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Estado de Minas G�NERO

Por que computa��o e engenharia s�o vistas como 'coisas de meninos' - e como mudar isso

Pesquisa realizada nos EUA encontra vi�s de g�nero logo na primeira inf�ncia e aponta que � preciso ir al�m de meramente dizer �s meninas que elas s�o 'capazes' de se sa�rem bem nas �reas 'STEM': 'elas precisam saber que v�o se divertir e se sentir pertencentes', diz pesquisadora.


21/12/2021 15:36 - atualizado 22/12/2021 09:43

Centro de robótica para crianças na Ucrânia
Meninos e meninas moldam desde cedo sua percep��o sobre os g�neros e estere�tipos associados a determinadas atividades, aponta pesquisa (foto: Getty Images)

A percep��o de que �reas como ci�ncias da computa��o e engenharia s�o mais "para meninos do que para meninas" come�a a se enraizar bem cedo - as crian�as reproduzem esses estere�tipos j� aos seis anos de idade.


E, quanto mais acreditam nesses estere�tipos, menos as crian�as demonstram interesse em fazer atividades associadas ao g�nero oposto.

Nesse contexto, para atrair meninas para �reas tradicionalmente dominadas por homens, � preciso ir al�m de dizer a elas que "s�o capazes" de estar ali, e fazer com que sintam vontade de ocupar novos espa�os.

Essas s�o algumas das conclus�es de pesquisadores americanos ao estudar a vis�o de meninos e meninas sobre as atividades no campo conhecido como STEM - acr�nimo em ingl�s para ci�ncias, tecnologia, engenharia e matem�tica.

E, em �ltima inst�ncia, essa percep��o enraizada ainda na primeira inf�ncia pode influenciar decis�es de carreira e limitar as op��es profissionais de meninos e meninas, explica � BBC News Brasil Allison Master, professora assistente de Educa��o na Universidade de Houston (EUA).

Em um estudo publicado em novembro na Proceedings of the Nacional Academy of Sciences (PNAS), Master e seus colegas das universidades de Houston e Washington aplicaram question�rios a cerca de 2,3 mil crian�as nos EUA, desde os 6 anos de idade at� a adolesc�ncia, de diferentes classes socioecon�micas e etnias, a respeito de suas percep��es sobre atividades relacionadas �s �reas de engenharia e computa��o (descritas a eles em termos compreens�veis para suas idades, como "criar grandes estruturar como pontes e estradas" ou fazer "c�digos de computador").

De modo geral, 51% das crian�as entrevistadas acreditavam que as meninas s�o menos interessadas que os meninos em atividades relacionadas �s ci�ncias da computa��o, porcentagem que subia para 63% nas atividades relacionadas � engenharia.

Em experimentos em laborat�rio, os pesquisadores tamb�m perguntaram �s crian�as se elas queriam participar de uma atividade - descrevendo esta ou como uma atividade "que as meninas gostavam menos do que os meninos" ou como uma atividade que "tanto meninos quanto meninas gostavam".

Ou seja, os pesquisadores "estereotiparam" a tarefa para ver se isso influenciava as escolhas das crian�as.

E, aparentemente, influenciou: 80% das meninas escolheram a atividade que "meninos e meninas gostavam", e s� 20% escolheram a atividade "preferida dos meninos". Essa disparidade n�o foi observada quando as crian�as tiveram de escolher entre atividades que n�o foram estereotipadas.

Diante disso, os pesquisadores argumentam que a percep��o de que uma atividade � favorita por um g�nero faz o outro g�nero se desinteressar por ela ou se sentir distante dela.

Isso se observa at� nas crian�as menores, que gostam muito de brincar com amiguinhos do mesmo g�nero e que precisam que esses amigos validem seus interesses, explica Master.

"E quanto mais as meninas acreditavam nos estere�tipos, menos elas pr�prias se interessavam por essas atividades ('dos meninos'). Se sou uma menina e acho que os campos da engenharia e da computa��o s�o para meninos, vou acreditar que aquilo provavelmente n�o � para mim. Ent�o n�o vou me interessar em ir atr�s disso", detalha a pesquisadora � BBC News Brasil.


Acampamento de ciências e tecnologia para meninas nos EUA, em foto de 2015
Acampamento de ci�ncias e tecnologia para meninas nos EUA, em foto de 2015; quanto mais elas s�o expostas a atividades nessas �reas, mais f�cil � se livrar de estere�tipos danosos (foto: Getty Images)

"Sinto que tem havido muita conversa sobre como tornar as garotas mais confiantes, dizer que elas s�o t�o boas quanto os garotos, que s�o capazes. Mas acho que isso pula uma etapa, que � mostrar para as garotas que elas v�o gostar, sentir prazer (naquela atividade)", prossegue Master, que dirige o Centro de Identidade e Motiva��o Acad�mica da Universidade de Houston.

O argumento dela � que o sentimento de pertencimento tem um grande papel em motivar as meninas a se aventurar nessas �reas em que s�o minoria.

A mensagem principal a ser passada �s meninas �, na opini�o de Master, que "voc� se sentir� confort�vel" nessas atividades, que "as pessoas l� s�o iguais a voc�", que "� uma situa��o em que voc� vai gostar de estar" e que "� uma atividade de que voc� vai desfrutar".

