
Ela come�ou a escrever notas durante a pandemia da covid-19, testemunhando como muitas de suas colegas que moravam em hot�is foram jogadas na rua. Assim, juntou-se a um grupo de mulheres que alternam o trabalho sexual com o jornalismo.
"� uma forma de gritar � sociedade, �s autoridades, o que est� acontecendo conosco", diz Paloma, de 28 anos, em sua casa no norte da capital mexicana.
"N�o � um hobby", continua a mulher transexual. "N�o podemos dizer coisas irresponsavelmente. Temos que investigar e coletar informa��es".
Ela e outras dez mulheres reportam para a revista mensal gratuita Noticalle, da ONG Brigada Callejera.
"� um meio de comunica��o feito por profissionais do sexo para profissionais do sexo, principalmente", que n�o se sentiam representadas na m�dia comercial, explica a diretora e fundadora da Brigada Callejera, Elvira Madrid.
- Rigor jornal�stico -

Cinco membros distribuem esta publica��o de m�o em m�o todos os meses entre prostitutas no centro da Cidade do M�xico.
"Isso � jornalismo comunit�rio (...) porque a gente recapitula tudo o que vemos no dia a dia", diz Paloma a uma mulher que est� em uma esquina e l� a edi��o com aten��o.
"Nos ajuda a descobrir o que est� acontecendo em outros pontos, onde est�o outras colegas", comenta a mulher.
A revista � feita de tr�s folhas em tamanho carta dobradas ao meio e grampeadas. Na capa, h� uma caricatura de duas prostitutas com a palavra Noticalle ao fundo, tendo a letra "O" representada por um preservativo. S�o impressos 1.000 exemplares por m�s.
Em sua edi��o de junho, de n�mero 26, o ve�culo exp�e que as profissionais do sexo perderam at� 70% de sua renda por conta da pandemia e sofrem extors�o do crime organizado. Relata ainda o caso de uma mulher transexual ind�gena e profissional do sexo que ficou 14 anos presa, acusada "injustamente" do assassinato de seu parceiro.
Elvira seleciona as mat�rias que s�o publicadas, e um colaborador externo atua como designer e revisor.
Paloma e suas colegas, diz Elvira, frequentam regularmente uma oficina permanente de jornalismo da Brigada Callejera.
"Precisamos ter cuidado com as fontes de informa��o", insiste uma professora de jornalismo.
- Aprendizagem -

Nesse dia, ela entrevista ind�genas otomi que exigem, durante protesto em frente ao Pal�cio Nacional, moradia gratuita do governo, j� que sua comunidade foi deslocada do estado de Quer�taro por falta de �gua.
Com muito tato, finalmente obt�m as informa��es necess�rias.
O of�cio "me deu uma vis�o mais n�tida das not�cias. J� sou capaz de analisar textos, de ver a situa��o social e pol�tica do mundo", explica Krisna, que tamb�m se declara ativista.
Ela considera que, pelo jornalismo, pode reagir de outra forma aos abusos policiais. "Antes, nos defend�amos com golpes", relembra Krisna.
Suas habilidades como jornalista fizeram dela coorganizadora de "Putas, activistas y periodistas, ¿por qu� lo hicimos?", um livro de entrevistas escrito por profissionais do sexo com outras colegas que participaram da oficina Aquiles Baeza, ministrada pelo colunista e diretora do Desinform�monos, Gloria Mu�oz.
O jornalismo, conclui Krisna, "me ajuda na minha autoestima, no meu valor como ser humano". Agora ela quer estudar direito.
Em 2014, o governo da Cidade do M�xico come�ou a entregar credenciais a essas trabalhadoras para proteg�-las de policiais que cobravam dinheiro, ou favores sexuais, para deix�-las trabalhar, assim como para garantir-lhes assist�ncia m�dica.
Ainda assim, Paloma e outras colegas dizem que, na pr�tica, continuam a ser v�timas de discrimina��o nos centros de sa�de e at� nas depend�ncias oficiais.