Abre Campo, Nova Era, Rio Casca, Ro�as Novas e S�o Domingos do Prata – Do alto de morros saturados pelas chuvas incessantes, uma mistura densa de �gua, lama e rochas escorrega e alcan�a as estradas. Sob o pavimento, a mesma �gua incontida pelas drenagens vai minando as rodovias e engolindo acostamentos e pistas indiferente ao tr�fego pesado.
Embora com trechos j� interditados por mais de 20 dias desde as chuvas intensas de janeiro e depois de receberem desvios prec�rios, a BR-262, que liga Jo�o Monlevade a Vit�ria (ES), e a BR-381, via de liga��o de Belo Horizonte a Governador Valadares, continuam amea�adas de interrup��es devido a desabamentos progressivos e vis�veis. Alguns deles nem sequer foram sinalizados, como constatou a reportagem do Estado de Minas.
PISTA DESAPARECE - Uma das regi�es mais afetados pelos estragos na BR-262, em Rio Casca parte da estrada cedeu e ficou submetida ao impacto continuado das chuvas e da lama que escorre
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
As duas estradas est�o entre as rotas preferidas dos mineiros para passar o carnaval no Esp�rito Santo (BR-262) ou na Bahia (BR-381) e ser�o alvo de leil�o para concess�o programado para o dia 25. A mais amea�ada de ser interrompida por barreiras ou desmoronamentos � a BR-262.
S�o pelo menos quatro eros�es engolindo as pistas entre Jo�o Monlevade e Abre Campo, sendo que nessa �ltima cidade as chuvas interditaram a via em 18 de janeiro, ap�s o Rio Santana ter devastado a base da estrada. H� tr�s desvios prec�rios providenciados pela prefeitura local, mas antes deles o munic�pio ficou durante uma semana sem acessos e intranspon�vel aos viajantes.
TRECHOS DESABANDO - Vista proporcionada por imagem de drone na BR-381, onde trechos afetados por barreiras e buracos transformam o tr�fego em arriscada e permanente aventura para os motoristas
(foto: Mateus Parreiras/EM/D.A Press)
Um isolamento pode voltar a ocorrer na altura de S�o Domingos do Prata, onde as enxurradas constantes suplantam as drenagens modestas da rodovia e desintegram o solo que a sustenta na altura do KM-175. A pista de sentido Jo�o Monlevade j� desabou para o fundo de um posto que se abre 30 metros abaixo da pista erodida. Enquanto caminh�es, �nibus, carros e motos se espremem para passar dividindo o acostamento oposto e a pista de sentido Vit�ria, o solo desprende placas de barro e escorrega ampliando progressivamente a cratera.
Precip�cio ao lado do asfalto
A forte chuva mostra ser quest�o de tempo at� que mais partes da rodovia caiam e sejam tragadas pela eros�o, podendo at� interromper a estrada. Desvios e pequenos diques de asfalto feitos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em dezembro apenas atrasam as enxurradas que descem pela via e passam por cima do obst�culo, fazendo a beira do asfalto dependurado no precip�cio se transformar em uma cascata.
Um buraco se aprofunda na encosta, desce do barranco e vai se alastrando sob a terra, j� minando outras partes ainda n�o vis�veis da estrada. No meio de outra encosta do barranco, abaixo das cachoeiras que saltam do asfalto, brota um esguicho de vaz�o de �gua t�o forte que parece a ponta de uma mangueira com a torneira completamente aberta.
LODA�AL TOMA CONTA - Lama toma conta dos pavimentos em Jo�o Monlevade, ampliando os obst�culos impostos, enquanto especialistas recomendam contratos emergenciais para reparos (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Uma placa de m�quinas na pista e outra alertando sobre homens trabalhando foram esquecidas, uma vez que ningu�m interv�m nesse trecho. Mas servem para fazer o motorista reduzir a velocidade antes da cratera que se abre e que foi sinalizada com placas refletivas. Uma das placas chegou a ser engolida pela eros�o, mostrando que o desmoronamento s� se amplia.
Outra sinaliza��o simplesmente afundou no asfalto e est� dependurada, como se tivesse perfurado o pavimento. Ao todo, a reportagem contabilizou quatro trechos onde o terreno que sustentava a estrada cedeu e parte da via, seja acostamento ou pista, acabaram levados por processos que continuam a evoluir visivelmente.
Encostas desfeitas
Em outros sete trechos, o que amea�a de interrup��o a BR-262 s�o os deslizamentos de encostas. Alguns chegaram a ser sinalizados, sobretudo em S�o Domingos do Prata e Rio Casca, mas h� desabamentos de rochas e lama novos e outros que seguem caindo e soterraram as sinaliza��es providenciadas pelos oper�rios sob contrato do Dnit.
