(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas BBC

Guerra na Ucr�nia: as mulheres que se voluntariam para a linha de frente

In�meras fam�lias ucranianas foram separadas quando mulheres e crian�as deixaram o pa�s e os homens ficaram para lutar na guerra. Mas muitas mulheres tamb�m optaram por permanecer na linha de frente. A BBC conversou com cinco mulheres ucranianas sobre suas raz�es para ficar.


15/03/2022 19:59 - atualizado 15/03/2022 19:59

Yaryna Arieva com rifle
'Tudo o que eu amo est� aqui, ent�o n�o posso deixar Kiev e vou lutar se for preciso', diz Yaryna Arieva (foto: Yaryna Arieva)
"Nossa resist�ncia atual tem um rosto feminino", escreveu a primeira-dama da Ucr�nia em sua conta no Instagram.

 

 

 

Olena Zelenska, esposa do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, compartilhou fotos destacando os esfor�os das mulheres ap�s a invas�o russa.

E n�o foi s� Zelenska — as redes sociais est�o cheias de imagens de mulheres com armas e uniformes militares prontas para lutar na guerra que assola a Ucr�nia desde o final de fevereiro.

 

Fam�lias foram separadas quando milh�es de pessoas, principalmente mulheres e crian�as, fugiram para o oeste em busca de seguran�a, enquanto maridos e pais ficaram para defender cidades sob ataque russo.

 

Mas muitas mulheres tamb�m ficaram para lutar, incluindo Zelenska, apesar do extremo risco que suas vidas correm.

 

 

 

A BBC conversou com cinco mulheres ucranianas na linha de frente da guerra.

Kira Rudik — '� assustador, mas estou com raiva'

Kira Rudik com arma
Kira Rudik recebeu uma arma do governo por ser deputada (foto: Kira Rudik)

 

"Eu nunca tinha tocado em uma arma at� que a guerra come�ou", disse a parlamentar Kira Rudik. "Nunca precisei."

 

"Mas quando a invas�o come�ou e havia a possibilidade de conseguir uma arma, fiquei t�o chocada com tudo que decidi pegar uma. Ela � pesada e cheira a metal e �leo."

 

Rudik montou uma unidade de resist�ncia em Kiev que est� treinando para defender a capital ucraniana.

 

Ela mant�m em segredo a sua localiza��o, porque, segundo ela, os servi�os de intelig�ncia a avisaram que ela est� na "lista de assassinatos" do presidente russo Vladimir Putin.

 

Apesar disso, ela continua seu trabalho como l�der do partido Voz no parlamento da Ucr�nia, enquanto tamb�m patrulha seu bairro com sua unidade.

 

Uma foto de Rudik com sua arma rapidamente viralizou, e ela diz que isso levou a uma onda de outras mulheres pegando em armas.

 

"Recebi tantas mensagens de mulheres me dizendo que est�o lutando", disse ela � BBC.

 

"N�o temos ilus�es de como ser� esta guerra, mas sabemos que todos temos que lutar para proteger nossa dignidade, nossos corpos, nossos filhos. � assustador, mas tamb�m estou com raiva e esse � provavelmente o melhor sentimento que posso ter para lutar pelo meu pa�s."

 

Das 44 milh�es de pessoas que vivem na Ucr�nia, 23 milh�es s�o mulheres, segundo o Banco Mundial, e o pa�s tem uma das maiores propor��es de mulheres servindo em suas for�as armadas.

 

O Ex�rcito ucraniano diz que 15,6% de seus soldados s�o mulheres — um n�mero que mais que dobrou desde 2014.

 

Este n�mero pode ser ainda maior ap�s um an�ncio em dezembro convocando todas as mulheres de 18 a 60 anos em boas condi��es f�sicas a se registrarem para o servi�o militar.

 

As que foram recrutadas ou optaram por ficar na Ucr�nia podem acabar enfrentando enormes perigos.

 

N�o se sabe exatamente quantas pessoas morreram nos combates desde a invas�o russa, mas as autoridades ucranianas afirmam que mais de mil mortes de civis ocorreram desde 24 de fevereiro.

