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Estado de Minas EXAUST�O

O que � 'tang ping', movimento de jovens contra trabalho exaustivo na China

Jovens trabalhadores chineses est�o desafiando as press�es sociais para trabalhar longas jornadas


19/03/2022 20:02 - atualizado 19/03/2022 21:29

Trabalhadores em Pequim
(foto: Getty Images)

"Continuo me livrando da energia negativa da minha vida. Acho que em 2022 haver� uma melhora em rela��o a 2021, mas n�o quero fazer nada ainda. Vou continuar 'deitado'. Gosto desse estado."

Quando Jeff (nome fict�cio) deixou sua cidade natal, Hangzhou, para um emprego bem remunerado como desenvolvedor de aplicativos em Pequim, h� v�rios anos, como muitos jovens profissionais chineses, o trabalho se tornou sua vida.

 

 

 

O pouco tempo livre que ele tinha fora do trabalho era gasto jogando o que ele descreve como jogos de computador "sem sentido".

Ele n�o desenvolveu um c�rculo social em sua nova cidade e acabou desistindo de tentar.

Mas quando a pandemia chegou, a vida como ele a conhecia parou abruptamente. Como muitos outros trabalhadores, a covid fez ele reavaliar suas prioridades.

Ao conversar com amigos artistas em sua cidade natal, ele percebeu que mesmo tendo pouco dinheiro, eles sempre tinham algo interessante a dizer sobre seu dia e o que estavam fazendo, enquanto tudo o que ele tinha era trabalho.


Estudantes chineses
(foto: Getty Images)

Quando sua empresa come�ou a demitir funcion�rios devido � pandemia, ele foi for�ado a trabalhar de 60 a 70 horas por semana.

Finalmente, ele n�o aguentou mais e tirou um tempo para viajar.

Durante sua estadia na cidade de Ho Chi Minh, no Vietn�, ele teve uma epifania depois de ver grupos de idosos reunidos em um bar apenas relaxando, conversando e assistindo futebol por horas.

Sua mente continuava voltando a eles. Por que ele n�o podia ser como eles, apenas relaxar e deitar-se?

E ent�o ele fez exatamente isso. Voltou para casa e largou o emprego.

Ele � um dos muitos cidad�os chineses que pediram demiss�o ou reduziram seus compromissos de trabalho nos �ltimos dois anos.

A ideia de "ficar deitado", ou "tang ping" em chin�s, significa fazer uma pausa no trabalho incans�vel.

O movimento tang ping decolou em 2021, pois muitos chineses sentiram que estavam sob crescente press�o para sempre trabalhar mais e superar seus pares.


Jovem lendo deitado
'Tang ping' � um movimento de protesto e um estilo de vida (foto: Getty Images)

Cansado de trabalhar duro

O pano de fundo para essa tend�ncia � o encolhimento do mercado de trabalho na China, o que significa que os jovens est�o agora sob press�o para trabalhar muito mais horas e est�o esgotados.

As pessoas "se sentem muito ap�ticas agora que precisam lidar com o coronav�rus e est�o exaustas. Elas literalmente s� querem ir para a cama com um livro ou sentar e assistir TV, em vez de manter o ritmo de trabalho duro", diz Kerry Allen, analista de m�dia da BBC China.

Isso significa que, embora a pandemia de covid possa estar desacelerando, o movimento tang ping n�o est�.

Nas redes sociais chinesas, os usu�rios postam mensagens dizendo que n�o querem voltar a ser como eram antes da pandemia e agora t�m confian�a para levar uma vida mais lenta.

A antiga pol�tica chinesa do filho �nico fez com que muitos jovens profissionais crescessem sem irm�os ou irm�s, e isso aumentou o sentimento de tens�o de muitas pessoas.


Jack Ma
O fundador do Alibaba, Jack Ma, foi criticado por apoiar cultura de longas jornadas de trabalho (foto: Getty Images)

Os valores tradicionais de comprar uma casa e ter filhos ainda s�o muito importantes na China.

No entanto, muitas pessoas em seus 20 e 30 anos se preocupam que nunca poder�o realizar essas coisas.

Aqueles que s�o filhos �nicos argumentam, por exemplo, que tamb�m ter�o que cuidar de pais idosos e que, para muitas pessoas, os pre�os dos im�veis est�o cada vez mais fora de alcance.

