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Estado de Minas PLEBISCITO HIST�RICO

Por que � t�o pol�mica a Constitui��o que 78% dos chilenos decidiram trocar

Carta chilena remonta a 1980 e, embora modificada v�rias vezes, � criticada por ser heran�a do regime militar de Augusto Pinochet e por consolidar papel residual ao Estado na presta��o de servi�os b�sicos


26/10/2020 07:28 - atualizado 26/10/2020 08:18


(foto: Reuters)
(foto: Reuters)

No domingo (25/10), os chilenos deram seu apoio massivo a uma nova Constitui��o, uma das principais demandas dos manifestantes que ocuparam ruas do pa�s por meses.

A atual Constitui��o chilena remonta a 1980 e, embora alterada v�rias vezes, � criticada por ser uma heran�a do regime militar de Augusto Pinochet e por dar um papel residual ao Estado na presta��o de servi�os b�sicos, o que � justamente um dos motivos dos protestos que come�aram em 18 de outubro de 2019 e se estenderam at� mar�o de 2020, em um movimento que passou a ser conhecido como estallido social (ou estouro social, em tradu��o literal).

Segundo o resultado das urnas, 78% dos eleitores votaram pela mudan�a da Carta atual e 22% rejeitaram a proposta.

A Assembleia Constituinte ser� formada em um novo pleito em abril de 2021, com paridade de g�nero (50% mulheres e 50% homens). Na vota��o de domingo, os eleitores tamb�m decidiram que a Constituinte n�o ser� mista, com metade dos assentos destinados a parlamentares em exerc�cio, mas sim inteiramente formada por novos membros eleitos, sem necessidade de filia��o partid�ria.

Assim, representantes do Congresso n�o participar�o da nova Constituinte e haver� uma cota de assentos reservados para os povos ind�genas, embora o Congresso chileno ainda n�o tenha definido quantos e como ser�o eleitos.

Apenas normas aprovadas por dois ter�os dos futuros constituintes ser�o incorporadas � nova Carta chilena.

"At� agora, a Constitui��o tem nos dividido. A partir de hoje, todos devemos colaborar para que a Nova Constitui��o seja um grande marco de unidade, estabilidade e futuro", declarou o presidente chileno, Sebasti�n Pi�era.

No texto abaixo, a BBC News Mundo (servi�o em espanhol da BBC) analisa por que a Constitui��o foi alvo de uma onda de protestos por meses e quais s�o as raz�es daqueles que defendem modific�-la.

Heran�a de Pinochet

Uma das principais raz�es pelas quais os manifestantes exigem mudar a Constitui��o tem a ver com a origem dela.

"Uma das quest�es mais criticadas � sua ilegitimidade de origem: � precisamente o fato de ter sido elaborada durante uma ditadura militar", disse � BBC News Mundo Miriam Henr�quez Vi�as, professora de Direito Constitucional e Decana da Faculdade de Direito da Universidade Alberto Hurtado, de Santiago.


General Pinochet vota durante o referendo para aprovar a Constituição de 1980(foto: Getty Images)
General Pinochet vota durante o referendo para aprovar a Constitui��o de 1980 (foto: Getty Images)

"A Constitui��o de 1980 foi obra do regime militar e, para um setor muito relevante da sociedade chilena, tem uma origem ileg�tima", concorda Gilberto Aranda, professor do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade do Chile.

Mas, como os dois especialistas apontam, o texto foi substancialmente modificado em 1989 e em 2005.

Por exemplo, em 1989, foi revogada a parte que estabelecia um pluralismo pol�tico limitado, que supunha que certas ideologias pol�ticas, como o marxismo, eram proibidas.

Mais tarde, em 2005, sob o governo de Ricardo Lagos, foi realizada uma importante reforma constitucional que acabou com a figura dos senadores nomeados, eleitos por institui��es como as For�as Armadas ou o Supremo Tribunal.

"Eu diria que em 2005 (a Constitui��o) j� havia sido expurgada de enclaves autorit�rios", diz Aranda.

