
Maicon Costa
Cal�adas degradadas, bueiros em mau estado de conserva��o, edif�cios degradados, presen�a massiva de moradores em situa��o de rua, esvaziamento noturno, lixo nas ruas e pichach�es at� no obelisco da Pra�a Sete. Sanar problemas como esses, que cada vez mais incomodam moradores e frenquentadores do Centro da capital mineira, � uma das metas de grupo de trabalho (GT) lan�ado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), na ter�a-feira, com a tarefa de tra�ar um plano de a��es para revitalizar a �rea. Para quem frequenta a regi�o, a solu��o de alguns desses itens exige urg�ncia.
“Os passeios est�o deformados, a gente trope�a. N�s que somos mais velhos temos que tomar cuidado para n�o cair”, reclama F�tima Ferrari, de 63 anos. Natural de BH, a aposentada percebe um crescimento da popula��o em situa��o de rua e mudan�a de seu perfil. “Antigamente, n�o eram fam�lias. Hoje, vemos pai, m�es e filhos. Est� terr�vel”, diz. M�rcio Ant�nio Canabrava, de 53, empres�rio do ramo de joias, concorda. “S�o pessoas que j� v�m com problemas familiares, como �lcool, drogas”, diz, ao cobrar apoio para essa parcela da popula��o. Outro ponto que exige ataque urgente, ressalta, � a sujeira nas ruas. “Isso aqui passa a semana toda sem lavar, era pra ser lavado toda noite, toda madrugada”, diz.
A expectativa da PBH, por sua vez, � que o programa, envolvendo medidas imediatas, al�m de a��es de curto, m�dio e longo prazos, que passam tamb�m por melhorias na acessibilidade, d� dinamismo � regi�o, revertendo a perda de moradores para outros bairros e cidades vizinhas da capital, diminuindo a incid�ncia de im�veis n�o utilizados e, consequentemente, fortalecendo o com�rcio.

De acordo com Leonardo Castro, secret�rio municipal adjunto de Governo, o GT, coordenado pessoalmente pelo prefeito Fuad Noman, se re�ne duas vezes por semana com todos os secret�rios, “j� envolvendo uma parte relevante da sociedade civil, arquitetos urbanistas, lojistas que atuam no Centro e mercado imobili�rio”. Ainda segundo Castro, foi iniciado “um processo de escuta da sociedade” para que o GT possa apresentar um “caderno de propostas”. Um dos objetivos do projeto, explica, � mudar a ideia de que o Centro � um lugar bom apenas para trabalhar, fazendo com que as pessoas tamb�m queiram morar na �rea.
Segundo o 1º vice-l�der do Governo na C�mara Municipal de Belo Horizone, vereador Wanderley Porto (Patriots), a aplica��o do plano dever� ser iniciada no come�o de 2023 e o projeto inclui a��es de limpeza de ruas e fachadas, recomposi��o da arboriza��o, melhorias de pra�as, da ilumina��o e da seguran�a p�blica, cria��o de mais espa�os de conviv�ncia, revitaliza��o de constru��es antigas, adequa��o de cal�adas �s normas de acessibilidade, acolhimento da popula��o em situa��o de rua e ocupa��o de im�veis vazios ou subutilizados. “A ideia do prefeito Fuad Noman � que em at� tr�s meses a gente comece a ter interven��es pelo Centro. Pode ter a��es que demorem at� cinco anos.”

O per�metro que dever� receber as a��es abrange as regi�es do Hipercentro, Parque Municipal, Barro Preto e Boulevard Arrudas. Tamb�m envolve arredores do Bairro Floresta e imedia��es da Rua da Bahia. O plano foi dividido em quatro per�odos de execu��o das a��es: imediatas (em at� tr�s meses), de curto prazo (em at� 12 meses), de m�dio prazo (entre 24 e 36 meses) e de longo prazo (acima de 5 anos).
