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Estado de Minas IMIGRA��O

Presen�a de brasileiros provoca paix�o e �dio em Portugal

A maioria dos nativos portugueses reconhece que a imigra��o brasileira � positiva, mas h� queixas em rela��o ao jeito de ser dessa comunidade de estrangeiros


25/06/2023 12:40
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Ilustração de bandeiras do BR e Portugal
(foto: Maurenilson Freire/CB/D.A Press)

Lisboa — A professora aposentada J�lia Gon�alves, 67 anos, moradora de Braga, faz quest�o de ressaltar: "N�o tenho d�vidas de que a migra��o maci�a de brasileiros para Portugal fez bem ao pa�s". Na avalia��o dela, os brasileiros, no geral, s�o trabalhadores e est�o suprindo necessidades de m�o de obra em v�rios setores da economia lusitana. Mas h� queixas — e muitas — em rela��o � comunidade oriunda do Brasil, que, segundo o Servi�o de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), somava 239,7 mil cidad�os at� dezembro do ano passado, a maior entre os imigrantes. "O que eu mais detesto em rela��o aos brasileiros � o fato de, mesmo tendo se mudado para Portugal, usufruindo de tudo o que o pa�s lhes proporciona, ficarem bradando que, no Brasil, tudo � melhor", diz J�lia, que indaga: "Por que, ent�o, se mudaram para Portugal?".

Ao longo das �ltimas duas semanas, o Correio conversou com mais de duas dezenas de portugueses ra�zes para ouvir deles as 10 coisas que mais odeiam nos brasileiros. No topo da lista est� a mesma reclama��o de J�lia, ou seja, que tudo no Brasil � melhor. O ros�rio de queixas inclui, ainda, a insist�ncia em mostrar uma intimidade que n�o existe, serem muito barulhentos, n�o respeitarem as regras de sil�ncio em constantes festinhas, sempre arrumarem uma desculpa para justificar os erros, pedirem descontos em alugu�is, encherem as resid�ncias por meio de subloca��o de quartos, passarem a perna nos pr�prios brasileiros, n�o terem compromisso com a pontualidade e acreditarem sempre no jeitinho para tentar se dar bem.

"Fico realmente aborrecido quando me deparo com esse tipo de comportamento", diz o comerciante Jo�o Antunes, 41, morador do Porto. "E me aborre�o, tamb�m, quando encontro uma pessoa e, na primeira vez, ela quer mostrar que � minha amiga �ntima. N�o h� raz�o para se for�ar uma amizade", enfatiza.

Para a corretora Cristina Fernandes, 59, que vive em Montijo, n�o se pode falar em preconceito quando se critica determinados comportamentos dos brasileiros. "Os que escolheram Portugal para viver devem respeitar a cultura do pa�s, o jeito de ser dos portugueses. N�o estou falando em subservi�ncia, mas em respeito. Chegar a Portugal e achar que continua no Brasil n�o � correto, creio eu", afirma. Segundo ela, por conta de hist�ricos nada abonadores, muitos donos de im�veis — inclusive brasileiros — n�o querem mais neg�cio com cidad�os vindos do Brasil. "O primeiro motivo � que eles j� chegam pedindo descontos nos alugu�is. Cria um constrangimento. Outra coisa pavorosa: os brasileiros mentem, dizem que uma fam�lia de tr�s pessoas vai ocupar o im�vel. Contudo, depois de assinado o contrato, aparecem oito, 10 pessoas para viver em um apartamento de dois quartos, uma loucura", frisa.
Cristina vai al�m: "Hoje, com o mercado de arrendamento de im�veis aquecido, h� disputa por casas e apartamentos. E, pode crer, sempre os brasileiros s�o os que fazem as piores propostas. Por isso, enfrentam dificuldades para locar um lugar para morar." Ela reconhece ser triste dizer esse tipo de coisa, "mas, infelizmente, � o que ocorre". E, mesmo com aqueles que conseguem passar pelo crivo das imobili�rias e dos donos de im�veis, as exig�ncias sempre ser�o maiores, como antecipa��o de alugu�is, comprovantes do Imposto de Renda e fiador. "� o pre�o a pagar por aqueles que acham que podem tudo, que podem desrespeitar as regras, e acham que v�o sempre se dar bem."

Fora da lei

Para o barbeiro Lu�s Dias, 47, morador de Alcochete, o que mais irrita quando se trata de brasileiros � o barulho exagerado. "Eles n�o levam em conta quem s�o os vizinhos, se h� pessoas doentes, idosos que precisam de um pouco mais de sil�ncio", diz. "Na minha rua, todo fim de semana tem festa na casa de brasileiros. At� a�, tudo bem. � bom ver gente feliz. O problema � que o tal churrasquinho de fim de semana come�a no s�bado pela manh� e vai at� domingo de madrugada. M�sica alta e gritaria", conta. Ele j� viu, v�rias vezes, chamarem a pol�cia para interromper a bagun�a. Mas o compromisso com a lei dura pouco. "No outro dia, tudo come�a de novo. A sensa��o que tenho � a de que, para os brasileiros, lei do sil�ncio ap�s determinado hor�rio da noite � fic��o, mas n�o �", complementa.

A design gr�fica Filipa Barbosa, 37, que vive em Lisboa, tem horror aos "brasileiros folgados" que adoram um jeitinho para se darem bem. "H� alguns brasileiros que est�o sempre perguntando se conhe�o algu�m em tal lugar para ajudar a resolver um problema. J� me pediram para falar com um m�dico amigo para furar fila de atendimento em hospital, j� me pediram para arrumar convites para shows e at� para forjar documentos. L�gico que sempre recusei tudo", comenta, ressaltando que, depois de dizer n�o, esses brasileiros nunca mais a procuraram. "Ou seja, eram amizades de conveni�ncia."

Gerente de um badalado restaurante em Lisboa, Pedro Lima, 39, destaca que o mais terr�vel para ele � ver um brasileiro prejudicando outro brasileiro. Ele relata que, no ano passado, um jovem rec�m-chegado do Brasil o procurou em busca de uma vaga de gar�om. O emprego era vital para que ele reunisse todas as condi��es para obter a autoriza��o de resid�ncia em Portugal. "Qual foi a minha surpresa quando um funcion�rio do restaurante, tamb�m brasileiro, me disse que, se eu desse emprego para o jovem, ele denunciaria o estabelecimento �s autoridades por contratar ilegais. Fiquei perplexo", detalha. "Mas me vinguei daquela trai��o. Dias depois, demitimos aquele mau-car�ter e estendemos a m�o ao jovem que se mostrou uma excelente pessoa e est� conosco at� hoje", emenda.

Defeitos em casa

� verdade que tudo o que os portugueses dizem odiar nos brasileiros eles tamb�m fazem. "Vamos deixar claro, h� pessoas com h�bitos ruins em qualquer lugar do mundo. Sou portugu�s, mas j� tive de lidar com situa��es complicadas provocadas por meus conterr�neos, um deles, a mesquinharia", afirma o advogado Nuno Marques, 44, morador de Lisboa. "Temos uma sociedade muito conservadora, que resiste em se abrir para os estrangeiros. J� perguntei a todos os brasileiros que conhe�o se haviam sido convidados para visitar a casa de um portugu�s. A maioria disse n�o. Isso � muito ruim", reconhece.

A brasileira C�ntia Lopes, 52, moradora em Cascais, refor�a esse quadro de distanciamento. "Uma das minhas melhores amigas � portuguesa. Mas, por incr�vel que pare�a, ela nunca me chamou para a casa dela, nem para tomar um copo de �gua", relata.


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