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Estado de Minas TERROR

Como app de entrega de comida ajudou a acharem torturador em delegacia

Um pedido de comida para viagem feito por um policial russo foi a pista que ajudou um grupo de mulheres, que haviam sido aterrorizadas por ele, a revelar sua verdadeira identidade. Entenda o caso.


12/09/2022 08:25 - atualizado 12/09/2022 12:25


'É ele', diz mensagem em inglês em imagem que reproduz mensagens online
"� ele", diz mensagem em ingl�s no momento em que mulheres identificam agressor no grupo do Telegram (foto: BBC)

Um pedido de comida para viagem feito por um policial russo foi a pista que ajudou um grupo de mulheres, que haviam sido aterrorizadas por ele, a revelar sua verdadeira identidade. Pela primeira vez, uma investiga��o da BBC conta a hist�ria de como elas conseguiram rastre�-lo.

As mulheres, a maioria com idades entre 19 e 25 anos, participaram de uma manifesta��o em Moscou (R�ssia), em mar�o, contra a invas�o russa da Ucr�nia. Elas foram rapidamente cercadas por policiais e colocadas na parte de tr�s de uma van da pol�cia.

A maioria n�o se conhecia, mas, apesar das circunst�ncias, o clima era ameno. Elas at� criaram um bate-papo em grupo do Telegram enquanto circulavam pela cidade at� a delegacia de Brateyevo.

No entanto, o que aconteceu em seguida foi muito pior do que elas esperavam.

Nas seis horas seguintes, elas sofreram abusos verbais e f�sicos que, em alguns casos, chegaram a tortura - uma mulher diz que ficou repetidamente sem oxig�nio quando um saco pl�stico foi colocado em sua cabe�a.


Anastasia e Marina
Anastasia e Marina, duas das mulheres que foram brutalmente interrogadas (foto: BBC)

O abuso foi cometido pelo mesmo oficial � paisana n�o identificado - alto, atl�tico, vestido com uma camisa de gola polo preta. Em seu grupo, elas o apelidaram de "homem de preto".

Duas das mulheres, Marina e Alexandra, gravaram secretamente �udio em seus telefones. Em uma delas, o policial pode ser ouvido gritando sobre sua "total impunidade".

Mas se o objetivo dele foi intimid�-las a ficarem em sil�ncio, ele falhou.

Ap�s a liberta��o, as mulheres discutiram no grupo do Telegram como poderiam descobrir quem ele era.

"Se continu�ssemos vivendo como se n�o tivesse acontecido, se public�ssemos as [grava��es] e cal�ssemos... muito provavelmente, eles pensariam que podem fazer isso de novo e que ficariam completamente impunes", diz Marina, estudande de 22 anos.

A imagem dele ficou marcada nas mem�rias delas, mas elas n�o conseguiram encontrar nenhum sinal dele nos sites da pol�cia. E sem nome para continuar a pesquisar, a m�dia social era um beco sem sa�da. Depois de mais de quinze dias de busca, eles estavam perto de desistir.

E ent�o as mulheres tiveram um avan�o.


Marina (abaixo) e Anastasia na van da polícia
Marina e Anastasia na van da pol�cia (foto: BBC)

No fim de mar�o, houve um grande vazamento de dados do popular aplicativo russo de entrega de comida Yandex Food. Ent�o o grupo teve uma ideia.

Elas come�aram a vasculhar os dados para ver se havia algum pedido para entrega na delegacia de Brateyevo no ano passado. Descobriram que havia - feitos por nove clientes diferentes. Poderia um deles ter sido o "homem de preto"?

A maioria dos dados do Yandex inclu�a apenas nomes e um n�mero de telefone. O grupo de mulheres usou isso para encontrar v�rios perfis de m�dia social para funcion�rios da delegacia, mas nenhuma foto se assemelhava ao agressor.

Finalmente chegaram a um dos nomes da lista: Ivan. Um nome russo popular, ent�o um dos mais dif�ceis de se identificar. O n�mero de telefone de Ivan, no entanto, revelou um caminho online - seis an�ncios classificados do site comercial russo Avito.ru. Mas a maioria dos an�ncios s� lhes dava a informa��o que eles j� sabiam - um primeiro nome.

Um, no entanto - para um carro Skoda Rapid vendido a 10 minutos de carro da delegacia de Brateyevo, postado em 2018 - inclu�a o nome completo do vendedor: Ivan Ryabov.

