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Sol negro: o que � o s�mbolo associado ao nazismo usado por militar ucraniano em foto viral da guerra

Segundo a Liga Anti-Difama��o, ele � bastante popular entre neonazistas por ser um dos "diversos s�mbolos europeus apropriados pelos nazistas em sua tentativa de inventar a idealizada heran�a ariana".


07/03/2022 17:05 - atualizado 07/03/2022 18:38

Militar ucraniano ajuda mulher a fugir de região sob ataque russo
Militar ucraniano ajuda mulher a fugir de regi�o sob ataque russo; s�mbolo adicionado por ele ao uniforme chamou a aten��o nas redes sociais por ser associado ao nazismo (foto: Anastasia Vlasova/Getty Images)
A fotografia de um militar ucraniano que atuava na evacua��o de civis nas proximidades da capital Kiev viralizou por causa de um s�mbolo associado ao nazismo presente em seu uniforme. A imagem registrada pela fotojornalista ucraniana Anastasia Vlasova passou a circular nas redes sociais depois de ser divulgada em uma postagem do Twitter do banco de imagens americano Getty Images.

 

Ao anunciar a invas�o do territ�rio ucraniano, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a opera��o militar visava, entre outros objetivos, a desnazifica��o da Ucr�nia.

 

Para especialistas, ao acusar h� anos o pa�s vizinho de ser dominado por organiza��es nazistas, o l�der russo mobiliza uma s�rie de conceitos e eventos hist�ricos na regi�o que ajudariam a justificar para o mundo e especialmente para o povo russo as a��es militares contra um povo igualmente eslavo.

 

Mas pesquisadores apontam que, apesar do avan�o da presen�a de neonazistas nos �ltimos anos na Ucr�nia (como ocorre em outros pa�ses), esses grupos n�o t�m poder de decis�o no governo ucraniano nem no Parlamento do pa�s.

O s�mbolo acrescentado pelo militar ucraniano da foto ao seu uniforme � composto por dois c�rculos conc�ntricos e raios que partem do c�rculo menor para o maior. Segundo a Liga Anti-Difama��o (entidade que combate o avan�o do antissemitismo), este s�mbolo � usado em diferentes vers�es por diversas culturas ao redor do mundo, como os n�rdicos antigos e os celtas, por isso "n�o se deve assumir que a maioria das imagens em torno desse s�mbolo denote racismo ou supremacismo branco".

 

Mas, segundo a Liga Anti-Difama��o, ele � bastante popular entre neonazistas por ser um dos "diversos s�mbolos europeus apropriados pelos nazistas em sua tentativa de inventar a idealizada heran�a ariana". Em geral, a vers�o mais comum desse s�mbolo entre neonazistas tem uma su�stica, mas esta n�o aparece no s�mbolo no uniforme do militar ucraniano presente na foto que viralizou.

 

Segundo a entidade Freedom House, o sol negro remete a movimentos ligados ao esoterismo e ao ocultismo de meados do s�culo 19, e nos anos seguinte foi usada por diversas vertentes, como cultos satanistas ou neopag�os e organiza��es com tra�os esot�ricos dentro do nazismo.

 

Esse s�mbolo, por exemplo, estava presente em um dos sal�es principais do castelo de Wewelsburg, sede da SS (Schutzstaffel ou Esquadr�o de Prote��o), a pol�cia nazista chefiada por Heinrich Himmler. "Mas ele voltou a se popularizar em 1991, com o livro O Sol Negro de Tashi Lhunpo, de Russell McCloud (pseud�nimo do jornalista alem�o Stefan Mogle-Stadel). Desde ent�o, neonazistas de v�rios pa�ses t�m o usado ativamente como s�mbolo de li��es do ocultismo nazista que alega conectar o nazismo a 'saberes antigos secretos'", explica a entidade.

 

Ainda segundo a Freedom House, na Ucr�nia, o sol negro � frequentemente usado como uma marca da idelogia de extrema direita, sem significados esot�ricos no pa�s.


Detalhe da fotografia que viralizou com o símbolo do sol negro
Detalhe da fotografia que viralizou com o s�mbolo do sol negro (foto: Anastasia Vlasova/Getty Images)

 

Por outro lado, o sol negro � um dos s�mbolos associados ao nazismo que fazem parte da ins�gnia do Batalh�o Azov, uma mil�cia de direita formada por diversos indiv�duos com passado de atividade em organiza��es neonazistas.

