
Desta vez, contudo, a vit�ria de Macron n�o parece que vir� t�o f�cil.
As proje��es para os resultados do primeiro turno, que aconteceu no �ltimo domingo (10/4), mostram como o voto �til reescreveu o mapa eleitoral.
Os eleitores se reuniram em tr�s grandes campos: Macron, a direita radical e a esquerda radical. Nos �ltimos dias de campanha, muitas pessoas que estavam considerando outros candidatos decidiram apoiar um dos favoritos.
Houve, assim, uma grande transfer�ncia de votos de �ric Zemmour - da direita radical nacionalista - para Marine Le Pen. � poss�vel que alguns dos eleitores conservadores do Partido Republicano conservador tenham feito o mesmo.
� esquerda, muitos dos eleitores se convenceram de que nem a socialista Anne Hidalgo nem o ecologista Yannick Jadot poderiam chegar ao segundo turno. Resolveram, ent�o, dar o voto a Jean-Luc M�lenchon, ainda que n�o fosse seu candidato favorito, na tentativa de manter um nome da esquerda na disputa.
Entre os eleitores de centro, muitos franceses que em outras condi��es teriam escolhido Val�rie P�cresse, de Os Republicanos, resolveram dar voto ao atual presidente. Por qu�? Porque estavam genuinamente com medo de que Le Pen e/ou M�lenchon ganhassem muita for�a nas urnas.

Lembrem-se de que, no sistema eleitoral da Fran�a, apenas os dois primeiros colocados no primeiro turno se qualificam para o segundo, e uma pequena margem pode fazer grande diferen�a. A perspectiva de um segundo turno entre Le Pen e M�lenchon n�o era totalmente imposs�vel.
O resultado das urnas significa duas coisas.
Uma delas � a devasta��o total enfrentada pelos dois partidos tradicionais que vinham se revezando no governo franc�s desde 1958 - a direita conservadora e a esquerda socialista. Este foi um processo iniciado por Macron h� cinco anos, mas que agora se viu totalmente conclu�do.
Os candidatos de ambos os partidos - e certamente Anne Hidalgo dos socialistas - podem inclusive n�o ter atingido o limite m�nimo de 5% que qualifica um partido para pedir reembolso dos custos da campanha. O valor ser� alto, de milh�es de euros, mas pior � a humilha��o p�blica. Podemos esperar s�rios conflitos internos nas siglas.
Macron operou de tal forma que a divis�o na pol�tica francesa � agora definitivamente a que ele buscava: entre seu pr�prio "centrismo realista" e "abertura ao mundo" e o "extremismo" de seus oponentes. O "extremismo nacionalista" de Le Pen e o "extremismo ut�pico" de M�lenchon.

Essa divis�o o havia beneficiado at� agora, permitindo-lhe agregar as chamadas for�as "respons�veis" da esquerda e da direita, esmagando a oposi��o.
A segunda li��o deste primeiro turno, entretanto, deve ser-lhe motivo de preocupa��o.
� que as chamadas for�as "irrespons�veis" dos extremos - sua oposi��o - est�o cada vez mais fortes.
Como o comentarista pol�tico veterano Alain Duhamel disse na noite de domingo, "os partidos anti-sistema agora t�m a lealdade da maioria dos franceses".

Se voc� adicionar o voto de Marine Le Pen ao de �ric Zemmour e de Nicolas Dupont-Aignan, tamb�m da direita radical, ver� que esse polo recebeu 33% dos votos - sete pontos percentuais a mais do que em 2017.
Se somarmos os votos da esquerda radical - para M�lenchon e para os trotskistas Philippe Poutou e Nathalie Arthaud - ao total de votos dados a todos os "partidos anti-sistema", esse n�mero supera 50% dos votos v�lidos.
Muitas dessas pessoas acabar�o votando em Macron no segundo turno, pela mesma raz�o que o fizeram em 2017 - porque, para eles, ver a direita radical no poder � inconceb�vel. Haver� outros, por�m, que dever�o se abster, votar em branco ou em Le Pen.
A verdade � que o voto anti-Le Pen e o voto anti-Macron est�o convergindo; o primeiro diminuindo e o segundo, crescendo.
� por isso que, desta vez, o segundo turno n�o deve trazer a mesma vit�ria confort�vel para Macron.
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