.”
O que diz a PBH
O Estado de Minas entrou em contato com a Prefeitura de BH em busca de respostas sobre o novo grande ponto de embarque e desembarque de �nibus de viagem na cidade. Em nota, a PBH informa que “o transporte fretado interestadual � fiscalizado pela ANTT. Agentes da BHTrans monitoram diariamente a regi�o do Barro Preto e atuam em casos de problemas de tr�nsito ocasionados pelo embarque e desembarque de passageiros de transporte fretado. Sobre a quest�o do Buser, o tema est� sendo tratado por legisla��o na Assembl�ia Estadual e no Governo de Minas.”
O que diz a Buser
A principal fretadora de viagens de �nibus via aplicativo tamb�m foi procurada. A empresa, que vive um impasse quanto ao seu funcionamento em Minas Gerais, “ressalta que o ponto localizado no Barro Preto conta com autoriza��o da Prefeitura Municipal para servir como estacionamento e �rea de embarque e desembarque de viajantes em �nibus tur�sticos em Belo Horizonte (MG). Maior plataforma de intermedia��o de viagens rodovi�rias do Brasil, a Buser est� buscando solu��es, junto ao munic�pio, para melhorar o atendimento aos clientes no local e minimizar os impactos de vizinhan�a na cidade. A inten��o da empresa � oferecer mais conforto aos usu�rios do sistema de fretamento colaborativo em Belo Horizonte e em todo o estado de Minas Gerais.”
Embate entre Assembleia e Executivo
A Buser se ampara em decis�es judiciais para continuar operando em Minas Gerais. Antes disso, o transporte fretado foi protagonista de embate entre Legislativo e Executivo. Os deputados estaduais aprovaram em agosto deste ano um marco regulat�rio para o setor, que teve trechos vetados pelo governador mineiro Romeu Zema (Novo). Em novembro, os vetos foram derrubados.
Passaram a valer, ent�o, proibi��es a pr�ticas como a venda individual de passagens. Em tese, o embarque de passageiros em cidades que n�o a de origem da viagem ficou proibido. A lista de ocupantes dos �nibus precisa ser enviada ao Departamento de Edifica��es e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) em no m�ximo seis horas antes da sa�da do ve�culo.
O imbr�glio, iniciado ainda em junho, dividiu o setor. De um lado, os fretadores, temendo inviabiliza��o da atividade em Minas Gerais. Do outro, os representantes das empresas de transporte regular, receosos sobre os impactos do veto no mercado de trabalho formal. Segundo eles, o veto resultaria em 250 mil pessoas desempregadas. A classe tem afirmado, ainda, que as empresas que trabalham com aplicativo precarizam os direitos trabalhistas.
Segundo a Buser, cinco dos 10 destinos mais procurados pelos usu�rios da plataforma partem de Belo Horizonte.
Em meio ao amparo judicial alegado pelo aplicativo para operar no estado, uma liminar se destaca. No in�cio deste m�s, a Justi�a concedeu medida cautelar permitindo que a Capit�o Turismo, uma das empresas que presta servi�os por meio do aplicativo, n�o seja alvo de autua��es e apreens�es do DER mineiro.