(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PROJETO POL�MICO

Devasta��o na Serra do Curral crescer� 20% com nova mina

Cavas da Tamisa adicionar�o 101 hectares � mancha de destrui��o de 511ha acumulada em d�cadas de minera��o, apontam c�lculos do EM com base em mapas do dossi�


07/05/2022 04:00 - atualizado 10/05/2022 17:42

Vista da Serra do Curral a partir do Pico Belo Horizonte: área que a Tamisa pretende minerar é 11,2 vezes maior que as dos dois empreendimentos em atividade somadas
Vista da Serra do Curral a partir do Pico Belo Horizonte: �rea que a Tamisa pretende minerar � 11,2 vezes maior que as dos dois empreendimentos em atividade somadas (foto: Mateus Parreiras/EM/D.A Press)

“Megaestrutura” ou empreendimento conservador? A classifica��o do porte do complexo da Taquaril Minera��o S.A (Tamisa), que prev� escava��o de 101 hectares da Serra do Curral –  �rea  equivalente a um ter�o da do Parque das Mangabeiras –,  � mais um dos pontos de confronto entre ambientalistas, que temem impactos severos do projeto, e �rg�os do governo estadual e representantes do setor produtivo, que se apoiam no argumento de que o licenciamento dado � empresa foi baseado em decis�es “t�cnicas” para minimizar a poss�vel devasta��o. Utilizando como base os dados dos mapas do dossi� de tombamento da Serra do Curral produzido pelo Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Iepha), a reportagem do Estado de Minas calcula que �rea que a Tamisa pretende minerar corresponde a cerca de 20% das manchas de destrui��o j� deixadas pela minera��o (veja quadro comparativo e mapa) na forma��o montanhosa, um dos s�mbolos mineiros.

Em outras palavras, vai representar um aumento de 20% na �rea devastada. Se levadas em conta apenas as duas minas em atividade atualmente, que somam 9,01 hectares (ha), a Tamisa reinar� como a maior minera��o no local , com �rea explorada 11,2 vezes maior.

De acordo com os dados baseados no mapeamento do Iepha e dos dat�lites usados pelo Google Earth e a ONG Global Forests Watch sobre concess�es de minera��o e outras informa��es, a �rea de tombamento da Serra do Curral na proposta do dossi� considerada “�rea Tombada” dentro da “�rea de Estudos” � de 6.320ha (pouco maior que o Parque Estadual do Itacolomi, entre Ouro Preto e Mariana). Atualmente, a mancha de devasta��o deixada por atividades miner�rias exercidas por d�cadas � de 511,07ha, o que corresponde a 8,08%. Essa mancha poder� aumentar em quase um quinto com a Tamisa. Atualmente, se descontada a mancha de ocupa��o urbana da serra (7,48%), restam 5.335,63 ha de �rea nativa ou em recupera��o sem atividades, equivalentes a 84,42% do total da Serra do Curral.

Com a libera��o completa do projeto da Tamisa, j� detentora de licen�as de Instala��o e Pr�via para a fase 1 (41ha) e a fase 2 (60ha) a mancha de atividades miner�rias cresce para 612,31ha –  ou 9,68% do total da �rea que se pretende tombar – e para 1.085,61ha na soma das �reas urbana e mineradas, totalizando uma ocupa��o de 17,17% do espa�o potencialmente preserv�vel. A minera��o da Tamisa praticamente se debru�ar� sobre as encostas de Nova Lima, a uma dist�ncia de poucos metros da dobra do cume das montanhas, ou seja,  do in�cio do territ�rio de Belo Horizonte. Ainda assim, os argumentos da capital mineira foram deixados de fora do processo legal de licenciamento do projeto.

Arte: Os rombos no cartão postal


“Esse projeto vai simplesmente fazer um rombo no corredor ecol�gico que permite a movimenta��o de v�rias esp�cies pela Serra do Curral. Com certeza, a movimenta��o de ve�culos e o barulho da extra��o de min�rio afugentar�o o fluxo normal dos animais. E a Serra do Curral � importante para ligar, principalmente, a avifauna da regi�o da Serra do Cip� com as serras do Rola-Mo�a e Moeda. Cortar esse fluxo compromete a variabilidade gen�tica e prejudica as popula��es”, observa o professor de qu�mica, pesquisador de espeleologia e ativista ambiental Luciano Faria.

