
O medo paira, a tens�o domina e a preocupa��o se multiplica ao longo dos dias, sem sinal de esperan�a no ar. Moradores de bairros no entorno do Aeroporto Carlos Prates, na Regi�o Noroeste Belo Horizonte, est�o com os nervos � flor da pele, estresse que piorou, na tarde de s�bado, com a queda de um avi�o monomotor sobre duas casas (de n�meros 359 e 361) da Rua Morro das Gra�as, no Bairro Jardim Montanh�s.
O piloto, o oftalmologista Jos� Luiz de Oliveira Filho, de 60 anos, morreu e a filha dele, J�ssica, de 36, est� internada no Hospital de Pronto Socorro Jo�o XXIII, em Belo Horizonte. “N�o conseguimos ter paz aqui. Nos finais de semana, �s 6h, j� tem avi�o descendo e subindo”, reclama Cristina Teixeira Alves Ribeiro, residente com a fam�lia bem em frente aos im�veis atingidos. Desta vez, o susto foi tal que ela caiu no ch�o: “Ouvimos um barulh�o, vimos aquela fuma�a preta, todo mundo saiu de casa”.
Ontem, quando as fam�lias poderiam estar reunidas com tranquilidade ou descansando, o dia foi de mais preocupa��o. Com o trabalho de per�cia a cargo do Centro de Investiga��o e Preven��o de Acidentes Aeron�uticos (Cenipa), do Comando da Aeron�utica, Corpo de dos bombeiros, Pol�cia Civil e Pol�cia Militar (PM), os moradores tiveram que ficar mais atentos, e dentro de casa, a partir do momento em que os militares avisaram que havia perigo de explos�o do monomotor. Recolhendo, aos poucos, partes do avi�o que ficou sobre o telhado das duas casas, as equipes retiraram o combust�vel. Com um trecho da rua interditada, a Guarda Municipal e a PM colocaram faixas zebradas e pediram �s pessoas, incluindo a imprensa, que ficassem distantes do local. Pela manh�, era forte do cheiro de gasolina na frente das duas casas, separadas por um corredor.
Com o semblante cansado e ainda perplexa, a moradora do im�vel n�mero 359, M�rcia Ant�nia Bueno de Souza, de 58 anos, contou que mora com mais quatro pessoas da fam�lia. Sentada no meio-fio, desabafou: “Vi a morte de perto, pois o avi�o quase caiu em cima de mim. Vamos ver agora o que resolvem, pois o aeroporto fica bem perto da minha casa.".
E M�rcia Ant�nia deu mais detalhes da perigosa tarde de s�bado. “O ‘rabinho’ [traseira] do avi�o caiu no telhado da minha cozinha, quase em cima da geladeira. � uma situa��o muito dif�cil para todos n�s. Tomei preju�zo, pois a geladeira est� cheia, tem os sorvetes que fa�o para vender. Agora, nem posso entrar, pois a casa est� interditada”, lamentou. Devido ao acidente, M�rcia Ant�nio foi se abrigar na casa de parentes, na Regi�o de Venda Nova. “Ainda bem que choveu de madrugada e deu uma ‘esfriada’ no avi�o...j� pensou se explode?”, comentou assustada. A vizinha, residente no n�mero 361, estava viajando, mas teve a parte da frente do avi�o sobre o telhado.
J� caiu um [avi�o] sobre a casa do meu irm�o, na Rua Lorena. Nossa luta para desativar o aeroporto � longa. Est�o protelando e n�o resolvem. � um perigo, h� casas a menos de 100 metros da pista
Marcelo Jos� Silva, aposentado
Indigna��o permanente
Olhos arregalados, conversa entre vizinhos, receio de que a situa��o se repita, j� que h� registro de muitos acidentes nos bairros vizinhos ao Aeroporto Carlos Prates, que completar� 80 anos em janeiro de 2024. Como se tivesse um n� na garganta, e fosse urgente desat�-lo, a dona de casa Carmen dos Santos, moradora do n�mero 333 elevou o tom: “Falam tanto em preven��o de acidentes, mas cad� a preven��o? � importante a economia do pa�s crescer, mas com seguran�a, n�o com um avi�o em cima da casa das pessoas".
Muitas pessoas foram ao local, no domingo bem cedo, em solidariedades �s pessoas atingidas. "J� caiu um sobre a casa do meu irm�o, na Rua Lorena. Felizmente, ningu�m foi atingido. Nossa luta para desativar o aeroporto � longa. Est�o protelando e n�o resolvem. � um perigo, h� casas a menos de 100 metros da pista", disse o aposentado Marcelo Jos� Silva, morador da Rua Belo Vale na esquina com Morro das Gra�as. Ap�s a entrevista com Marcelo Jos�, a equipe do Estado de Minas foi � casa do irm�o dele, M�rcio Jos� da Silva, casado, pai de tr�s filhos. A fam�lia foi v�tima, h� alguns anos, da queda de um avi�o sobre o telhado. “Ainda bem que ningu�m se machucou, mas foi algo assustador. Se o piloto, que estava com uma aluna em aprendizagem, tivesse batido na laje da casa, revestida de pedra, teria, sem d�vida, s�rios problemas”.
