O transporte p�blico est� longe de satifisfazer os anseios dos passageiros em BH, que al�m da perspectiva de aumento das passagens se veem �s voltas tamb�m com a greve no metr�
(foto: fotos: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Atrasos, superlota��o, desconforto, falta de ve�culos e, para completar, a greve do metr�. Foi nesse cen�rio que os usu�rios de �nibus de Belo Horizonte receberam, na �ltima ter�a-feira (5), a not�cia de que a Justi�a determinou o aumento da passagem, que pode subir at� 30%. O Estado de Minas foi at� esta��es movimentadas da capital para entender como os moradores enfrentam as dificuldades no transporte p�blico e se organizam para lidar com uma eventual tarifa mais cara. A refeitura diz que vai recorrer para evitar a alta.
“O aumento � um absurdo. Caro demais, gente. N�o tem nem �nibus na linha. A gente fica esse tempo todo esperando �nibus. Se pelo menos pagasse um valor que justificasse, se houvesse mais �nibus na linha, se fosse mais r�pido e a gente viajasse sentado… Aqui vou sentada porque pego o �nibus neste ponto, que � o primeiro do Centro, mas quando venho de manh�, todos os dias viajo em p�”, conta a cozinheira Cl�udia Maria Borges, de 48 anos, usu�ria da linha 66 do Move.
Para Cl�udia Maria, h� um descompasso entre o valor pago e a qualidade do transporte oferecido em BH (foto: Para Cl�udia Maria, h� um descompasso entre o valor pago e a qualidade do transporte oferecido em BH
Denys Lacerda/EM/D.A Press
Michele C�sar tem que arcar com a passagem dela e da filha e reclama do aumento: "N�o justifica"
Leandro Couri/EM/D.A Press
O vigilante Marcus Vin�cius j� se prepara para reduzir a movimenta��o na cidade e evitar gastos
Leandro Couri/EM/D.A Press
Marlon Ferreira, que vende balas no Centro, pensa em limitar a atividade ao pr�prio bairro
Denys Lacerda/EM/D.A Press
D�bora posou para foto ap�s descer do �nibus: no ve�culo a reportagem n�o conseguiu usar a c�mera
Denys Lacerda/EM/D.A Press
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A rea��o de Cl�udia � a mesma de v�rios outros usu�rios ouvidos pela reportagem na esta��o do Move na Rua Carij�s, Centro de BH. Quem precisa circular pela capital se v� no meio de um conflito que envolve a prefeitura, a C�mara Municipal e as empresas de �nibus, pelo menos desde o fim de 2021.
As empresas de �nibus cobram reajuste tarif�rio anual previsto no contrato assinado com o Executivo. O aumento n�o � dado pela administra��o da cidade desde 2018, quando o valor principal da passagem chegou ao atual patamar, de R$ 4,50.
Como forma de resolver a quest�o, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) prop�s pagar um subs�dio que cobre o preju�zo das concession�rias com as gratuidades previstas em lei, como para idosos, funcion�rios dos Correios e pessoas com defici�ncia. Um Projeto de Lei que previa uma redu��o de R$ 0,20 na passagem foi enviado � C�mara em fevereiro, mas n�o foi votado e se tornou motivo de atrito entre Executivo e Legislativo.
Rec�m-empossado, o prefeito Fuad Noman (PSD) reenviou o projeto � C�mara como seu primeiro ato � frente da administra��o municipal, em 29 de mar�o. No entanto, antes que o PL fosse ao plen�rio para vota��o, uma decis�o judicial acatou pedido das empresas de �nibus e determinou que a passagem fosse reajustada. Nos c�lculos das concession�rias, o valor deve chegar a R$ 5,85.
D�bora posou para foto ap�s descer do �nibus: no ve�culo a reportagem n�o conseguiu usar a c�mera
(foto: Denys Lacerda/EM/D.A Press)
“Fiquei sabendo do aumento. Inclusive, acompanhei na esta��o um protesto dos usu�rios de transporte p�blico. Apoio o protesto porque (o que se v� nos �nibus) � uma condi��o sub-humana. Duvido que algum dono de empresa esteja quebrado. Eles dizem que est�o, mas a gente sabe que isso � mentira. Porque todo mundo aqui pagou o transporte e � vista, ningu�m viajou fiado. Como que eles est�o quebrados? Acho isso um absurdo, um desrespeito com o usu�rio do transporte p�blico”, protestou a secret�ria D�bora Silva de Oliveira, de 40, a bordo de um Move completamente lotado na linha 51.
