A elei��o op�s dois candidatos negros e foi acirrada desde o come�o; em quase toda a apura��o na noite desta ter�a-feira (6), eles apareciam com margens m�nimas de diferen�a.
Warnock venceu o ex-astro do futebol americano Herschel Walker, republicano. A Ge�rgia � o �nico estado que tem um segundo turno na elei��o legislativa, caso os candidatos ao Senado n�o alcancem 50% dos votos na primeira rodada —que ocorreu em 8 de novembro.
Foi uma elei��o acompanhada de perto pelo pa�s todo. Isso porque, com o resultado, o Partido Democrata ter� 51 assentos, do total de 100, do Senado a partir de 3 de janeiro —um a mais do que a legenda tem hoje. At� agora, o partido tinha a maioria m�nima para aprovar projetos, o que fazia com que qualquer dissid�ncia na base bastasse para travar propostas do governo, como ocorreu uma s�rie de vezes na primeira metade do mandato de Biden. Com a vit�ria de Warnock, o governo ter� capacidade maior para contornar dissid�ncias. Isso ser� importante tamb�m para confirmar nomea��es da presid�ncia a cargos como ju�zes, embaixadores ou chefes de �rg�os p�blicos, que precisam passar por escrut�nio do Senado.
Por fim, a maioria ser� essencial agora que Biden perdeu o controle da C�mara, j� que os republicanos conquistaram a maioria dos assentos na Casa e prometem travar a pauta do governo.
Warnock � pastor na Igreja Batista Eben�zer, a mesma em que pregou Martin Luther King Jr., um dos marcos da luta pelos direitos civis da popula��o negra em Atlanta. Ele foi eleito ao Senado pela primeira vez em 2020, em uma elei��o especial para substituir um parlamentar republicano que decidiu se aposentar. A base democrata se concentra sobretudo em Atlanta e outras regi�es mais urbanas, enquanto os republicanos t�m forte apelo nas amplas zonas rurais do estado do sul dos EUA.
Herschel Walker, candidato derrotado, vem do futebol americano e n�o tinha experi�ncia pol�tica. Ele teve sua candidatura impulsionada pelo ex-presidente Donald Trump e enfrentou uma s�rie de controv�rsias durante a campanha. O candidato, que se dizia contr�rio ao aborto em qualquer situa��o, mesmo em casos de estupro, foi acusado por duas ex-namoradas de ter incentivado e pagado para que elas fizessem abortos no passado. Al�m disso, um de seus filhos, influencer conservador com mais de 500 mil seguidores no Instagram, acusou-o de viol�ncia dom�stica.
Em outras controv�rsias mais aned�ticas, afirmou que n�o sabia o que eram pronomes e assumiu que morava no Texas at� o come�o da campanha. Em sua plataforma, al�m da proibi��o do aborto, advogava por "defesa da fam�lia", aumento do controle das fronteiras e aumento do financiamento das pol�cias.
A derrota de Walker � mais um de uma s�rie de golpes contra Trump, que enfrenta nos �ltimos dias uma s�rie de reveses. Ele j� havia sido acusado de impulsionar candidatos radicalizados que afastavam o eleitor, o que foi tido por membros do seu pr�prio Partido Republicano como uma das raz�es pelas quais a legenda n�o conquistou a maioria do Senado. Nesta ter�a, Trump teve outro contratempo, desta vez relacionado a seus neg�cios: duas de suas empresas foram condenadas por fraude fiscal em Nova York.
Trump n�o fez campanha para Walker no segundo turno —assim como Biden, impopular, n�o foi ao estado na reta final da campanha. O candidato republicano ganhou refor�o na campanha por parte do governador reeleito, Brian Kemp —moderado, que havia se afastado do ex-jogador de futebol no primeiro turno. Do lado democrata, o refor�o mais poderoso da campanha veio pelo ex-presidente Barack Obama.
Com mais de US$ 400 milh�es gastos na campanha, estas foram as elei��es mais caras dessas midterms.
A vit�ria democrata tamb�m consolida o movimento da ativista Stacey Abrams. Depois de perder a elei��o para o governo do estado em 2018 (como aconteceu de novo neste ano), ela iniciou um amplo esfor�o para aumentar o acesso de minorias ao voto no estado, registrando milhares de eleitores negros —o comparecimento �s urnas n�o � obrigat�rio nos EUA. A iniciativa foi considerada essencial para a vit�ria de Biden na Ge�rgia em 2020.
O movimento mudou o panorama eleitoral no estado, que votou apenas em candidatos a presidente republicanos entre 1996 e 2016. Em 2012, sequer houve pesquisa de boca de urna por l� porque o estado n�o era considerado competitivo o suficiente para fazer valer a pena o investimento.
Em 2020, por�m, Biden conquistou a maioria dos votos e transformou de volta a Ge�rgia em um estado-p�ndulo, isto �, sem prefer�ncia clara por democratas ou republicanos. Isso � importante para neutralizar outros estados com a mesma caracter�stica, mas que v�m pendendo mais para os republicanos a cada elei��o, como a Fl�rida ou Ohio. Como a Ge�rgia tem 16 votos no sistema de col�gio eleitoral do pa�s, o oitavo mais relevante, voltou a ser um estado decisivo no resultado da elei��o presidencial americana.
A apura��o nesta ter�a foi mais acelerada do que o previsto dado o aperto das pesquisas, que n�o mostravam um vencedor claro. E contrastam fortemente com o caos de dois anos atr�s.
Foi na Ge�rgia que Trump fez um dos gestos mais claros para tentar roubar a elei��o, ao telefonar para o secret�rio de estado local, respons�vel pelo controle do pleito, e pedir expressamente: "Tudo o que quero � isso: encontrar 11.780 votos, um a mais do que temos [de diferen�a]. Porque n�s ganhamos a Ge�rgia".
Biden venceu Trump por 11.779 votos de diferen�a e conquistou todos os 16 votos do Col�gio Eleitoral do estado, o oitavo com maior peso no sistema americano. Trump processou a Ge�rgia alegando que 15 mil eleitores votaram de maneira irregular, a maior parte com nomes de pessoas que j� morreram, outros que n�o estavam registrados e alguns que n�o poderiam ter votado por terem sido condenados por crimes graves. A Justi�a afirma que as alega��es eram n�o s� falsas, como Trump sabia que eram falsas, e mesmo assim decidiu mant�-las.
Por isso, neste ano as autoridades lan�aram m�o de uma s�rie de iniciativas para agilizar a contagem, na tentativa de evitar que conspira��es que surgem quando os resultados demoram a sair ganhem for�a. Uma legisla��o local aprovada no ano passado autorizou condados a abrir e a escanear os votos que chegam pelo correio antes do dia da elei��o. Um ter�o dos condados come�ou a contagem dos votos antes que as urnas se fechassem.