
A ocupa��o desordenada da Amaz�nia nos anos 1970 legou � regi�o a cultura da explora��o predat�ria at� o esgotamento dos recursos naturais. �s popula��es imigrantes, que chegaram das diversas partes do pa�s em projetos de coloniza��o promovidos pela ditadura militar, restou, ap�s a exaust�o da terra, o caminho das periferias das cidades – de urbaniza��o intensa e prec�ria – ou a busca por novas �reas da floresta. De 1975 para c�, 21% da cobertura original da Amaz�nia Legal j� foi devastada. E o ciclo das primeiras ocupa��es se repete: atra��o de popula��es para a explora��o da terra � exaust�o, prosperidade fugaz e novas migra��es inter-regionais, com a terra desmatada incapaz de reter as fam�lias.
� o que demonstram estudos demogr�ficos da mobilidade das popula��es dentro da Amaz�nia Legal, promovido pelos pesquisadores Jos� Irineu Rangel Rigotti, Cassio Turra, Renato Hadad e Fernando Fernandes, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento da Faculdade de Ci�ncias Econ�micas da UFMG, publicado sob o t�tulo “A din�mica demogr�fica da Amaz�nia Legal – Migra��es” pelo projeto Amaz�nia 2030.
“As �reas hoje desmatadas da Amaz�nia Legal, que s�o de coloniza��o mais antiga, tiveram nos processos migrat�rios inter-regionais, entre 1986 e 1991, o segundo maior ganho de popula��o da Amaz�nia Legal. Mas essa tend�ncia se inverte nos quinqu�nios seguintes”, afirma Jos� Irineu Rangel Rigotti, professor do Departamento de Demografia da UFMG e pesquisador dos processos demogr�ficos do Brasil e Amaz�nia Legal. “A regi�o desmatada completa d�cadas de perdas populacionais, ainda que seja imensa e diversificada, com alguns dos polos regionais mais importantes e atrativos da Amaz�nia Legal”, acrescenta.
Essa �rea degradada enfrentou migra��es tamb�m para a �rea de floresta vizinha, sobre a qual transborda, neste momento, a maior press�o de grilagem, extra��o de madeira ilegal e garimpo entre as quatro regi�es da Amaz�nia Legal classificadas em 2007 pelos pesquisadores do instituto de pesquisa Imazon, voltado para o desenvolvimento sustent�vel da regi�o.
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Por estar amea�ada pela explora��o predat�ria e desmatamento, “Amaz�nia florestal sob press�o” foi o nome dado a essa faixa pelo Imazon. Uma regi�o que representa 29% do territ�rio da Amaz�nia Legal, com extenso cintur�o de 500 mil quil�metros quadrados que ainda preservam 81% da cobertura vegetal.
Entre as quatro zonas da Amaz�nia Legal classificadas pelo Imazon, � a �nica que ainda mant�m ganhos populacionais, com saldo migrat�rio positivo. Mas, a se repetir o que ocorreu com a �rea j� desmatada da floresta antes do esgotamento dos recursos naturais, ter� representado uma prosperidade ef�mera, que se encerrar� ao ritmo da terra arrasada.
A floresta tamb�m sofre outros tipos de press�o, exercida pela pr�pria expans�o da atividade econ�mica, que traz a necessidade de infraestrutura, como hidrel�tricas ou a constru��o de estradas, grandes vetores de desmatamento, considera Jos� Irineu Rangel Rigotti, que recomenda aprender com o passado para interromper a ocupa��o predat�ria que agora amea�a o n�cleo da floresta.
Ressalvando que os novos dados censit�rios v�o permitir a an�lise das tend�ncias demogr�ficas e migra��es inter-regionais com maior n�vel de seguran�a, as din�micas de ocupa��o, contudo, s�o antigas e conhecidas. “Por conta desse processo de explora��o at� o esgotamento, h� uma press�o muito grande sobre a terra: grilagem, concentra��o fundi�ria e a pr�pria expans�o do agroneg�cio”, observa.
Jos� Irineu Rigotti assinala que, para deter a a��o predat�ria sobre a floresta, � indispens�vel proteger a popula��o ind�gena e as comunidades tradicionais ribeirinhas, que fazem parte de uma Amaz�nia extensa. Para isso, contudo, � necess�ria a reestrutura��o dos �rg�os socioambientais que atuam na �rea, desmantelados nos �ltimos quatro anos.
O investimento essencial est� tamb�m na melhoria do sistema escolar – ainda prec�rio na Amaz�nia – e na forma��o educacional das crian�as, aponta o dem�grafo. “Ser�o as novas gera��es que v�o cuidar da floresta”, completa. Leia a seguir os principais trechos de entrevista concedida por Rigotti ao Estado de Minas.