A primeira rea��o da prefeitura foi sinalizar que cumpriria a medida judicial e elevaria o valor da passagem dentro do prazo previsto. Na quinta-feira (7), por�m, ap�s reuni�o com vereadores que formam um grupo de trabalho para avaliar a mobilidade urbana da capital, Fuad Noman declarou que vai recorrer da decis�o.
A PBH pretende recorrer contra o reajuste imposto pela Justi�a (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Nesse contexto de indefini��o, quem mora ou trabalha em BH e depende do transporte p�blico j� come�a a fazer c�lculos e a pensar em alternativas para evitar os impactos da poss�vel alta no bolso. Eliminar viagens do cotidiano � uma das op��es na lista, mas n�o necessariamente uma solu��o contra preju�zos.
Marlon Ferreira, de 23, que vende balas na bilheteria do Move da Rua Carij�s est� entre os passageiros que pensa em diminuir as viagens. “Se a passagem ficar mais cara, vai ser dif�cil at� conseguir vender minhas balas. As vendas j� diminu�ram bastante. Estou pensando em vender l� no bairro (onde mora) mesmo, porque n�o tenho como vir todo dia para o Centro. Como � que vou repor minhas balas? Venho l� do Santa M�nica, pego um �nibus no bairro e na esta��o pego outro. Al�m disso, a bala tamb�m est� mais cara”, explica o vendedor.
Marlon Ferreira, que vende balas no Centro, pensa em limitar a atividade ao pr�prio bairro
(foto: Denys Lacerda/EM/D.A Press)
Oferta reduzida
No momento em que se planejam para driblar, se poss�vel, o impacto da alta das passagens autorizadas pela Justi�a, os passageiros seguem enfrentando oferta reduzida de ve�culos nos deslocamentos. O quadro de hor�rios dos �nibus em Belo Horizonte j� deveria ter sido normalizado desde o fim de 2021, quando o regime especial aplicado durante a pandemia foi revogado. No entanto, � ponto comum na reclama��o dos usu�rios que as viagens est�o reduzidas e fora dos hor�rios previstos.
Dados da BHTrans atualizados at� 25 de mar�o mostram que o n�mero de viagens realizadas durante todo o m�s passado n�o superou os 70% do total observado antes da pandemia. Considerando o volume desde o in�cio de 2022, a taxa m�dia de viagens calculada entre as 359 linhas que circulam na capital permaneceu abaixo dos 80% em rela��o ao per�odo pr�-pand�mico.
Por outro lado, o n�mero de passageiros ultrapassou a marca de 70% da demanda m�dia de um dia �til pr�-pandemia em todos os dias entre 3 e 25 de mar�o. Os dados sinalizam um descompasso: o n�mero de usu�rios tem se aproximado do que era antes da crise sanit�ria, mas as viagens n�o acompanham esse crescimento.
Greve no metr�
Para completar o cen�rio ca�tico do transporte em Belo Horizonte, desde 21 de mar�o o metr� da capital n�o circula em hor�rios de pico. Em protesto contra o processo de privatiza��o do servi�o, os metrovi�rios entraram em greve e est�o trabalhando em escala reduzida, apenas entre as as 10h e as 17h.
Michele C�sar tem que arcar com a passagem dela e da filha e reclama do aumento: "N�o justifica"
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A falta do metr� no momento em que as pessoas se deslocam para chegar e sair do trabalho sobrecarrega ainda mais os �nibus e � percebida pelos usu�rios. � o caso de Michele C�sar, de 36, que usa o Move acompanhada da filha antes das 10h. “Os hor�rios n�o est�o sendo cumpridos e estamos sofrendo com a superlota��o. Agora ent�o est� mais cheio por conta da greve do metr�. � complicado depender do transporte p�blico, o aumento da passagem n�o se justifica”, afirma.
O vigilante Marcus Vin�cius j� se prepara para reduzir a movimenta��o na cidade e evitar gastos
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Enquanto alguns usu�rios do metr� desistem dos trens e se espremem em �nibus para n�o perder o hor�rio do trabalho, h� tamb�m os que precisam mudar o cronograma para para conseguir manter o uso do servi�o. � o caso do vigilante Marcus Vin�cius Gomes. “Uso muito o metr�, a greve mudou meu hor�rio. Deixei de sair mais cedo de casa e isso me atrapalha na programa��o do dia. O �nibus tamb�m acaba ficando superlotado. Estou desempregado e se a passagem do �nibus aumentar, j� coloquei na ponta da caneta, vou ter que pesar se vou para um lugar ou outro”, comenta.
*Estagi�rio sob supervis�o da subeditora Rachel Botelho