Dez anos depois, Savassi pede nova revitaliza��o
Uma das �reas comerciais mais nobres de BH mant�m glamour e renova neg�cios, mas d� sinais de manuten��o insuficiente e preocupa��o com a seguran�a
17/10/2022 04:00
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atualizado 17/10/2022 08:32
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S�lvia Pires
As fontes que se transformaram em marco desde a �ltima grande revitaliza��o... (foto: Jair Amaral/EM/D.a Press)
Refer�ncia para a capital, a Pra�a Diogo de Vasconcelos, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, mais conhecida entre os belo-horizontinos como Pra�a da Savassi, vive entre o glamour do passado, o status de ter se consolidado com centro de uma das �reas comerciais mais nobres da capital e desafios como a depreda��o e a preocupa��o com a seguran�a.
Em agosto, a regi�o enfrentou uma das ocorr�ncias mais violentas dos �ltimos anos, quando uma persegui��o policial terminou em tiroteio e morte do fugitivo, nas proximidades do P�tio Savassi. Mas, apesar dos problemas, o local continua atraindo empreendimentos, especialmente os do segmento de luxo.
Uma d�cada depois da �ltima grande reforma nos principais quarteir�es, a equipe do Estado de Minas percorreu ruas e avenidas por onde se multiplicam lojas, bares, restaurantes e casas noturnas para mostrar como a comunidade enfrenta a retomada do movimento ap�s o al�vio das apreens�es com a pandemia.
As quatro fontes que hoje s�o uma das marcas da Pra�a da Savassi foram implantadas em 2012. Na d�cada de 90, a pra�a tinha as ruas Pernambuco e Ant�nio de Albuquerque abertas ao tr�fego, com estacionamentos ca�ticos, gerenciados, em sua maioria, por flanelinhas.
Al�m dos chafarizes, o projeto de revitaliza��o tirou os carros dos quarteir�es fechados da pra�a e trouxe vida nova � regi�o, mas n�o sem causar transtornos. As obras, reivindica��o antiga de moradores e lojistas, duraram 14 meses e custaram R$ 11,8 milh�es aos cofres p�blicos.
Desde ent�o, a prefeitura diz que faz manuten��es frequentes na �rea, mas os esfor�os n�o t�m sido suficientes para manter a beleza e o charme de quando a pra�a foi revitalizada pela �ltima vez.
... hoje convivem com estruturas com aspecto degradado e armadilhas que desafiam pedestres nas cal�adas
Dez anos depois, quem passa pela Pra�a da Savassi percorre o trajeto desviando de buracos e imperfei��es nas cal�adas. Para tentar evitar acidentes, moradores e comerciantes at� improvisaram uma sinaliza��o das maiores armadilhas com galhos de �rvores.
Mesmo assim, o vendedor Victor Dutra, de 23 anos, que trabalha em uma loja na esquina da Avenida Crist�v�o Colombo, j� presenciou v�rias quedas de pedestres. “Direto eu vejo pessoas trope�ando na cal�ada. Todos os dias, a gente v� uma pessoa caindo por causa dos buracos e de desn�veis. � perigoso. Por aqui passam idosos, gr�vidas, m�es com crian�as pequenas e beb�s”, disse. Ele acredita que a manuten��o deveria ser mais zelosa. “N�o � uma pra�a convidativa. N�o d� vontade de se sentar ali pra ler um livro ou at� ficar mexendo no celular. A situa��o foi piorando com o passar dos anos. H� um tempo atr�s era mais gostoso ficar na pra�a; hoje, n�o � t�o confortante assim”, comenta Victor, que trabalha na regi�o h� quase cinco anos.
�reas de gramado que j� foram verdes e cheias de vida agora s�o, em grande parte, ocupadas s� por mato seco e com falhas. “Quando cheguei aqui, quatro anos depois da reforma, a pra�a j� n�o estava t�o bonita. N�o houve manuten��o. N�s tentamos, como lojistas, cuidar do jardim. Voc� pode ver que onde est� mais verde � porque o lojista tem esse esfor�o. O ideal seria que todo mundo fizesse”, afirma Ananda Domingos, s�cia de um bar e sorveteria no quarteir�o fechado da Rua Ant�nio de Albuquerque.
Ela tamb�m aponta o descaso da pr�pria popula��o com o espa�o. “N�s tentamos fazer o gramado aqui na porta, mas o pessoal pisa, n�o respeita, joga lixo. Por fim, acabamos deixando pra l�. Temos planos de revitalizar este jardim na frente da loja, agora que nosso vizinho saiu”, relata. Questionada sobre a manuten��o do gramado, a Prefeitura de BH se limitou a dizer que a capina � realizada cinco vezes por ano.
Im�veis abandonados contrastam com um mercado imobili�rio exuberante, empreendimentos de luxo e vendas em expans�o
(foto: Ramon lisboa/EM/D.a Press)
No quarteir�o da Rua Ant�nio de Albuquerque com Rua Alagoas, rabiscos de pichadores tamb�m come�am a poluir o metal dos bancos instalados nos espa�os de conviv�ncia. Nem a est�tua em homenagem ao escritor mineiro Roberto Drummond, que fica no final da rua, escapou: em agosto, recebeu escritos com tinta amarela. O ato de vandalismo aconteceu por volta das 2h30. E n�o foi o primeiro.
