
A negativa deste afro-americano, mec�nico de 39 anos que vive em Washington, � emblem�tica de uma desconfian�a das autoridades e institui��es de sa�de, nascida de pr�ticas discriminat�rias.
Essa dificuldade est� no cerne das quest�es de sa�de p�blica que os Estados Unidos devem enfrentar se quiserem finalmente controlar a epidemia de COVID-19, acreditam v�rios especialistas.
"N�o tenho certeza se � do meu interesse", diz Gary Jackson, sobre a vacina��o contra o coronav�rus.
"Tenho a impress�o de que somos sempre os �ltimos ou servimos de cobaias", desabafou, enquanto consertava a janela de um carro.
A propens�o a ser vacinado est� intrinsecamente ligada ao grau de confian�a nas institui��es m�dicas e nos tratamentos que oferecem. No entanto, essas duas �reas t�m sido objeto de epis�dios considerados racistas por defensores dos direitos civis nos Estados Unidos.
"Medo das vacinas"
Um exemplo not�vel � o estudo de Tuskegee. Nesta cidade do Alabama, cientistas do governo americano estudaram a partir da d�cada de 1930 os efeitos da s�filis nos homens negros, durante 40 anos, sem lhes fornecer tratamento, para observar a evolu��o da infec��o.
E este estudo est� longe de ser um incidente isolado.
"Numerosos experimentos perigosos, n�o consensuais e n�o terap�uticos foram realizados em afro-americanos e foram amplamente documentados, pelo menos desde o s�culo 18", escreve Harriet Washington em seu livro "Medical Apartheid" publicado em 2006.
Um passado sombrio que levou alguns grupos a recomendar hoje aos afro-americanos o boicote das vacinas, como a organiza��o mu�ulmana "Nation of Islam".
"N�o deixem que te vacinem", intima um artigo do pol�mico l�der desta entidade, Louis Farrakhan, que denuncia um "passado de trai��es ligadas �s vacinas".
Os Centros para Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) relataram em fevereiro que 46,5% dos negros nos EUA n�o pretendem receber a vacina, em compara��o com 32,4% dos hisp�nicos e 30,3% dos brancos.
No entanto, a propor��o de indiv�duos prontos para receber uma dose da vacina aumentou entre esses tr�s grupos desde o in�cio da pandemia.
"� apenas medo. O medo das vacinas, de ser cobaias, algo assim. � disso que os negros t�m medo", explica John Jones III, um mediador de bairro em Los Angeles.
"De repente, me mandam tomar este 'medicamento' do nada? � uma luta" para se convencer, acrescenta o mediador de 40 anos, que especifica que ainda n�o decidiu se ser� vacinado.
Os negros que consultam um m�dico nos Estados Unidos t�m menos chances de ter seus sintomas levados a s�rio ou de receber tratamento adequado do que outros, dizem os especialistas.
Mamografias de mulheres negras s�o, assim, menos examinadas por especialistas em c�ncer de mama do que por radiologistas gerais, de acordo com um estudo de 2012 da Universidade de Illinois, em Chicago.
"Continuar a sofrer muta��es"
Em pouco mais de um ano desde o primeiro caso de COVID-19 nos Estados Unidos, a doen�a atingiu os afro-americanos de maneira particularmente forte.
De acordo com o Covid Tracking Project, 161 em cada 100.000 negros morreram da doen�a, a maior propor��o entre grupos �tnicos nos Estados Unidos, o pa�s mais enlutado do mundo em termos absolutos.
E de acordo com dados divulgados pelos CDC, apenas 5,4% das doses da vacina foram injetadas em afro-americanos durante o primeiro m�s da campanha de vacina��o, quando j� representam 12,5% da popula��o.
Diante dessas disparidades, v�rias organiza��es, p�blicas e privadas, intensificaram seus esfor�os para promover vacinas para as comunidades afro-americanas e para garantir que elas recebam uma parte justa das doses.
N�o fazer isso apresentaria riscos significativos, alertam os especialistas.
"Se voc� n�o vacinar as pessoas que vivem onde a doen�a � mais prevalente, voc� permite que a doen�a continue a se espalhar e a sofrer muta��es", explica Darrell Gaskin, professor de sa�de p�blica da Universidade Johns em Hopkins.
Greg Ashby ouviu falar dos argumentos contra a vacina��o, mas os rejeitou. Ele veio receber sua primeira dose esta semana em Houston.
"Sei que � isso que precisamos fazer para ajudar a melhorar a situa��o e � para isso que estou aqui", disse � AFP.