"Se n�o consertarmos esse problema subjacente, teremos meninas pensando: 'ok, sou capaz de fazer isso, mas continuo sem ter vontade de faz�-lo'. Elas sabem que se sairiam bem - basta vermos que as meninas costumam tirar notas melhores do que os meninos em ci�ncias e matem�tica. A pergunta que elas se fazem �: 'pessoas como eu se sentem pertencentes a esse ambiente? Pessoas como eu v�o gostar de fazer isso?'."

Mais educadas, mas minorias nas exatas

Master e seus colegas pesquisadores argumentam que vieses de g�nero como os demonstrados na pesquisa podem ser carregados para a vida adulta e se perpetuar em desigualdades de educa��o e de oportunidades profissionais.

No Brasil, as mulheres t�m, em m�dia, grau maior de educa��o: 19,4% delas t�m ensino superior completo, contra 15,1% dos homens, segundo as Estat�sticas de G�nero divulgadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica) em mar�o deste ano, referentes � popula��o com 25 anos ou mais.

No entanto, apenas 13,3% dos alunos de cursos de Computa��o e Tecnologia da Informa��o s�o do sexo feminino, porcentagem que sobe um pouco (21,6%) nos cursos de Engenharia e correlatas, prossegue o IBGE - apontando que a maioria das mulheres migram para os cursos ligados �s �reas de educa��o, bem-estar e cuidados de sa�de.


Biblioteca de universidade nos EUA
Em pa�ses como o Brasil, mulheres s�o maioria a completar ensino superior, mas minoria nos cursos de computa��o, TI e engenharia (foto: Getty Images)

Embora mais bem instru�das na m�dia geral, as mulheres ocupavam 37,4% dos cargos gerenciais no Brasil e recebiam apenas dois ter�os dos rendimentos salariais dos homens.

Para Allison Master, despertar o interesse de mais meninas pelas �reas de STEM, que muitas vezes permitem o acesso a empregos mais bem pagos, flex�veis e que s�o resilientes perante as dr�sticas mudan�as em curso no mercado de trabalho global, pode ajudar a reduzir essas disparidades de g�nero.

Mas Master faz ressalvas.

"Quando as mulheres entram em um campo (profissional), ele diminui de status e gera subcampos (estratificados)", diz a pesquisadora, citando o exemplo da Medicina:

"Obviamente as mulheres est�o muito bem representadas nas escolas de Medicina, mas os cargos de cirurgi�o, de chefes de departamento e outros postos de prest�gio tendem a ser ocupados mais por homens."

Ent�o, "se mais mulheres entrarem na engenharia e nas ci�ncias da computa��o, o que provavelmente ocorrer� � que se criar�o subcampos. Mas esperamos que, de modo geral, (ser� ben�fico) ter mais mulheres nesses cargos - que t�m uma influ�ncia t�o grande na nossa sociedade e nos desenvolvimentos tecnol�gicos. Todos n�s nos beneficiar�amos de haver mais mulheres e perspectivas femininas nesses projetos".

Brinquedos 'para meninas' e 'para meninos'

Uma primeira barreira a ser quebrada na constru��o de estere�tipos � a percep��o, igualmente enraizada, de que existem brincadeiras mais "femininas" ou "masculinas".

Uma pesquisa de opini�o recente do instituto americano Geena Davis Institute on Gender in Media encomendada pela empresa Lego e conduzida em sete pa�ses (Brasil n�o inclu�do) constatou que a maioria das crian�as, sobretudo os meninos, se sentiam mais � vontade em brincadeiras que se encaixassem nos padr�es t�picos de g�nero - porque tinham medo de serem alvo de goza��o se brincassem com itens associados ao outro g�nero.

E os pais tamb�m refor�aram esses estere�tipos, mesmo que inconscientemente. Na pesquisa, os pais e m�es demonstraram ter, por exemplo, tend�ncia tr�s vezes maior de:

- incentivar meninas, e n�o meninos, a fazer atividades na cozinha;

- estimular meninos, e n�o meninas, a fazer atividades relacionadas a programa��o de computador, jogos e esportes.


Estudante de engenharia e ciências de materiais em Cingapura
Estudante de engenharia e ci�ncias de materiais em Cingapura; � ben�fico ter mulheres em campos que tanto influenciam o desenvolvimento da sociedade, diz pesquisadora (foto: Getty Images)

A pesquisa levou a Lego a anunciar, em outubro deste ano, que trabalharia para tirar "todos os vieses de g�nero e estere�tipos prejudiciais" de seus brinquedos.

"Eu acho isso �timo, porque todas as vezes que dividimos as prateleiras das lojas entre brinquedos rosa e azul, dizemos �s crian�as: 'nossa expectativa � de que voc�s gostem de coisas diferentes'", comenta Allison Master.

"No momento em que as crian�as percebem que os brinquedos s�o divididos por cores, perdem o interesse nas coisas que 'n�o s�o para' o g�nero delas. Isso tem um efeito muito negativo tamb�m para os garotos, que perdem a chance de se interessar por brinquedos socioemocionais, art�sticos e ador�veis que s�o direcionados a meninas", prossegue.

"E, quando fazemos divis�es baseadas em estere�tipos, fechamos as portas para meninas, quando dever�amos abri-las e encoraj�-las a tentar coisas novas. N�o � que elas necessariamente precisem se interessar por computa��o ou engenharia, mas ao menos dar uma chance (para esses interesses), saber do que se tratam, sem se deixar tolher por esses estere�tipos."

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