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Estado de Minas CULTIVO DE CANNABIS

Brasileira conta como � trabalhar nas fazendas ilegais de maconha da Calif�rnia

Programadora relata que foi em busca de promessa de muito dinheiro em pouco tempo. A experi�ncia, por�m, teve muitos momentos dif�ceis.


02/04/2022 12:06 - atualizado 02/04/2022 12:52

A programadora brasileira Amanda B.*, de 28 anos, foi uma das estrangeiras que decidiu ir para Calif�rnia, nos Estados Unidos, e viver a dura rotina de um "trimmigrant". Eles s�o respons�veis por colher e trimar a maconha, durante meses, em fazendas ilegais espalhadas pelo Estado americano.

O uso recreativo j� � liberado no territ�rio desde 2018, sendo que somente maiores de 21 anos podem consumir. No entanto, devido �s altas taxas e licen�as impostas aos produtores legais, o mercado informal cresce a cada ano.

Conhecida como Emerald Triangle ("Tri�ngulo das Esmeraldas"), a �rea � respons�vel por ser a maior regi�o produtora de maconha em solo americano, atraindo imigrantes que desejam fazer muito dinheiro em pouco tempo.

Amanda chegou a ganhar entre entre US$ 100 e US$ 150 (entre R$ 500 a R$ 750) por dia nas cinco semanas que trabalhou l�. Apesar do bom dinheiro, ela n�o recomenda a experi�ncia — que � crime — a ningu�m. Pessoas pegas pela pol�cia podem ser deportadas ou expulsas dos EUA e at� mesmo responder pelo crime no Brasil.

As autoridades americanas v�m promovendo a��es contra as fazendas ilegais de maconha. Segundo dados oficiais e balan�os de 2021 do Departamento de Justi�a da Calif�rnia, o governo estadual erradicou 1,2 milh�o de plantas de maconha e apreendeu 81 toneladas da droga. Em 491 opera��es policiais foram apreendidas 165 armas. O governo n�o informa quantas pessoas foram presas.

"Voc� v� pessoas sentadas nas cal�adas com placas procurando fazendas de maconhas. Os fazendeiros v�o andando de carro pela cidade", diz � BBC News Brasil.

Trabalho abusivo

Assim como eles, a programadora tamb�m foi em busca dessa promessa, j� que precisava se mudar para Europa no mesmo ano e n�o tinha recursos financeiros suficientes. Diferentemente de muitos que procuram a regi�o do "Tri�ngulo Esmeralda" para come�ar o trabalho, ela estava na cidade de Santa Cruz. "N�o � algo t�o seguro de se fazer. Tem muita gente da Europa e do M�xico. Eu s� fui porque um amigo j� tinha ido algumas vezes", conta.

Com a ajuda desse amigo, ela embarcou para os EUA e como a atividade n�o � regulamentada, ela entrou no pa�s com o visto de turista, seguiu pelas cidades da Calif�rnia e depois chegou � planta��o.

Quando chegou � fazenda de maconha em Santa Cruz, Amanda j� sabia que a "hospedagem" n�o ia ser das melhores. No entanto, n�o esperava condi��es t�o prec�rias como encontrou na que ficou.

Dividindo o espa�o com outras seis pessoas, incluindo brasileiros e estrangeiros, ela conta que eles precisavam dormir em barracas e �gua corrente era somente para uma pessoa. Fazer xixi e coc� tamb�m eram bem dif�ceis. "Coc� eu fazia em um balde e xixi no ch�o. Banho tamb�m era de balde", relembra. Tamb�m n�o havia sinal de celular, internet e tampouco �gua quente.

Mesmo diante do frio, o �nico trailer que podia servir de abrigo era habitado por ratos � noite. Por l�, existia um cooler, no qual eles podiam deixar alguns mantimentos para gelar. H� fazendas, segundo ela, em que as condi��es de trabalho s�o um pouco melhores, mas quase nenhuma oferece um bom ambiente para ficar.

Os gastos tamb�m chegam a ser m�nimos, j� que os trimmigrants n�o pagam por estadia e s� precisam comprar mantimentos. A ida ao mercado era feita da forma mais discreta poss�vel, pois qualquer descuido poderia ensejar uma den�ncia � pol�cia. A prepara��o envolvia tomar banho, trocar de roupa e limpar bem as unhas, que ficavam pretas devido ao processo de trima da maconha. "Os dedos ficam pretos por conta do haxixe", diz.

Colher, secar e trimar

Geralmente, os donos das fazendas come�am a plantar a maconha ao longo do ano e n�o precisam de muitos funcion�rios para o servi�o. Na �poca de outono no pa�s, as colheitas come�am e h� ofertas de trabalho nas planta��es.

