Enquanto milhares de alem�es e austr�acos prestam solidariedade aos imigrantes na Europa e o papa Francisco pede que as igrejas abram suas portas para receber quem est� fugindo da guerra e precisa de ajuda, em Belo Horizonte, o pequeno Riad Alzight, de 4 anos e olhar assustado, � o mais novo refugiado s�rio abrigado pela Igreja Cat�lica. Seu maior espanto ao chegar foi ver a cidade iluminada. “Olha, aqui tem luz”, comentou Riad, que nasceu e cresceu na guerra. � que o conflito na S�ria – pa�s do Oriente M�dio com 3/4 do tamanho do estado de S�o Paulo, mas pouco mais da metade da popula��o, 22 milh�es de habitantes – devastou o pa�s e destruiu toda sua infraestrutura. Energia el�trica � coisa rara por l�, conta o tio de Riad, Khaled Thomeh, de 31, engenheiro de alimentos, que mora na capital mineira com parte da fam�lia h� um ano e tr�s meses. Ele integra a comunidade de cerca de 2 mil s�rios refugiados em todo o Brasil desde que explodiu a guerra civil, em mar�o de 2011.
Khaled Thomeh teve mais sorte e conseguiu sair do pa�s com a mulher, a economista Mary Ghattas, de 27, e os pais, Waled Tomeh, de 59, e Maria Alhaddad, de 56. E a fam�lia j� ganhou um integrante brasileiro: a pequena Yasmin, de cinco meses e olhos e cabelos bem pretos, como a maioria dos s�rios, primeira filha de Khaled e Mary. A beb� � tamb�m a primeira descendente de refugiados nascida em Belo Horizonte. Para ajudar nas finan�as, a fam�lia tem feito comida �rabe para vender, j� que apesar de Khaled e o pai terem curso superior, arrumar emprego � dif�cil por causa da l�ngua e da burocracia para validar o diploma. Todos moram em um apartamento no Centro de BH. Ele chegou � capital mineira com ajuda da Par�quia Sagrado Cora��o de Jesus que congrega, desde 1925, os cat�licos �rabes da capital. A par�quia mant�m 16 apartamentos e uma casa de acolhida na regi�o central para receber os refugiados, que somam 74 pessoas. No come�o chegavam apenas homens jovens e solteiros. Hoje, muitos v�m com a fam�lia.
Wassim Al Abdalla, de 33 anos, t�cnico em inform�tica, � outro refugiado abrigado em BH. Ele diz n�o ter esperan�a no fim da guerra, mas tem de voltar para rever o pai de 70 anos, que ficou l�. Wassim acredita na nova vida na capital mineira, onde trabalha de vendedor em uma livraria cat�lica. Mesmo sonho da fam�lia do engenheiro mec�nico Milad Deeb, de 54, que chegou h� dois meses com a mulher, Omaima Deeb, de 46, e os filhos, Fadib, de 15, e Estefan, de 13. Os meninos j� est�o na escola, Milad trabalha como vendedor e a mulher faz quibes para completar a renda. Falando portugu�s com dificuldade, Milad quer fincar ra�zes no Brasil que, segundo ele, o recebeu como uma fam�lia.
Acolhimento
O que ameniza o sofrimento de todos � o acolhimento da comunidade s�ria e da popula��o em geral e o empenho do padre George Rateb Massis, que veio da S�ria para o Brasil em 2003 para assumir a Par�quia Sagrado Cora��o de Jesus. Foi ele quem trouxe os primeiros refugiados, a maioria deles de Homs, terceira maior cidade da S�ria e ber�o do levante contra o regime do presidente Bashar al-Assad. At� pouco tempo, Homs, terra natal do padre George, estava sob o dom�nio dos rebeldes, at� ser reconquistada recentemente pelo governo. A primeira provid�ncia do religioso antes de trazer um refugiado � arrumar emprego para a pessoa. “N�o s� para ajudar no sustento, mas para facilitar a integra��o e levantar a autoestima de quem chega por aqui”, conta. “O trabalho � tamb�m um tratamento psicol�gico para quem est� sem atividade na S�ria, dormindo e acordando com a sinfonia das bombas e do choro, vivendo no meio s� de coisas ruins. Sempre conto com a gentileza e a boa acolhida dos brasileiros”, destaca o padre. Segundo Massis, os refugiados chegam com o passaporte e a roupa do corpo. “Temos que providenciar tudo. A igreja mant�m uma casa matriz onde todos s�o recebidos. L� tem tudo para essa acolhida, inclusive professor de portugu�s. Depois de estarem mais adaptados e trabalhando, a gente acha um apartamento para os que j� se enturmaram. Com a sa�da da casa, eles abrem espa�o para que possamos receber outros.” Tudo � mantido com doa��es que, ultimamente andam escassas, principalmente para fazer frente � demanda cada vez maior por asilo.A igreja mant�m a campanha “Juntos pela S�ria” e quem quiser pode fazer doa��es (Banco do Brasil, ag�ncia 3494-0/ conta 30.351-8, em nome da Mitra Arquidiocesana de Belo Horizonte).