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Estado de Minas BAIRRO SANTO ANT�NIO

Casas recuperadas da Rua Congonhas ainda est�o desocupadas

As 13 casas da Rua Congonhas, entre Santo Ant�nio do Monte e Leopoldina, preservam a identidade de BH, por�m, a destina��o dos im�veis continua incerta


30/08/2022 04:00 - atualizado 30/08/2022 06:37

antiga casa de Guimarães Rosa e que depois veio a ser o Bar do Lulu, ícone da boemia belo-horizontina nos anos 1980
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

 

 O conjunto de casas coloridas e ajardinadas da Rua Congonhas, na esquina com as ruas Leopoldina e Santo Ant�nio do Monte, preservam um pedacinho da Belo Horizonte antiga, j� quase toda ocupada por pr�dios modernos, no tradicional Bairro Santo Ant�nio. Depois de anos de abandono e obras, as casas voltaram a ter fachada e cores da �poca de sua constru��o, cujos registros mais antigos s�o de 1924. A restaura��o foi entregue em janeiro deste ano, por�m o futuro dos im�veis ainda � incerto e at� hoje n�o foram ocupados.

 

O leitor mais jovem provavelmente n�o conhece nenhuma de suas hist�rias, mas quem tem mais de 40 anos talvez se lembre da ic�nica casa na esquina da Rua Leopoldina com a Congonhas, que serviu de moradia ao escritor mineiro Jo�o Guimar�es Rosa (1908-1967) e tamb�m marcou a alta boemia da cidade nas d�cadas de 70 a 90. “Essas casas fazem parte da mem�ria afetiva do bairro. O Santo Ant�nio foi formado por pessoas que vieram do interior e o trouxeram para suas casas. Ent�o, aquela coisa do paninho de croch�, do biscoitinho, eram pessoas modestas e, aos poucos, v�m perdendo essa identidade”, conta a professora em�rita da UFMG Eliane Marta Santos Teixeira Lopes, que publicou, em 2015, um livro sobre o Bairro Santo Ant�nio.

 

A constru��o de um pr�dio no terreno vizinho ao conjunto arquitet�nico de 13 casas, em 2015, alarmou a vizinhan�a e defensores do patrim�nio cultural. Na �poca, a movimenta��o de m�quinas no canteiro de obras, com frente para as ruas Congonhas, Leopoldina e Santo Ant�nio do Monte, acendeu o alerta para uma poss�vel destrui��o do patrim�nio, em estilo ecl�tico tardio de influ�ncia neocolonial. Em 2011, o Conselho Deliberativo do Patrim�nio Cultural do Munic�pio (CDPCM) aprovou a constru��o do empreendimento no terreno de 28,9 mil metros quadrados, o qual contemplava a restaura��o dos im�veis tombados. Das 13 casas, sete s�o particulares e seis s�o de propriedade do condom�nio que construiu o pr�dio de 27 andares no local. Na �poca, a construtora respons�vel disse que o projeto foi aprovado apenas como uso residencial. 

 

O conjunto de casas da Rua Congonhas que foi recuperado carrega traços da memória da capital mineira do início do século passado
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

 

O Estado de Minas procurou a s�ndica do condom�nio para saber o que ser� feito no conjunto hist�rico, mas n�o teve retorno. Hoje, as casas ainda contam com seguran�a 24 horas. Enquanto n�o h� uma defini��o oficial do que ser� feito das resid�ncias, moradores confabulam pelas ruas do bairro sobre o que vai funcionar ali. “� um ponto de interroga��o. Acho que deveria ser biblioteca, espa�o de lazer, algo que valorize a cultura da regi�o”, comenta a aposentada Sueli Senna, de 60 anos. “Diz que vai funcionar um restaurante agora. Mas ainda � um mist�rio”, considera a pedagoga Patr�cia Lara, de 62.

 

Vizinho ilustre

 

Em meados de 1929, o autor de “Grande Sert�o: Veredas” morou no n�mero 415, na esquina da Rua Leopoldina com a Congonhas, quando se casou com sua primeira esposa, Lygia Cabral Penna. Uma c�pia da certid�o de casamento, descoberta em 2015, aponta a resid�ncia como endere�o do casal. O documento, autenticado por Vicente de Paulo Silveira, oficial do registro civil da 1ª Zona de BH, est� guardado na Superintend�ncia de Museus e Artes Visuais, �rg�o ligado � Secretaria de Estado de Cultura. Al�m do registro, Vilma Guimar�es Rosa, filha de Guimar�es, j� confirmou em entrevista que morou na casa com os pais.

 

D�cadas depois, a constru��o, que at� poucos anos atr�s era pintada de verde, abrigou o Bar do Lulu, fechado h� duas d�cadas e parte famosa da vida noturna da capital. “Em 73, foi o auge do bar. N�o cheguei a frequentar, mas sei que ali era onde acontecia tudo: m�sica, amores, loucuras. Foi um dos primeiros bares belo-horizontinos a funcionar 24 horas. Era o �ltimo ref�gio da madrugada”, conta Eliane. A casa, hoje na sua cor original – um tom de rosa claro –, foi palco at� do cinema, usada como cen�rio para a produ��o do filme “O menino maluquinho”, de Helv�cio Ratton.

