(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas 'PACIENTE RECUPERADO'

De 'mofo no pulm�o' a infec��o no cora��o: sequelas da COVID-19 amea�am 'recuperados'

Presidente Bolsonaro � um entre muitos recuperados do coronav�rus que apresentam problemas mesmo ap�s terem sido curados


31/07/2020 14:40 - atualizado 31/07/2020 18:05

Mesmo recuperado da covid-19, Bolsonaro se queixa de uma infecção pulmonar(foto: Reuters)
Mesmo recuperado da covid-19, Bolsonaro se queixa de uma infec��o pulmonar (foto: Reuters)

Cinco dias depois de anunciar que estava curado do coronav�rus, o presidente Jair Bolsonaro disse que sentiu fraquezas e que passou a tomar antibi�ticos para combater uma infec��o no pulm�o.

"Tamb�m, depois de 20 dias em casa, a gente pega outros problemas. Peguei mofo no pulm�o", brincou Bolsonaro em uma de suas lives na internet, na quinta-feira.


H� poucas informa��es sobre o mais recente problema de sa�de do presidente. Sequer existe uma confirma��o de que a infec��o teria sido consequ�ncia direta do coronav�rus que o acometeu.

Mas o problema pulmonar de Bolsonaro levanta um debate sobre quando um paciente pode ser considerado "recuperado" ou n�o da COVID-19.


Mesmo que o paciente seja declarado livre da doen�a, o que se tem observado � que o coronav�rus pode provocar sequelas e outros problemas de sa�de.


O r�tulo de "paciente recuperado" que aparece em diversas estat�sticas oficiais sugere que a pessoa conseguiu voltar � sua vida normal sem transtornos, mas isso pode ser enganoso.

 

Estudos recentes mostram que ainda � preciso investigar mais profundamente quem se recuperou totalmente da doen�a — e quem segue vivendo com sequelas da COVID-19.

Problemas card�acos

Dois novos estudos publicados nesta semana revelam um lado assustador da recupera��o do coronav�rus.


Ambos foram feitos com pacientes na Alemanha e publicados pela revista cient�fica Journal of the American Medical Association (Jama).


O primeiro deles, com 100 pacientes que tiveram coronav�rus, mostrou que 78% apresentaram algum tipo de anomalia no cora��o mais de dois meses depois de se recuperarem da COVID-19. Boa parte dos doentes (67%) tiveram uma forma branda da doen�a e sequer foram hospitalizados.

Mas em 60% dos casos, foi detectada uma inflama��o no cora��o cerca de 70 dias depois.

O preocupante nesse estudo � que os pacientes analisados eram considerados saud�veis e com idade m�dia de 49 anos. Outra fonte de preocupa��o � que muitos desses problemas card�acos aconteceram de forma silenciosa.


Os pacientes n�o apresentaram sintomas externos, e as defici�ncias no cora��o foram detectadas apenas com resson�ncia magn�tica e exames de sangue.


"N�s n�o queremos gerar ainda mais ansiedade mas sim incitar outros pesquisadores a examinarem cuidadosamente os dados existentes e que ser�o coletados para confirmar ou negar nossas descobertas", escreveram os pesquisadores Clyde Yancy e Gregg Fonarow, que assinam um artigo na revista.


A segunda pesquisa envolveu a aut�psia de 39 v�timas de COVID-19. Em 24 delas (61%), foi detectada a presen�a do coronav�rus no cora��o. Os cientistas dizem que isso indica que � preciso investigar mais profundamente o potencial dano que o Sars-CoV-2 pode causar no cora��o.


H� ainda in�meros relatos de pessoas que desenvolveram diferentes sintomas ap�s contrair a doen�a, como problemas pulmonares e perda de paladar e olfato.

Cientistas tamb�m pesquisam sobre o efeito que o coronav�rus pode ter no c�rebro, como inflama��o, e na maior incid�ncia de co�gulos do sangue, que podem causar derrames.

'Mofo no pulm�o'

Problemas respirat�rios, como o relatado por Bolsonaro, est�o entre as sequelas analisadas por alguns cientistas.


No come�o de julho, a revista Jama publicou outra pesquisa com 143 recuperados de COVID-19 na It�lia feita pela Policl�nica Gemelli, de Roma.


Dois meses depois da doen�a, apenas 12,6% dos pacientes disseram estar completamente recuperados, sem nenhum sintoma.

Os outros 87,4% reclamaram de pelo menos algum problema. Entre os sintomas relatados, est�o fadiga (53,1%), falta de ar (43,4%), dor nas juntas (27.3%) e dor no peito (21,7%).


Para 44,1%, houve uma piora na qualidade de vida.


Como a COVID-19 � uma doen�a nova, ainda n�o se conseguiu estudar quanto tempo leva para se recuperar dela e quais podem ser as implica��es de longo prazo.


Os autores do estudo ressaltaram a import�ncia de se acompanhar pacientes recuperados mesmo meses depois da doen�a.


