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Estado de Minas �REA DE RISCO

Casas depenadas e becos vazios por medo de despejo em Betim

Mesmo com concilia��o marcada para o dia 12, moradores do Beco do Fagundes preferiram retirar seus pertences de casas que podem ser demolidas pela prefeitura


05/01/2022 10:56 - atualizado 05/01/2022 12:51

Avandir Ferreira da Costa, 64 anos, em sua casa onde removeu janelas portas e moveis com medo do despejo Beco Fagundes, onde 27 famílias foram notificadas de despejo por morar em área de risco onde duas pessoas morreram soterradas em 2020 no Jardim Teresópolis, em Betim
Avandir Ferreira j� removeu portas, janelas, telhas, vasos e pias da casa onde ainda dorme sozinho e pode ser despejado (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A.Press)
Do alto do barranco de escombros, terra exposta e lonas gastas contra a chuva, o Beco do Fagundes amanheceu praticamente deserto nesta quarta-feira (5/1), no Bairro Jardim Teres�polis, em Betim, na Grande BH. Verdadeiro contraste com o movimento intenso do dia anterior, quando vigorou, at� �s 19h30, a ordem de despejo de 27 fam�lias da �rea de risco.

A ter�a-feira foi de trabalho ininterrupto das fam�lias amea�adas, que terminaram de arrancar suas telhas, esquadrias, janelas, batentes, portas, tanques, pias, vasos sanit�rios e tudo mais que podiam, antes que a ordem de despejo fosse cumprida, na manh� seguinte, com refor�o policial.

Mesmo com a cassa��o dessa ordem judicial ainda na noite de ter�a-feira, muitas fam�lias preferiram n�o retornar a suas casas, transformando, na manh� desta quarta-feira, o beco condenado pela Defesa Civil em praticamente uma comunidade fantasma.

Andando pelas vielas estreitas e �ngremes de cimento e pedras, das fachadas de barracos sem as janelas e portas ainda se v� que alguns pertences resistem, como colch�es e cobertores deixados ao ch�o por quem esvaziou sua moradia para se prevenir de danos em caso de remo��o for�ada, mas que pretende resistir sozinho. A comunidade considera que suas habita��es n�o estejam em risco.

residências vazias, sem janelas portas e telhas foram depenadas pela população por medo de despejo forçado bairro fantasma Beco Fagundes, onde 27 famílias foram notificadas de despejo por morar em área de risco onde duas pessoas morreram soterradas em 2020 no Jardim Teresópolis, em Betim
Barracos e casas tiveram quase tudo removido por medo de que o despejo for�ado os trouxesse preju�zos e depois at� roubos (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A.Press)
Ainda vivem pessoas em partes condenadas pela Defesa Civil, mesmo em meio aos entulhos e lama onde duas fam�lias foram salvas ap�s o desabamento, em janeiro de 2020, mas do qual o deficiente Gilson dos Santos, de 48 anos, e Bruna Nat�lia de Oliveira, de 17, n�o conseguiram escapar com vida.

Uma delas � o catador de material recicl�vel Avandir Ferreira da Costa, de 64 anos, que vive no bairro h� 40 anos. Ele est� no lugar mais baixo, no p� do barranco onde os �ltimos barracos desabaram no ano da trag�dia.

"Se descer o barranco eu estou na reta, estou na frente. Agora, s� mora aqui comigo Deus e eu. A fam�lia est� em outra casa, segura. De mim, quem sabe � Deus. Eu estou dormindo aqui ainda, n�o tem lugar pra eu ir. Para onde me mandarem, vou ter que ir", disse, enquanto reunia as �ltimas estruturas da casa para vender, como forros e telhas, j� que n�o conseguiria transportar para um local seguro.

moradora entre as casas depenadas residências vazias, sem janelas portas e telhas foram depenadas pela população por medo de despejo forçado bairro fantasma Beco Fagundes, onde 27 famílias foram notificadas de despejo por morar em área de risco onde duas pessoas morreram soterradas em 2020 no Jardim Teresópolis, em Betim
Vez ou outra pessoas perambulam pelo cen�rio fantasma de ru�nas que virou o Beco Fagundes (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A.Press)
Na casa de Avandir quase tudo j� foi removido. Apenas o b�sico ainda est� por l� para que ele tenha um teto sobre sua cabe�a, mas n�o perca tudo caso a pol�cia entre em a��o e ocorra a desocupa��o.

O port�o de entrada da casa se foi e o que separa a propriedade do beco � apenas um cabo telef�nico amarrado de uma extremidade � outra da abertura. Dois c�es, o Zezinho e a Pretinha, ainda moram com o catador, fazendo companhia e seguran�a.

