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Al�m da infla��o que abala o pa�s h� anos, esse valor equivale a cerca de tr�s sal�rios m�nimos mensais no pa�s sul-americano. Ent�o, sim, � bem caro. Mas n�o s� para os venezuelanos.
O emblem�tico hamb�rguer do McDonald's vendido na Venezuela � o mais caro do mundo, segundo o mais recente Big Mac Index, elaborado pela revista The Economist, que h� 35 anos compara o pre�o desse hamb�rguer em dezenas de pa�ses como forma de medir o valor de diferentes moedas.
A compara��o � baseada no conceito de "paridade de poder de compra" e, neste caso, usa o pre�o local do Big Mac em cada pa�s convertido em d�lares para determinar se a moeda daquele pa�s est� sobrevalorizada ou subvalorizada em rela��o � moeda americana.
Segundo esse c�lculo, um Big Mac na Venezuela custa US$ 8,35 (R$ 43,27). Nos Estados Unidos, ele custa cerca de US$ 5,65 (R$ 29,28).
O hamb�rguer do McDonald's � vendido em diferentes partes do mundo por pre�os que variam entre US$ 1,68 (R$ 8,70) e os US$ 8,35 cobrados na Venezuela.
Esse resultado coloca a Venezuela no topo do �ndice como o pa�s com maior subvaloriza��o cambial: 47%, � frente da Su��a e da Noruega, lugares onde Big Mac tamb�m � mais caro.
J� o local que registra o menor pre�o � o L�bano: US$ 1,68 (R$ 8,70) por um Big Mac. Esse valor indica, segundo a revista The Economist, que a moeda libanesa est� subvalorizada em rela��o ao d�lar em 70,2%.
J� o real brasileiro, segundo a revista, est� subvalorizado em 22,8% em rela��o ao d�lar.
Mas por que a Venezuela � o pa�s do mundo onde o hamb�rguer � mais caro?
Um mercado pequeno
Guillermo Arcay, professor de macroeconomia da Universidade Cat�lica Andr�s Bello, de Caracas, destaca dois fatores em jogo na economia venezuelana para explicar o alto custo do Big Mac (assim como de muitos outros bens).
O primeiro fator tem a ver com o tamanho do mercado venezuelano.
"A Venezuela tem um mercado muito pequeno. O setor privado desapareceu e agora renasce desde que restri��es foram removidas em 2018. Ent�o, h� muito pouca oferta de produtos como os do McDonald's e os suprimentos necess�rios para fazer o hamb�rguer tamb�m s�o escassos. Isso faz com que os pre�os sejam altos, n�o s� para o Big Mac, mas para todos os hamb�rgueres do pa�s", afirma.
O especialista destaca que, desde 2013, a economia venezuelana sofreu uma contra��o de 80%.
"Esta � uma economia onde os poucos agricultores e transportadores que restam t�m muita dificuldade para atender a demanda. Ent�o, tanto o McDonald's quanto seus concorrentes t�m custos altos, mas tamb�m t�m a capacidade de cobrar caro", explica.
Distor��es econ�micas e institucionais
Al�m dos problemas relacionados ao tamanho do mercado, Arcay indica que a economia venezuelana est� sujeita a uma s�rie de distor��es econ�micas e institucionais que afetam o valor dos bens.
Por meio do controle cambial, o governo manteve durante anos uma sobrevaloriza��o do valor oficial do bol�var ao fornecer ao mercado moedas estrangeiras abaixo de seu valor real.
No entanto, como o governo tinha cada vez menos d�lares para atender � demanda por moeda estrangeira, um mercado paralelo no qual o bol�var era cada vez mais desvalorizado explodiu no pa�s.
Diante da crise e da falta de confian�a no bol�var, as pessoas buscavam cada vez mais d�lares, que por sua vez se tornavam cada vez mais escassos e caros. Havia ent�o uma grande demanda por uma mercadoria em falta - no caso, o dinheiro norte-americano.
"� medida que o mercado paralelo ganhava relev�ncia para o setor privado venezuelano, passamos a um esquema no qual a cesta de mercadorias venezuelanas era superbarata em termos internacionais, quando a refer�ncia era o d�lar paralelo. Esta era a �poca em que estrangeiros com uma nota de US$ 100 podiam pagar v�rias noites em um hotel", diz Arcay.
Em 2017, quando come�ou o processo de hiperinfla��o, os pre�os em bol�vares come�aram a subir mais r�pido que o d�lar.
"Isso obrigou o governo a retirar grande parte das restri��es microecon�micas que havia imposto j� que, por motivos pol�ticos, tentara conter o d�lar oferecendo divisas no mercado, fazendo com que o pre�o dessa moeda aumentasse mais lentamente do que os pre�os no mercado local", explica.
"Com o tempo, depois de dois anos e meio durante os quais os pre�os em bol�vares cresceram a uma taxa maior que o aumento do d�lar, o d�lar ficou mais barato e os bens ficaram mais caros na Venezuela, quando medidos em d�lares. Como agora temos uma taxa de c�mbio real sobrevalorizada, a Venezuela se tornou um pa�s caro", acrescenta.
Por esse motivo, os venezuelanos t�m se queixado nos �ltimos tempos por sofrerem com a "infla��o do d�lar", referindo-se ao fato de que os pre�os locais aumentam a uma taxa mais r�pida do que a deprecia��o da moeda local.
Na sexta-feira, 30 de julho, o d�lar estava cotado no mercado oficial venezuelano em 3,9 milh�es de bol�vares, valor muito semelhante ao do mercado paralelo, segundo dados do Monitor Dollar, um dos v�rios sites dedicados a monitorar o c�mbio inst�vel mercado venezuelano.
A essa situa��o do mercado de c�mbio somam-se, segundo o especialista, outras "distor��es microecon�micas" como regulamenta��es trabalhistas que impedem a demiss�o de trabalhadores ou dificuldades no transporte de produtos pelo pa�s por falta de gasolina. Al�m disso, Arcay destaca os in�meros postos de controle rodovi�rio onde, segundo ele, "voc� n�o sabe se os militares v�o deixar os produtos passarem, se v�o apreend�-los, ou se v�o roub�-los de voc�".
Segundo o especialista, diante dessa incerteza, os empres�rios optam por aumentar os pre�os antecipadamente.
A soma de todos esses fatores contribui para que n�o s� o Big Mac, mas muitos outros produtos sejam atualmente mais caros na Venezuela do que em outras partes do mundo.
Se depois de ler esta explica��o voc� ainda quiser comer um Big Mac na Venezuela, � recomend�vel que n�o planeje pagar em dinheiro porque demorar� tr�s semanas para obter o valor necess�rio em um caixa eletr�nico, j� que o governo mant�m um limite de retirada semanal de 10 milh�es de bol�vares.
E, a prop�sito, n�o diga Big Mac. Na Venezuela, o hamb�rguer agora � conhecido como Big Cheddar, embora seja o mesmo hamb�rguer de sempre. Mas muito mais caro do que no resto do mundo.
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