“QUALIDADE ARQUITET�NICA”
Integrante da equipe respons�vel pelo processo de requalifica��o da regi�o, Washington Fajardo, arquiteto e urbanista, que foi secret�rio de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro, considera que Belo Horizonte “re�ne as condi��es para poder, muito rapidamente, se tornar uma das capitais mais interessantes do Brasil”. Na vis�o do especialista, a cidade disp�e de qualidade arquitet�nica – de espa�os p�blicos e hist�rica – , mas as condi��es atuais do Hipercentro afastam moradores para outras �reas.
De acordo com Gisele Borges, presidente da Associa��o Brasileira dos Escrit�rios de Arquitetura (Asbea-MG), a proposta � melhorar n�o somente o Centro, mas a cidade como um todo. “O nosso foco � o mercado imobili�rio, mas revitalizar � muito mais que isso, pois tem quest�es sociais, de pessoas em situa��o de rua, o com�rcio que foi degradado, moradias que foram abandonadas”, diz.
S�rgio Myssior, arquiteto e urbanista, professor da Funda��o Dom Cabral, destacou a necessidade de as cidades se transformarem e requalificarem sem perder suas caracter�sticas originais. “O Centro precisa de projetos duradouros, de transforma��o cont�nua, e n�o s� pontuais, que n�o deixam de ser importantes. Essas mudan�as v�o jogar luz na cidade.”
RETROFIT
Um ponto em comum citado por Washington Fajardo, Gisele Borges e S�rgio Myssior foi a oportunidade de implementa��o do Retrofit, que � um processo de moderniza��o de pr�dios antigos considerados ultrapassados ou fora de normas. Gisele explicou que esse ser� um dos principais desafios do Grupo de Trabalho, pois no Centro de BH h� apartamentos muito grandes, mas antigos, e que n�o t�m garagem, por exemplo. Isso dificulta a comercializa��o dos im�veis. “Se esses apartamentos pudessem ser divididos em dois, tr�s cada um, poder�amos ter uma maior densidade de pessoas no Centro.”
COM�RCIO
Para Fl�vio Froes Assun��o, presidente da Associa��o dos Comerciantes do Hipercentro de BH, tanto o poder p�blico quanto os comerciantes t�m a preocupa��o de n�o deixar que o Centro “morra”. De acordo com ele, a cria��o do GT � um primeiro passo importante, mas muita coisa precisa ser feita. “A PBH apresentou a identifica��o dos problemas, como o aumento do n�mero de pessoas em situa��o de rua e muitos pr�dios vazios, que perderam sua fun��o original. O Centro vai ter que se reinventar como uma �rea de moradias.”
Marcelo de Souza e Silva, presidente da C�mara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de BH, destacou a import�ncia do chamamento da prefeitura para requalifica��o do Hipercentro. “� preciso realizar a��es de curto prazo para que a prefeitura possa efetivamente ouvir tanto os comerciantes quanto os moradores. No nosso entendimento, a PBH tem que ser a protagonista do processo. A gente vai junto, mas a legitimidade � dela.”
Segundo Souza e Silva, a quest�o das pessoas em situa��o de rua, que come�am a ser contadas pelo Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), precisa ser resolvida com urg�ncia. “Esse problema impacta diretamente o ambiente, deteriora, impede o ir e vir das pessoas. Temos que cuidar da seguran�a por meio da ilumina��o, de c�meras de monitoramento, presen�a mais forte da Pol�cia Militar e da Guarda Municipal.”
Gerente da Enxovais Dular, localizada na Avenida Paran�, Claudiano Silva dos Santos comemorou o projeto de revitaliza��o. A expectativa � que, com a revitaliza��o, a loja, pr�xima da Rodovi�ria, atraia potenciais clientes que hoje evitam a �rea devido � degrada��o e por quest�es de seguran�a. “Se a pessoa fica com medo de passar numa certa regi�o ela n�o vai vir, a� acabam caindo as vendas na loja.”
Para Ant�nio Jos�, de 46, s�cio-propriet�rio da Lanchonete Real Frutas, que fica na Rua Rio de Janeiro, nas proximidades da Pra�a Sete, a revitaliza��o ser� bem-vinda. Segundo ele, o movimento de pessoas em situa��o de rua que entram no estabelecimento para pedir dinheiro e comida termina incomodando os clientes.