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Estado de Minas CONTRA OS NEONAZISTAS

Conhe�a as av�s que est�o irritando a extrema direita na Alemanha

Formado em meados de 2018 e inspirado numa iniciativa que surgiu na �ustria, grupo de Berlim tem marcado presen�a em protestos em defesa da democracia e direitos humanos.


11/10/2020 17:52 - atualizado 11/10/2020 23:08

Formado em 2018, grupo Vovós contra a Extrema Direita de Berlim tem marcado presença em protestos em defesa da democracia e direitos humanos(foto: Clarissa Neher)
Formado em 2018, grupo Vov�s contra a Extrema Direita de Berlim tem marcado presen�a em protestos em defesa da democracia e direitos humanos (foto: Clarissa Neher)

O grupo de idosas carregando cartazes e distribuindo panfletos na movimentada Alexanderplatz, no cora��o de Berlim, chama a aten��o de quem passa por ali.

Muitos param para conversar com elas, outros sorriem e agradecem, e ainda alguns poucos gritam insultos e saem correndo. As simp�ticas senhoras que atraem olhares fazem parte de uma iniciativa que tem irritado neonazistas na Alemanha: as Vov�s contra a Extrema Direita.

Formado em meados de 2018 e inspirado numa iniciativa que surgiu na �ustria, o grupo de Berlim tem marcado presen�a em protestos em defesa da democracia e direitos humanos, assim como em atos de rep�dio a manifesta��es organizadas por extremistas de direita. Nos �ltimos meses, essa av�s passaram a atrair cada vez mais a aten��o da opini�o p�blica.

Basicamente, o que as move � a preocupa��o com a guinada � direita e o crescimento do utradireitismo que vem ocorrendo n�o somente na Alemanha, mas em diversos pa�ses nos �ltimos anos. Soma-se a isso a vontade de defender a democracia e o Estado de Direito.

"Esse problema ocorre em muitos pa�ses e, na Alemanha, temos uma hist�ria. Temos que cuidar para evitar uma repeti��o de 1933 [ano em que o regime nazista ascendeu ao poder] com os movimentos extremistas de direita aqui ficando cada vez mais vis�veis, e tamb�m sendo alimentados pela situa��o internacional, por exemplo, com Donald Trump e Jair Bolsonaro no poder", afirma Karin*, de 65 anos.

Atualmente, h� mais de 50 av�s registradas no grupo de Berlim. Al�m da capital alem�, a iniciativa Vov�s contra a Extrema Direita est� presente em mais de 70 cidades do pa�s. Esses grupos independente s�o organizados localmente.

Em Berlim, suas atividades incluem a organiza��o de protestos, uma reuni�o mensal para coordenar as pr�ximas a��es e avaliar os atos realizados, grupos de discuss�o sobre diversos temas e uma vig�lia mensal. Algumas das av�s tamb�m marcam presen�a regularmente nas a��es do movimento ambientalista Friday for Future. Todo esse ativismo, por�m, tem incomodado extremistas de direita.


Cordelia diz que insultos que ouvem em atos têm ficado mais agressivos(foto: Clarissa Neher)
Cordelia diz que insultos que ouvem em atos t�m ficado mais agressivos (foto: Clarissa Neher)

Desde a primeira atividade do grupo h� pouco mais de dois anos — um protesto contra uma marcha neonazista —, as av�s perceberam um aumento da viol�ncia verbal contra elas.

Os frequentes xingamentos ouvidos nos atos est�o cada vez mais agressivos, e incluem agora amea�as veladas. "Os insultos usados para nos humilhar t�m ficado cada vez pior", conta Cordelia*, de 74 anos.

Nomes das ativistas tamb�m apareceram em "listas negras" organizadas por neonazistas que exp�em supostos "inimigos". Muitos dos que est�o nessas listas t�m suas casas pichadas e recebem constantes amea�as.

Numa dessas listas estava tamb�m o nome do pol�tico alem�o Walter L�bcke, filiado � Uni�o Democrata Crist� (CDU) — o partido da chanceler federal Angela Merkel —, que foi assassinado em junho 2019. Cometido por um extremista de direita, o crime teria sido motivado pela posi��o pr�-refugiados de L�bcke.

Em dezembro do ano passado, um epis�dio de agress�o verbal contra uma av� ativista em Halle virou not�cia. Durante um ato de extrema direita, um neonazista conhecido das autoridades subiu ao palco para sugerir que as av�s deveriam ser estupradas por requerentes de asilo. Uma das integrantes do grupo resolveu ent�o fazer um boletim de ocorr�ncia contra o agressor. Depois disso, ela acabou tendo o nome divulgado e passou a receber amea�as de extremistas, afirmando que sabiam onde ela morava e que iriam atac�-la em casa.