Em 2015, por exemplo, a cabe�a da escultura apareceu pintada de vermelho. A PBH informou que a Subsecretaria de Zeladoria Urbana est� retirando novamente as picha��es dos quarteir�es fechados e de bancos da pra�a. A �ltima limpeza, segundo o munic�pio, ocorreu no in�cio de agosto. Mas, apesar do esfor�o, nem a fachada das lojas escapa da picha��o. “Minha loja foi pichada de vermelho recentemente. � mais um custo que a gente tem”, conta Ananda.
FURTOS
Na �rea que j� foi considerada uma “zona de paz”, a seguran�a na Pra�a da Savassi vem desafiando autoridades. A persegui��o policial que terminou em tiroteio e morte na Avenida do Contorno foi considerada por muitos um evento isolado, que n�o espelha as condi��es do dia a dia. Mas tamb�m pode ser vista como o epis�dio mais grave de um hist�rico de ocorr�ncias como furtos, que v�m preocupando lojistas e moradores. “Temos v�rios problemas com furto de fio. J� chegamos a ficar uma semana inteira sem energia para trabalhar”, acrescenta a lojista Ananda.
A lojista Ananda Domingos se queixa de furtos e diz que comerciantes se esfor�am, mas que falta colabora��o (foto: jair amaral/EM/D.a Press)
A farmac�utica Ruth Marins Cereda Melo, de 35 anos, mora na Savassi h� cinco e gosta de sair pelo bairro para passear. Mas n�o o faz sem preocupa��o, pois considera que a viol�ncia ocorre tamb�m em dias comuns. “Aqui tem um clima aconchegante, apesar dos riscos sobre os quais a gente fica sabendo, como a a��o de trombadinhas. J� vi gente sendo roubada �s 9h, bem na minha frente. Falta um pouco mais de seguran�a. Flanelinhas importunam muito a gente. Nisso, os shoppings s�o mais tranquilos”, considera.
Mesmo assim, a Savassi ainda � considerada, por muitos uma das �reas mais seguras da capital. Isso n�o significa que n�o haja na �rea ocorr�ncias como furtos e arrombamentos, mas n�o tem havido registro de crimes violentos, como homic�dios.
No entendimento de muitos lojistas e moradores do bairro, o maior problema tem sido outro: “A pra�a tem ficado muito suja e tem pessoas em situa��o de rua. Mesmo a maioria deles sendo pessoas tranquilas, gera um certo receio e medo. Mas esse n�o � um problema exclusivo da Savassi, e sim de toda BH. � um problema social que exp�e a falta de cuidado dos �rg�os p�blicos com a cidade”, avalia Lucas Gomes da Silva, gerente de uma loja no fim do quarteir�o fechado da Rua Ant�nio de Albuquerque.
Entre o abandono e o brilho noturno
Muita gente n�o sabe, mas em meio a tantos projetos urban�sticos, a Pra�a da Savassi j� abrigou inclusive o “Pirulito”, obelisco originalmente instalado na Pra�a Sete, no Centro de BH, e transferido para o cruzamento das avenidas Get�lio Vargas e Crist�v�o Colombo em 1963. S� em 1980 o monumento voltou ao local onde est� atualmente.
De l� para c�, a pra�a foi tomando outra cara. Ela se modernizou, mas nem sempre exibe sua face mais bela. Hoje, em praticamente todos os quarteir�es h� lojas de portas fechadas ou com placas para aluguel. A prometida revitaliza��o do Cine Path�, marco da cultura e divers�o na capital por v�rias d�cadas, localizado na Avenida Crist�v�o Colombo pr�ximo � pra�a, ficou no papel. O cinema � um dos remanescentes do bairro original e conhecido ponto de encontro da vizinhan�a.
Idas e vindas � parte, a Pra�a da Savassi continua sendo um dos pontos tur�sticos mais importantes e frequentados da capital, e vem passando por um processo de renova��o dos estabelecimentos. Figurinha carimbada na noite de BH, o desejo de muitos lojistas da regi�o � fazer dos quarteir�es fechados da pra�a uma rua coberta, assim como h� em Gramado, munic�pio do Rio Grande do Sul, que tem uma galeria protegida por um telhado de vidro, com plantas trepadeiras.
“S�o quarteir�es que s�o pontos tur�sticos, assim como a Pra�a da Savassi �. A refer�ncia foi implantada em v�rias outras cidades e deu supercerto. Quando as pessoas querem sair para restaurantes, barzinhos, sorveterias, encontrar com amigos, o ponto � a Savassi”, avalia Ananda Domingos. Comerciantes chegaram a apresentar � prefeitura a proposta de revitaliza��o, que tamb�m serviria para padronizar o visual da regi�o, mas o projeto n�o foi aprovado. “Estamos dispostos a pagar do nosso pr�prio bolso e, mesmo assim ,eles n�o aprovaram”, revela a lojista. A PBH n�o comentou o assunto.