Em 2019, o magnata da tecnologia e fundador do grupo Alibaba, Jack Ma, foi criticado por endossar a chamada cultura de trabalho 996 da China, onde as pessoas trabalham das 9h �s 21h, seis dias por semana.

No ano passado, o mais alto tribunal e o Minist�rio do Trabalho do pa�s decidiram que essas pr�ticas eram ilegais.

No entanto, se trabalhar 996 ainda � o que � preciso para ser bem sucedido profissionalmente, n�o � surpreendente que alguns jovens optem por n�o faz�-lo.

As tend�ncias demogr�ficas significam que as press�es sociais sobre os jovens provavelmente se intensificar�o.

Em 2035, a OCDE (Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico) prev� que 20% da popula��o da China ter� mais de 65 anos, pressionando ainda mais os jovens a apoiar as gera��es mais velhas.

Jeff, que n�o quis ser identificado por medo de uma resposta negativa, descreve sua pr�pria decis�o de deixar seu emprego e sua vida em Pequim como "um protesto silencioso [contra] as regras atuais. N�o aceitar quando as pessoas dizem que voc� deve aprender mais e trabalhar mais."


Xi Jinping
O presidente chin�s Xi Jinping alertou recentemente contra o tang ping (foto: Getty Images)

Isso pode soar quase subversivo na China. O sentimento que ele expressa � t�o difundido que at� mereceu um aviso expl�cito do presidente Xi Jinping, em um artigo no di�rio do Comit� Central do Partido Comunista publicado em outubro passado.

"� preciso evitar a solidifica��o dos estratos sociais, suavizar os canais de ascens�o [social], criar oportunidades para que mais pessoas se tornem ricas, formar um ambiente de desenvolvimento onde todos participem e evitar a 'involu��o' e o 'isolamento'", escreveu.

Nenhuma dessas tens�es intergeracionais � exclusiva da China.

Tanto nos Estados Unidos, quanto na Europa, os economistas falam de uma "Grande Ren�ncia", com milh�es de trabalhadores se aposentando, desistindo ou se recusando a aceitar empregos que consideram in�teis ou n�o recompensadores.

Ent�o, "ficar deitado" poderia ser a vers�o chinesa dessas tend�ncias?

A doutora Lauren Johnston, pesquisadora associada do Instituto da China da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, diz que a situa��o na China tem diferentes causas.

Em primeiro lugar, h� jovens migrantes rurais em Pequim ou Xangai, que agora percebem "o quanto est�o atrasados, em termos de ganhar dinheiro suficiente para comprar uma casa ou competir com os jovens da cidade que cresceram falando ingl�s e vestindo roupas sofisticadas".

Johnston explica que alguns desse grupo podem agora estar pensando em voltar para suas cidades natais e aceitar empregos com sal�rios mais baixos para que possam estar com suas fam�lias.

Por outro lado, h� os filhos de pais mais ricos e bem-sucedidos que n�o est�o "t�o famintos quanto os super dedicados ao sucesso das fam�lias mais pobres".

Ela acredita que a chamada "cultura do tigre" da China � uma barreira adicional, onde os pais se sentem sob intensa press�o para ajudar seus filhos a ter sucesso, algo que a escola sozinha n�o pode fazer.

Eles acham que precisam pagar por aulas extras de matem�tica, chin�s, ingl�s e m�sica, ou se preparar para exames de admiss�o competitivos.


Estudiantes chinos
(foto: Getty Images)

Resta saber onde tudo isso vai dar em um momento em que a China enfrenta um cen�rio econ�mico dif�cil: desacelera��o do crescimento, aumento da d�vida e uma poss�vel forte retra��o do setor imobili�rio do pa�s.

Quanto a Jeff, ap�s press�o dos pais, ele finalmente conseguiu outro emprego, mas diz que � um trabalho muito menos exigente.

Ele ganha metade do que ganhava antes, mas diz que tem muito mais flexibilidade e planeja ficar nele por enquanto.

"Vou poder continuar fazendo todos os meus hobbies que descobri durante meu tempo 'deitado', como esquiar e escalar. Tenho tempo para fazer o que amo, estou muito satisfeito."

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