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Estado de Minas GUERRA EM GAZA

Os volunt�rios que d�o dignidade aos mortos em ataque do Hamas

Um grupo de volunt�rios � respons�vel por recolher os mortos e fazer com que as v�timas sejam tratadas de acordo com os costumes judaicos. Nos �ltimos dias, eles est�o trabalhando de maneira incans�vel.


16/10/2023 06:22 - atualizado 16/10/2023 09:36
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Israel Hasid
O volunt�rio Israel Hasid aguarda a chegada de centenas de corpos em um necrot�rio em Tel Aviv (foto: Joel Gunter/BBC)

Aviso: esta reportagem cont�m detalhes que alguns leitores podem achar perturbadores.

Por tr�s de port�es altos com arame farpado de uma base militar no centro de Israel, longe dos olhos do p�blico, mas ao lado de soldados, policiais e especialistas forenses, eles trabalham em uma tarefa quase imposs�vel de imaginar do lado de fora: recolher os restos mortais das v�timas do ataque do Hamas que deixou 1,3 mil mortos.

Trabalhando at� altas horas da noite, sob o brilho intenso dos holofotes, estava um grupo identific�vel por seus coletes amarelos brilhantes. Trata-se da Zaka, uma organiza��o religiosa judaica que, desde o ataque, tem sido respons�vel por alguns dos trabalhos mais dif�ceis realizados em Israel.

A tarefa dos membros do Zaka � coletar todas as partes dos restos mortais das v�timas, incluindo sangue, para que elas possam ser enterradas de acordo com a lei religiosa judaica. A organiza��o � chamada a atuar em eventos traum�ticos, incluindo desastres naturais, suic�dios e ataques extremistas.

Seus membros volunt�rios s�o quase todos judeus ultraortodoxos.

Quando o Hamas come�ou seu ataque violento no sul de Israel, na manh� do dia 7 de outubro, o volunt�rio Baroch Frankel, de 28 anos, desfrutava um s�bado tranquilo em seu apartamento em Bnei Brak, uma cidade ortodoxa perto de Tel Aviv onde vivem muitos dos volunt�rios Zaka vivem.

No meio da manh�, ele ouviu pelo walkie-talkie do grupo que havia algum tipo de emerg�ncia em andamento.

Ele pegou seu kit de trabalho, contendo sacos para cad�veres, luvas cir�rgicas, protetores de sapato e peda�os de pano para absorver sangue. Entrou em seu carro e foi trabalhar.

A Zaka foi criada em 1995, mas tem ra�zes que remontam a 1989, quando seu fundador fazia parte de um grupo de volunt�rios religiosos que se reuniram para recuperar restos mortais das v�timas de um ataque extremista em Israel.

No costume judaico, os corpos devem ser recolhidos o m�ximo poss�vel e todos os restos mortais dispon�veis devem ser enterrados em conjunto. Os volunt�rios da Zaka garantem que isso seja feito de forma adequada � religi�o e, como diz o seu lema, com “verdadeira gra�a”.

No local do festival de m�sica onde 260 pessoas foram mortas pelo Hamas, os volunt�rios enfrentaram uma cena assustadora at� para eles.

Ainda estava escuro quando Frankel chegou ao local. Soldados israelenses trocavam tiros com o Hamas. Ent�o ele ficou deitado na areia esperando at� que fosse seguro.


Baroch Frankel em sua sinagoga em Bnei Brak, em Israel
Baroch Frankel em sua sinagoga em Bnei Brak, em Israel (foto: Joel Gunter/BBC)

Os volunt�rios da Zaka t�m trabalhado desde ent�o em todos os locais do ataque. Eles recuperam os corpos em turnos de duas horas, porque o trabalho � muito dif�cil e desgastante.

Lidar com os restos mortais de crian�as foi o pior, disse Frankel. Quando ele foi para um kibutz atacado pelo Hamas, a pol�cia alertou que o cen�rio era dif�cil de ver - at� mesmo para as equipes experientes em trag�dias da Zaka.

Frankel encontrou crian�as carbonizadas, corpos em peda�os por causa das explos�es de granadas e fam�lias mortas a tiros dentro de suas casas. “Contei muitos beb�s e pessoas carbonizadas”, diz ele. “Quando falo com voc� agora, vejo essas imagens novamente diante dos meus olhos.”

Por este trabalho, particularmente em momentos de viol�ncia, os volunt�rios Zaka s�o por vezes elogiados nas ruas de Israel quando passam com os seus coletes amarelos. Caminhando por seu bairro em Bnei Brak nesta semana, Frankel ignorou os elogios.

“Zaka � um servi�o sagrado, e voc� n�o pede agradecimentos”, disse ele. "Os mortos n�o podem pagar de volta."

Na noite de quarta-feira, os volunt�rios tinham acabado de terminar seu �ltimo trabalho de retirada de corpos no sul de Israel. Frankel estava dirigindo para o norte, at� � base militar onde as v�timas estavam sendo analisadas pela per�cia.

Dentro da base militar, havia cerca de 20 enormes unidades de armazenamento refrigerado, como cont�ineres, alinhadas para guardar os corpos.

Os rabinos e os volunt�rios Zaka trabalhavam para preservar a dignidade dos mortos, apesar da escala da opera��o e do estado de deteriora��o.

Eles tiveram o cuidado de fazer uma pausa para ora��es para cada uma das v�timas ali. Ortodoxos, os volunt�rios se reuniram a cada 15 minutos para fazer suas pr�prias ora��es enquanto o trabalho continuava.