Com um sobrenome, elas poderiam procurar uma foto. E quase imediatamente, Anastasia, de 19 anos, encontrou um rosto que ela reconheceu.

"Comecei a chorar. N�o podia acreditar... que consegui fazer isso."

Ela enviou a foto para Marina, Alexandra e outras pessoas do grupo Telegram, que concordaram que haviam encontrado o "homem de preto".

Eles esperam que isso finalmente leve as autoridades a abrir uma investiga��o criminal.

As grava��es de �udio d�o uma vis�o arrepiante sobre o abuso das mulheres. Ryabov pode ser ouvido dizendo a Marina para responder �s suas perguntas ou "eu tiro minha bota e esmago sua cabe�a com ela".

Por 14 minutos, Marina diz que alvo de gritos e chutes de Ryabov - com uma pistola em seu rosto.

Anastasia, esperando do lado de fora, lembra-se de ouvir o som de gritos e pancadas. Quando ela tamb�m se recusou a cooperar com o interrogat�rio, ela diz que Ryabov bateu na cabe�a dela com uma garrafa de �gua, esvaziou seu conte�do sobre ela e, em seguida, puxou um saco pl�stico sobre sua cabe�a encharcada, onde o segurou contra o nariz e boca por 30-40 segundos de cada vez.

"Voc� pensa consigo mesmo - quanto tempo mais eu posso aguentar isso?", ela diz.

Alexandra, de 26 anos, tamb�m conseguiu gravar seu abuso, e em seu �udio ouvimos Ryabov se gabar de sua total impunidade. "Voc� acha que vamos ter problemas por isso? Putin nos disse para matar todos [do seu tipo]. � isso! Putin est� do nosso lado!"

Ele ent�o amea�a mat�-la, acrescentando: "E ent�o eles v�o me dar um b�nus por isso tamb�m."

Pelo menos 11 das detidas dizem que sofreram abuso f�sico nas m�os do "homem de preto".

Quando as mulheres divulgaram publicamente o �udio gravado em seus telefones no in�cio deste ano, um pol�tico russo pediu a��o - mas o Comit� de Investiga��o do pa�s considerou que havia "provas insuficientes" para justificar a abertura de uma investiga��o criminal sobre o caso.

As mulheres tamb�m queriam saber quem tinha autoridade sobre Ryabov naquele dia - e por que essa pessoa n�o foi contida.

Anastasia acredita que outro homem - que as mulheres chamavam de "homem de bege" - estava no comando naquela noite. Embora ele n�o estivesse presente no quarto 103 - onde as mulheres foram aterrorizadas - "toda a comunica��o ocorreu atrav�s dele", diz ela.

Uma das detidas o filmou secretamente na sala de espera da delegacia. Mas o v�deo tremido n�o era o bastante para continuar.


o 'homem de bege' em uma sala, olhando para baixo
Uma imagem do v�deo do "homem de bege" (foto: BBC)

A BBC obteve um relat�rio de pris�o de 6 de mar�o, que foi assinado pelo chefe interino da delegacia: tenente-coronel AG Fedorinov.

Encontramos ent�o uma reportagem de jornal local de 2012 que menciona Alexander Georgievich Fedorinov, com uma fotografia que parecia combinar com sua imagem.

Mas, como a foto tinha 10 anos, a BBC usou um software de reconhecimento facial para verificar novamente - e encontrou imagens correspondentes ao "homem de bege" no v�deo vinculadas a uma conta de m�dia social em nome de Alexander Fedorinov. Essa mesma conta foi marcada em um an�ncio online de vagas de emprego na delegacia de Brateyevo.

A BBC apresentou as alega��es - que o policial Ivan Ryabov iniciou e participou do abuso de detidos, e que esse abuso em alguns casos equivalia a tortura - tanto para Ryabov quanto para Fedorinov, e ao Comit� de Investiga��o da R�ssia. N�o houve resposta.

Ao descobrir a identidade de seu agressor, Marina, Anastasia e Alexandra esperam que alguma forma de justi�a e responsabilidade ocorra.

"Queremos possibilitar que a lei os afete", diz Marina. "Ningu�m pode fazer isso com outra pessoa, mesmo que seja um funcion�rio do governo."

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62832511

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