Animais resistem aos golpes da polui��o e d�o show na Pampulha

H� vida na Lagoa da Pampulha – e ela se move, nada, voa, surpreende, traz esperan�a. Mesmo com os duros golpes que o cart�o-postal de Belo Horizonte sofre todo dia, em especial pela descarga de poluentes, os animais povoam �gua, terra e ar, encontrando �rvores e alimento – e, diante do n�mero de pescadores nas margens, indo tamb�m perigosamente para a panela das fam�lias.

No Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado hoje, o Estado de Minas mostra esp�cimes da fauna registrados pelos fot�grafos durante a �ltima semana. H� peixes, c�gados, jacar�s, patos, capivaras, bigu�s e outros bichos fazendo a festa para os visitantes da lagoa e do conjunto arquitet�nico moderno, da d�cada de 1940, reconhecido como patrim�nio mundial, e representando um sinal de resist�ncia aos olhos dos moradores.

Um detalhe surpreendente nas fotos aqui apresentadas � que foram feitas perto da esta��o de tratamento de esgoto, nas imedia��es do Parque Ecol�gico Francisco Lins do R�go.

“� um universo rico, embora limitado pela polui��o que chega � lagoa, principalmente pelos c�rregos Sarandi e Ressaca. A diversidade da fauna aqu�tica poderia ser bem maior”, diz o bi�logo Paulo Ricardo Silva Coelho, doutorando em parasitologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que tem a represa com um dos locais para suas pesquisas. “Algumas esp�cies de peixes, a exemplo das til�pias, cascudos e lambaris, apresentam uma resist�ncia aos poluentes e � baixa concentra��o de oxig�nio dissolvido, mas nem todos t�m essa capacidade”, acrescenta o especialista.

INVASORES

Os jacar�s j� se tornaram “celebridades” nas �guas da Pampulha, pois, quando aparecem, causam sensa��o. Esses r�pteis n�o s�o nativos do lugar, havendo v�rias vers�es para o surgimento: teriam sido introduzidos por algum morador ou visitante, ou ent�o escapado do zool�gico durante um per�odo de grave enchente, h� d�cadas.

Especialista em parasitologia, Paulo Ricardo chama a aten��o para a presen�a dos moluscos, entre eles o Biomphalaria, hospedeiro intermedi�rio do Schistosoma mansoni, verme causador da esquistossomose, popularmente conhecida como xistose ou barriga d’�gua.

“Precisamos sempre alertar para esse perigo, pois h�  pescadores nas margens da lagoa. Temos um cen�rio tur�stico, um patrim�nio hist�rico importante, mas h� o risco da doen�a, da� os cuidados permanentes”, diz o bi�logo.

“A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) faz capina, mant�m servi�os de desassoreamento e monitora o ambiente, mas, para resolver mesmo a situa��o, � necess�rio planejamento o manejo dos afluentes que des�guam na lagoa. Do contr�rio, vira paliativo”, informa o bi�logo.

A��ES SIMULT�NEAS

A Prefeitura de Belo Horizonte, via Secretaria de Obras e Infraestrutura (Smobi) e Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), informa que s�o realizadas tr�s a��es simult�neas na Lagoa da Pampulha: tratamento das �guas, limpeza do espelho d'�gua e desassoreamento.

 

Em nota, a PBH explica cada a��o. “Os servi�os de tratamento das �guas da Lagoa da Pampulha continuam em andamento, com a manuten��o do espelho d'�gua livre de flora��es de algas, de maus odores e de mortandade de peixes. Os servi�os se mant�m com frequ�ncia di�ria e n�o houve interrup��es durante esse per�odo da pandemia.”

 

O contrato atual foi firmado em outubro de 2018 com o Cons�rcio Pampulha Viva, podendo ser prorrogado sucessivamente a cada 12 meses at� o limite de 60 meses, com investimentos anuais da ordem de R$ 16 milh�es por ano.

O tratamento com a aplica��o da tecnologia desenvolvida pelo Cons�rcio Pampulha Viva tem apresentado resultados satisfat�rios, mesmo nos per�odos mais cr�ticos, que correspondem ao in�cio do per�odo chuvoso, com o maior carreamento de poluentes oriundos da lavagem do solo da bacia, bem como no pico do per�odo de seca, quando h� menor dilui��o de poluentes.

 

Os servi�os de tratamento da �gua da Lagoa da Pampulha contemplam a aplica��o de uma solu��o que utiliza duas tecnologias distintas e complementares. Uma consiste na aplica��o de um biorremediador destinado � desinfec��o e degrada��o de mat�ria org�nica e a outra na aplica��o de um remediador ambiental f�sico-qu�mico desenvolvido especificamente para reduzir as concentra��es de f�sforo em ambientes aqu�ticos.

 

Os t�cnicos explicam: “Os resultados at� aqui alcan�ados correspondem, na maior parte do tempo, �s metas estabelecidas. Certamente, se essas a��es n�o estivessem em execu��o, as condi��es de qualidade das �guas da lagoa teriam alcan�ado um estado de deteriora��o que seria de dif�cil revers�o.

Trata-se de demanda de natureza continuada e necess�ria � garantia de qualidade das �guas de um lago urbano do porte e da import�ncia da Lagoa da Pampulha. O objetivo � manter a qualidade da �gua da Pampulha na Classe 3, conforme normatiza��o do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e esse objetivo tem sido alcan�ado.

�GUAS VERDES

As autoridades municipais esclarecem que a colora��o esverdeada da lagoa ainda � reflexo da eutrofiza��o do lago, com consequente flora��o de algas. Em alguns per�odos do ano, esse processo pode ser mais evidente, ocorrendo esporadicamente e em pontos espec�ficos de maior fragilidade. 

 

Assim que identificado os focos, o tratamento � intensificado nesses locais. A prefeitura adianta que esse processo de eutrofiza��o vem sendo revertido com a execu��o do contrato de presta��o dos servi�os de recupera��o da qualidade da �gua da Lagoa da Pampulha.

Quanto ao desassoreamento, os servi�os come�aram em 2018 e terminaram em setembro de 2021, sendo investidos R$ 37,5 milh�es e retirada aproximada de 520 mil metros c�bicos (170 mil metros c�bicos/ano) de sedimentos e res�duos do fundo do manancial. O volume de lixo flutuante recolhido diariamente corresponde, em m�dia, a 5 toneladas durante o per�odo de estiagem e a 10t no per�odo chuvoso.

Aviso fundamental da PBH: A pesca na lagoa � proibida, bem como a pr�tica de esportes n�uticos. O mergulho ou consumo de peixes dessas �guas pode oferecer riscos � sa�de, principalmente no caso de ingest�o de �gua contaminada com organismos patog�nicos ou subst�ncias qu�micas que podem ser nocivas � sa�de humana.

Na regi�o da bacia da Pampulha, h� mais de 300 esp�cies de animais, incluindo aves, mam�feros, r�pteis e insetos. Entre eles est�o capivaras, tapetis, pre�s, c�gados, tartarugas, serpentes, jacar�s e aves de esp�cies raras, como o colhereiro, o pernilongo-de-costas-brancas e diversas esp�cies de gavi�es.