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Estado de Minas CORONAV�RUS

Por que h� vacinas injet�veis, em gotas e por via nasal; e como deve ser prote��o contra COVID-19

Vacinas t�m seu modo de aplica��o definido a partir de muitas vari�veis, que v�o da facilidade do desenvolvimento � praticidade do processo de imuniza��o em si


28/07/2020 05:46 - atualizado 28/07/2020 08:45

Zé Gotinha em campanha de vacinação em SP, ano passado.
Z� Gotinha em campanha de vacina��o em SP, ano passado. (foto: Erasmo Salom�o/Ministerio da Saude/ Divulga��o)

Para as crian�as, a melhor vacina era aquela contra a p�lio. Sem picada. Indolor, em gotas — e ainda com o inesquec�vel mascote Z� Gotinha fazendo suas palha�adas — e a visita ao posto de sa�de costumava trazer apenas boas recorda��es, junto �quele sabor esquisito.

Deu certo. A gotinha inventada pelo polaco-americano Albert Sabin (1906-1993) erradicou a poliomielite do Brasil — o �ltimo caso confirmado foi em 1989 e a Organiza��o Mundial de Sa�de declarou o pa�s livre da doen�a em 1994.

Agora que o mundo vive uma corrida sem precedentes por outra vacina, a que pretende imunizar os humanos contra o novo coronav�rus, fica a pergunta: como ser� esse medicamento? Injet�vel? Oral? Nasal?


Técnica da Fundação Oswaldo Cruz trabalhando na produção de vacina contra o tétano, março de 1963.
T�cnica da Funda��o Oswaldo Cruz trabalhando na produ��o de vacina contra o t�tano, mar�o de 1963. (foto: Arquivo Nacional)

Ainda h� mais perguntas do que respostas, evidentemente. Mas entre os mais de 150 projetos sendo desenvolvidos, h� alguns que devem dispensar a picada, sim. Por exemplo, a proposta que segue em estudos no Laborat�rio de Imunologia do Instituto do Cora��o (Incor) da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo (USP). "Queremos ir direto ao alvo. E o alvo � proteger as mucosas", diz � BBC News Brasil o m�dico Jorge Elias Kalil, que coordena o projeto. Sua vacina, se conclu�da, ser� aplicada via nasal.

Ele acredita que sua solu��o seria a mais pertinente frente ao novo coronav�rus, mas admite que se trata de uma solu��o mais complexa. Assim, a vacina da USP certamente n�o ser� a primeira a chegar ao mercado — mas pode se revelar como mais vantajosa, quando comparada �s que j� estiverem sendo aplicadas.

"Uma vacina por via nasal induz a resposta local. Nem todas as vacinas a gente consegue fazer assim, mas tem muita gente realizando esse esfor�o", comenta ele.


Vacinação de sarampo em SP, em 2019.
Vacina��o de sarampo em SP, em 2019. (foto: Erasmo Salom�o/Ministerio da Saude/ Divulga��o)

Kalil acredita que as vacinas para prevenir a covid-19 que est�o sendo testadas em grau avan�ado, injet�veis, intramusculares, podem n�o proporcionar uma "resposta" t�o efetiva quanto a por via nasal, considerando que esta � a porta de entrada do novo coronav�rus. "Mas s� os testes v�o dizer isso. N�o podemos prever absolutamente nada", afirma.

Como nascem as vacinas

Elementos fundamentais da sa�de p�blica da humanidade nos tempos contempor�neos, as vacinas t�m seu modo de aplica��o definido a partir de muitas vari�veis, que v�o da facilidade do desenvolvimento � praticidade do processo de imuniza��o em si.

Diretor do Laborat�rio de Imunorregula��o da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o m�dico Carlos Rodrigo Z�rate-Blad�s explica � BBC News Brasil que, de modo geral, "uma vacina ideal, perfeita, � aquela que induz uma resposta espec�fica contra a doen�a que precisamos evitar". Mas ele acrescenta que ela n�o pode causar efeitos adversos, tem de ser de f�cil aloca��o e conserva��o durante o transporte, poder ser fabricada de modo barato e ser de f�cil administra��o.

"Quando se est� querendo criar uma vacina, pode-se pensar em todas essas situa��es ideais e faz�-la. Por�m, quando os testes come�am, os pesquisadores esbarram em uma s�rie de dificuldades", comenta. "Mas a gente pode escolher, dependendo da situa��o, de que forma fazer."


Dia de vacinação no Rio de Janeiro, em 2019, com participação do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (centro da foto) e do Zé Gotinha
Dia de vacina��o no Rio de Janeiro, em 2019, com participa��o do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (centro da foto) e do Z� Gotinha (foto: Erasmo Salom�o/Ministerio da Saude/ Divulga��o)

Z�rate-Blad�s concorda que o v�rus Sars-CoV-2, sendo "uma patologia que entra pelo ar", permite uma "vacina nasal que simule a entrada do pat�geno no organismo". "Outros competidores [no desenvolvimento da vacina] est�o muito mais � frente, mas podemos nos distanciar deles para vender a nossa vacina l� � frente", argumenta. "[O m�todo por via nasal] d� a chance de promover a forma��o de certos elementos, uma resposta imune n�o necessariamente igual a de quando usamos uma vacina aplicada por qualquer outra via diferente da rota natural de infec��o."

