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Estado de Minas INVESTIGA��O

Morte de 200 beb�s: as falhas que causaram esc�ndalo sobre partos no Reino Unido

Pelo menos 201 beb�s podem ter morrido em hospitais do NHS, servi�o de sa�de p�blica do Reino Unido, por causa de falhas sem precedentes, segundo relat�rio.


31/03/2022 07:47 - atualizado 31/03/2022 08:18


Rhiannon Davies (esquerda) abraça Kayleigh Griffiths, após o lançamento do relatório final de Donna Ockenden
As m�es Rhiannon Davies e Kayleigh Griffiths, que perderam seus filhos, foram elogiadas por sua coragem em fazer campanha para a investiga��o sobre as mortes no hospital (foto: PA Media)

Falhas catastr�ficas em procedimentos do sistema de sa�de p�blico brit�nico (NHS, na sigla em ingl�s) podem ter levado � morte de mais de 200 beb�s e nove mulheres, al�m de ter causado danos que mudaram a vida de outras dezenas de crian�as.

A parteira-s�nior Donna Ockenden examinou as pr�ticas m�dicas relativas servi�os de maternidade do Shrewsbury and Telford Hospital NHS Trust (SaTH) ao longo de 20 anos. Os casos ocorreram em Shropshire, no oeste da Inglaterra.

O relat�rio revelou que mortes prematuras de beb�s muitas vezes n�o eram investigadas, al�m de os pais das crian�as n�o terem sido ouvidos.

Para a pesquisadora, as "falhas no atendimento se repetiram" e algumas m�es foram at� consideradas culpadas por suas pr�prias mortes.

O SaTH pediu desculpas �s fam�lias afetadas e descreveu o relat�rio como "profundamente angustiante". O �rg�o afirmou que muitas mudan�as destacadas por Ockenden j� foram introduzidas.

Kayleigh Griffiths, cuja filha Pippa morreu em 2016, disse que as palavras da entidade "n�o ser�o suficientes".

"N�s paramos de receber relatos de mau atendimento no SaTH, mas n�o temos certeza de que foram feitas melhorias", disse ela.

O relat�rio, que examinou quase 1.600 casos, � considerado o maior documento da categoria na hist�ria do NHS.


Kayleigh e Colin Griffiths
Kayleigh e Colin Griffiths fizeram campanha para a investiga��o depois que sua filha Pippa morreu (foto: BBC)

Les�es cerebrais graves

O relat�rio revelou que 201 beb�s poderiam ter sobrevivido se o SaTH tivesse fornecido melhores cuidados m�dicos, relacionados a 70 mortes neonatais e 131 casos de natimortos.

Houve tamb�m 29 casos de beb�s que sofreram les�es cerebrais graves e 65 incidentes de paralisia cerebral.

Rhiannon Davies, cuja filha Kate morreu em 2009, disse que os n�meros "n�o contam toda a hist�ria" do impacto sofrido pelas fam�lias.

"Agora sabemos que este � um servi�o m�dico que n�o investigou, n�o aprendeu e n�o melhorou", disse. "Isso resultou em trag�dias e incidentes que mudaram a vida de muitas de nossas fam�lias".


Rhiannon Davies (à esquerda) perdeu a filha em 2009. À direita, a pesquisadora e parteira Donna Ockenden, que investifou as falhas de atendimento em hospital
Rhiannon Davies (� esquerda) perdeu a filha em 2009. � direita, a pesquisadora e parteira Donna Ockenden, que investifou as falhas de atendimento em hospital (foto: PA Media)

Dados m�dicos em post-its

Em uma audi�ncia no Parlamento brit�nico, o secret�rio de Sa�de do Reino Unido, Sajid Javid, contou aos parlamentares que os hospitais administrados pelo SaTH mantinham informa��es cl�nicas importantes sobre pacientes em pequenos post-its, que depois foram varridos para a lixeira por faxineiros.

Em todos os casos identificados pelo inqu�rito, bem como em nove mortes de mulheres, descobriu-se que um cuidado m�dico melhor "poderia" - ou "seria razoavelmente esperado" - ter feito a diferen�a.

Ockenden citou exemplos de monitoramento ineficaz, como an�lises do crescimento do feto, al�m de uma cultura hospitalar de relut�ncia em realizar cesarianas. Os problemas teriam se repetido, "resultando na morte de muitos beb�s durante o parto ou logo depois de nascer".

"As raz�es para essas falhas s�o claras", disse a pesquisadora. "N�o havia pessoal suficiente, faltou treinamento cont�nuo, faltou investiga��o e governan�a efetivas, al�m de uma cultura de n�o ouvir as fam�lias envolvidas".

Principais conclus�es do relat�rio:

- Havia uma cultura hospitalar de n�o investigar erros, al�m de falhas no escrut�nio externo;

- Os pais n�o foram ouvidos quando levantaram preocupa��es sobre os cuidados que receberam;

- Quando os casos foram examinados, as respostas foram descritas como falta de "transpar�ncia e honestidade";

- O SaTH falhou em aprender com seus erros, levando a falhas recorrentes e quase id�nticas;

- Havia uma cultura de bullying, ansiedade e medo de se manifestar entre os funcion�rios, sentimentos que "persistem at� o momento."

