
A ter�a-feira foi de trabalho ininterrupto das fam�lias amea�adas, que terminaram de arrancar suas telhas, esquadrias, janelas, batentes, portas, tanques, pias, vasos sanit�rios e tudo mais que podiam, antes que a ordem de despejo fosse cumprida, na manh� seguinte, com refor�o policial.
Mesmo com a cassa��o dessa ordem judicial ainda na noite de ter�a-feira, muitas fam�lias preferiram n�o retornar a suas casas, transformando, na manh� desta quarta-feira, o beco condenado pela Defesa Civil em praticamente uma comunidade fantasma.
Andando pelas vielas estreitas e �ngremes de cimento e pedras, das fachadas de barracos sem as janelas e portas ainda se v� que alguns pertences resistem, como colch�es e cobertores deixados ao ch�o por quem esvaziou sua moradia para se prevenir de danos em caso de remo��o for�ada, mas que pretende resistir sozinho. A comunidade considera que suas habita��es n�o estejam em risco.

Uma delas � o catador de material recicl�vel Avandir Ferreira da Costa, de 64 anos, que vive no bairro h� 40 anos. Ele est� no lugar mais baixo, no p� do barranco onde os �ltimos barracos desabaram no ano da trag�dia.
"Se descer o barranco eu estou na reta, estou na frente. Agora, s� mora aqui comigo Deus e eu. A fam�lia est� em outra casa, segura. De mim, quem sabe � Deus. Eu estou dormindo aqui ainda, n�o tem lugar pra eu ir. Para onde me mandarem, vou ter que ir", disse, enquanto reunia as �ltimas estruturas da casa para vender, como forros e telhas, j� que n�o conseguiria transportar para um local seguro.

O port�o de entrada da casa se foi e o que separa a propriedade do beco � apenas um cabo telef�nico amarrado de uma extremidade � outra da abertura. Dois c�es, o Zezinho e a Pretinha, ainda moram com o catador, fazendo companhia e seguran�a.
A energia el�trica vem de um cabo grosso, um gato que traz eletricidade da rede p�blica atravessando todos os escombros da �rea desabada e entrando na habita��o por um orif�cio furado na parede. Fornece energia para os poucos aparelhos que rompem o sil�ncio do lugar abandonado, como uma televis�o de tubo e um r�dio antigo.

Os batentes das portas, as portas, as esquadrias e as janelas j� foram removidas, bem como a maioria dos m�veis. Dentro da casa, mesmo com as aberturas sem janelas e portas, a luz do dia n�o � suficiente para iluminar a escurid�o tornando o ambiente sombrio e �mido.
No �nico quarto habitado, Avandir dorme sobre um colch�o deixado ao ch�o com finas cobertas. De mob�lia, um arm�rio sem gavetas, uma mesa com os poucos pertences e documentos, um carrinho de m�o e uma roda de bicicleta.

"� a B�blia, � a palavra de Deus. � da� que tiro for�a para trabalhar todo dia e aceitar o que Deus fez pra mim. N�o sei ainda pra onde que eu vou, preciso saber pra onde v�o me mandar, mas aceito o que Deus tiver para mim", desabafa Avandir.
No alto, tamb�m em �rea considerada de risco pela prefeitura, o pedreiro aposentado Joaquim Coelho, de 77 anos, n�o quer deixar a sua casa e o lote onde construiu um pequeno bar, desativado desde de o desmoronamento de 2020. "A prefeitura diz que minha casa est� condenada, mas n�o h� trinca ou rachadura. O promotor disse que iria ver se tinha risco. Sou pedreiro e moro aqui h� 42 anos, se minha casa estivesse em risco, seria o primeiro a sair dela, pois eu ia saber. Daqui s� saio morto", disse.

Um grupo de moradores das partes mais baixas protestou exigindo serem deixados ou terem uma solu��o negociada e uma indeniza��o coerente. Pol�cia Militar e a Defesa Civil municipal estiveram na vizinhan�a, mas apenas averiguando as condi��es de seguran�a da comunidade e informando sobre as propostas de evacua��o da prefeitura.

A Prefeitura de Betim oferece aos moradores desapropriados o recebimento de aluguel social no valor de R$400 ou moradias populares em dois bairros da cidade. Ap�s a demoli��o das casas a inten��o seria construir uma conten��o vegetada, uma vez que t�cnicos afirma que n�o h� condi��es para conten��es de concreto no terreno.