
Os irm�os Said e Cherif Kouachi, acusados do massacre na revista sat�rica Charlie Hebdo, fazem parte de um grupo de jovens mu�ulmanos franceses doutrinados nos anos 2000 em Paris. Ambos estiveram vinculados � chamada rede de Buttes-Chaumont, o nome de um parque do norte de Paris, onde os integrantes faziam exerc�cios f�sicos e recrutavam combatentes para a jihad ("Guerra Santa") no Iraque.
Depois de desbaratar a rede, a pol�cia descreveu Cherif Kouachi como um jovem que odiava os infi�is e que tinha a inten��o de agir na Fran�a. Em 2008 foi julgado e condenado a tr�s anos de pris�o, com 18 meses de pena condicional. Said, seu irm�o mais velho, mais discreto, esteve no I�men em 2011, onde recebeu treinamento militar, segundo uma autoridade americana.
Cursos do emir
Os irm�os Kouachi, dois franceses de origem argelina, seguiram os cursos religiosos do jovem "emir" Farid Benyettou em casas particulares ou mesquitas de Stalingrad, um bairro popular do nordeste de Paris. A partir de 2003, Cherif seguiu os cursos de Benyettou e pouco a pouco foi se convertendo, o que o levou, entre outras coisas, a parar de fumar maconha e a respeitar os ritos religiosos, segundo fontes pr�ximas ao caso. Em seus cursos, Benyettou apoiava a Jihad no Iraque, um tema que tratou, em particular, com Cherif, a quem dizia que, neste contexto, o Isl� considera leg�timos os atentados suicidas.
"Quando Benyettou falava comigo, eu tinha a impress�o que de certa maneira me dizia: 'V�? As provas est�o diante de voc�'", disse Cherif Kouachi aos investigadores. "Quando ele falava, tinha a impress�o de que a verdade estava ali, na minha frente", contou.
Naquele momento negou qualquer inten��o de agir na Fran�a e n�o foi processado. No entanto, durante a investiga��o, Benyettou, que o descreveu como "muito impulsivo e muito agressivo", afirmou que Cherif Kouachi teria falado "sobre sua inten��o de atacar a comunidade judia em Paris antes de ir participar da Jihad". Em 2004, manifestou a Benyettou seu desejo de viajar ao Iraque. O "emir" confiou a ele a miss�o de "se unir ao grupo de Abu Musab al-Zarkaui", l�der naquele momento do bra�o iraquiano da Al-Qaeda.
Benyettou "me falou de setenta virgens e de uma grande casa no Para�so" e de "detonar contra uma base americana um caminh�o carregado de explosivos", disse Cherif.
Deten��o
No entanto, "este indiv�duo indignado pelas torturas que os americanos infligiram aos iraquianos n�o viajou". Em 2005, foi detido antes de pegar o voo rumo � S�ria, de onde viajaria ao Iraque. Disse na �poca que j� n�o estava t�o decidido e que havia seguido seus planos por orgulho, segundo fontes pr�ximas ao caso. Especialistas em islamismo radical acreditam que Cherif Kouachi finalmente viajou ao Iraque depois de sair da pris�o, em 2010, mas esta informa��o n�o foi confirmada. Tamb�m h� d�vidas sobre o local onde os irm�os Kouachi aprenderam a usar armas.
A investiga��o sobre a rede de Buttes-Chaumont fornece alguns elementos como resposta. Ao que parece, Benyettou o colocou em contato com um instrutor que ensinou a ele, segundo Cherif, sobre o uso das armas. "Explicou que havia tr�s n�veis de tiro: em seguran�a, tiro por tiro ou rajadas, e os tipos de muni��es em um curso que durou uma hora", disse Cherif, acrescentando que tamb�m havia buscado informa��o na internet sobre os fuzis kalashnikov.