
N�o se sabe se algum dia haver� um outro Nelson Mandela, mas � ineg�vel que dissidentes e movimentos de resist�ncia se apropriaram do legado desse �cone da reconcilia��o, baseando-se em trajet�rias pol�ticas guiadas pela coragem e pelo sacrif�cio.
O professor Christopher Hughes, da London School of Economics, sugere o nome do Pr�mio Nobel da Paz chin�s Liu Xiaobo como aquele que melhor encarna a figura contempor�nea de Mandela. "H� semelhan�as. Est� detido, e � um prisioneiro de consci�ncia", diz Hughes � AFP. "Mas Mandela representava, evidentemente, a maioria negra na �frica do Sul, enquanto que, no caso de Liu, � mais dif�cil dizer se representa uma maioria". "Os cr�ticos dizem que � um intelectual e que est� desconectado da vida real do povo", completou.
A birmanesa Aung San Suu Kyi, que tamb�m passou muitos anos presa, ganhou o apelido de "Mandela da �sia". Pr�mio Nobel da Paz, assim como o falecido presidente, ela se sacrificou tanto quanto o her�i sul-africano, ao ficar detida, enquanto seu marido morria de c�ncer na Inglaterra. "A dama de Yangun" recuperou a liberdade e, hoje, � deputada em um pa�s com um horizonte pol�tico mais promissor, embora o Ex�rcito continue no poder.

"Da minha cela, digo a voc�s que nossa liberdade parece poss�vel, porque voc�s conseguiram a de voc�s. O Apartheid n�o venceu na �frica do Sul e n�o vencer� na Palestina", acrescentou. Para boa parte da comunidade internacional, por�m, n�o � poss�vel comparar o tratamento dispensado pelos israelenses aos palestinos com o que aconteceu � maioria negra sul-africana durante o regime do Apartheid, de segrega��o racial.
Al�m de Aung San Suu Kyi, h� um outro hipot�tico Mandela asi�tico: o primeiro-ministro do Timor Leste independente, Xanana Gusm�o. Ele passou sete anos em um pres�dio indon�sio depois de fazer campanha pela independ�ncia de metade da ilha. Em 1997, recebeu a visitade Mandela, em segredo, a sua cela em Jacarta. Ao longo de sua trajet�ria, Gusm�o sempre disse ter sido inspirado pelo exemplo sul-africano. Atualmente, seu governo � acusado de corrup��o.
J� os curdos comparam o dirigente separatista Abdullah Ocalan a Mandela, descrevendo-o como um combatente da liberdade que foi preso e classificado de terrorista pelas autoridades turcas. Mandela recebia o apelido de "Tata", ou seja, "pai", algo parecido com Ocalan, conhecido no Curdist�o como "Apo" (tio). J� os turcos se referem a ele como o "beb� assassino" pelos ataques cometidos por sua organiza��o, o PKK, e criticam as qualidades "paternais" atribu�das a ele por seus simpatizantes.
A quest�o � que o caso de Mandela foi diferente. O Apartheid era uma mancha na consci�ncia da Humanidade, muito mais do que um regime de repress�o - o que contribuiu, sem d�vida, para tornar sua luta uma causa internacional. Por esse motivo, a comunidade internacional "aceitou e perdoou" o fato de Mandela ter recorrido � luta armada, com atos de sabotagem que provocaram a morte de civis. Para os dissidentes e presos pol�ticos do presente, n�o � t�o simples assim, frisou Hughes.
De qualquer modo, apesar das diferen�as, a mensagem de Mandela, "um homem disposto a sacrificar sua liberdade, talvez sua pr�pria vida, por suas convic��es pol�ticas", continua sendo "um modelo extremamente forte que estimula dissidentes do mundo inteiro", conclui o professor.