O terceiro renascimento de M�rian: 'Esta P�scoa � vida nova'
Ap�s ser desenganada por m�dicos devido a trombose cerebral, superar problema pulmonar e ficar internada por COVID-19, mineira celebra P�scoa em fam�lia
'No ano passado, nessa �poca, estava internada. Esta P�scoa � vida nova' - M�rian Lima Gonzaga (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
Domingo da ressurrei��o, P�scoa de renascimento, dia muito especial para celebrar, em fam�lia, um tempo novo de alegrias, confian�a e f�. Nesta data t�o importante para os crist�os, e considerada a mais importante para a Igreja Cat�lica, s�o muitos os relatos de mineiros e mineiras que se fortalecem a cada dia sem tombar nas batalhas pela vida. Mesmo diante de barreiras �s vezes intranspon�veis, v�o subindo degrau a degrau para conquistar a vit�ria maior: a sa�de aliada � esperan�a, ainda mais em tempos de tantas dificuldades para a humanidade.
A dona de casa M�rian Lima Carvalho Gonzaga � um exemplo da persist�ncia e de nunca desistir em qualquer situa��o. Hoje, ao lado do marido Lucas Gonzaga, dos quatro filhos e quatro netos, ela celebra o que considera o seu terceiro renascimento. "No ano passado, nessa �poca, estava internada. Esta P�scoa � vida nova", fala com alegria a moradora de Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte.
H� 22 anos, M�rian foi v�tima de uma trombose cerebral total, num quadro cl�nico t�o grave que foi "desenganada pelos m�dicos", conforme destaca. N�o bastasse o sofrimento, foi acometida dois meses depois por uma tromboembolia pulmonar – e poderia ter morrido se n�o diagnosticada a tempo.
"Sou portadora de l�pus, doen�a autoimune que afeta muito o sistema imunol�gico. Minha vantagem est� na disciplina, pois nunca deixo de ir ao m�dico, fa�o exames peri�dicos, tomo os medicamentos religiosamente."
Um m�s e dois dias internada
Embora tomando todos os cuidados, a moradora de Santa Luzia, casada h� 42 anos e formada em letras, ainda tinha um inimigo invis�vel disposto a vencer o combate. Em mar�o do ano passado, ela passou pelo calv�rio da COVID-19, ficando "um m�s e dois dias" internada num hospital de Belo Horizonte. Ficou entubada durante sete dias, passou longo tempo em recupera��o, em casa, e ainda guarda marcas no bra�o direito, resultantes dos medicamentos injet�veis.
A dona de casa M�rian Lima e o marido reuniram filhos e netos para celebrar a P�scoa e as novas chances de vida
(foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
"Na frieza do ambiente hospitalar, tive muito medo de perder a vida. Ali no CTI, houve dia em que pensei estar perdendo a batalha para o coronav�rus, come�aram a faltar as for�as, mas Deus � quem sabe o momento de dar a vida e de tir�-la. Ent�o confiei", conta M�rian num momento em que as l�grimas tornam ainda mais verdes os seus olhos e mostra que o nome de batismo, Maria em hebraico, parece reunir as fortalezas de todas as mulheres do mundo. "A gente recebe a ajuda das m�os dos m�dicos para a cura do corpo e outras ainda maiores para a alma."
"Ainda n�o estou 100%"
Em segundos, um sorriso ilumina o seu rosto. "Ainda n�o estou 100%, fiquei com algumas sequelas, por�m acho que o pior j� passou. Ando por todo canto, perdi o medo de permanecer numa cadeira de rodas. Tomei as tr�s vacinas contra a COVID-19 e n�o vejo a hora de tomar a quarta dose."
"N�o tenho d�vida de que foi milagre. Os m�dicos chegaram a me avisar que n�o haveria jeito, precisava preparar a fam�lia"
Lucas Gonzaga, marido de M�rian Lima
A f� na vida � assunto recorrente, e o casal mostra as imagens de santos num m�vel da sala transformado em altar. "Sou de fam�lia cat�lica, meu marido e eu estamos sempre presentes no Santu�rio de Santa Luzia, em nossa cidade. Recebi muitas ora��es, at� em igrejas evang�licas, o que me deixa muito feliz. Penso ter recebido uma b�n��o divina", acredita M�rian, cuja m�e, Raphaela, est� com 91 anos e mora na mesma cidade.
Lucas e M�rian t�m motivos de sobra para celebrar data, f� e esperan�a (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
“N�o tenho d�vida de que foi milagre. Os m�dicos chegaram a me avisar que n�o haveria jeito, precisava preparar a fam�lia. Gra�as da Deus, vem dando tudo certo”, diz Lucas, empres�rio, sobre a vit�ria da mulher em tr�s momentos. Para M�rian, as fases de dificuldades trouxeram muita reflex�o: ‘Para sermos felizes, precisamos de muito pouco. Todo mundo busca o conforto, mas, se temos, por que n�o dividir, acabar com a ambi��o, procurar ajudar a quem precisa?”