 

N�o � poss�vel confirmar este n�mero, mas a ONU afirma que, at� 8 de mar�o, 516 civis haviam sido mortos.

 

Al�m disso, acredita-se que milhares de combatentes de ambos os lados tenham morrido � medida que vai se tendo mais not�cias sobre o conflito. E � prov�vel que exista um n�mero muito maior de feridos.

 

O presidente Zelensky disse que 1,3 mil soldados ucranianos morreram nas duas primeiras semanas da guerra.

 

Muitos ucranianos pr�ximos aos combates agora vivem no subsolo em por�es e esta��es de metr� para se proteger dos m�sseis e ataques a�reos que atingem suas cidades.

 

Os bombardeios tamb�m t�m sido indiscriminados, com novas imagens todos os dias de casas destru�das, hospitais arrasados e corredores humanit�rios ignorados.

 

Esta � a realidade para aqueles que optam por ficar na zona de guerra da Ucr�nia.

Marharyta Rivachenko — 'Eu n�o tinha para onde fugir'

Ao lado de pol�ticos, mulheres comuns tamb�m est�o se voluntariando para o esfor�o de guerra.

 

Alguns dias antes do in�cio da invas�o, Marharyta Rivachenko comemorou seu 25º anivers�rio em Budapeste, na Hungria, com amigos.

 

Agora, ela aprendeu a dormir com o som das sirenes de ataque a�reo em abrigos enquanto sua cidade � bombardeada por for�as russas.

 

"Quando a guerra come�ou, minha fam�lia estava em Kharkiv e eu estava sozinha em Kiev. Eu n�o tinha para onde fugir", disse a gerente de rela��es p�blicas � BBC. "Eu n�o queria ir embora, queria fazer alguma coisa, ent�o decidi me juntar � defesa."

 

Rivachenko fez cursos de primeiros socorros para se tornar m�dica em seu batalh�o e agora � volunt�ria como auxiliar de enfermagem.

 

"Eu estou com muito medo", disse ela. "Eu amo minha vida e quero viver, mas minha vida depende desta guerra, ent�o eu preciso fazer algo para ajudar a acabar com ela."

Yustyna Dusan — 'A minha prioridade � sobreviver'


Yustyna Dusan com um gato
Antes da guerra, Yustuna Dusan era uma ativista dos direitos dos animais, mas agora n�o tem tempo para ajud�-los (foto: Yustyna Dusan)

 

Nem todos podem ingressar nas unidades de defesa territorial porque elas j� t�m volunt�rios demais e nem todos t�m experi�ncia suficiente.

 

A consultora de recrutamento de TI Yustyna Dusan est� fazendo tudo o que pode para ajudar seu pa�s.

 

"Eu estou na reserva e pronta para lutar", disse ela. "Fui retirada para Le�polis, pois sem arma ou carro, eu n�o poderia ajudar muito em Kiev. Ent�o, estou me voluntariando em uma zona segura por enquanto para ajudar a organizar o envio de equipamentos e ajuda humanit�ria � linha de frente".

 

Antes da guerra, Dusan era ativista dos direitos dos animais. Mas, ela diz que n�o tem mais a estofo emocional para se preocupar com os animais.

 

"� uma cat�strofe que os animais sejam abandonados nas cidades para morrer", disse ela. "Mas minha prioridade � sobreviver, para poder ajudar nossas for�as armadas que permanecer�o firmes at� o fim. Nossos filhos est�o morrendo e querem matar todos os ucranianos e nos sentimos t�o sozinhos nessa situa��o. Eu s� quero n�o ser morta."

Olena Biletskyi — 'Eu quero que minha filha nas�a em uma Ucr�nia livre'

Olena Biletskyi com arma
Olena Biletskyi, retratada antes da invas�o, treina civis para a guerra desde 2014 (foto: Ukraine Women's Guard)

 

A casa da ex-advogada Olena Biletskyi em Kiev tornou-se a principal sede da Guarda Feminina da Ucr�nia.

 

Ela est� gr�vida de seis meses e decidiu ficar na capital com o marido e as duas filhas, de 11 e 16 anos, para ajudar na defesa da cidade.