Paulo Carvalho, diretor da ONG de conserva��o das aves EcoAvis, concorda que a minera��o proposta na Serra do Curral ter� um grande impacto no corredor ecol�gico, que considera j� altamente impactado. “As plantas dependem das aves e dos insetos para sua reprodu��o e dispers�o. De forma similar, insetos e aves dependem de plantas espec�ficas para alimenta��o, abrigo e reprodu��o. Pequenas perturba��es neste equil�brio podem ter efeitos catastr�ficos sobre as popula��es de um ecossistema. E mal conhecemos as din�micas que ser�o afetadas em um campo ferruginoso de altitude e suas depend�ncias em rela��o aos remanescentes de Mata Atl�ntica”, diz.

Poeira chegando aos bairros Serra e Santa Efig�nia, ru�dos nas comunidades e impactos preocupantes nos recursos h�dricos que abastecem a Grande BH teriam sido trocados por alinhamentos que se tornam permiss�es consideradas “absurdas” para a ambientalista Maria Tereza Viana de Freitas Corujo, a Teca, que integra v�rios movimentos para defender as cadeias montanhosas e �guas mineiras. “Al�m de graves altera��es na legisla��o ambiental (n�veis estadual e federal) feitas em especial nos �ltimos 10 anos, existe o descumprimento do que ainda temos e que protegeria esse patrim�nio �nico de biodiversidade. Tudo atrelado a um sistema de gest�o p�blica que tem como pol�tica priorit�ria atender aos interesses econ�micos de grandes grupos, como � o caso da minera��o em Minas Gerais”, observa.


Secretaria minimiza: “N�o � megaempreendimento”


O Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema) e o setor miner�rio t�m se posicionado a favor da minera��o da Tamisa na Serra do Curral com o discurso de que os impactos est�o tecnicamente dentro da toler�ncia da legisla��o. Na outra ponta, h� cr�ticas legais e den�ncias de deputados, Prefeitura de Belo Horizonte, minist�rios p�blicos Federal e Estadual, partidos e ambientalistas.

Em audi�ncia p�blica na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, na quinta-feira a secret�ria de estado de Meio Ambiente e desenvolvimento sustent�vel (Semad), Mar�lia Carvalho de Melo, encolheu retoricamente os impactos e as dimens�es da Tamisa. “O projeto foi readequado (em 2019), com diminui��o, inclusive, da �rea de explora��o. A �rea total da fazenda onde o empreendimento est� � de 1.250 hectares (ha). Mas o projeto, na sua primeira fase aprovada no Copam far� interven��o em 41 hectares. Isso equivale a 0,54% da �rea da Serra do Curral”, disse. “E a compensa��o � um ponto a se destacar. A compensa��o equivale a 83ha”, contemporiza Melo. 

Ela minimizou os impactos sobre recursos h�dricos, desconsiderando alertas de ambientalistas para outros efeitos. “J� h� uma capta��o em um po�o tubular que ter� 10 litros por segundo (l/s) de vaz�o . Na segunda fase, ser�o outros tr�s, que somar�o 54 l/s. S� o abastecimento p�blico da Copasa na Grande BH � de 18.900 l/s”, comparou.

O superintendente de projetos priorit�rios da Semad, Rodrigo Ribas, compara a explora��o projetada pela Tamisa, que retirar� 1 milh�o de toneladas de min�rio de ferro por ano na primeira fase e 3 milh�es na segunda, � de outras mineradoras. “Falaram de megaempreendimento na Serra do Curral. Para se ter uma ideia, a Samarco, em Mariana, tem licenciada (a explora��o) de 29 milh�es de toneladas por ano e � muito maior. Itabira (Vale) tem uma licen�a de produ��o anual de 96 milh�es. N�o se compara. N�o d� para falar de megaempreendimento nesse caso”.