"No entanto, ainda � a Constitui��o que foi preparada pelo regime militar e, portanto, nesse contexto, uma parte muito importante da sociedade chilena diz que ela teria uma falta de legitimidade de origem."


Os manifestantes dos massivos movimentos de rua exigiam a implementação de profundas reformas sociais(foto: Getty Images)
Os manifestantes dos massivos movimentos de rua exigiam a implementa��o de profundas reformas sociais (foto: Getty Images)

Nas declara��es dos manifestantes nota-se esse pensamento.

"N�o vou parar de protestar at� que uma nova Constitui��o seja criada e a heran�a de Pinochet acabe", disse � BBC Nohlan Manquez, um fot�grafo que participou dos protestos massivos iniciados em 2019.

Mas al�m de sua origem, h� tamb�m um questionamento sobre o conte�do dela.

A rigidez e os 'enclaves autorit�rios'

Segundo Henr�quez, a Constitui��o "foi originalmente concebida refletindo uma democracia protegida da irracionalidade do povo".

"Existe uma desconfian�a presente na Constitui��o quanto � possibilidade de o povo tomar decis�es razo�veis %u200B%u200Bpor si" e, de acordo com o constitucionalista, essa desconfian�a � expressa por meio de uma s�rie de mecanismos, por exemplo, o fato de que o papel dos partidos pol�ticos � m�nimo nela.

Em termos de conte�do, outra quest�o � que se trata de uma Constitui��o "muito r�gida": modific�-la requer maiorias de dois ter�os ou tr�s quintos dos deputados e senadores em exerc�cio.


Uma das principais reivindicações dos manifestantes foi justamente a reforma da Constituição(foto: Getty Images)
Uma das principais reivindica��es dos manifestantes foi justamente a reforma da Constitui��o (foto: Getty Images)

Portanto, apesar das reformas de 1989 e 2005, a especialista discorda de Aranda e considera que a Constitui��o "tem ainda os chamados enclaves autorit�rios, ou seja, existem certas regras que tornam praticamente imposs�vel, se n�o muito dif�cil, reformar certas disposi��es".

"Ent�o, gerou um tipo de congelamento de quest�es como o direito � seguridade social e liberdade de educa��o, que s�o precisamente os direitos sociais exigidos hoje."

Os cidad�os foram �s ruas para protestar contra a desigualdade e exigir a implementa��o de profundas reformas sociais.

Estado social

O outro questionamento da Constitui��o tem a ver com direitos sociais, uma vez que o texto constitucional consagra um "Estado subsidi�rio" que n�o oferece diretamente benef�cios relacionados a sa�de, educa��o ou previd�ncia social, delegando isso ao setor privado.

"Este Estado subsidi�rio � um Estado m�nimo que se limita apenas ao monitoramento ou supervis�o de como os indiv�duos fornecem esses direitos", explica Henr�quez.

A privatiza��o foi um dos pilares do modelo de Pinochet: em sua Constitui��o, servi�os b�sicos como eletricidade e �gua pot�vel passaram a m�os particulares.

Houve tamb�m uma forte privatiza��o em �reas como educa��o e sa�de.

Agora, a demanda dos manifestantes chilenos � que o Estado tenha uma maior participa��o e envolvimento no fornecimento de servi�os b�sicos.


Manifestantes cobravam maior papel no Estado(foto: Getty Images)
Manifestantes cobravam maior papel no Estado (foto: Getty Images)

Aranda concorda que a fun��o social est� "sub-representada" na Constitui��o, que atribui ao Estado apenas "fun��es no que diz respeito � prote��o da ordem p�blica, seguran�a, defesa, garantia de justi�a etc."

"Existe um n�mero relevante de pessoas que exigem mudan�as estruturais e profundas no Chile no que diz respeito � declara��o e garantia do exerc�cio de certos direitos sociais, ou seja, incorporando elementos de um Estado social � Constitui��o", explica o especialista.

Os analistas concordam que uma nova Constitui��o n�o resolveria todos os problemas, mas seria um primeiro passo muito importante.

*Esse texto foi publicado originalmente em novembro de 2019 e atualizado com o resultado do plebiscito aprovado em outubro de 2020.


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