 

De forma nost�lgica, a servidora p�blica Tatiana Vit�rio de Alencar Arraes, de 43, que morou no bairro por mais de 20 anos, tem esperan�a de que a rua retome sua tradi��o bo�mia. “A noite era bem agitada, porque tinha restaurantes e bares tradicionais de BH. Eu espero que volte a ser mais movimentado. � uma regi�o muito boa, perto de tudo. Meus pais ainda moram no bairro e costumo vir bastante aqui. Seria interessante voltar a frequentar ”, anseia. Para ela, as casas n�o t�m “cara” de constru��o residencial. “Ficou parecendo uma vila. Nem sei o que vai ser na verdade, mas n�o parece residencial. � tudo muito aberto”, disse.

 

Os fundos das casas, que dão para uma área comum
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
 

 

A reforma

 

Ao longo dos anos, o conjunto arquitet�nico de 13 casas, tombadas pelo patrim�nio em 2007, passou por v�rias etapas de ocupa��o. “As pessoas moravam ali. Era uma rua muito pacata, apesar da agita��o noturna dos bares. Tudo misturado, com�rcio com moradia. Na �poca do Guimar�es, acho que era s� moradia, depois que foi alugar para fazer esses restaurantes”, conta Patr�cia Lara. Moradora do bairro vizinho, o S�o Pedro, no limite com o Santo Ant�nio, ela costuma fazer compras na �rea. “Moro na regi�o desde crian�a, h� 60 anos. Inclusive, estou encantada com essas casas, me apaixonei. Tinha vontade de morar aqui”, disse. 

 

O projeto que serviu de base para as restaura��es � de 1947 e foi feito pelo Escrit�rio Brasil de Engenharia e Arquitetura. Em 2019, houve uma revis�o geral do projeto de restaura��o das 13 edifica��es, com diretriz para recuperar os principais elementos estil�sticos, como v�os de janelas e portas, elementos de composi��o, estruturas das paredes externas, coberturas e fachadas laterais e frontais. “Tem um corredor com uma pracinha, maravilhoso. Ali era tudo loja. N�o era assim, era um corredor, mas tinha restaurante, loja de aviamento, conserto de roupa e agora que ficou assim”, conta Patr�cia.

 

Quem passa pela Rua Congonhas hoje s� tem elogios � restaura��o dos im�veis, mas muitos moradores ainda se queixam do pr�dio constru�do no terreno, e dizem que ele atrapalhou a vista. “N�o gostei da constru��o desse arranha-c�u a�. Acho que comprometeu a caracter�stica do bairro, que � um bairro residencial, casas. A especula��o imobili�ria tomou conta”, reclama a aposentada Sueli Senna. “O Santo Ant�nio hoje � outro. O bairro virou esse paliteiro, cheio de pr�dios. As pessoas querem, inclusive, que as constru��es da d�cada de 70 fiquem como os de hoje em dia. Estou muito descrente com a rea��o das pessoas a essa urbaniza��o desenfreada”, concorda Eliane.

 

Prote��o da identidade 
da regi�o e da cidade

 

Segundo o arquiteto e urbanista Fl�vio Carsalade, a preserva��o e recupera��o dos bens s�o importantes para proteger a identidade cultural de determinada regi�o. “Edif�cios antigos n�o s�o necessariamente velhos, eles podem ser o ‘ba� do tesouro’ para as novas gera��es e isso depende do valor e cuidado atribu�dos a eles”, destaca. A professora Eliane complementa e ainda refor�a a import�ncia disso para a constru��o da identidade da cidade. “As mem�rias individuais conseguem construir mem�rias coletivas. E sem mem�ria coletiva uma cidade tende a n�o ter nenhuma identidade. Por isso essa preserva��o � t�o importante”, afirma. 

 

Os prim�rdios do Bairro Santo Ant�nio, que hoje conhecemos como um dos bairros mais valorizados da cidade, eram rurais. A casa onde viveu Guimar�es Rosa fica no per�metro de prote��o do Conjunto Urbano Bairro Santo Ant�nio, que surgiu com a ocupa��o dos terrenos de duas fazendas contempor�neas ao Arraial do Curral Del Rey. A por��o oeste do bairro, que chega � Avenida Prudente de Morais, corresponde � parte da antiga Fazenda do Leit�o. J� a por��o leste, onde ficam as casas tombadas, se origina da antiga Fazenda do Cap�o. Os anos de 1970 marcaram a ocupa��o das partes mais elevadas do bairro, dando in�cio ao processo de verticaliza��o e adensamento.

 
 

Curiosidades


  • Os registros mais antigos dos im�veis s�o de 1924 e 1925. O propriet�rio era Jo�o Trajano dos Santos.
  • O projeto que serviu de base para as restaura��es � de 1947 e foi feito pelo Escrit�rio Brasil de Engenharia e Arquitetura
  • Estilos art�sticos remetem ao neocolonial simplificado, ao ecletismo e ao art d�co
  • O conjunto serviu de cen�rio para o longa “O menino maluquinho” (1995). Foi moradia para o escritor Guimar�es Rosa e abrigou tradicionais bares da boemia de BH
  • Em 2007, as casas foram tombadas pelo Conselho Deliberativo do Patrim�nio Cultural do Munic�pio (CDPCM)
  • Em 2011, o CDPCM aprovou a constru��o de um empreendimento da Canopus Desenvolvimento Imobili�rio Ltda no miolo da quadra 13, quarteir�o que abriga as casas, o qual contemplava a restaura��o dos im�veis tombados
  • Em 2019, houve uma revis�o geral do projeto de restaura��o das 13 edifica��es 


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