- As cesarianas eram desencorajadas, muitas vezes levando a resultados ruins.

Ao todo, Donna Ockenden apontou 60 melhorias espec�ficas que podem ser feitas no SaTH e disse que "n�o h� desculpas" para n�o implant�-las daqui para frente.

O relat�rio encontrou uma cultura de n�o investigar erros, com centenas de casos em que o SaTH falhou ao examinar adequadamente as mortes ou realizar investiga��es de incidentes graves.

Entre 2011 e 2019, 40% dos natimortos e 43% dos �bitos neonatais sequer tiveram investiga��o. Dos casos que foram examinados, a equipe de Ockenden classificou as apura��es como ruins em quase metade dos natimortos e mais de um ter�o dos casos neonatais.

Em 2020, a pol�cia de West Mercia tamb�m abriu uma investiga��o, chamada Opera��o Lincoln, para descobrir se havia evid�ncias para apoiar um caso criminal contra o SaTH ou qualquer indiv�duo envolvido.

O investigador da pol�cia brit�nica Damian Barratt disse que a investiga��o est� "muito ativa", embora nenhuma acusa��o tenha sido feita at� agora.


Chelsey Campbell, Carley McKee, Colin Griffiths, Fiona Carr, Charlotte Cheshire, Rhiannon Davies, Richard Stanton, Kayleigh Griffiths, Donna Ockenden, Nicky Lauder, David Boylett, Hayley Matthews, Steph Hotchkiss, Julie Rawlings, Neil Rawlings and Sonia Leigh no The Mercure Shrewsbury Albrighton Hotel, Shropshire.
Donna Ockenden, em foto com as fam�lias afetadas, disse que a falta de aprendizado significava que 'os erros eram recorrentes' (foto: PA Media)

An�lise de Michael Buchanan, rep�rter de Assuntos Sociais da BBC

Os n�meros s�o enormes e chocantes mesmo para aqueles de n�s que h� muito suspeitavam de que havia algo muito errado com o Hospital Shrewsbury and Telford NHS Trust.

Mas o ponto crucial que o relat�rio destaca s�o as fam�lias que sofreram em particular e �s vezes foram enganadas por uma gest�o que parecia desinteressada em ajud�-los a entender o que aconteceu ou em aprender alguma li��o.

Lendo o relat�rio, parece ter havido um desrespeito quase casual pela vida - as m�es que perderam seus beb�s contam ter ouvido da entidade m�dica que iriam ficar bem, porque eram jovens e poderiam ter outros filhos.

A quest�o central agora � como os hospitais administrados pela SaTH v�o convencer as mulheres de Shropshire de que atualmente est�o fornecendo um servi�o seguro. As observa��es de Donna Ockenden sobre cuidado e cultura hospitalar em 2022 levantam quest�es significativas sobre a capacidade da equipe de lideran�a de conduzir as muitas mudan�as que s�o claramente necess�rias.

'Culpando as m�es'

Nas ocasi�es em que os casos foram investigados, o SaTH n�o conseguiu identificar pontos de melhoria e perdeu oportunidades de aprendizado, segundo o relat�rio.

Donna Ockenden acrescentou que a entidade culpava as m�es por resultados ruins e at� mesmo em alguns casos pela morte de seus pr�prios beb�s.

O inqu�rito foi encomendado pela primeira vez em 2017, ap�s uma campanha de duas fam�lias que perderam seus beb�s.

Kate, filha de Richard Stanton e Rhiannon Davies, morreu horas ap�s o nascimento em mar�o de 2009, enquanto a filha de Kayleigh e Colin Griffiths, Pippa, morreu em 2016, v�tima de uma infec��o pela bact�ria Streptococcus.

Griffiths afirmou que o relat�rio s�o "200 p�ginas de fam�lias prejudicadas".

"� uma vergonha que eles n�o tenham aprendido quando lhes dissemos quais eram os problemas", afirmou, durante uma reuni�o de pais.

"N�s visitamos o t�mulo de Pippa nesta manh� e dissemos a ela: 'isso � o que fizemos por voc�'."

O Conselho de Enfermagem e Obstetr�cia (NMC) do Reino Unido afirmou que as conclus�es do relat�rio s�o "terr�veis".

"Cada um desses casos � uma trag�dia familiar, com alguns afetados mais de uma vez", disse Andrea Sutcliffe, presidente-executiva do �rg�o.

"� devido � pura determina��o e bravura das fam�lias em luto que essas falhas sist�micas agora foram reconhecidas. Mulheres e fam�lias deveriam ter sido ouvidas e levadas a s�rio muito antes."

O ex-secret�rio de sa�de Jeremy Hunt, que encomendou o relat�rio ap�s ser abordado por algumas fam�lias, disse que as descobertas foram "muito piores" do que ele poderia imaginar e esperava que fosse um "despertar".