J� o consultor da Tamisa Leandro Amorim afirma que a empresa seguiu todas as regras. “ Se o que se est� propondo (suspender as licen�as) virar regra, n�o existir� mais licenciamento ambiental em Minas ”, afirma. (MP)


Prédio em Nova Lima onde a Tamisa informou estar sediada: empresa alegou 'home office' para o fato de ninguém ter sido encontrado no endereço
Pr�dio em Nova Lima onde a Tamisa informou estar sediada: empresa alegou "home office" para o fato de ningu�m ter sido encontrado no endere�o (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Com empresa fechada, juiz manda intimar diretor em casa


Ap�s uma oficial de Justi�a n�o encontrar representantes da Taquaril Minera��o S.A (Tamisa) na sede da empresa, em Nova Lima, na Regi�o Metropolitana, a companhia emitiu nota para informar que adotou o trabalho remoto. Diante das dificuldades para notificar a mineradora do prazo de 10 dias para se manifestar no processo em que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) pede a suspens�o da licen�a para explora��o na Serra do Curral, o judici�rio intimou pessoalmente, ontem, Cristiano Pinto Caetano da Cruz, um dos diretores da Tamisa.

“� interesse da empresa o imediato e completo esclarecimento de todo e qualquer questionamento judicial, pelo que seu diretor j� entrou em contato com Secretaria da 22ª Vara Federal se colocando � disposi��o para receber qualquer mandado judicial de intima��o ou cita��o, inclusive nos finais de semana”, l�-se em comunicado enviado pela Tamisa ao Estado de Minas.

H� dois dias, o juiz federal Carlos Roberto de Carvalho deu 10 dias para que a empresa e o governo se manifestem sobre a liminar solicitada por Belo Horizonte. Com a dificuldade de encontrar representantes da Tamisa, por�m, o prazo ainda n�o come�ou a correr. A Procuradoria-Geral do Munic�pio (PGM) solicitou, ent�o, a cita��o por “hora certa”. O mecanismo permite que o per�odo estipulado comece a contar sem que haja a efetiva ci�ncia da companhia. Para isso, basta Cristiano ser encontrado em casa.

Na quinta-feira, uma emiss�ria do Poder Judici�rio esteve no pr�dio onde a Tamisa informou estar baseada. A porteira do edif�cio – na Avenida Oscar Niemeyer, em Nova Lima –  no entanto, afirmou n�o ver funcion�rios da mineradora no local h� cerca de dois anos. Segundo a mineradora, a sede permaneceu fechada por causa das restri��es impostas pela pandemia COVID-19.

“O funcionamento se deu em regime de home office, regime este que prepondera at� a presente data”, apontam os representantes. “Ap�s a concess�o das licen�as junto aos �rg�os ambientais competentes, os diretores e consultores da empresa est�o empenhados em in�meras atividades externas, que englobam tanto aquelas necess�rias ao atendimento das condicionantes que devem ser cumpridas, quanto pelo empenho e dedica��o no esclarecimento de d�vidas e questionamentos de autoridades e meios de imprensa”, continua a empresa.

A decis�o da Justi�a pela intima��o pessoal a Cristiano da Cruz veio horas ap�s a Prefeitura de BH anexar, ao processo pela suspens�o da licen�a, a comunica��o da oficial informando o fracasso na tentativa de contato com a Tamisa. Em dezembro do ano passado, outra emiss�ria do Judici�rio foi ao pr�dio em Nova Lima para informar a empresa sobre uma a��o civil p�blica do Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG). Tamb�m n�o houve sucesso.

“A minera��o da serra que d� nome a Belo Horizonte j� exige cautelas por si s�. Com ainda mais raz�o agora que se sabe que a empresa tem uma sede com ind�cios de ser de fachada, como certificado, com f� p�blica, pelo oficial de Justi�a ao colher o relato do porteiro do pr�dio de que ‘n�o tem visto funcion�rios da empresa no local’ h� mais de um ano”, apontou o subprocurador-geral do Contencioso, Caio Perona, ao pedir a Justi�a a cita��o por “hora certa”.

O magistrado Carlos de Carvalho, por sua vez, apontou “suspeita de oculta��o”. “Diante da suspeita de oculta��o da empresa, dever� ser feita a cita��o por hora certa”, l�-se em trecho do despacho do juiz Carlos Roberto de Carvalho, da 22° Vara Federal.

Segundo as informa��es cadastrais da Tamisa, apresentadas � Receita Federal, o quadro societ�rio tem, al�m de Cristiano da Cruz, o diretor Guilherme Augusto Gon�alves Machado. A empresa tem rela��es com a Cowan, construtora respons�vel pelo viaduto Batalha dos Guararapes, que caiu sobre um �nibus em 2014, em Belo Horizonte. O acidente matou duas pessoas e feriu 23. (GP)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)