
Esses col�gios administrados pelo governo, e em sua maioria operados pela Igreja Cat�lica, formavam parte da pol�tica de assimila��o cultural das crian�as ind�genas.
Os menores n�o podiam falar sua l�ngua ou praticar a cultura de seus povos. Muitos eram maltratados e sofriam abusos.
Agora, a aterrorizante descoberta dos restos mortais de 215 crian�as que estudavam em um desses internatos, a escola residencial ind�gena Kamloops, colocou novamente em discuss�o os abusos cometidos nessas institui��es.
"Genoc�dio cultural"
As igrejas crist�s foram essenciais na funda��o e opera��o dessas escolas.
A Igreja Cat�lica, em particular, foi respons�vel por operar at� 70% dos 130 internatos, de acordo com a Sociedade de Sobreviventes de Escolas Residenciais Ind�genas.

As crian�as eram obrigadas a abandonar suas l�nguas nativas, falar ingl�s ou franc�s e se converter ao cristianismo.
Joseph Maud foi uma dessas crian�as. Em 1966, com cinco anos de idade, ele entrou no internato Pine Creek, em Manitoba, no Canad�.
Era esperado que os alunos falassem ingl�s ou franc�s, mas Maud s� falava a l�ngua de seu povo, Ojibwa.
Se os alunos falassem suas pr�prias l�nguas, eles levavam pux�es de orelhas e suas bocas eram lavadas com sab�o, relatou Maud � BBC em 2015, quando foi publicado um relat�rio da Comiss�o de Verdade e Reconcilia��o sobre o tema.
"Mas a maior dor era estar separado dos meus pais, primos e dos meus tios e tias", contou Maud � BBC.
O relat�rio descreveu a pol�tica liderada pelo governo como "genoc�dio cultural".
"Essas medidas faziam parte de uma pol�tica coerente para eliminar os abor�genes como povos distintos e assimil�-los na corrente dominante canadense contra a sua vontade", diz o documento.
"O governo canadense seguiu essa pol�tica de genoc�dio cultural porque desejava se livrar de suas obriga��es legais e financeiras com o povo abor�gene e para obter controle de suas terras e recursos", aponta o relat�rio.
Condi��es prec�rias e abusos
O relat�rio detalha falhas graves no cuidado e seguran�a das crian�as, com o apoio da igreja e do governo.
Os alunos costumavam ficar alojados em edif�cios com constru��es prec�rias, mal aquecidos e insalubres, segundo o relat�rio. Muitos n�o tinham acesso a um m�dico capacitado para acompanh�-los.
O trabalho da Comiss�o de Verdade e Reconcilia��o apontou que cerca de 6 mil crian�as morreram enquanto estavam em internatos. Seus corpos raramente voltavam para a fam�lia. Muitos foram enterrados em sepulturas sem nomes.
O Projeto Crian�as Desaparecidas documenta as mortes e os locais de sepultamentos de muitos desses menores. Em um levantamento recente, a iniciativa divulgou que j� identificou os locais em que foram enterradas mais de 4,1 mil crian�as.
Muitos daqueles que sobreviveram tiveram de conviver com as recorda��es de abusos emocionais, f�sicos e at� sexuais.
Maud disse � BBC, em 2015, que tinha que se ajoelhar em um ch�o de concreto da capela, porque as freiras diziam que "essa era a �nica forma para que Deus o escutasse".
"Eu estava chorando quando me ajoelhei e pensei: quando isso vai acabar? Algu�m me ajuda", relatou.
Ele se lembrou que certa vez urinou na cama. Uma freira encarregada de seu quarto, ent�o, esfregou o rosto dele contra a pr�pria urina.
"Foi muito degradante e humilhante. Porque eu estava em um dormit�rio com outras 40 crian�as", contou.
Em 2008, o governo canadense se desculpou formalmente pelas a��es do passado.

A descoberta na escola Kamloops
A escola Kamloops funcionou entre 1890 e 1969, na cidade de mesmo nome, na prov�ncia de Col�mbia Brit�nica, no extremo oeste do Canad�. Era a maior desse segmento, conhecido como Sistema Escolar de Resid�ncias Ind�genas.
Sob administra��o cat�lica, chegou a ter 500 alunos durante o seu maior per�odo de ocupa��o, na d�cada de 1950.
No fim do m�s passado, foi descoberta uma vala comum na qual h� restos mortais de, ao menos, 215 crian�as ind�genas. O fato causou indigna��o em todo o pa�s.
A descoberta foi feita por uma iniciativa da na��o ind�gena Tk'emlups te Secwepemc, da regi�o, que informou ter usado um radar de penetra��o no solo durante uma pesquisa no local.

Especialistas de museus e legistas est�o ajudando a estabelecer as causas e os momentos das mortes das crian�as, que at� o momento n�o s�o conhecidos.
O relat�rio final sobre a descoberta est� previsto para ser divulgado em meados de junho, e as conclus�es preliminares podem ser revisadas. L�deres e defensores ind�genas acreditam que o n�mero de 215 aumente.
At� hoje n�o h� um panorama completo do n�mero de crian�as que morreram, das circunst�ncias de suas mortes ou de onde est�o enterradas. Iniciativas como a da na��o Tk'eml�ps te Secw�pemc est�o ajudando a reunir um pouco dessa hist�ria.
O primeiro-ministro do Canad�, Justin Trudeau, chamou a situa��o de uma "dolorosa lembran�a" de um "cap�tulo vergonhoso da hist�ria de nosso pa�s".
Trudeau pediu que a Igreja Cat�lica "assuma a responsabilidade" de seu papel nas escolas residenciais ind�genas.
O governo assumiu a administra��o da escola Kamloops em 1969 e a utilizou como resid�ncia para estudantes locais at� 1978, quando o lugar foi fechado.
"Precisamos ter a verdade antes que possamos falar sobre justi�a, cura e reconcilia��o", disse Trudeau.
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