J� o atual secret�rio de Sa�de, Sajid Javid, afirmou que as descobertas pintaram um "quadro tr�gico e angustiante de repetidos fracassos no atendimento".


Sajid Javid
Sajid Javid, secret�rio de sa�de do Reino Unido (foto: PARLAMENTO DO REINO UNIDO)

Dirigindo-se � C�mara dos Comuns, o secret�rio afirmou que Ockenden havia descrito a ele "supervis�es b�sicas em todos os n�veis".

"Em vez de momentos de alegria e felicidade para essas fam�lias, sua experi�ncia de maternidade foi de trag�dia e ang�stia", disse ele.

Javid tamb�m destacou "problemas s�rios" com a cultura profissional das maternidades do SaTH.

Ele disse aos parlamentares que dois ter�os dos funcion�rios entrevistados relataram testemunhar casos de bullying, enquanto alguns servidores "retiraram sua coopera��o com o relat�rio semanas ap�s a publica��o".

Ockenden havia dito anteriormente que a equipe estava com medo de falar sobre falhas por causa de "uma cultura de intimida��o" por parte da dire��o do hospital. Funcion�rios foram "aconselhados" pelos gerentes a n�o participar da investiga��o sobre os problemas na unidade.

J� Feryal Clark, secret�rio de atendimento ao paciente do NHS, afirmou: "Nenhuma mulher deveria ter que enfrentar a ida ao hospital para dar � luz e n�o saber se ela e seu beb� sair�o vivos".

"Estes n�o foram apenas incidentes pontuais ou isolados de neglig�ncia, foi uma falha institucional de um sistema que n�o aproveitou as muitas oportunidades para perceber que tinha um problema s�rio".

Lucy Allan, deputada do Partido Conservador, de Telford, perguntou se o que foi visto no SaTH era indicativo de uma cultura em que "as vozes das mulheres n�o s�o ouvidas" e pediu a Javid que fizesse "tudo o que puder" para aumentar a responsabilidade da alta administra��o em todo o NHS.

Javid respondeu: "Quero tranquiliz�-la de que vamos implementar todas as recomenda��es deste relat�rio, mas ainda mais amplas do que isso, quando se trata das vozes das mulheres que estar�o no centro da pr�xima estrat�gia de sa�de da mulher".

A deputada Helen Morgan, do Partido Liberal Democrata, disse que a morte dos beb�s "n�o devem ser em v�o".

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse anteriormente que "seu cora��o estava com as fam�lias". E acrescentou: "Toda mulher que d� � luz tem direito a um parto seguro".

O relat�rio de Donna Ockenden pede mais financiamento, treinamento e responsabilidade em todos os servi�os de maternidade do Reino Unido, bem como melhores cuidados p�s-natais e para fam�lias enlutadas.


Princess Royal Hospital
O SaTH administra o Princess Royal Hospital de Telford e o Royal Shrewsbury Hospital (foto: BBC)

"O legado deste relat�rio deve ser um servi�o de maternidade em toda a Inglaterra que seja adequadamente financiado, com boa equipe, treinado, motivado e compassivo e disposto a aprender com as falhas no atendimento", disse ela.

J� Louise Barnett, executiva-chefe do Shrewsbury and Telford Hospital NHS Trust, disse que o relat�rio foi "profundamente angustiante".

"Oferecemos nossas sinceras desculpas pela dor e ang�stia causadas por nossas falhas", disse ela. "Realizamos todas as a��es que nos pediram ap�s o primeiro relat�rio Ockenden, e devemos isso �s fam�lias. N�s falhamos. Vamos cuidar das fam�lias de hoje e do futuro, vamos continuar a fazer melhorias, por isso estamos entregando o melhor atendimento poss�vel para as comunidades que servimos."

Durante seu discurso na C�mara dos Comuns, Javid tamb�m destacou como "m�ltiplas oportunidades" de abordar quest�es que foram ignoradas pelos reguladores, com a Comiss�o de Qualidade de Atendimento do NHS classificando os servi�os de maternidade como inadequados para a seguran�a apenas em 2018, o que ele disse ser "inaceit�vel".

Donna Ockenden tamb�m descreveu como os comiss�rios locais n�o conseguiram identificar problemas no servi�o prestado � popula��o, enquanto os reguladores nacionais e �rg�os externos n�o entenderam a extens�o do que estava acontecendo.

O NHS Shropshire, Telford e Wrekin Clinical Commissioning Group (CCG), �rg�o que fiscaliza o servi�o m�dico do NHS na regi�o, disse lamentar profundamente as "experi�ncias horr�veis pelas quais essas fam�lias passaram e que n�o conseguimos fornecer os cuidados que mereciam".

"Trabalharemos com nossos parceiros em todo o sistema de sa�de e assist�ncia para garantir que mais melhorias sejam feitas � luz deste relat�rio. Vamos continuar a tomar todas as a��es necess�rias para garantir que as mulheres que usam nossos servi�os de maternidade recebam o melhor atendimento".

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