Dia festa em fam�lia
Na tarde deste s�bado, Lucas e M�rian se juntaram aos filhos Luiz Ant�nio, Alexandre Augusto, Lucas Filho e L�llian para celebrar o anivers�rio da neta Maria Eduarda, de 18. Presentes, os outros netos Pedro Henrique, de 16, e os g�meos Luiz Eduardo e Helena, de 3, o genro Felipe e as noras Fabr�cia, Fl�via e Juliene.
“A alegria da fam�lia reunida nos deixa ainda melhores. O que mais desejo para todo o mundo, em tempo t�o dif�ceis para a humanidade, � uma p�scoa de paz. Com tranquilidade e persist�ncia, encontramos as sa�das at� mesmo onde parece faltar a luz”, diz a luziense. Para o primog�nito Luiz Ant�nio, de 41, Deus pode fazer mais de um milagre para uma pessoa. “Minha m�e � persistente, e, nossa fam�lia, muito deu muito apoio”. Fazendo cursinho para estudar medicina, a neta Maria Eduarda vai direto ao ponto. “Minha av� � um exemplo de for�a e f�.”
Uma data com muitas tradi��es
O dia de hoje significa para os crist�os a vit�ria da vida sobre a morte, marcada pela ressurrei��o de Cristo. “Nesses tempos de guerra, medo e incertezas, mais do que nunca celebrar a p�scoa � celebrar a vida, a esperan�a e a certeza de um novo tempo”, diz o frei Evaldo Xavier Gomes, da Igreja Nossa Senhora do Carmo, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte.
Segundo os estudiosos, a p�scoa vem de uma tradi��o muito antiga, anterior a Jesus. Quando ela surgiu, n�o havia um calend�rio como os de hoje, o gregoriano (crist�o), baseado no movimento da Terra. Os judeus usavam um tipo de calend�rio com base nas esta��es do ano, conhecido como lunar. Por essa raz�o, trata-se de uma festa m�vel, sendo a data vari�vel ano ap�s ano, de acordo com os ciclos lunares.
Missa de P�scoa na catedral Madre Teresa na cidade de Pristina, em Kosovo, neste s�bado (16/4) (foto: Armend Nimani/AFP)
Assim, a data da P�scoa foi definida, para os judeus, no m�s conhecido como “nisan” ou tempo da primavera e da lua cheia. Nessa �poca, a cevada estava madura – ent�o era hora de fazer p�o com a cevada antiga para que, quando a nova fosse colhida, o sabor fosse real�ado.
Na primavera, as cevadas mais belas ficavam no alto dos montes, por isso o pastor precisava levar as ovelhas at� l�, aproveitando a volta para trazer alguns feixes. Durante a dura viagem, pedia ajuda a Deus para proteger suas ovelhas, e, em forma de agradecimento, sacrificava uma delas para o Senhor. Eis a� a primeira p�scoa, quando o pastor precisa fazer a “pesach” (passagem) da plan�cie para o monte e, como agradecimento pela ajuda de Deus na “passagem”, sacrifica um cordeiro.
"Povo escolhido"
Os ensinamentos religiosos jogam luz sobre a celebra��o. E, neste mundo atual, com licen�a do trocadilho, P�scoa poderia ser escrita universalmente com “z” no lugar de “s”. Mas vamos � hist�ria. A segunda p�scoa tem a ver com o “povo escolhido”. Conforme o livro do �xodo (12,1-18), s� ser� salvo quem tiver aspergido o sangue do cordeiro na porta de casa e viver em paz com o vizinho.
Conforme a passagem b�blica, era preciso dividir o cordeiro com o vizinho. Em resumo, voc� s� se senta � mesa com a pessoa com a qual voc� estiver em paz. Assim, era preciso sair de casa e ir para o deserto em busca da terra prometida. Essa � a segunda p�scoa: sair do Egito para ir ao deserto. � a “pesach” de um lugar seguro para um lugar desconhecido e perigoso.
A terceira P�scoa e definitiva � aquela trazido por Cristo, o “cordeiro de Deus”. Essa � a “pesach”, a passagem das trevas para a luz, do pecado para o amor supremo, da morte na cruz para a ressurrei��o. O sentido, para os crist�os, � subir a montanha e descer com comida nova; rumar para o deserto e chegar � terra prometida; e ir at� o alto do Calv�rio, morrer e vencer a morte pela ressurrei��o.
Coelho e ovos de P�scoa
H� muitas tradi��es ligadas � P�scoa, e, neste dia de confraterniza��o, estar�o � mesa os ovos de chocolate, a colomba pascal e os coelhos. A crian�a adora e faz a festa.
Vale saber que, no in�cio, os famosos ovos da p�scoa eram de verdade, sendo substitu�dos com o tempo pelos de madeira, prata, ouro e finalmente de chocolate. A cultura de pint�-los e do�-los nasceu no s�culo 18 – antes, a Igreja costumava do�-los aos fi�is, que os chamavam de “ovos bentos”.
Uma das explica��es para o coelhinho da p�scoa se deve ao alto poder de reprodu��o do animal, o que representa a fertilidade. J� a columba pascal, p�o com frutas cristalizadas em formato de pomba, representa a chegada do Esp�rito Santo. Mas, na verdade, nada vale mais do que os votos de Feliz P�scoa!