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Estado de Minas M�XICO

Profissionais do sexo exercem jornalismo no M�xico

"� uma forma de gritar � sociedade, �s autoridades, o que est� acontecendo conosco", diz Paloma, de 28 anos


15/07/2022 11:52 - atualizado 15/07/2022 12:34

Paloma Paz
Paloma Paz, pronta para o trabalho (foto: CLAUDIO CRUZ / AFP)
Paloma Paz coloca uma peruca preta e saltos rosa antes de sair para uma esquina na Cidade do M�xico para trabalhar como profissional do sexo. Em frente ao espelho, fala com entusiasmo sobre sua atividade paralela: o jornalismo, que lhe permite "denunciar injusti�as".

Ela come�ou a escrever notas durante a pandemia da covid-19, testemunhando como muitas de suas colegas que moravam em hot�is foram jogadas na rua. Assim, juntou-se a um grupo de mulheres que alternam o trabalho sexual com o jornalismo.

"� uma forma de gritar � sociedade, �s autoridades, o que est� acontecendo conosco", diz Paloma, de 28 anos, em sua casa no norte da capital mexicana.

"N�o � um hobby", continua a mulher transexual. "N�o podemos dizer coisas irresponsavelmente. Temos que investigar e coletar informa��es".

Ela e outras dez mulheres reportam para a revista mensal gratuita Noticalle, da ONG Brigada Callejera.

"� um meio de comunica��o feito por profissionais do sexo para profissionais do sexo, principalmente", que n�o se sentiam representadas na m�dia comercial, explica a diretora e fundadora da Brigada Callejera, Elvira Madrid.

- Rigor jornal�stico -


Integrantes da ONG que produz o jornal Noticalle
Integrantes da ONG que produz o jornal Noticalle (foto: CLAUDIO CRUZ / AFP)

Cinco membros distribuem esta publica��o de m�o em m�o todos os meses entre prostitutas no centro da Cidade do M�xico.

"Isso � jornalismo comunit�rio (...) porque a gente recapitula tudo o que vemos no dia a dia", diz Paloma a uma mulher que est� em uma esquina e l� a edi��o com aten��o.

"Nos ajuda a descobrir o que est� acontecendo em outros pontos, onde est�o outras colegas", comenta a mulher.

A revista � feita de tr�s folhas em tamanho carta dobradas ao meio e grampeadas. Na capa, h� uma caricatura de duas prostitutas com a palavra Noticalle ao fundo, tendo a letra "O" representada por um preservativo. S�o impressos 1.000 exemplares por m�s.

Em sua edi��o de junho, de n�mero 26, o ve�culo exp�e que as profissionais do sexo perderam at� 70% de sua renda por conta da pandemia e sofrem extors�o do crime organizado. Relata ainda o caso de uma mulher transexual ind�gena e profissional do sexo que ficou 14 anos presa, acusada "injustamente" do assassinato de seu parceiro.

Elvira seleciona as mat�rias que s�o publicadas, e um colaborador externo atua como designer e revisor.

Paloma e suas colegas, diz Elvira, frequentam regularmente uma oficina permanente de jornalismo da Brigada Callejera.

"Precisamos ter cuidado com as fontes de informa��o", insiste uma professora de jornalismo.

- Aprendizagem -

Profissional do sexo lê o Noticalle
Profissional do sexo l� o Noticalle (foto: CLAUDIO CRUZ / AFP)
Krisna, uma transexual de 51 anos, foi capacitada em outra oficina de jornalismo, o que lhe permite ser uma rep�rter espor�dica para a m�dia digital Disinform�monos.

Nesse dia, ela entrevista ind�genas otomi que exigem, durante protesto em frente ao Pal�cio Nacional, moradia gratuita do governo, j� que sua comunidade foi deslocada do estado de Quer�taro por falta de �gua.

Com muito tato, finalmente obt�m as informa��es necess�rias.

O of�cio "me deu uma vis�o mais n�tida das not�cias. J� sou capaz de analisar textos, de ver a situa��o social e pol�tica do mundo", explica Krisna, que tamb�m se declara ativista.

Ela considera que, pelo jornalismo, pode reagir de outra forma aos abusos policiais. "Antes, nos defend�amos com golpes", relembra Krisna.

Suas habilidades como jornalista fizeram dela coorganizadora de "Putas, activistas y periodistas, ¿por qu� lo hicimos?", um livro de entrevistas escrito por profissionais do sexo com outras colegas que participaram da oficina Aquiles Baeza, ministrada pelo colunista e diretora do Desinform�monos, Gloria Mu�oz.

O jornalismo, conclui Krisna, "me ajuda na minha autoestima, no meu valor como ser humano". Agora ela quer estudar direito.

Em 2014, o governo da Cidade do M�xico come�ou a entregar credenciais a essas trabalhadoras para proteg�-las de policiais que cobravam dinheiro, ou favores sexuais, para deix�-las trabalhar, assim como para garantir-lhes assist�ncia m�dica.

Ainda assim, Paloma e outras colegas dizem que, na pr�tica, continuam a ser v�timas de discrimina��o nos centros de sa�de e at� nas depend�ncias oficiais.


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