
A hist�ria do in�cio do Universo � bastante conhecida, mas talvez n�o tenha acontecido exatamente como nos � contado.
E foi tamb�m nesse momento que o tempo come�ou a correr, tamb�m avan�ando sem parar desde ent�o.
- O que fazem e pensam os brasileiros na lista de cientistas mais influentes do mundo
- Calend�rio astron�mico: os eventos para se observar nos c�us em 2021
A grande explos�o lan�ou part�culas em todas as dire��es, que ent�o se agruparam para formar estrelas, planetas e gal�xias que viajam pelo Universo.
O tempo, entretanto, parece viajar em apenas uma dire��o, sempre para a frente. Mas por que isso ocorreria se o espa�o e a mat�ria est�o se expandindo em todas as dire��es?

Um cientista te�rico desafia essa ideia. Na verdade, questiona a narrativa cl�ssica do Big Bang e prop�e uma nova concep��o do tempo.
Julian Barbour � um professor aposentado que ensinou f�sica na Universidade de Oxford e j� publicou suas pesquisas nas mais prestigiadas revistas cient�ficas. Ele � reconhecido pelos colegas como algu�m com ideias profundas, originais e ousadas sobre os assuntos fundamentais do Universo.
Barbour prop�e que o Universo de dois lados, com um tempo que avan�a em duas dire��es e para o qual ele prev� um fim mais esperan�oso do que a morte fria que algumas teorias predizem.
Trata-se de uma ideia provocativa que nos leva a quest�es profundas sobre nossa pr�pria exist�ncia.

Um universo com duas faces
Na mitologia da Roma antiga, Janus era o deus dos come�os e fins. Ele geralmente era descrito como um homem com duas faces olhando em dire��es opostas.
A figura de Janus ilustra muito bem a ideia de Barbour do in�cio do Universo. Sua proposta � que, a partir do Big Bang, o tempo come�ou a passar em dire��es exatamente opostas.
Para entender como ele chegou a essa conclus�o, devemos entender dois conceitos-chave: a segunda lei da termodin�mica e a entropia.
Rumo ao caos
Barbour usa uma maneira diferente de interpretar a segunda lei da termodin�mica. Esta lei afirma que um sistema sempre evolui para um estado mais ca�tico, mas n�o o contr�rio.
O exemplo cl�ssico � uma ta�a de vidro. Sempre haver� uma boa chance de que aquele vidro se quebre e se disperse em mil peda�os, mas sabemos que, depois de quebrar, � imposs�vel que esses fragmentos se juntem e deixem a ta�a como estava.
Assim, a ta�a de vidro � um objeto ordenado que, ao se quebrar, fica desordenado, e esse � um processo irrevers�vel. Em f�sica, essa medida de desordem � chamada de entropia.

A segunda lei da termodin�mica diz que a entropia s� pode aumentar, nunca diminuir. A partir da�, entendemos porque dizemos que o tempo avan�a apenas em uma dire��o: porque o tempo s� avan�a na dire��o em que a entropia aumenta.
Quanto mais tempo voc� deixa um copo sobre a mesa, maior o risco de algu�m quebr�-lo. Mas, depois que isso acontecer, mil anos podem se passar que o copo nunca mais se recompor�.
O mesmo acontece no Universo. Quanto mais o tempo passa, mais aumenta sua entropia.
Pense fora da caixa
As leis da termodin�mica foram estabelecidas durante a Revolu��o Industrial, quando os engenheiros tentavam fazer motores a vapor que desperdi�avam menos energia.
A segunda lei indica que, conforme a energia � transferida e transformada, parte dela se dissipa. Em termos pr�ticos, � desperdi�ada.
Para Barbour, a� reside o problema, porque esta segunda lei foi feita pensando em cilindros e m�quinas nos quais a energia e o calor passavam de um lugar para outro, confinados em um espa�o delimitado.
O erro seria acreditar que o que acontece em um espa�o fechado � igual ao que acontece em grande escala em um Universo sem limites.
Nas palavras de Barbour, temos que literalmente "pensar fora da caixa".
Maior complexidade
Vejamos o exemplo que Barbour usa. Se colocarmos um cubo de gelo dentro de uma caixa, a entropia aumentar� da seguinte forma: primeiro teremos um cubo bem ordenado, ou seja, com baixa entropia.
Ent�o aquele cubo derreter� e a �gua se espalhar� pela caixa. A entropia aumentar�. Finalmente, a �gua poder� evaporar, e suas part�culas se distribuiriam indistintamente por toda a caixa. A entropia atingir� seu n�vel m�ximo.
Em um espa�o sem limites, diz Barbour, essas part�culas de �gua poderiam continuar viajando e, gra�as � gravidade, se juntar a outras part�culas at� formarem estruturas novas e mais complexas, que se expandiriam em todas as dire��es do espa�o... e do tempo.
Assim, segundo Barbour, o que determina a passagem do tempo n�o � o aumento da entropia, mas o aumento da complexidade, sem limites de tempo ou espa�o.

Um futuro encorajador
Na vis�o tradicional da f�sica, a entropia aumenta implacavelmente com o passar do tempo, o que significa que um dia nosso Universo atingir� seu estado m�ximo de entropia: ter� se expandido tanto que ser� uma desordem total.
Finja que o Universo � uma jarra cheia de bolinhas de gude. Em algum momento, essa jarra se quebrar�, e as bolinhas se espalhar�o caoticamente. Esse � o futuro que alguns especialistas preveem para o Universo.
� medida que o Universo se expandir e a entropia aumentar, o calor e a energia se dissipar�o at� que tudo fique frio e inerte. Barbour, por�m, arrisca-se com uma vis�o mais otimista.

Em sua teoria, o tempo n�o avan�a inevitavelmente em dire��o � entropia total. O que ele prev� � o inverso: um Universo cada vez mais complexo e estruturado que cresce sem fronteiras. Na verdade, em vez de dissipa��o, Barbour prefere dizer que a energia se espalha.
Ele n�o acredita que o tempo est� nos levando em uma �nica dire��o para uma entropia que vai transformar tudo em um conjunto de part�culas indistingu�veis umas das outras.
Sua vis�o � a de um Universo cada vez mais variado e din�mico, onde n�o faltar� calor e energia para continuar crescendo em todas as dire��es do tempo e do espa�o.
Curta o momento
Para Barbour, sua concep��o de tempo e Universo carrega uma mensagem para a vida. "Carpe diem", aproveite todos os dias, diz o f�sico de 83 anos.
N�o importa qual seja o destino do Universo no n�vel c�smico, a verdade � que, por enquanto, todo ser humano vive com uma certeza indiscut�vel, ele alerta: "N�o quero ser melanc�lico, mas voc� e eu vamos morrer".
Por isso, assim como sua vis�o de tempo e espa�o representa uma mudan�a em rela��o �s no��es tradicionais da f�sica, Barbour acredita que todos podem ter uma mudan�a de atitude em rela��o � vida, pensando no bem dos outros.
"Acho que podemos salvar o mundo se as pessoas se acostumarem com a ideia de ser pessoas melhores para os outros."
E acima de tudo, conclui o cientista, n�o importa em que dire��o o Universo se mova, "meu conselho � n�o perder tempo".
J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!