Frankel, saindo para fumar fora dos muros da base militar onde os corpos são analisados
Frankel, saindo para fumar fora dos muros da base militar onde os corpos s�o analisados (foto: Joel Gunter/BBC)

Yacoub Zechariah, de 39 anos, vice-prefeito da cidade de Bnei Brak, estava em seu quinto turno consecutivo na base. “Fisicamente, s�o horas e horas sem dormir, carregando cad�veres. � um trabalho �rduo”, disse ele. "Mas n�s superamos isso."

Zechariah, pai de cinco filhos, viu corpos de crian�as com ferimentos e queimaduras terr�veis, conta. Alguns foram decapitados, embora n�o estivesse claro como isso foi feito. Crian�as foram mortas e tiveram suas m�os e p�s amarrados com fios de telefone, diz.

Zechariah tirou cinco sacos para cad�veres de um caminh�o. Cada um dos sacos tinha o mesmo nome marcado.

Ele retirou os cinco membros da mesma fam�lia do caminh�o. Eram os pais e tr�s crian�as pequenas que foram assassinadas pelo Hamas dentro de casa, no kibutz de Kfar Azza.

“Ver uma fam�lia inteira morta � algo que quebra um ser humano”, disse Zechariah. “Tenho cinco filhos. Somos pessoas de f� e sabemos que tudo vem de Deus, mas isso � dif�cil de entender”.

Depois de verificar os rostos de cada membro fam�lia e encaminh�-los para o dep�sito, Zechariah caminhou um pouco e come�ou a chorar.

Poucas horas depois, �s 5h, ele terminou seu expediente noturno e se sentou calmamente no carro para tomar caf� e fumar um cigarro. Depois dirigiu meia hora para casa, para sua fam�lia em Bnei Brak, dormiu duas horas e foi at� a prefeitura para come�ar seu dia como vice-prefeito.

Do lado de fora dos port�es da base, familiares de v�timas do Hamas estavam acampados em cadeiras � beira da estrada, apoiados por food trucks e doa��es de moradores da regi�o.

Ortal Asulin dormia na cal�ada desde que soube, no s�bado, que seu irm�o, um ex-jogador de futebol chamado Lior Asulin, havia sido capturado no ataque do Hamas.

“Ningu�m nos d� respostas, est� uma grande bagun�a”, disse ela, abalada. “N�s perguntamos a cada cinco minutos, todo mundo aqui nos conhece, nossos nomes, telefone, o nome do meu irm�o e a foto dele. Ele era um jogador de futebol famoso, basta uma pessoa v�-lo l� dentro para saber quem � ele."

Naquele momento, Frankel a ouviu e reconheceu o nome do ex-jogador. “Eu o vi”, disse Frankel. "Eu vi o rosto dele, tenho certeza."

Ortal caiu na cal�ada, chorando. O resto da fam�lia correu para perto de Frankel enquanto ele tentava, em v�o, entrar em contato com um colega que estava dentro do posto para confirmar que o corpo de Lior havia sido visto. A pol�cia disse n�o ter informa��es e que n�o deixaria a fam�lia entrar.

“N�o � poss�vel localizar o corpo no momento”, disse um sargento da pol�cia. "No final, eles v�o remov�-lo, est�o fazendo tudo o que podem, mas precisam de algum tempo."


Yacoub Zechariah vestindo seu colete amarelo da Zaka
Yacoub Zechariah vestindo seu colete amarelo da Zaka (foto: Joel Gunter/BBC)

Muitas conversas semelhantes ocorreram fora da base, disse o sargento da pol�cia, que n�o teve permiss�o para se identificar.

“H� muitas pessoas mortas l� dentro e precisamos ter 100% de certeza sobre as identidades delas antes de contarmos � fam�lia”, disse. “J� passaram cinco dias do ataque e isso afeta os corpos, entendeu? N�o podemos cometer erros”.

Para o povo judeu, o atraso no enterro de um corpo pode acrescentar uma enorme dor � perda. Eles acreditam que uma pessoa deve ser enterrada o mais r�pido poss�vel para que sua alma possa subir ao c�u. E at� que os mortos sejam enterrados, a fam�lia n�o pode come�ar formalmente o luto. Tal como a alma da pessoa que morreu, eles est�o no limbo.

Lior Asulin, o jogador de futebol, foi finalmente identificado e enterrado na quinta-feira.

Zaka tamb�m est� envolvido nestas etapas finais do processo. Muitos dos corpos v�o da base militar para um centro administrado da Zaka em Tel Aviv, onde na quinta-feira o volunt�rio Israel Hasid se preparava para receb�-los.

Ele esperava que o trabalho continuasse 24 horas por dia e durante todo o fim de semana, por isso pediu permiss�o especial a um rabino para trabalhar no s�bado.


Uma sala em centro Zaka em Tel Aviv onde os corpos são levados para serem limpos de acordo com o costume judaico
Uma sala em centro Zaka em Tel Aviv onde os corpos s�o levados para serem limpos de acordo com o costume judaico (foto: Joel Gunter/BBC)

Os policiais s�o encarregados de fazer exames t�cnicos e de DNA, al�m de checar registros dent�rios, mas, caso contr�rio, Hasid e os outros volunt�rios da Zaka assumem a responsabilidade por toda a limpeza necess�ria antes do enterro.

Eles lavam os corpos com �gua retirada de um rio que corre na regi�o, al�m de limp�-los com algod�o. Eles cortam os cabelos e as unhas, se necess�rio.

“Nestas circunst�ncias, devido � natureza deste ataque, em muitos casos o trabalho n�o pode ser perfeito”, disse Hasid. "Mas faremos tudo o que for poss�vel."

No final do processo, os volunt�rios Zaka embrulham cuidadosamente os restos mortais de cada pessoa em um len�ol de linho branco e entregam tudo aos agentes funer�rios.

Segundo Hasid, isso � feito para que as almas dos mortos possam escapar e as suas fam�lias comecem a sofrer.

Colabora��o de Idan Ben Ari.


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