
O Vaticano se prepara para julgar pela primeira vez um ex-prelado acusado de pedofilia, o polon�s Josef Wesolowski, uma a��o realizada a pedido do papa Francisco para marcar o fim do sil�ncio da Igreja ante esta delicada quest�o. J� condenado em junho por um tribunal eclesi�stico, Wesolowski foi convocado para uma audi�ncia preliminar que deu in�cio a um processo penal, e foi colocado sob pris�o domiciliar.
"Provavelmente haver� um julgamento", confirmou nesta quarta-feira o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, que n�o se pronunciou sobre um calend�rio para o processo. Se Josef Wesolowski for condenado poder�, ent�o, ser aprisionado dentro dos muros do Vaticano.
O �nico julgamento ocorrido recentemente no Vaticano foi o do ex-mordomo de Bento XVI, Paolo Gabriele, preso no Vaticano por v�rios meses e condenado no final de 2012 por ter vazado documentos confidenciais � imprensa italiana. Meses depois recebeu o perd�o papal. No entanto, nenhum prelado respondeu a crimes na hist�ria recente da Santa S�. "Este � um marco por sua for�a, o seu poder e tamb�m a sua dimens�o simb�lica (...) A escolha de Francisco � clara: no Estado em que � soberano e pont�fice, n�o h� lugar para cl�rigos e leigos suspeitos de terem cometido abusos sexuais, e muito menos contra menores de idade", considerou no jornal La Stampa o constitucionalista Francesco Clementi.
Aos 66 anos, Jozef Wesolowski foi ordenado em 1972 pelo arcebispo de Crac�via, o ent�o cardeal Karol Wojtyla, futuro papa Jo�o Paulo II, que o ordenou bispo em 2000.
Nomeado n�ncio apost�lico na Bol�via e em v�rios pa�ses da �sia, chegou em 2008 na Rep�blica Dominicana. Em 2013, a imprensa local acusou-o de ter tido rela��es sexuais com menores. A justi�a dominicana garantiu ter identificado pelo menos quatro v�timas com idades entre 12 e 17 anos.
Mas o prelado foi chamado em car�ter de emerg�ncia em agosto de 2013 ao Vaticano, que tamb�m se recusou a extradit�-lo para a Pol�nia.
Consci�ncia da Igreja
Esta decis�o chocou a todos, inclusive membros da Igreja, que exigiam julgamento e san��es r�pidas a estes crimes. A ONU citou v�rias vezes o seu caso como um s�mbolo da opacidade das pr�ticas do Vaticano.
O prelado, de fato, foi primeiramente levado perante um tribunal eclesi�stico, cujos processos n�o s�o p�blicos, e condenado em junho a um redu��o ao estado laical. Ele apelou. Um processo criminal foi finalmente lan�ado, "de acordo com a vontade expressa do papa, para que um caso t�o grave e delicado seja tratado rapidamente com o rigor justo e necess�rio", segundo as palavras do padre Lombardi.
o receber no in�cio de julho v�timas de padres ped�filos, Francisco assegurou que a dor das v�timas pesava "na consci�ncia da Igreja" e "pediu perd�o" pela cumplicidade ou a indiferen�a de uma parte da hierarquia. "N�o h� espa�o na Igreja para aqueles que cometem tais abusos", insistiu.
De acordo com o novo c�digo penal do Vaticano promulgado em julho de 2013, a viol�ncia sexual contra menores � pun�vel com 12 anos de pris�o e 150.000 euros de multa, e a pena pode aumentar se a v�tima for menor de 14 anos. Desde os anos 1990, a revela��o de dezenas de milhares de casos de padres ped�filos em pa�ses ocidentais, muitos deles datando dos anos 1960 e 1970, desacreditou o Vaticano e a Igreja Cat�lica, acusados de proteger os agressores por medo de esc�ndalo sem levar em conta as crian�as.
O pontificado de Bento XVI, no entanto, marcou o in�cio da mudan�a do posicionamento da Igreja. Em maio, o n�ncio para as Na��es Unidas, o arcebispo Silvano Tomasi, anunciou que em seis anos os tribunais eclesi�sticos ordenou 848 sacerdotes e 2.572 outras pessoas a levar "uma vida de ora��o e penit�ncia" por incidentes que ocorreram at� a d�cada de 1950. Mas grupos de v�timas se queixam de que os processos permanecem secretos, e que a colabora��o com as autoridades civis em vista de processos criminais ainda n�o � obrigat�ria.