De acordo com o bioqu�mico Ricardo Gazzinelli, coordenador do Instituto Nacional de Ci�ncia e Tecnologia em Vacinas, pesquisador da Funda��o Oswaldo Cruz e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a defini��o depende do pat�geno a ser combatido.

"Na verdade, a �rea de vacinas � muito emp�rica, ou seja, baseada em experimentos que funcionam, ou n�o. Portanto, o que define o uso de vacina s�o os testes cl�nicos, e nem sempre o racional inicial", afirma ele, por e-mail, � BBC News Brasil.

Gazzinelli explica que as vacinas injetadas intramuscular "visam a uma resposta sist�mica e funcionam para v�rias doen�as". "Por�m, para alguns pat�genos, a porta de entrada s�o as mucosas. A vacina pelas vias nasal e oral favorece a indu��o � resposta imune local das mucosas, o que muitas vezes n�o � estimulado pela via intramuscular. Esta � a raz�o de imunizar com Sars-CoV-2 por via nasal, porta de entrada do v�rus."

Pesquisador da Plataforma Cient�fica Pasteur e professor do departamento de Imunologia da USP, o farmac�utico bioqu�mico Jean Pierre Schatzmann Peron n�o acredita na viabilidade de uma vacina nasal para prevenir a covid-19. "A maioria ser� injet�vel. As vacinas nasais s�o mais trabalhosas", afirma ele � BBC News Brasil.

"As vias de administra��o de vacinas culminam em diferentes tipos de respostas. A maior parte delas � injet�vel porque, primeiro, ela � eficiente para uma resposta imune, e esse tipo de resposta induz um anticorpo que fica circulando no sangue e � capaz de eliminar os pat�genos que eventualmente atinjam o organismo", comenta.

Peron compara: as por via oral ou nasal "podem induzir outro tipo de resposta por induzirem outro tipo de anticorpos". "Coincidentemente, esse tipo de vacina tamb�m seria interessante contra o coronav�rus porque, produzindo anticorpos nas mucosas, voc� poderia bloquear o v�rus j� num primeiro momento, na entrada."

"H� v�rias nuances, por isso � um trabalho t�o demorado e complexo", acrescenta o pesquisador.

Z�rate-Blad�s lembra que as dificuldades de desenvolver uma vacina nasal est�o at� mesmo na fase de testes em animais. "Em modelos animais, como camundongos, macacos, coelhos, � muito mais f�cil injetar algo do que faz�-los inalar", explica. "� uma das dificuldades. E cada dificuldade na produ��o de uma vacina se reflete no aumento do custo de produ��o e, consequentemente, no pre�o final que essa vacina ter� � frente."


Existem mais de 140 candidatas a vacina contra covid-19 sendo desenvolvidas atualmente
Existem mais de 140 candidatas a vacina contra covid-19 sendo desenvolvidas atualmente (foto: Getty Images)

A volta da gotinha

No Brasil, a vacina em gotas se tornou t�o associada ao combate � poliomielite que at� um personagem foi criado para celebrar seu sucesso junto � crian�ada: o Z� Gotinha. Ent�o funcion�rio p�blico do governo federal, o artista pl�stico Darlan Rosa criou o mascote em 1986. Aos poucos, a figura foi sendo incorporada �s campanhas de vacina��o — n�o s� da p�lio — e se tornou conhecida em todo o pa�s.

Desde 2011, entretanto, a vacina��o contra a poliomielite n�o � exclusivamente oral. Agora, a cria��o de Sabin � apenas o refor�o da vers�o injet�vel, considerada por alguns especialistas como mais segura e com menos efeitos colaterais. De acordo com Gazzinelli, isso s� foi poss�vel porque a doen�a est� erradicada no Brasil.

"A vacina por via oral usa v�rus vivo; a injetada cont�m o v�rus 'morto'. Ainda que as vacinas vivas induzam imunidade mais duradoura, quando voc� chega numa fase de erradicar uma doen�a, a viva � indesejada, pois a atenua��o do v�rus pode reverter, tornando-se patog�nico de novo. E se espalhar na natureza novamente", explica. "Neste caso, se opta por vacinas 'mortas'."

Por outro lado, as gotinhas t�m um efeito da chamada "prote��o de rebanho" — a crian�a que a ingere, acaba contribuindo para que o v�rus n�o se espalhe. Isto porque na vers�o injet�vel, com o v�rus inativado direto na corrente sangu�nea, n�o ocorre uma coloniza��o da mucosa intestinal. A gotinha, por sua vez, faz isso com o v�rus atenuado — que, eliminado pelas fezes espalha-se no ambiente, imunizando terceiros que tenham contato com ele. De quebra, esse v�rus atenuado compete com o selvagem na natureza.

Diante de um cen�rio de queda da cobertura vacinal, o Minist�rio da Sa�de anunciou no ano passado que pode voltar a priorizar as gotinhas.


(foto: BBC)

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