Bras�lia – Tha�s del Valle Rivas, de 44 anos, deve muito ao presidente da Venezuela, Hugo Ch�vez. Moradora de Carvajal, no departamento (estado) de Trujillo, a 600 quil�metros de Caracas, a t�cnica em constru��o civil foi beneficiada por um dos muitos programas sociais que se tornaram pilares da Revolu��o Bolivariana e moldaram a implanta��o do “socialismo do s�culo 21”. “Gra�as �s pol�ticas promulgadas para a aquisi��o de moradias, hoje tenho uma casa pr�pria”, celebra, em entrevista ao Estado de Minas, pela internet.
“Foi o governo que me brindou com esse subs�dio”, acrescenta. Desde a implanta��o da Grande Miss�o Moradia Venezuela, em abril de 2011, mais de 346 mil casas foram distribu�das para a popula��o carente. At� 2019, a inten��o do governo � construir 3 milh�es de resid�ncias – 300 mil nos pr�ximos quatro anos. “Gra�as �s miss�es impulsionadas por Ch�vez, nosso povo despertou e avan�ou”, comenta Tha�s, que cita a redu��o da pobreza, da marginalidade, do desemprego e do analfabetismo.
O desemprego atinge 6,4% dos venezuelanos – no Brasil, o �ndice chega a 5,6%. A pobreza despencou de 49%, em 1998, para ainda impressionantes 26,7%, no ano passado. O analfabetismo foi erradicado em 2005. Na �nsia de oferecer qualidade de vida � popula��o, as miss�es bolivarianas escondem um lado pol�mico. “Elas tornam as pessoas mais pobres do que podem ser. O que fazem � meter na sua cabe�a uma ideia de ‘socialismo’ que nem mesmo o presidente pratica”, desabafa Gabriela Duran, de 21, estudante de Ciudad Maracay, no departamento de Aragua, na costa do mar do Caribe. “Ch�vez encheu meu pa�s de sangue, mis�ria, delinqu�ncia e de ignorantes.” Ela acusa o governo de recompensar, com geladeira, dinheiro e casas, as pessoas que forem �s ruas a seu favor.
O cerceamento dos direitos civis � motivo de preocupa��o. “Por aqui, n�o existe liberdade. Se temos opini�es diferentes, podemos ir presos. Tudo � corrup��o”, diz Gabriela. As imagens de Ch�vez se espalham pelas cidades e as redes de tev� estatais insistem em exaltar o presidente. H� exato um ano, em 13 de janeiro de 2012, o l�der bolivariano fez o mais longo discurso desde a ascens�o ao Pal�cio de Miraflores: foram 10 horas de pronunciamento.
Apesar de tanta idolatria nas ruas e na m�dia, a economista e advogada Sonia Cesin, moradora de Caracas, n�o v� motivos para celebrar o legado chavista. “Durante o governo de Ch�vez, houve um aumento descomunal na delinqu�ncia. � impressionante como voc� pode se ver preso em meio a um tiroteio ou se tornar v�tima de assalto, aqui na capital”, comenta. Caracas registra m�dia de 98,5 assassinatos para cada 100 mil habitantes – em 2012, foram cerca de 3,5 mil crimes. Questionada sobre o que mudou em sua vida na era Ch�vez, Sonia tem a resposta pronta. “Mudei de status: antes, eu pertencia � classe m�dia, agora sou da classe m�dia baixa, sem presidente e com a Constitui��o violada.”
Ela conta que foi demitida de uma companhia telef�nica, depois de o governo declarar a estatiza��o da empresa. “As pessoas veem em Ch�vez um pai porque recebem uma bolsa mensal de comida, al�m de 300 bol�vares fortes (R$ 142)”, diz.
“A Grande Miss�o Moradia Venezuela � muito boa, mas a qualidade das casas � t�o ruim que at� as paredes t�m ca�do”, critica. A economista acredita que Ch�vez tinha tudo para fazer um bom governo mas desperdi�ou a chance. Enquanto luta pela sa�de, em Cuba, o presidente segue despertando �dio e idolatria em seu pa�s.