
A decis�o ocorreu no �ltimo dia 20, na reuni�o do petista com os chefes das For�as Armadas e o ministro da Defesa, Jos� M�cio. Foi a v�spera da demiss�o do comandante do Ex�rcito, J�lio Cesar de Arruda.
Ap�s semanas de press�o dos EUA e de aliados ocidentais, Scholz decidiu nesta semana enviar um contingente de 14 tanques Leopard-2 e, mais importante, liberou a reexporta��o dos armamentos para quem quiser do�-los � Ucr�nia —12 pa�ses na Europa operam cerca de 2.300 blindados do tipo. O premi� vem ao Brasil para um encontro com Lula na semana que vem.
De acordo com militares e pol�ticos com conhecimento do epis�dio, Arruda afirmou que o Brasil embolsaria cerca de R$ 25 milh�es por um lote de muni��o estocada para seus tanques Leopard-1, o modelo que antecedeu o tanque desejado pelo governo de Volodimir Zelenski. Ele levantou a hip�tese de exigir de Berlim que n�o enviasse o produto para Kiev, o que n�o faria sentido.
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Lula
O presidente Lula disse n�o, argumentando que n�o valia a pena provocar os russos. O Brasil, apesar de ter condenado na ONU a invas�o iniciada em 24 de fevereiro de 2022, mant�m uma posi��o de neutralidade por motivos econ�micos, recusando participar de san��es contra a R�ssia do presidente Vladimir Putin.
O pedido por muni��o de Leopard-1 sugere que Berlim est� disposta a ofertar o antigo modelo, do qual a fabricante Rheinmetall disp�e de 88 unidades em estoque. Elas precisariam ser preparadas para uso, o que o presidente da empresa diz que pode levar o ano todo, mas o problema principal hoje � a muni��o.
O Leopard-1 s� � operado por Brasil (261 unidades, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estrat�gicos, de Londres), Chile (30), Gr�cia (500) e Turquia (397) —os dois �ltimos, membros da Otan, alian�a militar ocidental, assim como a Alemanha. O tanque tem um canh�o com calibre de padr�o antigo, de 105 mm, enquanto o Leopard-2 usa muni��o de 120 mm.
N�o foi a primeira tratativa do g�nero. No ano passado, a Alemanha sondou extraoficialmente o governo para comprar muni��o do blindado com canh�es antia�reos Gepard que tirou da aposentadoria para enviar � Ucr�nia, sem sucesso. O Brasil ainda opera o modelo.
A Folha de S.Paulo procurou Itamaraty, Minist�rio da Defesa e Ex�rcito, operador das muni��es, para comentar e especificar a natureza do pedido: se foi oficial ou uma sondagem. A Defesa disse n�o ter recebido pedido de autoriza��o de exporta��o, o que passa primeiro pelas Rela��es Exteriores —que, como o Ex�rcito, n�o respondeu. O detalhamento apresentado por Arruda na reuni�o sugere que o assunto teve andamento.
A reportagem tentou contato com a embaixada da Alemanha, sem sucesso.
Bolsonaro
Em 2022, o governo Jair Bolsonaro (PL) recusou pedidos do governo ucraniano para negociar a aquisi��o de outros sistemas, como um lote de 100 a 1.500 blindados Guarani, fabricados no Brasil pela italiana Iveco.
O Brasil n�o est� sozinho na sua nova negativa. Os EUA pediram ao novo governo colombiano de Gustavo Petro que o pa�s cedesse antigos helic�pteros sovi�ticos Mi-8 e Mi-17 para Kiev, que opera esses modelos.
Levaram um n�o, relatou Petro nesta semana, assim como o aliado americano Israel negou a libera��o de um lote de m�sseis antia�reos Hawk. Tel Aviv deu a desculpa de que o material � velho e inconfi�vel, mas pesou o fato de o governo ter rela��o pr�xima, embora nem sempre amig�vel, com Moscou.
Fertilizantes motivam o Brasil
J� a motiva��o central da posi��o de Lula tem nome: fertilizantes, vitais para o agroneg�cio do pa�s e que t�m de ser majoritariamente importados. A R�ssia �, h� anos, a l�der desse mercado —de 2018 a 2022, vendeu em m�dia 22% do produto consumido pelos brasileiros.
No ano passado, com os embargos ocidentais, seguradoras e transportadoras mar�timas pararam de fazer neg�cio com embarques russos, e rotas alternativas foram criadas at� um acordo para a exporta��o de gr�os da Ucr�nia durante a guerra em tese reabrir o mercado para Moscou —a R�ssia reclama, contudo, que o Ocidente n�o faz sua parte.
O resultado foi um salto nos pre�os internacionais, vis�vel no Brasil: apesar de ter importado 8 milh�es de toneladas de fertilizantes de Moscou, 1,3 milh�o de toneladas a menos do que em 2021, o lucro dos russos cresceu 58,8% no per�odo, um recorde de US$ 5,6 bilh�es vendidos para brasileiros.
Esse cen�rio puxou o resultado da balan�a comercial com a R�ssia em favor do Kremlin, segundo dados da Secretaria de Com�rcio Exterior. Em compara��o com 2021, o Brasil comprou ao todo 37% a mais de Moscou em 2022, totalizando US$ 7,8 bilh�es. Os russos est�o em sexto no ranking de pa�ses que mais venderam ao Brasil. Em rela��o a exporta��es, compraram meros US$ 1,9 bilh�o de produtos brasileiros.
A R�ssia, apesar da press�o das san��es, conseguiu navegar a crise em 2022. Com a venda de petr�leo e g�s com desconto, a partir do gradual fechamento do mercado priorit�rio da Europa, viu China e �ndia multiplicarem o com�rcio com o pa�s.
A Ucr�nia, claro, condena essa rela��o, acusando os pa�ses de financiarem a agress�o russa. Zelenski chegou a se queixar da posi��o do Brasil, em particular a do ent�o mandat�rio Jair Bolsonaro (PL).
Ainda presidente, Bolsonaro fez uma pol�mica visita � R�ssia na semana que antecedeu o conflito e deu declara��es se recusando a tomar partido claro —o que, de resto, � a posi��o hist�rica do Itamaraty.
Lula, em entrevistas, tamb�m foi na mesma linha de condenar a guerra sem se posicionar contra Putin, o que lhe rendeu uma passagem na lista do governo ucraniano de divulgadores de propaganda russa. Posteriormente, o nome do petista acabou retirado.
Os russos agradeceram a posi��o brasileira, e Putin chegou a dizer � Folha antes do segundo turno, em outubro, que trabalharia muito bem tanto com Lula quanto com o advers�rio por fim derrotado.