O pior deslizamento fica no KM150, pouco antes da ponte sobre o Rio Doce e que demarca o limite entre os munic�pios de S�o Domingos do Prata e Rio Casca. De um monte rochoso de mais de 90 metros uma �gua constante mina por v�rios pontos como se fossem cascatas, carreando continuamente lama e detritos. No intervalo entre a passagem dos carros e caminh�es o ru�do das quedas d'�gua � ouvido com nitidez.
Quem se presta a esse mesmo intervalo de tempo pode ver tamb�m que as corredeiras levam aos poucos o apoio de barrancos e pedregulhos, testemunhando em v�rios pontos novos desabamentos, muitos deles atingindo o asfalto depois de uma longa queda.
As pedras e a lama est�o acumuladas entre a drenagem da rodovia e o acostamento formando uma camada de mais de dois palmos que avan�a na dire��o da pista enquanto recebe mais partes da encosta que vai desabando. A pista inteira ficou da cor do barro, o que mostra que por vezes a lama chega a tomar conta do pavimento.
Asfaltos fragilizados e bloqueios iminentes
Na rodovia BR-381, entre Belo Horizonte e Abre Campo, a interrup��o da estrada levou � abertura de tr�s desvios prec�rios, que ficam intransit�veis com as constantes chuvas, obrigando a rotas alternativas de mais 100 quil�metros por outras cidades, como Caratinga e Vi�osa. As amea�as mais presentes s�o as de deslizamentos de encostas que podem bloquear a estrada.
DESTRUI��O EM SEQU�NCIA - EM verificou ao menos quatro eros�es no caminho da BR-262, que liga Monlevade a Abre Campo, nas proximidades dos desvios e, em Rio Casca, o asfalto � desmanchado (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
A reportagem encontrou 12 pontos de desabamentos na �ltima semana, e alguns deles come�aram na quinta-feira. Partem de pontos variados, mesmo de pedreiras que pareciam s�lidas ao serem abertas na constru��o da estrada. A maior concentra��o desses desabamentos est� entre Caet� e Ro�as Novas, inclusive em pontos onde a obra de duplica��o da estrada j� foi finalizada.
Em Bom Jesus do Amparo, uma parte da pista no sentido Governador Valadares perdeu a sustenta��o do acostamento e parte desse espa�o de emerg�ncia cedeu com as enxurradas provocadas pelas chuvas. O local foi sinalizado para que os motoristas evitem trafegar por ali, mas essa eros�o segue sendo ampliada pelas chuvas que n�o d�o tr�gua.
O asfalto da pista naquele sentido come�ou a apresentar trincas que indicam que a base pode ser comprometida e ceder tamb�m. O local � de intenso fluxo e palco de imprud�ncia, uma vez que n�o est� duplicado e por isso � comum que motoristas ultrapassem na faixa cont�nua.
De acordo com o Instituto Federal de Educa��o, Ci�ncia e Tecnologia do Sul de Minas, o caso da BR-262 ultrapassa a conserva��o rotineira dos contratos vigentes que se restringem a “reparos localizados de defeitos na pista ou no acostamento com extens�o inferior a 150 metros e manuten��o regular dos dispositivos de drenagem, dos taludes laterais, da faixa lindeira, dos dispositivos de sinaliza��o e demais instala��es da rodovia”.
A grande extens�o de danos das chuvas necessitaria de contratos de “conserva��o de emerg�ncia''. Um conjunto de opera��es destinadas a corrigir defeitos surgidos de modo repentino, ocasionando restri��es ao tr�fego e ou s�rios riscos aos usu�rios”.
Servi�os em execu��o
O Minist�rio da Infraestrutura informou que os trechos t�m contrato de manuten��o e destacou as a��es feitas nos pontos em que ocorreram os bloqueios. No �ltimo dia 3, terminaram as obras de constru��o do desvio no KM321 da BR-381, no munic�pio de Nova Era, em Minas Gerais.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informa que h� uma empresa contratada executando servi�os de manuten��o permanente no desvio devido �s chuvas intensas que atingem o local. Quanto � BR 262/MG, o Dnit informa seguir com os servi�os de sondagens e monitoramento do maci�o no KM96 da BR-262, que continua avan�ado, pr�ximo � regi�o de Abre Campo.
Os engenheiros do Departamento atuam em uma ocorr�ncia de alta complexidade. Especialistas do DNIT tamb�m monitoram a estabiliza��o do local e realizam os levantamentos necess�rios para elaborar a solu��o definitiva do problema do eixo principal da rodovia federal. Em janeiro, devido ao n�vel elevado das chuvas que ocorreram na regi�o, o rio sofreu mudan�a no seu curso ocasionando um deslizamento de terra e ruptura da rodovia. Levando em conta a gravidade do ocorrido e o transtorno causado � regi�o, o DNIT decretou emerg�ncia e j� assinou o contrato para a execu��o dos servi�os de conten��o no segmento.