
Apesar das imagens de devasta��o em grande escala, acredita-se que muitos dos que estavam escondidos no abrigo antibombas no por�o do edif�cio tenham sobrevivido.
Por 10 dias, o por�o do teatro serviu como ref�gio para Kate, nativa de Mariupol de 38 anos, e seu filho, de 17. Sua pr�pria casa, como muitas outras na cidade sitiada, foi destru�da por ataques russos, e eles acreditavam que o Teatro Regional de Drama de Donetsk seria um lugar onde estariam relativamente seguros.
M�e e filho ficaram espremidos nos quartos escuros e corredores do pr�dio com dezenas de outras fam�lias. Algumas mulheres, disse Kate, carregavam beb�s com apenas quatro ou cinco meses de idade.
"No come�o, foi muito dif�cil, porque n�o t�nhamos um suprimento de comida bem organizado. Ent�o, nos dois primeiros dias, os adultos n�o tinham comida", relata Kate, que trabalhava na loja do zool�gico de Mariupol e preferiu n�o divulgar seu nome completo. "N�s demos comida apenas para as crian�as."
Os dois dormiam em camas improvisadas feitas no ch�o com o estofado dos assentos do audit�rio. A madeira das cadeiras, segundo ela, foi cortada em peda�os e usada como lenha para cozinhar.
"Ao redor do teatro n�o havia �rvores suficientes que pud�ssemos usar, e era muito perigoso sair do lado de fora".
Por quase tr�s semanas, Mariupol esteve sob constante bombardeio das for�as russas, que cercaram completamente a cidade. Cerca de 300.000 pessoas est�o presas, sem eletricidade, g�s ou �gua encanada. Alimentos e rem�dios est�o acabando, pois a R�ssia impediu a entrega de ajuda humanit�ria.
Quatro dias depois que Kate chegou ao teatro, as for�as ucranianas conseguiram enviar alguns suprimentos de comida e cozinha para o teatro, e "come�amos a cozinhar alguma coisa", conta ela. Eles tomavam sopa e, �s vezes, mingau de aveia no almo�o e ch� com biscoitos no jantar.
O imponente edif�cio da era sovi�tica no centro da cidade de Mariupol, pr�ximo � orla do Mar de Azov, foi designado como abrigo para civis. Sergei Orlov, vice-prefeito da cidade, disse que at� 1.200 pessoas passaram por l�. J� a organiza��o Human Rights Watch estimou o total entre 500 e 800 pessoas, citando entrevistas feitas com as pessoas evacuadas.
Mas � medida que os ataques implac�veis da R�ssia continuaram, Kate disse que os pr�dios ao redor do teatro foram sendo danificados ou destru�dos. "Sab�amos que t�nhamos que fugir porque algo terr�vel aconteceria em breve", disse ela.
Um dia antes do ataque, Kate e seu filho deixaram o local. "Entramos em um carro enquanto o teatro e a �rea estavam sendo bombardeados", disse ela. Eles dividiram o ve�culo com uma fam�lia de quatro pessoas, que levavam ainda quatro c�es e um gato com eles.
"Pedimos para ir com eles, porque n�o t�nhamos nosso pr�prio [carro]", disse ela. Eles faziam parte do comboio de cerca de 2.000 carros que escaparam de Mariupol na ter�a-feira (15/03).
O conselho da cidade de Mariupol afirmou que um avi�o russo lan�ou uma bomba contra o teatro e classificou o ataque como "deliberado e c�nico". A R�ssia negou ter alvejado o local, mas, apenas em Mariupol, seus ataques j� atingiram v�rios pr�dios civis, incluindo um hospital, uma igreja e in�meros blocos de apartamentos.
Alerta desesperado
Imagens de sat�lite divulgadas pela empresa americana Maxar, tiradas na segunda-feira, mostraram que a palavra russa para "crian�as" havia sido marcada no ch�o em letras grandes em dois locais fora do pr�dio, para alertar os jatos russos.
V�deos filmados ap�s o bombardeio mostram fuma�a saindo da fachada desmoronada do pr�dio. Mas com a comunica��o com a cidade quase completamente cortada, o n�mero de sobreviventes ou poss�veis v�timas ainda n�o estava claro, mesmo quase 20 horas depois.
Dmytro Gurin, membro do parlamento ucraniano nativo de Mariupol, disse que o abrigo no por�o do pr�dio resistiu ao ataque e que as equipes estavam tentando limpar os escombros que cobriam a entrada do local. "Parece que a maioria deles sobreviveu e est� bem", disse ele.
Mas segundo ele os esfor�os de resgate foram complicados, j� que a R�ssia continuou a atacar a �rea. "Os bombardeios nunca param e a artilharia nunca para e os avi�es est�o lan�ando bombas", disse ele, "por isso � muito dif�cil".
O conselho da cidade estima que cerca de 80% a 90% dos edif�cios da cidade tenham sido danificados ou destru�dos pela R�ssia, que atacou a cidade quase sem parar desde que invadiu a Ucr�nia, h� tr�s semanas. Bairros inteiros foram transformados em terrenos baldios.
Autoridades locais dizem que pelo menos 2.400 pessoas foram mortas em Mariupol, embora reconhe�am que esse n�mero provavelmente � subestimado. Muitos dos mortos est�o sendo enterrados em valas comuns.
Depois de deixar Mariupol, Kate foi para a cidade de Lviv, no oeste da Ucr�nia, regi�o que tem sido amplamente poupada dos ataques. "No primeiro dia depois que conseguimos sair, eu n�o conseguia falar. Todos n�s s� choramos", disse ela. "Mas agora parece que n�o h� mais l�grimas. Acho que essa dor nunca vai desaparecer."
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