(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas INTERNACIONAL

Os chocantes relatos sobre internatos onde morreram 6 mil crian�as ind�genas no Canad�

O Sistema Escolar de Resid�ncias Ind�genas do Canad� tinha 130 internatos e o seu principal objetivo era receber crian�as ind�genas. Nos locais h� relatos de todos os tipos de abusos.


07/06/2021 21:17 - atualizado 07/06/2021 21:17

A escola Kamloops em 1937: local tinha capacidade para abrigar até 500 crianças(foto: EPA)
A escola Kamloops em 1937: local tinha capacidade para abrigar at� 500 crian�as (foto: EPA)
De 1863 a 1998, mais de 150 mil crian�as ind�genas foram separadas de suas fam�lias e levadas a internatos no Canad�.

 

Esses col�gios administrados pelo governo, e em sua maioria operados pela Igreja Cat�lica, formavam parte da pol�tica de assimila��o cultural das crian�as ind�genas.

 

Os menores n�o podiam falar sua l�ngua ou praticar a cultura de seus povos. Muitos eram maltratados e sofriam abusos.

 

Agora, a aterrorizante descoberta dos restos mortais de 215 crian�as que estudavam em um desses internatos, a escola residencial ind�gena Kamloops, colocou novamente em discuss�o os abusos cometidos nessas institui��es.

"Genoc�dio cultural"

As igrejas crist�s foram essenciais na funda��o e opera��o dessas escolas.

A Igreja Cat�lica, em particular, foi respons�vel por operar at� 70% dos 130 internatos, de acordo com a Sociedade de Sobreviventes de Escolas Residenciais Ind�genas.


Crianças em um internato para menores indígenas no Canadá em 1950(foto: Getty Images)
Crian�as em um internato para menores ind�genas no Canad� em 1950 (foto: Getty Images)

 

As crian�as eram obrigadas a abandonar suas l�nguas nativas, falar ingl�s ou franc�s e se converter ao cristianismo.

 

Joseph Maud foi uma dessas crian�as. Em 1966, com cinco anos de idade, ele entrou no internato Pine Creek, em Manitoba, no Canad�.

 

Era esperado que os alunos falassem ingl�s ou franc�s, mas Maud s� falava a l�ngua de seu povo, Ojibwa.

 

Se os alunos falassem suas pr�prias l�nguas, eles levavam pux�es de orelhas e suas bocas eram lavadas com sab�o, relatou Maud � BBC em 2015, quando foi publicado um relat�rio da Comiss�o de Verdade e Reconcilia��o sobre o tema.

 

"Mas a maior dor era estar separado dos meus pais, primos e dos meus tios e tias", contou Maud � BBC.

 

O relat�rio descreveu a pol�tica liderada pelo governo como "genoc�dio cultural".

 

"Essas medidas faziam parte de uma pol�tica coerente para eliminar os abor�genes como povos distintos e assimil�-los na corrente dominante canadense contra a sua vontade", diz o documento.

 

"O governo canadense seguiu essa pol�tica de genoc�dio cultural porque desejava se livrar de suas obriga��es legais e financeiras com o povo abor�gene e para obter controle de suas terras e recursos", aponta o relat�rio.

Condi��es prec�rias e abusos

O relat�rio detalha falhas graves no cuidado e seguran�a das crian�as, com o apoio da igreja e do governo.

 

Os alunos costumavam ficar alojados em edif�cios com constru��es prec�rias, mal aquecidos e insalubres, segundo o relat�rio. Muitos n�o tinham acesso a um m�dico capacitado para acompanh�-los.

 

O trabalho da Comiss�o de Verdade e Reconcilia��o apontou que cerca de 6 mil crian�as morreram enquanto estavam em internatos. Seus corpos raramente voltavam para a fam�lia. Muitos foram enterrados em sepulturas sem nomes.

 

O Projeto Crian�as Desaparecidas documenta as mortes e os locais de sepultamentos de muitos desses menores. Em um levantamento recente, a iniciativa divulgou que j� identificou os locais em que foram enterradas mais de 4,1 mil crian�as.

 

Muitos daqueles que sobreviveram tiveram de conviver com as recorda��es de abusos emocionais, f�sicos e at� sexuais.

 

Maud disse � BBC, em 2015, que tinha que se ajoelhar em um ch�o de concreto da capela, porque as freiras diziam que "essa era a �nica forma para que Deus o escutasse".

 

"Eu estava chorando quando me ajoelhei e pensei: quando isso vai acabar? Algu�m me ajuda", relatou.

 

Ele se lembrou que certa vez urinou na cama. Uma freira encarregada de seu quarto, ent�o, esfregou o rosto dele contra a pr�pria urina.

 

"Foi muito degradante e humilhante. Porque eu estava em um dormit�rio com outras 40 crian�as", contou.

 

Em 2008, o governo canadense se desculpou formalmente pelas a��es do passado.


Alguns canadenses colocaram sapatos de crianças em recordação aos pequenos que morreram em escola no passado(foto: Reuters)
Alguns canadenses colocaram sapatos de crian�as em recorda��o aos pequenos que morreram em escola no passado (foto: Reuters)

A descoberta na escola Kamloops

A escola Kamloops funcionou entre 1890 e 1969, na cidade de mesmo nome, na prov�ncia de Col�mbia Brit�nica, no extremo oeste do Canad�. Era a maior desse segmento, conhecido como Sistema Escolar de Resid�ncias Ind�genas.

 

Sob administra��o cat�lica, chegou a ter 500 alunos durante o seu maior per�odo de ocupa��o, na d�cada de 1950.

 

No fim do m�s passado, foi descoberta uma vala comum na qual h� restos mortais de, ao menos, 215 crian�as ind�genas. O fato causou indigna��o em todo o pa�s.

 

A descoberta foi feita por uma iniciativa da na��o ind�gena Tk'emlups te Secwepemc, da regi�o, que informou ter usado um radar de penetra��o no solo durante uma pesquisa no local.


Havia cerca de 130 internatos para crianças indígenas no Canadá. Na foto, a fachada da Kamloops(foto: Reuters)
Havia cerca de 130 internatos para crian�as ind�genas no Canad�. Na foto, a fachada da Kamloops (foto: Reuters)

 

Especialistas de museus e legistas est�o ajudando a estabelecer as causas e os momentos das mortes das crian�as, que at� o momento n�o s�o conhecidos.

O relat�rio final sobre a descoberta est� previsto para ser divulgado em meados de junho, e as conclus�es preliminares podem ser revisadas. L�deres e defensores ind�genas acreditam que o n�mero de 215 aumente.

 

At� hoje n�o h� um panorama completo do n�mero de crian�as que morreram, das circunst�ncias de suas mortes ou de onde est�o enterradas. Iniciativas como a da na��o Tk'eml�ps te Secw�pemc est�o ajudando a reunir um pouco dessa hist�ria.

 

O primeiro-ministro do Canad�, Justin Trudeau, chamou a situa��o de uma "dolorosa lembran�a" de um "cap�tulo vergonhoso da hist�ria de nosso pa�s".

Trudeau pediu que a Igreja Cat�lica "assuma a responsabilidade" de seu papel nas escolas residenciais ind�genas.

 

O governo assumiu a administra��o da escola Kamloops em 1969 e a utilizou como resid�ncia para estudantes locais at� 1978, quando o lugar foi fechado.

"Precisamos ter a verdade antes que possamos falar sobre justi�a, cura e reconcilia��o", disse Trudeau.

 

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)