A energia el�trica vem de um cabo grosso, um gato que traz eletricidade da rede p�blica atravessando todos os escombros da �rea desabada e entrando na habita��o por um orif�cio furado na parede. Fornece energia para os poucos aparelhos que rompem o sil�ncio do lugar abandonado, como uma televis�o de tubo e um r�dio antigo.

morador remove parte do telhado de sua casa residências vazias, sem janelas portas e telhas foram depenadas pela população por medo de despejo forçado bairro fantasma Beco Fagundes, onde 27 famílias foram notificadas de despejo por morar em área de risco onde duas pessoas morreram soterradas em 2020 no Jardim Teresópolis, em Betim
Enquanto alguns moradores resistem, outros continuam a remover partes de suas casas por medo de despejo for�ado (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A.Press)
Em volta e dentro da casa, o material reciclado fica esparramado ou empilhado e aos poucos vai sendo selecionado para a venda em ferros-velhos e locais de reciclagem. Das frestas dessas pilhas saem insetos e tamb�m ratos, de acordo com o homem, que n�o se diz preocupado em dividir a moradia com esses parasitas e animais.

Os batentes das portas, as portas, as esquadrias e as janelas j� foram removidas, bem como a maioria dos m�veis. Dentro da casa, mesmo com as aberturas sem janelas e portas, a luz do dia n�o � suficiente para iluminar a escurid�o tornando o ambiente sombrio e �mido.

No �nico quarto habitado, Avandir dorme sobre um colch�o deixado ao ch�o com finas cobertas. De mob�lia, um arm�rio sem gavetas, uma mesa com os poucos pertences e documentos, um carrinho de m�o e uma roda de bicicleta.

Avandir Ferreira da Costa, 64 anos, no único quarto da casa onde ainda habita e uma bíblia em seu colchão Beco Fagundes, onde 27 famílias foram notificadas de despejo por morar em área de risco onde duas pessoas morreram soterradas em 2020 no Jardim Teresópolis, em Betim
No colch�o onde Avandir dorme no �nico c�modo ainda ocupado de sua casa ele se conforta com a leitura da b�blia (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A.Press)
Onde seria a cabeceira do colch�o, uma B�blia aberta na �ltima leitura,no cap�tulo de Jo�o, onde se l�, entre os vers�culos, o 16,33: "Eu disse essas coisas para que em mim voc�s tenham paz. Neste mundo voc�s ter�o afli��es; contudo, tenham �nimo! Eu venci o mundo".

"� a B�blia, � a palavra de Deus. � da� que tiro for�a para trabalhar todo dia e aceitar o que Deus fez pra mim. N�o sei ainda pra onde que eu vou, preciso saber pra onde v�o me mandar, mas aceito o que Deus tiver para mim", desabafa Avandir.

No alto, tamb�m em �rea considerada de risco pela prefeitura, o pedreiro aposentado Joaquim Coelho, de 77 anos, n�o quer deixar a sua casa e o lote onde construiu um pequeno bar, desativado desde de o desmoronamento de 2020. "A prefeitura diz que minha casa est� condenada, mas n�o h� trinca ou rachadura. O promotor disse que iria ver se tinha risco. Sou pedreiro e moro aqui h� 42 anos, se minha casa estivesse em risco, seria o primeiro a sair dela, pois eu ia saber. Daqui s� saio morto", disse.

Joaquim Coelho, de 77 anos, não quer deixar a sua casa e o lote onde construiu um pequeno bar Beco Fagundes, onde 27 famílias foram notificadas de despejo por morar em área de risco onde duas pessoas morreram soterradas em 2020 no Jardim Teresópolis, em Betim
O pedreiro aposentado Joaquim Coelho resite, n�o aceita que a casa esteja condenada e diz que s� sai dela morto (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A.Press)
A casa apresenta bolor e descascamentos nas paredes voltadas para o barranco e trincas apenas pequenas nas �reas das janelas, aparentemente n�o apresentando rachaduras que indiquem, a princ�pio, nenhum perigo. Contudo, as edifica��es est�o muito pr�ximas ao barranco que desceu e poucos vizinhos ainda dormem nas moradias � sua volta.

Um grupo de moradores das partes mais baixas protestou exigindo serem deixados ou terem uma solu��o negociada e uma indeniza��o coerente. Pol�cia Militar e a Defesa Civil municipal estiveram na vizinhan�a, mas apenas averiguando as condi��es de seguran�a da comunidade e informando sobre as propostas de evacua��o da prefeitura.

Viatura da Polícia Militar batalhão de choque faz ronda em comunidade enquanto pessoas removem seus pertences Beco Fagundes, onde 27 famílias foram notificadas de despejo por morar em área de risco onde duas pessoas morreram soterradas em 2020 no Jardim Teresópolis, em Betim
Viaturas policiais fizeram rondas de seguran�a na comunidade e a defesa civil realizou vistorias enquanto despejo corre na Justi�a (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A.Press)
Na noite de ter�a-feira, ap�s reuni�o de media��o emergencial entre a comunidade, prefeitura, vereadores, Minist�rio P�blico, Defensoria P�blica e Pol�cia Militar, o juiz Jos� Romualdo Duarte Mendes suspendeu a desocupa��o dos im�veis que estava inicialmente prevista para a manh� desta quarta. Uma reuni�o de concilia��o est� marcada para o dia 12, �s 14h.

A Prefeitura de Betim oferece aos moradores desapropriados o recebimento de aluguel social no valor de R$400 ou moradias populares em dois bairros da cidade. Ap�s a demoli��o das casas a inten��o seria construir uma conten��o vegetada, uma vez que t�cnicos afirma que n�o h� condi��es para conten��es de concreto no terreno.


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