Um governo visto como conservador, sob novas acusa��es de corrup��o e um desemprego recorde, apesar de se vislumbrar o fim da recess�o. Para alguns brasileiros, muito e ao mesmo tempo nada mudou desde que Dilma Rousseff foi destitu�da do poder, h� um ano.
Em 12 de maio de 2016, Dilma deixava o poder, denunciando um "golpe institucional". Reeleita em 2013, a presidente havia sido afastada para ser julgada pelo Congresso por suspeita de manipula��o das contas p�blicas, nas chamadas "pedaladas fiscais".
Seu ent�o vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP), assumiu interinamente o comando do pa�s e prometeu mudar radicalmente o rumo pol�tico para resgatar a confian�a nos mercados e tirar o Brasil da pior recess�o de sua hist�ria.
Um ano depois, oito em cada dez brasileiros consideram que o hoje presidente Temer fez menos pelo Brasil do que esperavam, segundo pesquisa do Instituto Datafolha. Apenas 9% aprovam sua administra��o.
De vice 'decorativo' a presidente impopular
Vice desde 2011, Temer rompeu com Dilma antes de seu afastamento. Primeiro protestou por ter sido tratado como um "vice-presidente decorativo" e, pouco depois, seu partido desembarcou da coaliz�o do governo.
A presidente o acusou de trai��o e de orquestrar o impeachment para ficar no poder, condenando-a por manobras cont�beis que todos os seus antecessores tinham feito.
A destitui��o definitiva se concretizou em 31 de agosto de 2016, mas, ao assumir interinamente, Temer montou um gabinete do zero e iniciou reformas estruturais, com o objetivo de completar o mandato em 31 de dezembro de 2018.
"Estamos completando nosso primeiro ano de governo com a certeza mais absoluta de que estamos no caminho certo", disse nesta sexta-feira o presidente, assegurando que est� colocando o pa�s "em ordem".
Embora a economia d� sinais de melhora, e o governo projete uma recupera��o modesta de 0,5% para 2017, o desemprego chegou a n�veis recordes (13,7%) e afeta 14,2 milh�es de brasileiros.
A aprova��o da PEC do Teto dos Gastos P�blicos, que imp�e o congelamento do or�amento por duas d�cadas, e as reformas trabalhista e da Previd�ncia fizeram o governo despencar a �ndices m�nimos de popularidade, coincidem analistas.
Temer "entrou no poder pela porta dos fundos e prop�s mudan�as radicais no Estado brasileiro, sem ter sido eleito pelo voto popular", disse � AFP o professor de Hist�ria Ot�vio Guimar�es, da Universidade de Bras�lia (UnB).
O pr�prio presidente admitiu que essas decis�es n�o favorecem sua avalia��o nas pesquisas, mas afirma que prefere ser lembrado como o l�der "que fez as grandes reformas, que permitiu que os pr�ximos governos n�o encontrem o Brasil como n�s o encontramos".
A sombra da Lava-Jato
Pelo menos oito ministros de Temer est�o sob investiga��o por suspeitas de corrup��o na opera��o Lava-Jato, que investiga uma maci�a rede de corrup��o na Petrobras.
Quase um ter�o do Senado e 40 deputados, de praticamente todos os partidos, tamb�m est�o na mira da Justi�a.
Desde o impeachment, "nada mudou. Continua pior, inclusive. Pra mim, todos teriam que sair do poder e convocar novas elei��es presidenciais", afirma o taxista carioca Carlos Roberto.
E quem os brasileiros elegeriam? Lula, segundo as �ltimas pesquisas.
Apesar dos cinco processos que enfrenta por corrup��o, Lula (PT), o patriarca da esquerda, que governou o Brasil de 2003 a 2010, seria votado por 30% da popula��o, enquanto o segundo candidato mais votado, Jair Bolsonaro (PSC) teria, de acordo com a pesquisa Datafolha de 30 de abril, 15% dos votos.
Se for condenado em primeira inst�ncia e um tribunal superior confirmar a senten�a, o ex-sindicalista n�o poder� se candidatar, e esse desfecho pode aumentar ainda mais a polariza��o no pa�s.
"Acho que seu impeachment foi bom para o Brasil, porque est� revertendo a recess�o e devolvendo o pa�s a um caminho de crescimento est�vel", disse o analista pol�tico David Fleischer, professor em�rito da Universidade de Bras�lia.
"Claro que os partid�rios de Dilma sustentam que foi um golpe. Mas, se foi um golpe, foi feito pelo Congresso, utilizando a Constitui��o e supervisionado muito de perto pelo Supremo", acrescentou.
Para o doutor em Ci�ncia Pol�tica Nuno Coimbra, pesquisador da Universidade de S�o Paulo (USP), apesar de Dilma ter perdido sua "capacidade de governar", do ponto de vista jur�dico, o impeachment foi "altamente controverso" e deixou marcas de ilegitimidade no governo atual.
"Poder�amos discutir se as reformas s�o necess�rias, ou n�o, mas, de qualquer forma, n�o passaram pelo crivo das elei��es", sustenta.