 

O grupo ganhou notoriedade a partir de 2013, quando o quando o ent�o presidente ucraniano Viktor Yanukovych, que comandava um governo pr�-R�ssia, cedeu � press�o de Putin e se recusou a assinar um pacto de aproxima��o do pa�s com a Uni�o Europeia, algo que a maioria dos ucranianos desejava.

 

A decis�o do presidente fez irromper protestos populares pelo pa�s. Ap�s meses de tens�o, em 2014, Yanukovych fugiu para a R�ssia e acabou deposto. A R�ssia retaliou a derrubada do aliado tomando a Crimeia e desencadeando uma rebeli�o no leste ucraniano na regi�o de Donbas liderada por separatistas apoiados pela R�ssia. Nesse per�odo, algumas mil�cias, como o Batalh�o Azov, passaram a atuar para repelir os separatistas russos.

 

A partir dali, o Azov e outros grupos considerados de extrema direita por especialistas, como o Partido Svoboda e Pravyi Sektor (Setor de Direita), montaram suas pr�prias mil�cias armadas, muitas das quais passaram a integrar for�as regulares ucranianas como a Pol�cia de Patrulha para Opera��es Especiais da Ucr�nia e a Guarda Nacional da Ucr�nia, empregadas contra os separatistas pr�-R�ssia na regi�o de Donbas.


Integrantes do Batalhão Azov treinam contra a invasão russa
Volunt�rios civis s�o treinados por veteranos do Batalh�o Azov contra a invas�o russa; � direita, a ins�gnia do regimento com varia��es de dois s�mbolos associados ao nazismo, o gancho de lobo e o sol negro (foto: Anadolu Agency)

 

Em artigo sobre o tema no jornal Folha de S.Paulo, dois pesquisadores do Observat�rio da Extrema Direita, Odilon Caldeira Neto (UFJF) e David Magalh�es (PUC-SP/Faap), afirmam que "o abrigo institucional de uma sabida organiza��o neonazista refor�a a ideia de que a extrema direita atua como linha auxiliar do governo ucraniano".

 

Mas mesmo que o governo que sucedeu o de Yanukovych tenha dado espa�o a lideran�as da extrema direita ucraniana, "sabe-se que os membros da extrema direita n�o exerceram poder de decis�o a ponto de caracterizar o governo como neonazista".

 

Com exce��o do Svoboda, partidos de extrema direita raramente conseguem eleger parlamentares em distritos com um �nico representante, e nenhum de seus candidatos presidenciais garantiu mais de 5% dos votos em elei��es nacionais.

 

O outro s�mbolo associado ao nazismo presente na ins�gnia do Batalh�o de Azov � uma esp�cie de varia��o espelhada do s�mbolo Wolfsangel (gancho de lobo, em tradu��o livre). Segundo a Liga Anti-Difama��o, acreditava-se que esse s�mbolo (que se assemelha a armadilhas contra lobos) tinha capacidade de afastar lobos e historicamente podia ser encontrado em diversos lugares da Alemanha, at� tamb�m ser apropriado pela SS nazista.

 

No caso ucraniano, o s�mbolo Wolfsangel invertido � usado pelo Azov e por diversas outras organiza��es de direita na Ucr�nia, como o partido Svoboda, que significa Liberdade. Segundo a organiza��o Freedom House, o s�mbolo � uma mistura das letras "I" e "N" (Ideia de Na��o), mas algumas lideran�as de organiza��es que usam esse s�mbolo, como o Patriota da Ucr�nia, negam qualquer rela��o com o nazismo.

 

"Na Ucr�nia, o s�mbolo da Ideia da Na��o � usado apenas por organiza��es radicais de direita como um indicador de nacionalismo radical (neonazismo). Era o emblema do Partido Social-Nacional da Ucr�nia (atual Partido Svoboda), da organiza��o n�o governamental Patriota da Ucr�nia e da Assembleia Social-Nacional. O Destacamento de Prop�sito Espec�fico Azov (ou Batalh�o de Azov) o usa como seu emblema, assim como estruturas relacionadas, como o ramo civil de Azov", afirma a Freedom House.