A fadiga parece ser um dos sintomas mais recorrentes. Uma das condi��es estudadas se chama encefalomielite mi�lgica, que � popularmente conhecida como fadiga cr�nica.


H� anos cientistas estudam se essa fadiga cr�nica est� relacionada com infec��es virais. A observ�ncia desses casos em ex-pacientes de COVID-19 refor�aria essa tese.


A s�ndrome de fadiga cr�nica � uma condi��o debilitante de longo prazo no qual a pessoa afetada sente uma s�rie de sintomas. O mais importante deles � um esgotamento que n�o melhora com repouso ou sono e que afeta os pacientes em todos os aspectos da sua rotina.


Outros sintomas comuns s�o dor, falta de clareza mental e problemas de mem�ria e de sono. Pacientes com esse problema n�o conseguem mais ter uma vida normal, com uma rotina de trabalho, e acabam desenvolvendo problemas de sa�de emocional, como baixa auto-estima.


Callum O'Dwyer passou 12 semanas com fadiga crônica(foto: Callum O'Dwyer)
Callum O'Dwyer passou 12 semanas com fadiga cr�nica (foto: Callum O'Dwyer)

A BBC relatou o caso de um escoc�s de 28 anos que teve COVID-19 e passou 12 semanas com fadiga cr�nica. Antes de contrair o coronav�rus, Callum O'Dwyer estava em forma e tinha boa sa�de, sem nenhuma doen�a pr�-existente.


No entanto, depois de lutar durante cinco semanas contra os principais sintomas da doen�a, ele n�o teve mais condi��es de morar sozinho e precisou voltar para a casa dos pais.


H� ainda um problema adicional: os assintom�ticos. Em tese, mesmo quem teve coronav�rus e n�o apresentou sintomas da doen�a poderia desenvolver complica��es posteriores, como problemas respirat�rios ou inflama��o card�aca. Mas ainda n�o h� estudos suficientes sobre esses casos.

Estat�sticas incompletas

Todas essas sequelas da COVID-19 n�o aparecem nas estat�sticas oficiais.

Pacientes que seguem sofrendo com problemas relacionados � doen�a s�o classificados oficialmente como "pacientes recuperados" — um amplo guarda-chuva que abriga todo mundo que n�o sucumbiu � doen�a.


Essa categoria de "paciente recuperado" aparece em diversas estat�sticas oficiais.

No portal do governo federal, � a estat�stica que tem com maior destaque: 1,8 milh�es de pacientes recuperados — em um universo de 2,6 milh�es casos confirmados neste ano.


Estatísticas de recuperados são destaque no site do governo (dado de quinta-feira, dia 30 de julho)(foto: Governo federal)
Estat�sticas de recuperados s�o destaque no site do governo (dado de quinta-feira, dia 30 de julho) (foto: Governo federal)

No mundo, s�o 10 milh�es de recuperados entre 17 milh�es de casos confirmados, segundo a universidade americana Johns Hopkins.


Mas n�o h� uma distin��o entre quem voltou � sua vida normal e quem precisa conviver com sequelas.


A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) considera como recuperados aqueles que tiveram dois resultados negativos para Sars-CoV-2 com pelo menos um dia de intervalo. Para os casos leves, a OMS estima que o tempo entre o in�cio da infec��o e a recupera��o dure at� 14 dias.


Mas o Brasil, assim como v�rios outros pa�ses, n�o segue exatamente esse crit�rio por n�o haver testes suficientes em escala.


No Brasil, os recuperados incluem pessoas que foram hospitalizadas e receberam alta e tamb�m os casos leves em que n�o houve registro de hospitaliza��o ou de �bito nos �ltimos 14 dias. Por esse �ltimo crit�rio, o presidente Bolsonaro deve entrar nesta estat�stica de recuperados.


O problema da recupera��o incompleta provocou uma mudan�a nas pol�ticas p�blicas de sa�de em outros lugares, como na Inglaterra.


O NHS England, sistema de sa�de da Inglaterra, vai lan�ar um portal especial chamado "Sua recupera��o da COVID-19" dedicado apenas �s pessoas que est�o sofrendo com sequelas de longo prazo da doen�a. Segundo o sistema, h� "dezenas de milhares de pessoas" nesta condi��o na Inglaterra.


O governo brit�nico pretende investir 8,4 milh�es de libras (R$ 56 milh�es) em novos estudos sobre os efeitos de longo prazo da COVID-19.


Nos Estados Unidos, pessoas que tiveram COVID-19 t�m se mobilizado para enfrentar juntas a dif�cil tarefa de se recuperar.


Uma sobrevivente do coronav�rus criou o Survivor Corps, em que pacientes recuperados — mas que sofrem com sequelas — relatam seu dia-a-dia em formato de di�rio. O grupo tamb�m ajuda cientistas a encontrarem volunt�rios para participarem de novos estudos sobre os efeitos de longo prazo do coronav�rus.



(foto: BBC)
(foto: BBC)

(foto: BBC)
(foto: BBC)

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)