O conflito no campo e a profunda desigualdade econ�mica s�o o principal problema social do Paraguai e est�o no centro das disputas que ru�ram o apoio do presidente deposto Fernando Lugo. Eleito com apoio de camponeses, Lugo prometeu realizar uma reforma agr�ria e assentar milhares de sem-terra em propriedades rurais em sistemas de cooperativas. A promessa n�o foi cumprida, em boa medida por causa da ferrenha oposi��o que Lugo enfrentava no Congresso. O ex-presidente tamb�m enfrentava dificuldade em negociar com os produtores rurais, respons�veis por boa parte da expans�o econ�mica do pa�s nos �ltimos anos. Esse conflito de interesses mostrou-se o maior obst�culo pol�tico para Lugo e corre o risco de se agravar com o novo presidente Federico Franco.
Diante dos �nfimos avan�os na esperada reforma agr�ria, os sem-terra passaram a promover invas�es em v�rias regi�es do pa�s, sobretudo em terras cuja titularidade � questionada pela Justi�a. Eles reivindicam 167 mil hectares de terras na regi�o do Alto Paran�, faixa de fronteira com o Brasil. Dizem que se trata de apenas uma parte dos quase 300 mil hectares de propriedades cuja titularidade nunca saiu das m�os do Estado. Para os sem-terra, trata-se de terras p�blicas que teriam sido usurpadas por "grileiros de terras brasileiros".
A Uni�o de Gr�mios de Produ��o (UGP), que representa os interesses dos grandes produtores, foi favor�vel ao impeachment de Lugo e se diz esperan�oso com o novo mandat�rio. "Temos que dar uma oportunidade ao novo governo", disse H�ctor Cristaldo, presidente da UGP. O gr�mio re�ne, entre outros, os poderosos produtores e exportadores de cereais e oleaginosas. "Esperamos conseguir com Franco o que n�o pudemos com Lugo", disse Cristaldo, referindo-se � sua reclama��o de que sejam interrompidas as invas�es de estabelecimentos rurais por sem-terra, registradas no governo do presidente deposto. A UGP decidiu cancelar um “tratora�o”, forma de protesto dos fazendeiros em que eles bloqueiam estradas com suas m�quinas, gerando quil�metros de congestionamentos.
OPOSI��O
Movimentos sociais e pol�ticos contr�rios ao impeachment de Lugo se reuniram na sede da Central Nacional dos Trabalhadores, no Centro de Assun��o, para definir metas para a oposi��o ao novo governo. Sob a lideran�a da Frente Guas�, que concentra cerca de 20 partidos de esquerda e centro-esquerda, a discuss�o principal era como garantir uma "mobiliza��o pac�fica ativa" contra o governo de Franco. Os grupos, que reuniam for�as jovens, camponeses e movimentos de esquerda paraguaios, preparavam um documento no qual instituem que Lugo "continua sendo o presidente leg�timo" e que n�o aceitar�o nenhuma negocia��o com a participa��o de Franco.
Para o membro do Parlamento do Mercosul Ricardo Canese, a resist�ncia ao novo governo deve ser feita pacificamente. "O povo tem todo o direito de se manifestar contra esse golpe de Estado parlamentar e � instala��o de uma ditadura de extrema-direita. Mas vamos fazer isso de uma forma pac�fica", disse. Canese, contudo, diz que o movimento apoiar� a ocupa��o de terras por campesinos, origem dos principais conflitos recentes no pa�s ."H� oito milh�es de hectares de terras p�blicas ocupadas por invasores. E o movimento campesino deve lutar por elas."