
Os direitos das mulheres no Afeganist�o tiveram muitas idas e vindas no �ltimo s�culo.
Desde o in�cio do s�culo 20, as mulheres afeg�s t�m se mobilizado para conseguir mais liberdade e igualdade de g�nero. Mas, ao longo dos anos, seus esfor�os foram contrapostos por medidas radicais tomadas por homens para det�-las.
Agora, enquanto o pa�s inicia outra era sob o Taleb�, h� um grande temor de que as mulheres do pa�s sofram outros tempos sombrios.
Mas como era a vida das afeg�s antes da primeira chegada do Taleb�? E antes da invas�o sovi�tica em 1979?

Mudan�a progressiva
Alguns historiadores afirmam que o movimento pelos direitos das mulheres no Afeganist�o teve in�cio no in�cio do s�culo 20, com o reinado de Amanul� Khan, e suas reformas para modernizar o pa�s, de 1919 a 1929.
Nessa �poca, o Afeganist�o come�ou uma mudan�a progressiva para levar o islamismo tradicional para a modernidade.
Khan introduziu uma nova constitui��o que buscava garantir os direitos das mulheres. Novas escolas para meninos e meninas foram abertas, a idade m�nima das mulheres para o casamento foi aumentada e os casamentos for�ados foram proibidos. Regras r�gidas de vestimenta para mulheres tamb�m foram proibidas.
As reformas modernizadoras de Khan, no entanto, geraram v�rios levantes de tradicionalistas e conservadores. Em 1929, ele foi derrubado e quase imediatamente Muhammad Nadir Shah se autoproclamou rei. Em pouco tempo ele aboliu muitas das reformas que Khan havia promulgado.
Essa era, entretanto, n�o durou muito.
Nadir Shah foi assassinado em 1933 e muitas das iniciativas de Khan foram retomadas durante o longo reinado do filho de Nadir Shah, Muhammad Zahir Shah, o �ltimo rei do Afeganist�o, de 1933 a 1973.
As escolas para meninas foram restabelecidas, uma nova universidade foi fundada e uma nova constitui��o foi institu�da. E em 1964 as mulheres afeg�s receberam o direito de votar.

Interpreta��es do Isl�
Toda a primeira metade do s�culo reflete as profundas divis�es que existem no Afeganist�o entre reformistas e tradicionalistas.
E tamb�m mostra as diferentes interpreta��es que diferentes grupos fazem sobre o Isl� e sua influ�ncia sobre o direito das mulheres, afirma Mona Tajali, professora de rela��es internacionais do Agnes Scott College, na Ge�rgia, Estados Unidos.
"Como aconteceu em muitas outras sociedades, no Afeganist�o tivemos essas narrativas concorrentes sobre os direitos que uma mulher deve ter", explica Tajali. "Existem interpreta��es reformistas da religi�o, que s�o totalmente a favor da igualdade de g�nero. E h� interpreta��es conservadoras, que dizem que as mulheres n�o devem ser educadas, que elas n�o precisam entrar no mercado de trabalho e que definitivamente n�o precisam ter uma presen�a no Parlamento."

Era comunista
Em 1973, Zahir Shah foi deposto por seu primo, Mohammed Daoud Khan, encerrando mais de 200 anos de governo mon�rquico no Afeganist�o.
E durante a proclamada Rep�blica do Afeganist�o, os direitos das mulheres continuaram a aumentar.
"Come�ou a ter a presen�a de mulheres no Parlamento, foi um momento de grande �nfase na forma��o universit�ria para mulheres, na presen�a das mulheres na esfera p�blica e nos cargos p�blicos", afirma Mona Tajali.
O status das mulheres afeg�s continuou a melhorar durante os regimes apoiados pelos sovi�ticos no final dos anos 1970, quando o Partido Democr�tico do Povo do Afeganist�o marxista assumiu o poder na Revolu��o de abril de 1978.
E a melhora continuou ap�s a invas�o sovi�tica em 1979.
"A invas�o sovi�tica ampliou consideravelmente a igualdade de g�nero", explica � BBC Mariam Aman, jornalista do servi�o persa da BBC.
"Principalmente no setor de educa��o, 45% dos professores eram mulheres. Pode-se dizer que os direitos das mulheres atingiram seu ponto alto durante o regime comunista", diz Aman.
O parlamento fortaleceu a educa��o das meninas e proibiu pr�ticas como oferecer mulheres para selar disputas entre duas tribos ou for�ar as vi�vas a se casarem com o irm�o do falecido marido.
"Foi uma �poca em que mudan�as enormes foram vistas e durante esse tempo o movimento das mulheres no Afeganist�o realmente come�ou a tomar forma", diz Mona Tajali � BBC Mundo.
Mas, como aconteceu em muitos outros pa�ses, esse movimento de mulheres n�o se espalhou por todo o pa�s.
E em um pa�s t�o complexo como o Afeganist�o continuaram a haver diferen�as marcantes entre o status das mulheres nas �reas rurais e urbanas e profundas divis�es dependendo de sua etnia, tribo e, acima de tudo, religi�o.
"Os avan�os para as mulheres se concentraram predominantemente em Cabul", explica Mariam Aman. "A elite da classe dominante de Cabul havia criado um o�sis de liberalismo na Universidade de Cabul e no pal�cio, mas isso dificilmente se estendia aos cidad�os comuns", acrescenta.
Al�m disso, diz Mariam Aman, as divis�es entre reformistas e tradicionalistas e as narrativas opostas sobre o Isl� e o papel das mulheres se aprofundaram ainda mais durante os regimes comunistas.
"Este conflito tornou-se enormemente significativo durante os regimes de esquerda", explica ela. "E, al�m disso, havia uma pobreza profundamente enraizada. O acesso � educa��o era limitado �s cidades, os casamentos infantis ainda eram o costume e havia uma total aus�ncia de m�dia gratuita.

Entre dois regimes do Taleb�
Em 1996, os direitos que as mulheres mais urbanas e em regi�es menos tradicionais tinham conquistado chegaram a um fim abrupto com a ascens�o do Taleb� ao poder.
Quando o regime do Taleb� foi derrubado por uma coaliz�o militar liderada pelos EUA, em 2001, as mulheres foram aos poucos reconquistando seus direitos no novo governo civil.
Elas voltaram a trabalhar, a estudar, a sair de casa sozinhas, n�o eram mais obrigadas a usar a burca e podiam ocupar cargos p�blicos - algumas conseguirem se eleger como prefeitas e congressistas.
E agora, 25 anos depois, quando o Taleb� inicia uma nova era de poder no Afeganist�o, muitos temem que a hist�ria da perda dos direitos das mulheres se repita.
"Esse � o grande medo", diz Mona Tajali. "Estive em contato com grupos de mulheres e ativistas pelos direitos das mulheres no Afeganist�o e eles nos disseram que n�o acreditam que o Taleb� tenha mudado em nada."
"Eles acham que o Taleb� tentar� retornar �s suas interpreta��es conservadoras da Sharia (a lei isl�mica) e tentar� devolver as mulheres � esfera dom�stica", afirma Tajali.
"Tudo o que foi conquistado est� em risco agora", acrescenta.
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