A queda ao avi�o � sempre lembrada por M�rcio Jos� da Silva, mais ainda com o acidente ocorrido por volta das 14h30 de s�bado. Como testemunha da hist�ria, ele guardou o ‘bico’ da aeronave. “O avi�o foi retirado, mas eu disse: Isso vai ficar aqui. Guardo como um trof�u da vida, pois ningu�m da minha fam�lia se feriu”, revelou.
Moradores dos bairros pr�ximos ao aeroporto n�o veem a hora de o terminal ser desativado para outra destina��o. Moradora da Rua Minerva, no Bairro Cai�ara, Vanilda Dias, enfermeira, ressalta que as pessoas vivem com medo. Ontem, quando passeava com a cadelinha Laisla, lembrou de dois acidentes nos �ltimos anos, um deles com a morte de um piloto. Tamb�m residente na Rua Minerva, o aposentado Raphael Silva mostra o exato lugar em que um avi�o caiu – hoje, h� um quebra-molas na pista. “O que tem de acidente de tr�nsito nessa �rea n�o � brincadeira, toda hora tem um. Acredito que o aeroporto, se desativado, possa se transformar em parque ou �rea de lazer.
A revolta tomou conta de uma moradora, que preferiu n�o se identificar. Para ela, toda essa situa��o, que considera “briga pol�tica”, j� poderia ter terminado no fim do ano. “Estava resolvido no governo do presidente Jair Bolsonaro. Mas, a�, o presidente Lula ganhou e est�o s� postergando. � preciso resolver logo, vivemos sob perigo constante”, disse a moradora.
Nos finais de semana, �s 6h, j� tem avi�o descendo e subindo. Ouvimos um barulh�o [no s�bado], vimos aquela fuma�a preta, todo mundo saiu de casa
Cristina Teixeira Alves Ribeiro, que mora em frente �s casas atingidas
Triste rotina
A morte de s�bado foi a quinta nos �ltimos quatro anos relacionada a voos no terminal Carlos Prates. Ap�s dois acidentes com v�timas em 2019, o fechamento do aeroporto entrou no radar das autoridades. Em 2020, o ent�o ministro de Infraestrutura, Tarc�sio de Freitas, chegou a anunciar que o aeroporto seria fechado no ano seguinte, mas uma s�rie de adiamentos postergou a medida e o terminal segue em funcionamento.
Conforme o Estado de Minas informou ontem, a expectativa era de que as atividades do aeroporto fossem encerradas em dezembro do ano passado, mas uma portaria estendeu o prazo at� maio de 2023. O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, lamentou o novo acidente e informou pelas redes sociais que ir� refor�ar o pedido de concess�o do aeroporto Carlos Prates ao munic�pio. Com reuni�o marcada em Bras�lia amanh�, Fuad prometeu levar o assunto novamente ao conhecimento do governo Lula.
"N�o podemos mais permitir que acidentes assim aconte�am", escreveu. Ele tamb�m voltou a manifestar o interesse da prefeitura de Belo Horizonte em usar o terreno para gera��o de emprego e moradia, ap�s o aeroporto ser desativado. "Sigo com a minha proposta de utilizar a �rea do aeroporto para constru��o de moradias, parques, escolas, centros de sa�de e toda infraestrutura urbana necess�ria para a popula��o", frisou. A proposta � destinar parte da �rea, pr�xima ao Anel Rodovi�rio, para ind�stria e log�stica. A outra receberia um parque e 2.000 moradias populares, com aparelhos b�sicos como postos de sa�de, creches e centro comercial.

Os olhos se fecham, mas seu legado ficar� marcado. Os momentos de alegrias e companheirismo sempre ser�o lembrados por todos n�s. Obrigado pela amizade e dedica��o ao longo desses 24 anos no Hospital de Olhos de Governador Valadares
Nota da cl�nica onde o oftalmologista trabalhava em Governador Valadares
Oftalmologista trabalhava em Valadares
A morte do oftalmologista Jos� Luiz de Oliveira Filho, de 60 anos, que pilotava o monomotor que caiu sobre duas casas na Regi�o Noroeste de Belo Horizonte, no s�bado, causou como��o em Governador Valadares, no Leste de Minas. Ele viajavam com a filha, J�ssica, de 36 anos, que segue internada no Hospital de Pronto-Socorro Jo�o XXIII, na capital mineira. Jos� Luiz trabalhou durante 24 anos em uma cl�nica na cidade. Pelas redes sociais, colegas de trabalho, pacientes, amigos e familiares lamentaram a trag�dias. “Foi uma honra dividir meus dias, durante 11 anos de trabalho, com esse homem excepcional. Mais que um profissional excelente, era um ser humano excelente. Com todo seu jeito apressado, objetivo, mas que nunca deixou a desejar em seus atendimentos, pontual�ssimo e super honesto, bondoso e justo. Sua mem�ria ser� sempre motivo de honra e jamais ser� esquecida. Descanse em paz, dr!”, escreveu a secret�ria do Hospital de Olhos, N�bia Teixeira.
“Os olhos se fecham, mas seu legado ficar� marcado. Os momentos de alegrias e companheirismo sempre ser�o lembrados por todos n�s. Obrigado pela amizade e dedica��o ao longo desses 24 anos no Hospital de Olhos de Governador Valadares. Toda a nossa solidariedade � fam�lia”, escreveu a dire��o da cl�nica no qual o oftalmologista trabalhava. O corpo de Jos� Luiz foi sepultado no Cemit�rio Memorial Park, em Governador Valadares, ontem � tarde.