 

"Estamos organizando mulheres na resist�ncia em todo o pa�s", explicou. "Foi uma decis�o familiar ficar e lutar, porque n�o queremos viver sob ocupa��o. � uma quest�o entre escravid�o e liberdade e esse � o sentimento das mulheres em todo o pa�s. Ent�o vamos ficar em Kiev enquanto pudermos."

 

Ela e seu marido Oleksandr coordenam o trabalho fisicamente e psicologicamente desgastante de preparar civis para a guerra.

 

Seus esfor�os incluem treinamento sobre como fazer coquet�is Molotov, como usar rifles e publicar informa��es em 33 idiomas em seu site.

 

A organiza��o de Biletskyi tamb�m trabalha para interromper as marcas ultravioletas que eles acreditam serem feitas pelas for�as russas para servir como alvos para m�sseis e paraquedistas — incluindo uma que sua fam�lia encontrou em seu pr�prio jardim.

 

"Nos primeiros dias, o medo e a ansiedade foram avassaladores", disse ela. "Mas agora n�o h� medo, apenas o desejo de derrotar o inimigo. Eu n�o queria fugir e n�o pretendo. Eu n�o sei se sobreviveremos, mas quero viver, e eu sonho em ter minha terceira filha em uma Ucr�nia livre e independente."

Yaryna Arieva — 'Eu n�o tenho medo por mim'

Svyatoslav Fursin e Yaryna Arieva
Yaryna Arieva e Svyatoslav Fursin se casaram no primeiro dia da guerra (foto: Mikhail Palinchak)

 

Na manh� em que Putin se mudou para invadir a Ucr�nia, Yaryna Arieva tinha uma coisa em mente — ela decidiu se casar. Ela vivia em casas separadas de Svyatoslav Fursin, agora seu marido, e os dois queriam ficar juntos durante todo o conflito.

 

Os rec�m-casados juntaram-se � defesa territorial para ajudar a defender Kiev.

 

"Eu farei tudo o que puder para proteger meu pa�s e minha cidade", disse ela.

 

"Meu im�vel est� aqui, meus pais est�o aqui, meu gato est� aqui. Tudo que eu amo est� aqui, ent�o n�o posso deixar Kiev e eu vou lutar se for preciso."

 

Arieva � deputada no conselho da cidade de Kiev, o que significa que ela recebeu uma arma e um colete � prova de bala. Ela se mudou para a base de defesa territorial com o marido, mas ainda n�o tem experi�ncia suficiente para participar de combate.

 

Em vez disso, ela espera — rezando, fumando e trabalhando — po not�cias de seu marido, que est� lutando na linha de frente.

 

"Antes da guerra eu tinha muito medo. Eu tinha medo de cachorros, da escurid�o", diz a jovem de 21 anos. "Mas agora, o �nico medo que tenho � perder meu marido — n�o estou com medo por mim."


Yaryna Arieva e Svyatoslav Fursin
Fursin esteve em duas miss�es de combate nas duas primeiras semanas da guerra, enquanto Arieva trabalha na sede da Defesa Territorial (foto: Yaryna Arieva)

Trabalho perigoso

Volunt�rios est�o morrendo na linha de frente, incluindo muitas mulheres.

Em 24 de fevereiro, no primeiro dia em que os tanques russos cruzaram a Ucr�nia, a veterana de 52 anos e m�e de cinco filhos, Iryna Tsvila, foi morta em Kiev.

 

Ela trabalhava como volunt�ria para defender a cidade ao lado de seu marido Dmytro, que tamb�m morreu no mesmo dia.

 

Uma semana depois, um carro que transportava pessoas que entregavam comida a abrigos de animais perto de Kiev foi alvejado, matando Anastasiia Yalanskaya, de 26 anos, e outras duas pessoas.

 

Os c�es estavam sem comida h� tr�s dias e testemunhas dizem que ela se recusou a deixar Kiev para poder ajud�-los.

 

Outra jovem volunt�ria, Valeriia "Lera" Matsetska, foi baleada por um tanque russo enquanto dirigia para buscar rem�dios para sua m�e, de acordo a USAID, entidade para a qual ela trabalhava. Ela estava a poucos dias de seu anivers�rio de 32 anos.

 

Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)