Stepan Bandera e as origens das acusa��es de nazismo na Ucr�nia

� imposs�vel entender as refer�ncias feitas por Putin sem voltar algumas d�cadas na Hist�ria. Se, por um lado, o modo como o Ex�rcito Vermelho, da Uni�o Sovi�tica, combateu e derrotou as tropas nazistas alem�s na Segunda Guerra Mundial ainda mobiliza o imagin�rio dos russos e seu orgulho nacional, de outro lado, a rea��o de ao menos parte dos seus vizinhos ucranianos em rela��o a Hitler segue sendo motivo de hostilidade entre russos e ucranianos.

 

Quando o ex�rcito nazista adentrou as �reas ucranianas, em 1941, uma parte da popula��o optou por colaborar com os alem�es, enquanto boa parte do pa�s foi varrida por sofrimento e destrui��o. Mais de 5 milh�es de ucranianos morreram combatendo os nazistas, que mataram a maior parte dos 1,5 milh�o de judeus ucranianos.

 

A ocupa��o alem� durou at� 1944, e os ucranianos que se engajaram na coopera��o com os alem�es nazistas atuaram na administra��o local, se tornaram parte da pol�cia nazista ou viraram guardas em campos de concentra��o. O governo civil alem�o nazista foi batizado de Reichskommissariat Ukraine, ou RKU, e compreendia o que hoje se divide entre o territ�rio da Ucr�nia, Belarus e Pol�nia.

 

Uma das figuras mais proeminentes e controversas desse nacionalismo colaboracionista ucraniano foi Stepan Bandera, que primeiro atuou para facilitar o dom�nio dos nazistas na regi�o e depois se voltou contra eles, quando percebeu que seu plano de independ�ncia da Ucr�nia n�o se concluiria. Bandera passou anos em um campo de concentra��o nazista e acabaria assassinado por um agente da KGB em 1959.

 

Por tr�s da colabora��o com os nazistas, estava tamb�m o objetivo de independ�ncia de parte dos ucranianos e a cren�a de que os alem�es poderiam ser o caminho para se livrar do l�der sovi�tico Joseph St�lin.

 

Na regi�o ucraniana da Gal�cia, depois de 2014, Bandera passou a ser cultuado como uma figura m�tica, e o governo ucraniano incluiu-o entre os her�is da p�tria. Para os ucranianos da maior parte do pa�s, por�m, � pouco mais que um s�mbolo.

 

"Bandera � considerado her�i nacional porque se considera que sua alian�a com os nazistas n�o se deu por afinidade ideol�gica, mas para lutar contra Stalin. N�o se pode comprar a narrativa de que a Ucr�nia � nazista, como afirma Putin, mas tampouco � poss�vel dizer que o neonazismo no pa�s seja insignificante", afirmou Andrew Traumann, professor de Rela��es Internacionais do Centro Universit�rio Curitiba (UniCuritiba) e pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Oriente M�dio (Gepom), � BBC News Brasil.

 

"Essa refer�ncia a nazistas e neonazistas se tornou muito proeminente na m�dia russa por volta de dezembro de 2013, porque, na �poca dos protestos da Pra�a Maidan, alguns dos manifestantes faziam coisas como hastear uma bandeira de (Stepan) Bandera, um nacionalista ucraniano que, temporariamente, durante a Segunda Guerra Mundial, cooperou com os nazistas para tentar buscar a independ�ncia ucraniana. H� um segmento da popula��o ucraniana que relembra aquelas tentativas de alcan�ar a independ�ncia ucraniana sob (Joseph) Stalin, aliando-se a Hitler, n�o como uma colabora��o com o nazi-fascismo, mas como a atua��o de patriotas ucranianos e her�is nacionais", explicou � BBC News Brasil Brian Taylor, professor de Ci�ncia Pol�tica da Syracuse University e autor de The Code of Putinism (O C�digo do Putinismo, em tradu��o livre).

 

*Com informa��es de Luiz Ant�nio Ara�jo, colaborador da BBC News Brasil em Porto Alegre, e Mariana Sanches, correspondente da BBC News Brasil em Washington.

 

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