Por �ltimo, � o processo de trima, que retira as folhas de cannabis pr�ximas das flores, conhecidas como buds. � nessa fase que os fazendeiros recrutam mais pessoas, j� que o trabalho demora horas. "A gente colhe, deixa secando e vai pegando os galhos. Mas o principal � trimar a maconha", conta Amanda.

A rotina tinha pouco descanso: ela acordava cedo, tomava caf� e come�ava o processo. As pausas s� ocorriam para refei��es, idas ao banheiro e para dormir � noite.

Durante a colheita, os produtores costumam pagar 80 d�lares por hora de trabalho. J� quando eles trimam, os valores variam entre US$ 120 e US$ 150 por meio quilo de maconha trimada.

Como n�o tinha muita experi�ncia, a brasileira demorava em torno 12 horas por dia para atingir essa meta. J� os mais experientes costumavam fazer o trabalho em at� oito horas. Amanda conta ainda que o servi�o era bem organizado e tinha at� uma esp�cie de gerente, anotando todas as pesagens e valores.


Antes e depois do processo de trimar a maconha
Imagens feitas pela programadora brasileira mostram o antes e depois do processo de trimar a maconha (foto: Arquivo pessoal)

Segundo ela, o dono do local tinha pouco mais de 30 anos e ganhava muito dinheiro com o "neg�cio". Ele ainda administrava uma outra fazenda maior. "� absurdamente muita grana . A m�o de obra l� � muito barata. Para brasileiro que ganha em d�lar soa maravilhoso, mas para a galera de l� n�o vale muito a pena", ressalta.

Perigo e morte

Mesmo n�o passando nenhuma situa��o violenta ou de risco extremo, ela conta que n�o iria se n�o estivesse na companhia do amigo.

Muitas fazendas oferecem trabalho ao imigrante, mas durante a colheita e processo de trima, muitos deles sofrem ass�dio moral, sexual e diversos constrangimentos.

� muito comum ouvir relatos de pessoas desaparecidas, placas perguntando quando ele foi visto pela �ltima vez e outras situa��es.


Trecho próximo a montanhas na região norte da Califórnia
Fazenda em que programadora trabalhou est� localizada na regi�o norte da Calif�rnia, em �rea pr�xima �s montanhas (foto: Arquivo pessoal)

Ela conta ainda que ouviu hist�rias de mulheres que eram obrigadas pelos donos das planta��es a trabalharem sem a parte de cima da roupa com uma arma apontada para o rosto. Diante desses casos, como o trabalho � ilegal, n�o h� muito o que fazer e recorrer � pol�cia n�o � uma op��o vi�vel.

Em uma situa��o dif�cil, a brasileira e os outros trimmigrants quase foram pegos pela pol�cia americana. Quando estavam trabalhando, um helic�ptero da corpora��o sobrevoou o local e todos come�aram a se esconder em �rvores. A pr�tica ocorria com certa frequ�ncia, mas quando contaram ao dono, foram informados que os agentes nunca voltavam.

Brigas e sa�de mental abalada

A princ�pio, a brasileira desejava passar dois meses nas planta��es de maconha. Mas mesmo achando que ia aguentar sem nenhum problema, o cansa�o mental superava o f�sico. Ela conta que somente na primeira semana de colheita sentiu o corpo.

Segundo Amanda, n�o � muito dif�cil ver pessoas brigando entre elas por dinheiro ou tendo s�rios problemas mentais ap�s o trabalho ou at� mesmo durante a jornada. "Eu pensava que s� queria meu dinheiro e ir embora dali. Falaram que o mental ficava abalado, mas eu n�o botei f�. As pessoas ficam meio malucas", diz.

Situa��es estranhas tamb�m foram vividas pela brasileira. Seu grupo come�ou a brigar entre si e o clima foi ficando cada vez pior. Como a inten��o era permanecer dois meses, ela disse que tentou aguentar mais um pouco, mas a sua perman�ncia ficou insustent�vel. Mesmo tentando mudar para uma fazenda maior, n�o havia mais vaga, ela desistiu do trabalho e retornou ao Brasil.

Embora tenha obtido metade do valor, ela conta que a experi�ncia foi muito diferente de tudo que j� passou na vida. "A parte emocional � a que mais pega. Do resto eu me virei bem", diz. Contudo, quem trabalha nas planta��es por per�odos de dois ou tr�s meses consegue lucrar um bom valor, segundo a programadora.

Questionada se iria de novo, ela � categ�rica na resposta: n�o. "Vou poder contar isso para os meus netos. Mas � um ambiente muito ganancioso, competitivo e tem gente que se deixa levar. A pessoa fica no meio de bastante coisa ruim", afirma.

Ela ainda ressalta que n�o aconselha ningu�m ir sem conhecer algu�m pr�ximo no local ou "s� pela experi�ncia", j� que pode ser muito perigoso. "Eu estava em um ambiente seguro e me sentia segura. Mas a maioria das pessoas tem medo", conclui.

* O nome da programadora foi omitido para preservar sua identidade.

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