"Somos hostilizadas em atos organizados contra protestos extremistas de direita. Por isso, tomamos muito cuidado quando estamos em espa�os p�blicos, evitando usar qualquer coisa que nos identifiquem como integrantes do grupo quando estamos sozinhas", diz Karin.

Renate*, de 75 anos, conta que ap�s o assassinato de L�bcke tamb�m passou a ter mais cautela. "Por outro lado, recebemos muita simpatia e aprova��o, principalmente durante nossas vigilas. Isso � muito gratificante", acrescenta Susan*, de 70 anos.


Uma vez por mês ativistas fazem ato na Alexanderplatz para chamar atenção para a iniciativa(foto: Clarissa Neher)
Uma vez por m�s ativistas fazem ato na Alexanderplatz para chamar aten��o para a iniciativa (foto: Clarissa Neher)

Manipula��o da insatisfa��o

Para as av�s, a expans�o da extrema direita no mundo est� associada a uma crise do capitalismo, que gerou muitas desigualdades e alimentou problemas sociais.

Diante disso, houve uma crescente insatisfa��o por parte da popula��o em rela��o a governos, que n�o estariam enfrentando quest�es socioecon�micas e ecol�gicas — por exemplo, a explos�o dos pre�os dos alugu�is em Berlim, a pobreza na velhice ou as crises migrat�ria e clim�tica — de forma convincente.

Essa insatisfa��o foi ent�o canalizada por ultradireitistas, como o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), para atrair eleitores e adeptos, que se sentem abandonados por legendas pol�ticas tradicionais. Al�m de oferecer solu��es simples e pouco fact�veis para problemas complexos, a extrema direita aprendeu como usar esse sentimento para manipular parte da popula��o, segundo as av�s.

"Quando uma pol�tica � feita para atacar esses problemas, os extremistas est�o imediatamente l� para instrumentalizar o inc�modo da popula��o e distorcer a solu��o apresentada", acrescenta Cordelia.

O outro ponto apontado por elas � o movimento de difama��o da imprensa tradicional, que tem levado muitos a buscar informa��es em "meios alternativos", que n�o t�m nenhum compromisso com a verdade. "Essa idiotice de fake news tem sido promovida internacionalmente e � usada principalmente por aqueles que n�o t�m o menor interesse de not�cias objetivas. Isso tornar o debate muito dif�cil", destaca Karin.

As av�s percebem ainda paralelos entre o momento atual e a Alemanha de 1933. "Esse modelo que est� sendo utilizado pela extrema direita em v�rios pa�ses foi o mesmo usado por Adolf Hitler", afirma Renate.

Esse paralelo hist�rico foi um dos motivos que levaram muitas destas av�s a se unir ao movimento.

Renate conta que em sua juventude foi constantemente confrontada com o passado e sempre questionou os pais o porqu� deles terem ficado calados diante das atrocidades cometidas pelo regime nazista. "Tivemos anos de discuss�es sobre isso na minha fam�lia", lembra.

"Para mim, � importante que no futuro as gera��es mais jovens n�o questionem os mais velhos por n�o terem feito nada", acrescenta Verena*, 68 anos, que foi professora de hist�ria.

Apesar de terem seguidos caminhos diferentes em suas trajet�rias de vida, a maioria das av�s ativistas tem um passado de engajamento pol�tico, mas que em algum momento se esvaziou e agora, com o movimento, elas viram surgir novamente a oportunidade de resgatar esse ativismo.

"Ser ativa nos ajuda a se opor a essa situa��o temorosa, al�m de ser uma v�lvula de escape para medos que enfrentamos, por exemplo, o medo da reelei��o de Trump, o medo de que a Floresta Amaz�nica seja destru�da ou ainda do aumento de casos na pandemia", conta Susan.


Grupo está em mais de 70 cidades no país(foto: Clarissa Neher)
Grupo est� em mais de 70 cidades no pa�s (foto: Clarissa Neher)

Nem todas s�o av�s de verdade, mas todas se sentem e se veem como av�s.

"N�o tenho netos, mas percebo isso mais como uma atitude de ter experi�ncia de vida, sabedoria e vontade ser ativa", analisa Verena.

Para al�m dos temores pessoais, o maior medo que as ativistas da terceira idade t�m � de o que pode acontecer com o mundo e, por isso, refor�am a import�ncia de movimentos sociais na busca por solu��es para os problemas enfrentados pela sociedade.

"As institui��es do Estado de Direito, a democracia, assim como a liberdade de imprensa e de express�o, est�o em risco se ningu�m fizer nada. A sociedade precisa fazer mais contra essa guinada � direita sen�o nosso trabalho ser� em v�o", diz Renate.

"Al�m disso, a press�o de iniciativas civis � muito mais efetiva para a conscientiza��o da sociedade do que os partidos pol�ticos", acrescenta Susan.

*Por motivos de seguran�a, as entrevistadas pediram para n�o terem os seus nomes completos divulgados na reportagem.


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