Em "cartaz" at� o dia 25, o projeto inclui pe�as da instala��o "Gira de novo", que comemora o cinquenten�rio do Giramundo (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
A chuva deu uma tr�gua na manh� de ontem, e os raios de sol deram as boas-vindas a uma novidade cultural na Pra�a Raul Soares, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte. Formas, cores, movimento, arte e faixas, com frases de reflex�o, inauguraram a instala��o in�dita do cinquenten�rio Grupo Giramundo, "Gira de novo", e da artista Mag Magrela, dentro da 6ª edi��o do Cura (Circuito Urbano de Arte). Os primeiros a curtirem a interven��o foram moradores em situa��o de rua, que, ao abrir os olhos, deram de cara com a iniciativa, "em cartaz" at� dia 25.
"Moro aqui h� 15 anos, metade do tempo em que estou na rua. Ent�o, considero este espa�o, onde vivo com meus cachorros, minha casa", contou Vander Alves da Silva, de 50, que se sustenta com a coleta de material recicl�vel. Para Vander, a Pra�a Raul Soares � um marco na hist�ria de BH, e "tudo deve ser feito para valoriz�-la". Olhando a instala��o art�stica, ele disse que ficou "legal", mas garante que a pra�a "n�o precisa de muito para ficar bonita, pois j� � assim pela sua natureza".
"Tudo deve ser feito para valoriz�-la", defende Vander
da Silva, referindo-se � pra�a, onde mora h� 15 anos (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Passando com seu carrinho de recolher mat�ria recicl�vel, Paulo Vin�cius da Silva gostou do aproveitamento do espa�o p�blico para atividades culturais. "J� vi muita movimenta��o aqui. Tinha mais era gente de igreja, mas j� vi manifesta��o (pol�tica) tamb�m. Tem de tudo ", afirmou. Lembrando que "convive" na Raul Soares, sendo ali um dos seu lugares "para viver" na capital, Paulo gostou da proposta "diferente" e que deve atrair moradores de BH e de cidades vizinhas.
A artes� Cl�udia Liz, residente no Bairro Castelo, na Regi�o da Pampulha, foi logo cedo. "Estou adorando. Estamos precisando de arte, de exposi��es, de teatro, enfim, de cultura, ainda mais ao ar livre", disse Claudia Liz, que leu as mensagens nas faixas: "O futuro � afetivo", "Sempre estiveram aqui" e "Falam, escuto". "Isso mesmo, precisamos agora e sempre de afeto e arte."
"Estou adorando. Estamos precisando de arte, de exposi��es, de teatro, enfim, de cultura, ainda mais ao ar livre", diz Cl�udia Liz, artes�
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Fotografando o cen�rio com entusiasmo, Cl�udia Liz disse que morou durante muitos anos perto da Pra�a Raul Soares, com a fam�lia. "Passei minha adolesc�ncia aqui, ia muito ao Cine Roxy, na Avenida Augusto de Lima, um cinema que n�o existe mais. BH era uma cidade onde havia mais conviv�ncia, e projetos assim podem recuperar essa proximidade entre as pessoas, ainda mais agora que estamos vacinados."
Impactos
A conviv�ncia da instala��o com a popula��o em situa��o de rua � poss�vel? Mais do que sim, "pois a arte � inclusiva", garante a turism�loga e DJ Andr�ia Rocha, moradora na Avenida Augusto de Lima. "Os impactos s�o culturais e sociais, o que significa inclus�o. Quem achar que n�o, que veja essa iniciativa apenas nas redes sociais ", avaliou Andreia, que seguia para se encontrar com a filha, Vida, de 15, na porta da escola.
Uma mulher que passava, e preferiu n�o se identificar, n�o gostou do que viu. "N�o me diz nada, sinceramente. Dinheiro gasto assim seria mais bem empregado em projetos sociais. Posso opinar, n�?" Sem d�vida, se a arte inclui, � tamb�m democr�tica, aberta e, neste caso, gratuita.
Movimento
A 6ª edi��o do Cura come�ou na primavera e segue em movimento, tendo na Pra�a Raul Soares, segundo os promotores, "o mais novo museu a c�u aberto da capital, como algo vivo que se multiplica". Em 2022, a “cole��o Raulzona”, em men��o ao espa�o, estar� em cena at� o dia 25, apresentando obras in�ditas de Mag Magrela, artista selecionada pela convocat�ria Beck’s em 2021, e o cinquenten�rio Grupo Giramundo.
“Em 2021, o Cura concebeu um festival-ritual para irradiar, a partir da pra�a, um novo ambiente de imers�o em arte p�blica. Foi lindo ver o encanto acontecer desde o momento em que convidamos geral para ver o que sempre esteve entre n�s: uma Raulzona de cultura marajoara viva em grafismos e em esp�rito presente, pra�a cheia de hist�ria e viv�ncias, com sua fonte central com contornos da Chakana peruana, de conex�es transamaz�nicas, encontro de povos e culturas latino-americanas”, explica Priscila Amoni, idealizadora do festival, ao lado de Jana�na Macruz e Juliana Flores.
Um dos grupos mais antigos de teatro de bonecos do Brasil, o Giramundo apresenta sua instala��o “Gira de novo”, idealizada pelo grupo Giramundo em parceria com o Cura, e inspirada no cosmograma bakongo. Em nota, os promotores do evento informam que ela foi "pensada para ocupar a pra�a, traz os ciclos do universo, os movimentos do sol e as fases da vida humana como s�mbolo de recome�o". Assim, "s�o duas obras de propostas, hist�rias e linguagens diferentes, mas que criam di�logos entre si e nos inspiram a continuar e a resistir sempre".
J� a partir de quinta-feira (17/2), a multiartista Mag Magrela (desenhista, grafiteira, pintora, escultora e cantora) traz "suas formas femininas singulares e j� t�o reconhecidas no graffiti para falar sobre passado, resili�ncia, sobre passar por tempos dif�ceis, sobre cura".
Cura em cena
Conforme os idealizadores, todo ano o Cura se permite escutar, aprender, propor, se transformar. "Nesta edi��o, ele se apresenta expandido — na sua dura��o, nos modos de conviver na cidade, de experimentar encontros na rua. Uma decis�o que se reflete na escolha por uma curadoria que se aprofunda em um Brasil que n�o � somente urbano e sudestino. Naine Terena de Jesus, pesquisadora, mestre em arte e mulher ind�gena do povo terena, e Flaviana Lasan, artista visual e educadora, com pesquisa sobre a presen�a da mulher na hist�ria da arte, somam seus olhares e viv�ncias com as das idealizadoras Jana�na Macruz, Juliana Flores e Priscila Amoni para conceber um festival-ritual, que abre os ouvidos e desperta os sentidos para os saberes, as tecnologias e os modos de fazer art�sticos dos povos tradicionais."